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12/05 - Famoso nas redes, menino de 3 anos que já sabe ler e escrever expõe dificuldades no acesso à educação especial
Bateria de testes apontaram um QI de 141 pontos em menino de São Bernardo do Campo (SP). A brincadeira preferida de Fernandinho é aprender palavras novas Arquivo Pessoal/Via BBC Fernandinho, como é chamado carinhosamente pelos pais, sempre apresentou interesse pela alfabetização, desde seu primeiro ano de vida. 🧠 Uma bateria de testes apontou que o menino tem um QI (Quociente de Inteligência, métrica que busca quantificar a capacidade intelectual de uma pessoa) de 141 pontos. Isso significa que ele é uma criança superdotada. Sua neuropsicóloga também está investigando sinais do transtorno do espectro autista grau 1. Em um ano, 200 mil alunos com autismo foram matriculados em escolas comuns; falta de apoio a professores ainda é obstáculo Vídeos compartilhados nas redes sociais recém-criadas pelos pais de Fernandinho têm chamado a atenção. Neles, o bebê aparece escrevendo palavras e frases, lendo e estudando apostilas como se estivesse no primeiro ano do ensino fundamental. No Instagram, ele já tem mais de 300 mil seguidores. No TikTok, acumula milhares de curtidas em uma conta do pai. Nascido em São Bernardo do Campo (SP), o menino prodígio, que completou três anos no dia 6 de maio, é tão atento à gramática que não esquece de colocar acento nas palavras ou concluir frases com pontos de interrogação ao fazer perguntas. “Ele sempre foi uma criança normal. Começou a falar com um aninho, mas foi aos dois que desenvolveu uma dicção melhor", diz o pai, Matheus de Almeida Gomes da Silva, de 28 anos. "Seu primeiro contato com a escrita foi com aqueles livrinhos de banho que ele brincava desde os quatro meses, e depois com um tatame de letrinhas que ganhou.” No entanto, embora o bebê demonstrasse interesse por livros ou objetos que tivessem a ver com a escrita, até então, a família não via nada de diferente. Um episódio em uma livraria, porém, chamou a atenção do pai. A família está em busca de uma bolsa de estudos em um colégio particular Arquivo Pessoal/via BBC 🔠 "Um dia fomos em uma livraria – ele estava com um ano e quatro meses – e nós queríamos mostrar os brinquedos, mas ele ficou numa mesinha que tinha que encaixar as letrinhas para formar algumas palavras pequenas, e não queria sair dali", lembra Matheus. "Eu achei aquilo muito estranho, mas pensei que ele tinha gostado porque era um brinquedo de montar. Depois, comprei uma igual para ele." Após esse episódio, o bebê começou a assistir vídeos de alfabetização infantil no YouTube. "Daí, ele viu como fazia o 'w', pegou um papel e começou a repetir. Isso com um ano e sem a gente falar nada. Aliás, antes mesmo de falar, ele já identificava todo o alfabeto", conta o pai. "Nós nunca precisamos pegar na mão e ensinar nada – ele tem uma coordenação muito fácil e simplesmente foi fazendo", acrescenta. O pai lembra que Fernandinho gostava muito do Blipp, personagem de um desenho do Youtube. "Um dia, a gente acordou e estava escrito Blipp numa folha de caderno em casa. Outro dia estava escrito 'Drogasil' [rede de farmácias]. Ele tem uma memória muito impressionante", relata o pai. As fases do desenvolvimento infantil De acordo com a médica pediatra Ana Paula Scoleze Ferrer, o desenvolvimento infantil tem diversas etapas, que são esperadas em determinadas fases. No entanto, é comum haver uma grande variabilidade entre elas. 👶 Por exemplo: alguns bebês começam a andar mais cedo do que outros, a falar primeiro, formar frases mais complexas, e assim por diante. Em geral, isso significa que todos terão a mesma sequência de desenvolvimento, mas a velocidade com que cada criança adquire essas habilidades varia, detalha a pediatra, coordenadora do Serviço de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento e do Ambulatório Geral de Crianças com Condições Crônicas e Necessidades Especiais de Saúde do ICr – HCFMUSP (Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). "Há uma variação genética entre os indivíduos, mas, principalmente, existe uma variabilidade ambiental. O meio sociocultural em que a criança está inserida interfere muito", diz a especialista. Segundo ela, a genética determina 20% do desenvolvimento, mas 80% se deve a fatores contextuais e ambientais. "E quando falo em ambiente, estou falando de uma forma bem abrangente. Dependendo da cultura, essa criança pode ser mais ou menos estimulada para diferentes habilidades", explica Ferrer. Fernandinho, agora com 3 anos, adora brincar com letras Arquivo Pessoal/Via BBC Marcos do desenvolvimento 🚼 Segundo a pediatra, no primeiro ano de vida, o esperado é que a criança desenvolva mais intensamente os sentidos, como a visão e audição. "Essa etapa também é marcada pelo maior desenvolvimento das habilidades motoras, então a criança começa a pegar os objetos e manusear, começa a ficar de pé, andar. Isso é muito marcante nesse período", observa. Nessa primeira fase, a criança também começa a desenvolver a linguagem socioemocional, embora não seja esse o foco. "Nesse segundo ano de vida, o mais importante é a intensificação da linguagem, porque ela adquire um vocabulário mais amplo e tem uma capacidade de compreender ordens simples e complexas", descreve a pediatra. Depois, a criança entra no que os especialistas chamam de idade pré-escolar, entre dois e seis anos. O que marca essa fase é, principalmente, uma ampliação do desenvolvimento socioemocional e as chamadas funções executivas, que são a capacidade de controlar impulsos, de concentração, atenção e memória. "Isso tudo vai ser aprimorado entre os dois e seis anos de idade", destaca a especialista. Fernandinho ao lado do pai, Matheus Arquivo Pessoal/via BBC Família procurou especialista Surpresos com as habilidades do menino e também a pedido da creche, onde ele apresentava dificuldades de interação com as demais crianças, a família procurou no ano passado uma neuropsicóloga para entender o que estava acontecendo. Matheus conta que, até então, não tinha conhecimento de crianças superdotadas. Após passar por uma bateria de testes neuropsicológicos, Fernandinho atingiu um QI de 141 pontos. De acordo com o laudo médico, aos dois anos, o menino tinha o raciocínio de uma criança de seis anos. Isso explica, em parte, sua irritabilidade na creche com as crianças da sua idade. Pessoas consideradas superdotadas têm acima de 130 pontos de QI em testes utilizados no Brasil. Assim, Fernandinho está acima da média, mesmo para um superdotado. Mas os testes revelaram mais coisas. Ele fez 12 sessões com uma psicóloga para avaliar raciocínio, interação motora e social, com brincadeiras e outras atividades. O resultado, além da superdotação, apontou que ele tem traços autistas, por conta da dificuldade de interação social, conta o pai da criança. "Porém, não dá para fechar um diagnóstico e bater um martelo, porque ele ainda é muito novinho", diz Matheus. No entanto, mesmo sem um diagnóstico conclusivo, a criança já iniciou diversas terapias, inclusive, a comportamental no método ABA, que trabalha os comportamentos relacionados ao TEA (transtorno do espectro autista), além de fonoaudiologia, musicoterapias e afins. "A psicóloga disse que essa dificuldade de interação pode estar relacionada a essa superdotação ou pode ser que seja autismo nível 1. A gente vai precisar trabalhar mais com ele para saber ao certo", diz o pai. Agora, a família está buscando obter uma bolsa de estudos para o menino em um colégio particular, onde acreditam que suas particularidades serão mais bem trabalhadas. Pais de crianças como Fernandinho relatam dificuldade em encontrar esse tipo de atenção na rede pública, embora existam leis que assegurem o direito ao aprendizado especial. Superdotação pode ser confundida com autismo? Especialistas afirmam que sim. A princípio, a superdotação ou as altas habilidades podem ser confundidas com características presentes no TEA. Na verdade, há uma variedade ampla entre as crianças com Transtorno do Espectro Autista, explica a médica Ana Paula Scoleze Ferrer. "Muitas têm um desempenho cognitivo dentro do esperado, parte delas pode ter um déficit cognitivo, enquanto outras têm altas habilidades", afirma a pediatra. "Por isso, é muito difícil fechar um diagnóstico em uma criança de dois anos. Isso depende do surgimento de outras manifestações clínicas associadas que, normalmente, só aparecem ao longo do tempo", observa. Além disso, crianças superdotadas ou com altas habilidades podem ter muita dificuldade de lidar com outras da mesma idade, já que elas têm um raciocínio mais avançado, como é o caso de Fernandinho. "Todo mundo que foge do padrão esperado, seja para mais ou para menos, muitas vezes, tem dificuldade de estabelecer relações interpessoais", comenta a pediatra. Como identificar crianças superdotadas? Antes de mais nada, é preciso entender que sinais de precocidade não definem superdotação – que só pode ser confirmada após uma bateria de testes que visam entender a capacidade de processamento intelectual. A avaliação é feita por psicólogos, neuropsicólogos ou psicopedagogos e especialistas, e deve ser feita o mais cedo possível, a fim de diminuir impactos negativos no desenvolvimento da criança. As crianças superdotadas não identificadas precocemente podem mostrar-se desinteressadas na escola e podem ter problemas de conduta, devido à metodologia de ensino repetitiva da escola "tradicional" — que acaba irritando os pequenos com altas habilidades e fazendo com que eles não se desenvolvam academicamente. Algumas características apontadas pela Secretaria da Educação Especial do MEC (2006) podem indicar uma eventual superdotação. São essas: Curiosidade aguçada; Vocabulário avançado para a idade; Facilidade de aprendizagem e potencial intelectual muito elevado; Raciocínio rápido; Liderança e autoconfiança; Ótima memória; Criatividade; Habilidade para adaptar ou modificar ideias; Observações perspicazes; Persistência ao buscar um objetivo. "Crianças superdotadas podem ter interesse por letras, números, contas matemáticas, bichos e, normalmente, são alfabetizadas mais cedo, por terem gosto pela leitura e outras questões que não são comuns para a idade", explica Claudia Hakim, advogada especialista em direito educacional, neurociências e psicologia aplicada. "No entanto, não necessariamente todas os superdotados vão ter todas essas características", acrescenta. Altas habilidades vão muito além da capacidade excepcional na matemática, podendo se revelar na liderança, criatividade, música e esportes Getty Images/via BBC Há crianças que têm outros tipos de altas habilidades, que também podem se manifestar cedo e que precisam ser investigadas, diz a advogada, sócia do Instituto Brasileiro de Superdotação e Dupla Excepcionalidade. Isso porque a Política Nacional de Educação Especial (PNEE) considera como características de superdotação não somente as habilidades intelectuais e acadêmicas, mas também habilidades de liderança, criatividade, música e esportes, acrescenta ela, autora de diversos livros sobre o tema. Inclusão educacional não saiu do papel No Brasil, as crianças superdotadas têm o direito assegurado por lei de entrarem em um programa de inclusão educacional, a chamada educação especial, voltada a todos os indivíduos que possuem qualquer tipo de dificuldade (auditiva, visual, cognitiva) ou facilidade de aprendizagem (altas habilidades ou superdotação), em todas as fases de ensino. "Existem várias normas do Conselho Nacional de Educação [colegiado vinculado ao Ministério da Educação] e estaduais que tratam da superdotação, prevendo várias formas de atendimento e identificação dessas crianças", destaca a advogada. A educação especial é obrigatória nas redes pública e privada. No entanto, ela só pode ser concretizada se houver recursos. No caso das escolas públicas, esse atendimento também pode ser feito através de núcleos e centros especializados ou parcerias com instituições de ensino superior. "Legislação existe bastante, como a PNEE ou a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional], mas as escolas, por não ter conhecimento, por não querer essa responsabilidade, ou mesmo por falta de capacitação profissional, não cumprem seu papel, e as crianças acabam sem atendimento", ressalta. "A lei diz que a escola deveria identificar essas crianças, o que não acontece na prática por uma série de questões. Na verdade, a culpa toda é do sistema educacional", defende a advogada. O Ministério da Educação foi contatado por e-mail e telefone para se posicionar, mas não respondeu aos questionamentos até o fechamento dessa reportagem. Fernandinho é apaixonado pelo cantor Thiaguinho e pelos pagodes que escuta com o pai Arquivo Pessoal/via BBC Enquanto aguarda a tão sonhada bolsa de estudos em um colégio particular, a família de Fernandinho segue estimulando ele como pode. O menino, assim como o pai, gosta muito do cantor Thiaguinho. Ele já ganhou um DVD do artista de presente, o que se tornou mais um incentivo para seu desenvolvimento. Isso porque, além de cantar, o menino também escreve o nome de suas músicas preferidas. "Pensei que ele copiava as letras e memorizava a sequência, mas que ainda não sabia ler. Até que uma vez ele leu o nome de uma música e eu fiquei um pouco assustado, mas acabou sendo um processo natural", diz Matheus. A partir daí, o menino começou realmente a ler, aos dois anos. "Depois ele começou a ler coisas no supermercado e agora já está lendo tudo muito rápido”, comenta o pai, já bem mais aliviado. Em um ano, 200 mil alunos com autismo foram matriculados em escolas comuns
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09/05 - Mais de 420 escolas estaduais foram danificadas nas inundações do Rio Grande do Sul
Balanço da Secretaria Estadual de Educação mostra que, até esta quinta-feira (9), quase 20% das instituições de ensino do RS sofreram prejuízos no mobiliário, nos equipamentos ou na estrutura geral. Desabrigados pelas chuvas em abrigo em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 8 de maio de 2024. Entre as escolas estaduais, 75 estão servindo de local de acolhimento das vítimas das inundações Nelson Almeida/ AFP Além de todas as moradias que terão de ser reconstruídas após as inundações do Rio Grande do Sul, outro desafio será enfrentado pelo estado: a reestruturação de pelo menos 426 escolas estaduais que foram danificadas pela água. 🖊️O governo estadual explicou ao g1 que, como o acesso às instituições de ensino está comprometido, a Secretaria de Obras Públicas não havia conseguido, até esta quinta-feira (9), fazer a vistoria para dimensionar os estragos. "Ainda não foi possível ter um detalhamento. Pode ser questão de mobiliário [danificado], equipamentos ou até obras [comprometidas]", informa a Secretaria de Educação Estadual. Até a mais recente atualização desta reportagem, também não havia uma estimativa do número de colégios municipais e privados impactados pelo desastre. De acordo com o Censo Escolar 2023, são 2.345 escolas estaduais no Rio Grande do Sul. Entre elas: 954 (40,7%) foram afetadas de alguma forma pelos temporais, em 236 municípios (estão com problemas de acesso ou foram danificadas); do grupo acima, 426 instituições de ensino (18,2% do total) sofreram especificamente danos físicos; 75 estão servindo de abrigo para as vítimas das inundações. 📖Mais de 330 mil alunos estão sem aula; em Porto Alegre, não há previsão de volta A Secretaria afirma também que, dos 738.749 estudantes da rede estadual, 331,2 mil (44,8%) estão com aulas suspensas. ➡️Nas regiões abaixo, não há previsão de retomada das atividades letivas: Porto Alegre; São Leopoldo; Estrela; Guaíba; Cachoeira do Sul; Canoas e Gravataí. ➡️Em Pelotas e Rio Grande, as aulas estão suspensas até pelo menos sexta-feira, 10 de maio. ➡️E nas áreas abaixo, já foi possível reabrir as escolas: Uruguaiana; Osório; Erechim; Palmeira das Missões; Três Passos; São Luiz Gonzaga; São Borja; Ijuí; Caxias do Sul; Santa Cruz do Sul; Passo Fundo; Santa Maria; Cruz Alta; Bagé; Santo Angelo; Bento Gonçalves; Santa Rosa; Santana do Livramento; Vacaria; Soledade e Carazinho. Inundações deixaram mais de 100 mortos O boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul da manhã desta quinta-feira (9) afirma que o número de mortos subiu para 107. Há 136 desaparecidos e 374 feridos. Segundo os meteorologistas, os temporais que ocorrem no Rio Grande do Sul desde o fim de abril são reflexo de ao menos quatro fenômenos que ocorrem na região, agravados pelas mudanças climáticas: ☀️Uma onda de calor que atinge as regiões Sudeste e Centro-Oeste forma um bloqueio que impede a a chuva de "ir embora". 💨 No fim de abril, havia um cavado, que é uma corrente intensa de vento, agindo sobre o Rio Grande do Sul e contribuindo para que o tempo ficasse instável. 💧 Isso se somou a um corredor de umidade vindo da Amazônia, que aumentou a força da chuva. 🔥Estamos também vivendo as consequências do El Niño (que começou em agosto de 2023, teve um pico em janeiro e terminou em abril de 2024). Ele aqueceu a superfície do Oceano Pacífico, adicionou calor extra à atmosfera e aumentou as temperaturas globais. LEIA TAMBÉM Égua ilhada em Canoas é resgatada; veja vídeo Governo anuncia antecipação de Bolsa Família, auxílio gás e restituição do IR no estado Vídeos Imagens aéreas mostram cidades submersas no Rio Grande do Sul Secretarias e órgãos públicos estaduais organizam pontos de coleta de doações para o RS
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09/05 - 'Uma nova proposta vai ser apresentada na próxima semana', diz ministro da Educação sobre greve das federais; VÍDEO
No Bom Dia PE desta quinta-feira (9), ministro Camilo Santana também falou sobre a abertura de novos institutos federais em Pernambuco e sobre o programa 'Pé-de-meia'. Ministro da Educação fala sobre negociação para fim da greve das federais As negociações para acabar com a greve das universidades e institutos federais foi um dos assuntos abordados pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em entrevista ao Bom Dia PE, na manhã desta quinta-feira (9). De acordo com ele, o governo federal deve apresentar uma nova proposta de negociação com os servidores na próxima semana (veja vídeo acima). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 PE no WhatsApp. "Estive discutindo uma nova proposta para ser apresentada na próxima semana e que a gente espera que possa chegar num consenso com transparência, com diálogo, reconhecendo o valor dos servidores da educação federal nesse país. Então, esperamos que a gente possa superar, até porque isso é um prejuízo para os alunos, para a academia, e a gente espera que a gente possa, após uma semana, chegar a um acordo e retornarmos aí as atividades nas unidades que foram suspensas", disse o ministro. Deflagrada no início de abril, a greve afetou, ao menos, 52 universidades, 79 institutos federais (IFs) e 14 campus do Colégio Pedro II. Na entrevista, Camilo Santana também falou sobre a implementação do programa "Pé-de-meia" em Pernambuco (entenda mais abaixo) e sobre a expansão de institutos federais no estado. Ministro da Educação Camilo Santana em entrevista ao Bom Dia PE, nesta quinta (9) Reprodução/TV Globo A última proposta oferecida pelo governo federal era de um reajuste de 9%, sendo 4,5% em 2025 e 4,5% em 2026. Ou seja, sem previsão de aumento para este ano. O ministro comentou a negativa da categoria e disse que o valor não é baixo, mas sim um reflexo da falta de investimentos na educação. "É preciso entender que ninguém pode recuperar tudo de uma só vez. Foram seis anos que o governo federal não deu nada, um centavo, de reajuste para o servidor federal. No primeiro ano [do governo Lula], em 2023, foi dado 9%; aí você chega a 18% nesse período, tentando corrigir o prejuízo causado pelos anos anteriores", disse. LEIA TAMBÉM: Professores da UFRPE estão em greve Veja situação em outras instituições federais em Pernambuco Na entrevista, o ministro também falou sobre os projetos para a criação de novos institutos federais em Pernambuco. "A gente acredita que o instituto federal é uma grande política assertiva e teve grande resultados para a educação técnica e profissional e o governo federal quer ampliar a matrícula de tempo integral, do ponto de vista técnico profissionalizante", contou. O projeto foi anunciado pelo presidente Lula em março e deve ter o investimento de R$ 150 milhões, com 8,4 mil novas vagas. As unidades estão previstas para as cidades do Recife, de Goiana (Mata Norte); Santa Cruz do Capibaribe, Bezerros, Águas Belas (Agreste); e Araripina (Sertão). Orçamento das universidades federais em PE teve redução de R$ 128 milhões em dez anos, dizem reitores Programa 'Pé-de-meia' O ministro veio a Pernambuco para o lançamento do programa "Pé-de-meia" no estado, na manhã desta quinta-feira (9), na Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife. O programa irá oferecer incentivo financeiro para estudantes do ensino médio por meio de pagamento de bolsas ao longo dos anos da escola. De acordo com o ministro, cerca de 177 mil alunos serão beneficiados pelo programa em Pernambuco. No "Pé-de-méia", os estudantes terão uma conta aberta na Caixa Econômica Federal, onde serão depositados R$ 200 mensais. Os alunos podem sacar esse dinheiro a qualquer momento. Também serão feitos depósitos de R$ 1 mil ao final de cada ano letivo, mas esse valor só será recebido após a conclusão dos estudos. Pé-de-meia: MEC publica regras e calendário de pagamento da bolsa para alunos do ensino médio; confira Com esses aportes, o governo irá pagar até R$ 9,2 mil para os estudantes que concluírem os estudos. Inicialmente, o benefício era apenas para estudantes cadastrados no Bolsa Família, mas foi expandido para alunos que estão no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). "O grande motivo do abandono escolar é a questão financeira. É aquela idade que chega que o jovem passa a trabalhar, a querer trabalhar, querer ajudar a família, e falta de expectativa com a escola. É uma política ousada e inovadora. Claro que ela vem se somar com outras políticas públicas que os estados e municípios estão implementando, mas exatamente é para dizer que nós não queremos perder nenhum jovem na escola pública brasileira", afirmou. ⬆️ Voltar ao início desta reportagem. Vagas em creches Ministro Camilo Santana em evento de abertura de 2 mil vagas em creches e pré-escolas no Recife Reprodução/TV Globo À tarde, o ministro participou de um evento de abertura de 2 mil vagas em creches e pré-escolas da rede municipal do Recife, que tem cerca de 4,5 mil crianças na fila por uma vaga. O evento aconteceu no Compaz Ariano Suassuna, no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife. Ao todo, são 1,3 mil vagas em creches, para bebês e crianças de até 3 anos, e 700 em pré-escolas, para crianças de 4 e 5 anos. O acréscimo de 2 mil vagas será suficiente para atender a menos da metade do déficit na capital pernambucana, já que representa 44,4% da demanda. "Aqui no Recife, hoje, nós temos ainda uma fila de cerca de 4,5 mil crianças, em diversas etapas de ensino, ou seja, em diversas séries, em diversos momentos, que muitas vezes você tem a vaga disponível mas a mãe quer naquela localidade específica", afirmou o secretário de Educação do Recife, Fred Amâncio. De acordo com a gestão, as vagas serão preenchidas à medida que a prefeitura entrar em contato com os pais e responsáveis. As aberturas serão possíveis com a entrega, neste mês, da construção de uma nova unidade, no bairro do Monteiro, na Zona Norte, e quatro ampliações e obras, contemplando os bairros do Ibura e Jordão, na Zona Sul, e Guabiraba e Vasco da Gama, na Zona Norte. Além disso, serão abertas cinco novas vagas em creches em parceria com a prefeitura, distribuídas nos bairros de Areia, Jiquiá, Iputinga e Várzea, na Zona Oeste, e Córrego do Jenipapo, na Zona Norte. VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias
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09/05 - Educa2030: Pacto Global da ONU e Unicef lançam iniciativa para incentivar investimento em educação e empregabilidade
Objetivo é estimular empresas a investirem em oportunidades para os funcionários, especialmente jovens e mulheres. Iniciativa conta com parceria estratégica do Ministério do Trabalho e Emprego e tem a Globo como embaixadora. Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU na Rede Brasil, em lançamento do Movimento Educa2030. Emily Santos/g1 O Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, no Parque Ibirapuera, recebeu na terça-feira (8) o lançamento do Movimento Educa2030, uma iniciativa em defesa da escolaridade e da especialização de mulheres, jovens e adultos, e do fortalecimento de oportunidades para os jovens. 📊 O Movimento Educa2030 faz parte da estratégia Ambição 2030 do Pacto Global da ONU, e quer estimular empresas a assumirem metas ambiciosas para o avanço da educação e empregabilidade no país, por meio de três pilares principais: aumento da escolaridade de funcionários e terceiros nas empresas; inclusão produtiva de jovens, com foco em Jovem Aprendiz; e desenvolvimento profissional de mulheres em áreas STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática). 💡 Na prática, a ideia é convencer as empresas a pensarem em políticas internas e de organização para investir, inspirar e possibilitar a constante atualização de seus funcionários por meio da educação com foco no mercado de trabalho. Dessa forma, os profissionais estarão sempre se especializando alinhados com as funções que desempenham ou querem desempenhar profissionalmente. A iniciativa conta com o UNICEF e o Ministério do Trabalho e Emprego como parceiros estratégicos, e com a Globo e o Yduqs — grupo de educação superior que reúne marcas como Ibmec, Estácio e Wyden — como embaixadoras. De acordo com Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU na Rede Brasil, cada pilar do Movimento tem um motivo para estar ali, e é importante para o objetivo final. Segundo o especialista, a iniciativa nasceu da reflexão combinada sobre vários problemas do cenário nacional — como a falta de mão de obra especializada em empresas, o número exorbitante de jovens fora da escola e sem emprego, a ausência de mulheres em áreas STEM (campo do conhecimento composto por ciências, tecnologia, engenharia e matemática) — e da conclusão de como a atuação do setor empresarial poderia ajudar a corrigir este cenário. O Educa2030 vem nesse sentido de trazer as empresas para que capacitem seus funcionários, para que melhorem a escolaridade deles, para que tenhamos mais mulheres e jovens em cargos [de destaque] e também se capacitem em posições de tecnologia, além de garantir a inclusão produtiva dos jovens. Para Magno Lavigne, secretário de Qualificação e Fomento à Geração de Emprego e Renda do Ministério de Trabalho e Emprego, as empresas que se comprometerem com a iniciativa estarão fomentando a vontade de estudar entre seus funcionários e promovendo a valorização desses profissionais. Ele defende que é importante manter discussões como as propostas pelo Educa2030 porque o mercado de trabalho sempre passa por modificações, muitas delas permanentes. Assim, tanto o poder público quanto o setor privado precisam repensar e reconhecer suas responsabilidades. O Movimento é também uma oportunidade para o setor privado refletir sobre as próprias políticas, de acordo com Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo. Além de destacar o orgulho de ter a empresa como embaixadora da iniciativa, ele diz entender o pacto como uma oportunidade para olhar não somente para ações externas voltadas para educação e empregabilidade, mas para estimular ações dentro da própria Globo. E, através disso, inspirar outras empresas.
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04/05 - Projeto de xadrez ensina história, matemática e até educação física para estudantes de escola pública no ES
Estudantes de colégio em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, participam da projeto 'Xadrez na Escola', que relaciona o esporte com diversas disciplinas da grade curricular. Xadrez em sala de aula ajuda no desempenho de alunos em São Mateus 'Ajuda na nossa concentração e no nosso aprendizado. A gente passou a prestar mais atenção nas aulas'. Esta é a afirmação de Rhyane Coelho, aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Doutor Arnóbio Alves de Holanda, localizada em São Mateus, no Norte do Espírito Santo. O colégio utiliza o esporte para ensinar narrativas de história, raciocínio lógico da matemática e até fundamentos básicos da educação física. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Escola do Norte do ES relaciona xadrez com disciplinas da grade curricular. Reprodução/TV Gazeta O projeto 'Xadrez na Escola' foi implantado em 2024 e é destinados a alunos do 6º ao 9°. Ao todo, 40 estudantes participam das atividades que acontecem na biblioteca da escola. 📲 Entre para a comunidade do g1 ES no WhatsApp e receba nossas notícias Os gêmeos Daniel e Miguel Pereira participam do projeto desde o início. Segundo Daniel, o silêncio é fundamental para a prática do xadrez. "É muito cálculo. Se não tiver concentração, não tem como", comentou. Estudantes de escola do Norte do Espírito Santo disseram que melhoram o desempenho nas disciplinas após aulas de xadrez Reprodução/TV Gazeta Miguel afirmou que uma das melhorias que percebeu foi no próprio racíocinio lógico. "Eu tô gostando muito. O meu desempenho já melhorou ", destacou. Além das estratégias de jogo Xadrez cotribui para melhoria do desempenho de estudantes do escola do Norte do Espírito Santo Reprodução/TV Gazeta De acordo com o professor de história, Ytalo Pimenta, além do tempo dedicado a pensar nas estratégias de jogo, o xadrez já melhorou o desempenho dos adolescentes como estudantes. "Existe uma ideia de que o xadrez pertence somente a lógica da matemática, mas, na verdade, ele tem uma gama de conhecimentos vinculados à história. Se você reparar, o xadrez é um jogo feudal, com reis, rainhas, bispos e, através das aulas, os estudantes perceberam essa relação", explicou o professor. Estudantes de escola do Norte do Espírito Santo dizem que perceberam melhoria no raciocínio lógicc após aulas de xadrez Reprodução/TV Gazeta Ytalo, que também é coordenador de história, divide a instrução de xadrez para os alunos com o professor de educação física. É desta forma que o Cleber Caliman ensina sobre fundamentos de vitória e derrotas dentro da prática esportiva. "Você amadurece a partir do momento que você perde no xadrez. A gente aprender com os erros. Você perdeu por quê? Porque você errou. Então, o aluno consegue fazer uma avaliação para melhorar o próprio desempenho", disse o professor Caliman. Fundamentos da matemática com o xadrez Professora de Matemática de escola do Norte do Espírito Santo usa xadrez para ensinar conceitos da disciplina Reprodução/TV Gazeta O projeto também ensina fundamentos da matemática por meio do xadrez. De acordo com a professora Luysa Freitas, o esporte e a matéria caminham juntas e essa relação em sala de torna o aprendizado mais dinâmico. "A gente trabalha a concentração, o raciocínio lógico e os conceitos do conteúdos. Mas também tudo que a gente pode ensinar ao aluno que vai contribuir para a sua vida, como respeito ao próximo, a gente ensina", pontuou a professora. LEIA TAMBÉM: Escola no ES cria projeto de xadrez para melhorar notas de alunos Ampliação do projeto Demanda aumenta e escola do Norte do Espírito quer ampliar projeto de xadrez para mais estudantes Reprodução/TV Gazeta De acordo com a diretora Eliane Roncatto, a adesão dos alunos ao projeto 'Xadrez na Escola' cresce a cada dia e, por isso, o colégio já estuda a possibilidade de expandir a área em que os estudantes jogam. "A biblioteca já está ficando pequena. A demanda e o interesse dos alunos está aumentando a cada dia. As famílias também estão amando e apoiando o projeto na escola", disse Eliane. A secretária de Municipal de Educação Simone Cassini destacou que estudantes e familiares passaram a enxergar o projeto de forma diferente. "É uma atividade diferente que envolve uma disciplina da escola e também a família", comentou a secretária. Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo
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30/04 - Bater em crianças é crime? Entenda o que a lei prevê em casos de agressão
Qualquer tipo de castigo físico ou psicológico pode ser considerado crime. Penas podem variar de acordo com a gravidade da agressão. Menina de 11 anos apresentava hematomas nos braços e pernas após apanhar da mãe Reprodução/WhatsApp Qualquer tipo de agressão a crianças, seja física ou psicológica, pode ser considerado crime. De acordo com a Constituição Federal, crianças e adolescentes têm direito à dignidade e não podem ser expostos à violência, crueldade e opressão. No fim de semana, uma mulher foi presa preventivamente após agredir sua filha de 11 anos em Pernambuco. Na abordagem, a policial militar que atendeu a ocorrência foi filmada dando um tapa no rosto da mulher após ver as marcas de espancamento no corpo da criança. De acordo com Ariel de Castro Alves, advogado especialista em direto da infância e da juventude e ex-secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em casos como esse, o responsável pode responder até por crime de tortura. "A Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) asseguram a inviolabilidade da integridade física e psicológica das crianças e adolescentes. Eles não podem ser submetidos a nenhuma forma de violência", detalha o advogado. 👉 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é o conjunto de leis que estabelece os direitos e deveres das crianças e adolescentes no Brasil. O estatuto tem como objetivo proteger a integridade física e psicológica desse grupo, garantindo seu desenvolvimento. Além de proteger as crianças, o ECA também prevê medidas preventivas para casos de violência, além de orientação e penas para aqueles que praticam algum tipo de agressão contra crianças e adolescentes. O que diz a lei Iberê de Castro Dias, juiz da Vara da Infância e Juventude, explica que a Constituição sempre protegeu as crianças e adolescentes contra agressão. Mas uma legislação específica e a inclusão de leis sobre esse tema ajudaram a deixar mais claras as consequências para aqueles que protagonizam algum tipo de violência. "No passado, se tinha muito uma visão que os filhos são propriedade dos pais e eles podem fazer o que bem entenderem na educação das crianças, mas isso vem se modificando", analisa o advogado. Nesse contexto de mudança, a Lei Menino Bernardo, também conhecida como Lei da Palmada, é um marco importante. Promulgada em 2014, a lei altera o ECA para "estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante". ⚖️ A lei especifica o que é considerado castigo físico e tratamento cruel ou degradante: Castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física aplicada sobre a criança ou o adolescente que resulte em sofrimento físico ou lesão; Tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize. Segundo Iberê, com essa lei houve pela primeira vez a explicitação da proibição desse tipo de violência, o que contribuiu para o maior debate do tema na sociedade, além de especificar as punições para esse tipo de situação. Ariel de Castro Alves, que também é membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB-SP, ressalta que a lei traz alterações fundamentais no ECA, auxiliando na proteção desse grupo. "Ela [a lei] foi criada para enfrentar a cultura e tradição de violência contra crianças e adolescentes sobre o pretexto 'educacional', entendendo que quem sofre violência pratica violência", afirma. Casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes crescem 21% no Brasil em 2021, mostra Anuário Educação positiva Os especialistas explicam que um dos principais motivos pelos quais a proibição desse tipo de violência existe é porque qualquer castigo físico ou psicológico contra crianças e adolescentes tem consequências maléficas diretas em seu desenvolvimento. 🧸 Irene Gaeta, membro da Associação Internacional de Psicologia Analítica (IAAP), lista que entre as principais consequências das agressões estão: Ansiedade Transtornos depressivos Baixo desempenho na escola Comportamento agressivo e violento Síndrome do pânico Quadros depressivos A psicóloga e professora Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Isabel Kahn, comenta que as agressões podem levar à reprodução desses comportamentos agressivos por parte dessas crianças e adolescentes em outras relações no futuro. "Eles podem repetir essa forma de domínio diante daqueles que se sentem mais fortes, é um padrão de agressividade que se reproduz para alguns", explica. As especialistas também lembram que os pais e cuidadores devem sempre estar cientes que suas experiências passadas influenciam suas atitudes frente à educação. Elas reforçam a necessidade dos pais e cuidadores serem firmes na educação, mas sempre tendo em mente a importância da escuta. "A comunicação é a base para estabelecer limites na educação dos filhos. Ao se comunicar de forma clara e calma, os pais podem criar um ambiente de entendimento e respeito mútuo", aconselha Irene Gaeta. Isabel ainda comenta que os limites vêm para proteger as crianças, e que escutar não significa fazer todas as suas vontades. "É preciso entender quais são seus princípios e seus valores e que não se pode fazer valer uma regra na base da força", afirma. Consequências para os agressores Além de explicitar a proibição do uso de violência na educação de crianças, o ECA também determina as punições que devem ser aplicadas nessas situações. "A rigor, o limite para se definir o que é ou não agressão é zero. Nenhuma agressão verbal ou física é permitida. Mas a forma como isso ecoa na criança vai determinar as consequências para aquele que promoveu a agressão", analisa Iberê Dias. 👨🏻‍⚖️ A lei prevê que os responsáveis que utilizarem castigos físicos ou psicológicos estão sujeitos às seguintes medidas, que serão aplicados de acordo com a gravidade do caso: Encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de proteção à família; Encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; Encaminhamento a cursos ou programas de orientação; Advertência. A depender do nível da agressão, pode ser configurada nos crimes de tortura e maus tratos. Ambos preveem pena de detenção e multa e têm a pena aumentada quando a vítima é criança ou adolescente. "Só punir não resolve. É preciso educar mães, pais e responsáveis para que exerçam seu papel de educadores da maneira correta, com cuidado e sem violência", alerta Iberê Dias. Denúncia Os especialistas ainda ressaltam a importância da denúncia nos casos de violência contra crianças e adolescentes. Aqueles que presenciarem qualquer tipo de agressão contra esse grupo pode realizar uma denúncia anônima no Disque 100 (Disque Direitos Humanos). Além disso, é possível acionar o Conselho Tutelar, o Ministério Público e a Polícia Militar. PM bate em mulher que agrediu própria filha de 11 anos
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29/04 - Racismo na escola: acusados podem ser expulsos? Quais as consequências para os envolvidos?
Especialistas explicam que a instituição precisa investigar as denúncias e tomar as medidas cabíveis, que vão de suspensão a expulsão. Adolescentes e pais podem responder na Justiça. Colégio Vera Cruz, na Zona Oeste de SP, onde estudam as filhas da atriz Samara Felippo e do jogador Leandrinho. Montagem/g1/Reprodução/Instagram A atriz Samara Felippo denunciou, no fim de semana, que a filha de 14 anos foi vítima de racismo em uma escola particular de alto padrão na cidade de São Paulo. Samara diz que as agressoras são duas alunas da mesma escola, que escreveram ofensas de cunho racista no caderno da adolescente. A escola suspendeu por tempo indeterminado as alunas. O caso não é isolado. Em março, uma aluna da rede municipal de Novo Horizonte, no interior de São Paulo, foi agredida física e verbalmente por cinco alunos que a chamaram de "macaca", "cabelo de bombril" e "capacete de astronauta". Em 2023, mais 3 mil denúncias de racismo foram registradas apenas em escolas estaduais de São Paulo. No Brasil, a cada 10 pessoas que sofreram racismo, 4 foram vítimas da violência em escolas, faculdades ou universidades. Abaixo, entenda quais os direitos e deveres das vítimas, da escola e dos agressores diante de casos como estes: Racismo é diferente de bullying Bullying é um tipo de violência que é praticado no ambiente escolar (da educação básica ao pós-doutorado), em clubes ou em agremiações recreativas. Bullying não é o termo usado para definir a agressão física ou psicológica, xingamento, violência, ameaça ou exclusão contínuos que acontecem no trabalho. Em contrapartida, o racismo é uma agressão (física e/ou psicológica, recorrente ou não) com base em características de cor, raça ou etnia da vítima, que pode acontecer em qualquer lugar e ser praticado por qualquer pessoa. Segundo Elisa Cruz, professora da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV Rio), o racismo é um mecanismo de poder que pressupõe a inferiorização das vítimas, e, portanto, quem pertence a grupos majoritários de poder não podem ser vítimas desse mecanismo — o que inviabiliza a existência de um “racismo reverso”. Desde janeiro deste ano, a Lei 14.811 acrescentou ao Código Penal o crime de bullying e cyberbullying (quando o crime acontece no ambiente virtual), que prevê penas de reclusão de 2 a 4 anos, e multa. Já o racismo é um crime inafiançável previsto pela Lei 7.716, de 1989, e prevê pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa. Quando o racismo acontece na escola Atualmente, não existe uma lei específica que pode ser aplicada quando os casos de racismo ocorrem no ambiente escolar. Nestes casos, segundo Elisa Cruz, podem ser usados o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). “Esses dois mecanismos legais dispõem tanto sobre o direito das crianças quanto sobre o sentido da educação e para que ela serve”, explica a especialista. Toda criança e adolescente tem o direito de conviver, seja na família ou nos espaços sociais, em um ambiente livre de violência. E, no âmbito educacional, ela precisa ter seu espaço respeitado e ter garantido o direito de estar em um local de experiências sociais e de aprendizado positivas. A partir do momento em que esses direitos são desrespeitados e o racismo acontece dentro da escola, o primeiro mecanismo de defesa deve ser da própria escola. “A administração escolar precisa entender o que está acontecendo e agir rapidamente para recompor o ambiente saudável para todos os alunos", explica Ana Paula Siqueira, doutoranda em direito pela PUC São Paulo. Neste caso, uma medida de precaução imediata pode ser a suspensão do estudante ou do grupo discente apontado como infrator. No entanto, essa não deve ser a única atitude tomada pela escola. Além de proteger a vítima, garantindo a ela um ambiente de aprendizagem seguro, também é dever da escola investigar o caso e definir as medidas disciplinares que serão tomadas. Durante a investigação, deve ser garantido aos suspeitos da infração o direito de se explicar. No processo de decisão, segundo Elisa Cruz, a escola precisa refletir sobre três perguntas fundamentais: O que foi praticado viola o código ético da própria escola? Favorece o processo educacional das pessoas envolvidas e do conjunto de alunos manter todo mundo na mesma escola? Como a vítima vai se sentir se tiver que conviver com seus agressores? As respostas para essas perguntas podem nortear a decisão da escola, que pode ser tanto pela reintegração dos alunos suspensos quanto pela expulsão dos infratores. No caso de uma ocorrência registrada em escola pública na qual a decisão da gestão seja pela expulsão do aluno agressor, deve ser mantido o direito do estudante à educação. Portanto, deve ser garantida a ele uma vaga em outra escola da rede. Racismo em ambiente escolar pode ser judicializado? Além de ser necessário que haja uma investigação e uma decisão pela administração escolar, os interessados no caso, sejam os pais da vítima ou a própria escola, podem fazer um registro de ocorrência na polícia ou uma denúncia no Ministério Público em razão do racismo. Caso os infratores tenham entre 12 e 18 anos, podem ser encaminhados para a delegacia de polícia para o registro de ato infracional análogo ao crime de racismo, ou análogo ao crime de injúria racial, a depender da conduta. Quando é racismo? Quando a violação é objetiva, ou seja, quando características de raça são utilizadas para causar violência em outra pessoa. Quando é injúria racial? Sempre que o elemento é subjetivo, quando a honra da vítima é ofendida. Em ambos os casos, se o Ministério Público entender que a denúncia é procedente, os infratores podem ser responsabilizados penalmente. O processo corre na Vara da Infância e Juventude, e os próprios infratores, mesmo que menores de idade, são responsabilizados. Os infratores ficam sujeitos a medidas socioeducativas como advertência, liberdade assistida, podendo chegar até mesmo em internação, que é uma versão penal [de reclusão] para adolescentes da Justiça Criminal dos adultos. O caso também pode ser processado no âmbito civil, cabendo a responsabilização dos pais, na ocasião de os infratores serem menores de 18 anos, podendo resultar na decisão de indenizar financeiramente a vítima. VEJA VÍDEO SOBRE O CASO: Samara Felippo quer a expulsão de alunas acusadas de racismo contra filha VÍDEOS E PODCAST DE EDUCAÇÃO
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29/04 - O abandono em massa das salas de aulas por professores na Venezuela
Baixos salários e condições precárias fazem com que muitos professores mudem de profissão, em busca de algo que lhes permita chegar ao fim do mês. Professores protestam por aumento salarial na Venezuela. Getty Images via BBC Com o dinheiro que recebe a cada 15 dias, Belkis Bolívar consegue comprar apenas uma dúzia de ovos. Nada mais. Com sorte, é suficiente para pagar a passagem de ida de ônibus. Belkis é professora do ensino fundamental. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A venezuelana, moradora de Caracas, exerce sua profissão há mais de 30 anos. Trabalha no turno da noite em uma escola pública e recebe 150 bolívares a cada quinze dias, totalizando 300 bolívares por mês, ou seja, menos de US$ 10 (ou cerca de R$ 50). "Tenho que fazer outras coisas durante o dia para complementar minha renda", conta à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC. Como também é professora de línguas, dá aulas particulares de francês para ganhar um dinheiro extra. Mas também vende almoços, cachorros-quentes e pães recheados com presunto durante o Natal, além de chicha, uma bebida típica da América Latina feita a partir da fermentação de grãos ou frutas. "Aceito qualquer encomenda, qualquer coisa, sempre estou buscando algo diferente para fazer." Seu caso não é único. O baixo salário e as péssimas condições de trabalho estão fazendo com que cada vez mais professores na Venezuela abandonem a profissão. Cerca de 200 mil professores venezuelanos deixaram as salas de aula nos últimos anos, segundo estimativas de associações sindicais. Alguns se juntaram aos que emigraram do país, outros mudaram de profissão. Sem incentivos, isso está causando um esvaziamento das escolas. E, no lado mais vulnerável, estão os alunos, que viram suas horas de aula reduzidas, às vezes ministradas por pessoas que nem sequer estão qualificadas para isso. Sem aumento salarial Belkis Bolívar está considerando deixar o ensino devido aos baixos salários. Arquivo pessoal via BBC Belkis começou a procurar outras formas de ganhar dinheiro fora da docência em 2019, quando deixou de ver "a manteiga no pão". "Eu não vou mais lá [para a escola]. Dando aulas particulares me saio melhor. Só indo todos os dias de ônibus até lá, em uma semana gasto o salário quinzenal", diz. Já lhe propuseram dar aulas no ensino médio, mas o panorama é o mesmo que no ensino fundamental. O salário médio de um professor na Venezuela é de US$ 21,57 por mês (cerca de R$ 107), segundo o relatório do Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores (Cendas-FVM). Em janeiro, a cesta básica familiar estava em US$ 535,63 (aproximadamente R$ 2.678), de acordo com a mesma instituição. Um professor precisa de quase 25 salários por mês para cobri-la. O último ajuste salarial do governo de Nicolás Maduro foi em março de 2022, e o salário base dos funcionários públicos é desde então de 130 bolívares por mês, o que equivale a cerca de US$ 3,6 (R$ 18). Em janeiro passado, Maduro anunciou o aumento do chamado "bônus de guerra econômica" e do ticket de alimentação para o equivalente a US$ 100 por mês (R$ 500). No entanto, nem todos recebem esse bônus. Para isso, é necessário ter o "carnê da pátria", que é obtido ao se registrar no "Sistema Pátria", uma entidade que, segundo setores críticos ao chavismo, é um mecanismo de controle da população. De professora a mototaxista Às vezes, Belkis considera deixar o ensino, mas ela diz que continua por vocação, "para não perder o contato com as crianças". Ao seu redor, muitos professores abandonaram as salas de aula. "Conheço professores que são mototaxistas, que fizeram cursos de gerenciamento de redes sociais, professoras que trabalham fazendo sobrancelhas, colocando cílios... Outros que fizeram um curso de massagem redutora e terapêutica, professores de ginástica que foram para academias. Eles estão em atividades mais lucrativas do que dar aulas em uma escola", explica. Yasser Lenin Sierra é um dos que ingressaram no sistema público de educação e agora trabalham, entre outras coisas, como mototaxistas. "A moeda não vale nada e a necessidade obriga. Com um horário de trabalho de 40 horas por semana e 12 turmas para dar aulas, eu ganhava cerca de US$ 5 por quinzena, e com o cestaticket [um vale alimentação] entre US$ 20 e US$ 25", conta Sierra à BBC Mundo. Este professor de educação física diz que em uma corrida longa de moto, de San José de Cotiza, no oeste de Caracas, até Petare, no leste, pode ganhar entre US$ 8 e US$ 10. "O dobro do que ganhava dando aula em apenas uma corrida. Quando vou ao banco e saco dinheiro para comprar comida, dói. E eu tenho que comer, tenho que ter energia para dar aula, devo vestir roupas adequadas para trabalhar confortavelmente e sem me lesionar", afirma. Além da moto, ele dá 4 horas de aula em uma escola particular, que paga em dólares, e faz "o que aparecer". "Em um bom mês, no total, consigo fazer cerca de US$ 200 a US$ 330. Entre quatro adultos, conseguimos cobrir os gastos da família", explica. Outros, como Belkis e Yasser contam, decidiram não apenas sair das salas de aula, mas deixar a Venezuela em busca de um futuro melhor. Eles se juntam à lista dos 7,7 milhões de pessoas que saíram de um país que continua em uma profunda crise econômica e política. Para conhecer o ponto de vista das autoridades sobre a grave crise do setor educacional na Venezuela, a BBC News Mundo entrou em contato com o Ministério da Educação do país para entrevistar algum de seus representantes, mas o pedido não foi atendido. A opção privada Em 2017, Tulio Ramírez era um dos que estava fazendo as malas para sair do país. Seu currículo era extenso: sociólogo, advogado com mestrado em Formação em Recursos Humanos, doutor em Educação, pós-doutorado em Filosofia e Ciências da Educação, com 38 anos de experiência como professor universitário. Ele lecionava em duas universidades públicas, mas seu salário não ultrapassava US$ 30 por mês. "Eu nem conseguia ir trabalhar porque não tinha como abastecer o carro com gasolina", relata. Ele nos conta isso de Caracas porque, no último momento, recebeu um convite da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), uma instituição privada que lhe ofereceu um salário em dólares. "Quando ouvi o valor, comecei a desfazer minhas malas." A oferta naquele momento era muito boa. Sete anos depois, com a inflação e o aumento do custo de vida na Venezuela, o valor de US$ 1.100 é "bastante decente", mas menor se comparado com outros colegas na América Latina. "Com minha experiência, títulos e classificação, os professores universitários na região ganham em torno de US$ 4.000 a US$ 5.000", diz. No Chile, o salário de um professor pode variar entre US$ 3.000 e US$ 4.500. Na Colômbia, está em torno de US$ 2.300 e no Equador, cerca de US$ 2.000, dependendo do cargo e da antiguidade. Ainda assim, Tulio sabe que é privilegiado. Ele está entre a minoria de educadores que ainda se dedica ao ensino na rede privada, de forma exclusiva e com um pouco mais de dinheiro no bolso. Na Venezuela, de cada dez instituições de ensino, 8 são públicas. A educação com "os 5 menos" Ramírez também é presidente da ONG Assembleia de Educação e vê com preocupação a situação atual. "Temos a educação dos 5 menos: menos professores, menos estudantes, menos investimento na educação pública, menos geração de reposição e menos qualidade na educação. Ela está se deteriorando e não há manutenção", explica. Ele relata que a Universidade Pedagógica Experimental Libertador (Upel), a principal instituição dedicada à formação de professores, tinha 106 mil estudantes em 2010. Em 2022, eram apenas 43 mil. "A educação não é atrativa para nenhum estudante do ensino médio. Para preencher as vagas, levaríamos cerca de 25 anos, e dependemos desses graduados. A situação é extremamente grave", destaca. A Ucab realizou um estudo sobre o estado da educação no país e Carlos Calatrava, diretor da Escola de Educação deste centro, nos diz que o mínimo necessário agora são cerca de 256 mil professores. "Você se perguntará quem cobre isso, quem está nas salas de aula", questiona Ramírez por videochamada. "Os jovens que trabalhavam no programa 'Emprego Juvenil', por exemplo. Ou pais e mães voluntários que sabem algo sobre uma determinada matéria que possam dominar. É assim que estamos indo", responde. Em outubro de 2021, o Ministério da Educação anunciou a incorporação de pelo menos 1.700 jovens do ensino médio do Programa Emprego Juvenil, que oferece empregos em posições de professores. Carlos Calatrava enfatiza o mesmo: "São pessoas sem formação em educação. Alguns o fazem como parte do trabalho social que deve ser feito no ensino médio e ensinam crianças do ensino fundamental. Não estou dizendo que isso seja errado, mas pelo menos deveria haver um professor adulto para orientar". Deixado para trás na lista de espera A outra face dessa situação são as carências enfrentadas pelas crianças, desde o ensino fundamental até o ensino médio e até mesmo nas universidades. Com a falta de professores nas instituições educacionais, há anos foi adotada a medida de os alunos irem para a escola um dia e meio ou dois dias por semana para condensar todas as aulas e disciplinas da semana. Isso é conhecido como "horário mosaico" e ocorre em todos os níveis educacionais, inclusive com o pessoal de manutenção e administrativo. "Nessas condições, como você constrói conhecimento? Como você mantém uma universidade com certa vida acadêmica se não há funcionários, trabalhadores? E você não pode obrigá-los a ir porque não há como, porque os salários de todo o pessoal não são suficientes", reclama Tulio Ramírez. A Venezuela não faz parte de programas de avaliação internacional como o relatório Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Mas também não realiza medições internas oficiais para avaliar o nível educacional e sua evolução. "Me deparo com alunos de Comunicação que não sabem escrever ou médicos que nunca viram um cadáver e, ainda assim, são médicos. Isso é perigoso", afirma Ramírez. A Ucab conduziu vários estudos para avaliar as habilidades acadêmicas dos alunos e, segundo Carlos Calatrava, "a cada ano elas estão diminuindo". "Pode parecer feio dizer isso, mas na Venezuela temos uma qualidade de educação baixa, nula ou regular. Nem sequer alcançamos o mínimo, dez pontos em 20". Eles também observaram uma tendência. Antes existia uma diferença entre a educação pública e privada, sendo esta última de um nível mais elevado. "Essa diferença não existe mais, há uma igualdade na queda", destaca Calatrava. Sem motivação e sem merenda Alguns optaram por montar uma sala de aula em suas próprias casas para obter dinheiro extra. Getty Images via BBC O outro problema dos que realmente frequentam as aulas não se resume apenas à falta de conhecimentos acadêmicos, reconhece Calatrava. "Há uma geração que não entende completamente, que não sabe como lidar emocionalmente com situações como quando um colega, sem querer, os empurra. Há um forte componente socioemocional, de socialização, que está se perdendo com o horário fragmentado." Calatrava observa ainda que há crianças excluídas do sistema "seja pela severidade da crise que estamos enfrentando, ou porque, devido à crise, essas crianças e adolescentes precisam ser incorporados ao trabalho o mais rápido possível". Em 2022, estimava-se que havia 1,5 milhão de crianças fora da escola, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Condições de Vida 2022 (Encovi) da Ucab. Hoje, esse número pode chegar a cerca de 3 milhões, estima Calatrava. "Essas crianças estão presas no ciclo vicioso da pobreza, não conseguem ter acesso à educação, se tornam pais cedo e esse ciclo se repete", observa. "Estamos jogando com o futuro do país". Dentre essas crianças que estão fora da escola, algumas entraram no sistema, mas acabaram desistindo. "O fato de você ir para a aula e não encontrar seu professor, aquele que você conhecia, porque ele renunciou ou saiu do país, e ninguém te atender... Isso desmotiva. Há muita evasão escolar", relata Belkis Bolívar. Além da falta de motivação, ela destaca as dificuldades econômicas enfrentadas por cada família. Belkis lembra de quando trabalhava em uma escola em uma área muito pobre em Antímano, a oeste de Caracas. Ela diz que poucas crianças não conseguiam trazer lanche, "mas sempre levava quatro arepas [bolinhos achatado feito de farinha de miho] prontas e dava para quem não trouxe". "Agora as crianças estão dormindo na sala de aula e não é por preguiça, é por fome. Elas desmaiam, estão desnutridas... E o salário do professor já não é suficiente para fornecer lanches para eles".
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28/04 - A misteriosa origem da palavra 'abracadabra' e seus vários usos ao longo da história
Muito antes de fazer coelhos saírem de cartolas, esta palavra era usada com fins muito diferentes, como espantar demônios e a morte. A palavra 'abracadabra' já foi usada para fazer desaparecer coisas mais sérias do que coelhos. BBC "Abracadabra" é uma palavra curiosa. Talvez você não se lembre precisamente de quando a terá ouvido pela primeira vez, mas provavelmente foi durante a infância. Alguém pode tê-la apresentado como uma palavra mágica, quando você começava a aprender o que é a magia. Logo se entendia que pronunciar essa palavra gera algo inesperado – coisas aparecem ou desaparecem, mudam de forma ou cor ou se movem sozinhas. Esta não é uma palavra de uso cotidiano. Mas, mesmo assim, ela se fixa na mente de inúmeras crianças em todo o mundo. "Abracadabra" faz parte do vocabulário de tantos idiomas que já se afirmou que ela é mais antiga do que a Torre de Babel da Bíblia. Mas o que certamente ninguém contou é o seu significado... Porque ninguém sabe com certeza. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, por exemplo, registra que "abracadabra" é uma "palavra cabalística a que os antigos atribuíam a virtude de curar moléstias". Mas não informa o seu significado exato. E esta não é a única questão. O Dicionário Oxford da Língua Inglesa, desde sua primeira edição, em 1884, indica que a palavra "abracadabra" tem origem "desconhecida". Mas isso não evitou que especialistas tentassem decifrar o mistério, elaborando diversas teorias ao longo dos séculos. Bíblia, divindade, constelação Diversas conjecturas consideram que a palavra "abracadabra" teve origem no início da tradição judaico-cristã. Esta palavra esotérica pode ter se derivado da frase hebraico-aramaica avra gavra. Ela se refere às palavras proferidas por Deus no sexto dia da criação, segundo o Antigo Testamento: "Criarei o homem." Mas esta é apenas uma dentre diversas possibilidades. Outra teoria defende que a palavra talvez provenha do aramaico avra c'dabrah ("acredito com a palavra") ou do hebraico abra kedobar ("aconteceu conforme anunciado"). Trata-se de "uma máxima talmúdica que expressa a crença de que a pessoa que fala tem o poder de fazer com que o mundo exista", segundo o rabino americano Alan Lew (1943-2009) no seu livro This Is Real and You Are Completely Unprepared ("Isso é real e você está completamente despreparado", em tradução livre). Ou seja, o mero ato de pronunciar a palavra ou nomear alguma coisa pode instigar a sua criação. Outros especialistas também acreditam que "abracadabra" venha do aramaico e do hebraico, mas eles consideram que seu significado é totalmente diferente – por exemplo, "desaparece como esta palavra" (abhadda kedkabhra) ou "lança o teu raio até a morte" (abreq ad habra). Existem outras buscas pelo significado, seguindo a hipótese de que "abracadabra" provenha dessas línguas semíticas. Mas também há teorias que se aventuram por caminhos diferentes. Entre as muitas hipóteses mencionadas pelo professor americano Craig Conley no seu livro Magic Words: A Dictionary ("Palavras mágicas: um dicionário", em tradução livre), uma delas defende que "abracadabra" era a divindade suprema dos assírios. Outra afirma que seria uma corruptela do nome do pai da álgebra, o matemático árabe do século IX Abu Abdullah abu Jafar Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi. Já o astrônomo britânico Samson Arnold Mackey (1765-1843) garantiu em 1822 que "abracadabra" é uma frase formulada pelos antigos astrônomos para descrever a constelação de Touro. Existem ainda outras hipóteses, mas o debate não chega a um consenso. Afinal, como explica o Dicionário Oxford, "não foram encontrados documentos que respaldem nenhuma das diversas conjecturas". Mas o fato de que "abracadabra" tenha passado a ser "ininteligível para os herdeiros da tradição, frequentemente desconhecedores do seu sentido e idioma original" – como destacou o acadêmico Joshua Trachtenberg (1904-1959) – acabou se tornando uma virtude. "Existe tão pouca necessidade de que a palavra mágica tenha algum sentido inteligível que, na maioria das vezes, ela é considerada eficaz por ser estranha e sem significado, sendo particularmente preferidas palavras incompreensíveis em idiomas estrangeiros", escreveu o acadêmico Benno Jacob (1862-1945) no livro Im Namen Gottes ("Em nome de Deus", em tradução livre). Por isso, exótica e sem significado, mas talvez mais poderosa justamente por este motivo, "abracadabra" marca sua presença na história há séculos. E sempre se esperou muito desta palavra. Poder transcendental O uso atual da palavra 'abracadabra' é relativamente recente. Getty Images via BBC Muito antes de fazer coelhos saírem de cartolas, "abracadabra" era usada com fins muito diferentes, como espantar os demônios e a morte, além de enfrentar doenças. Seu primeiro uso conhecido aparece nos fragmentos que chegaram até nós do Liber medicinalis, do século III d.C., também conhecido como De Medicina Praecepta Saluberrima. Seu autor é Sereno Samônico. Não se sabe muito a seu respeito, mas ele foi médico do imperador romano Caracala (188-217) e era considerado sábio. Entre diversos outros tratamentos, remédios e antídotos, seu livro menciona um para "a febre mortal que os gregos chamavam de hemitritaion". "A palavra nunca foi traduzida para o latim, seja porque a natureza do idioma não o permite ou porque os pais, acreditando que traduzi-la seria prejudicial para seus filhos, não quiseram dar a ela um nome", escreveu Samônico. O médico se referia à doença conhecida hoje como malária, que devastou a Roma Antiga. Para curá-la, ele recomendava o seguinte: "Escreva em uma folha [de papiro] a palavra ABRACADABRA, repita-a omitindo a última letra, de forma que faltem cada vez mais letras individuais em cada linha [...] até que fique uma única letra como o vértice de um cone. Lembre-se de fixá-la ao pescoço com um fio de linho." A ideia era que a doença iria desaparecer aos poucos, como a palavra "abracadabra". Samônico também receitava untar o corpo com gordura de leão ou usar a pele de um gato doméstico adornada com joias para se proteger contra essa febre. Mas o que permaneceu foi o uso da curiosa palavra, que deixou seus rastros por diversos lugares e culturas. Ela aparece, por exemplo, gravada em algumas das pedras de Abraxas, que os basilidianos – membros da seita gnóstica do século II fundada por Basílides de Alexandria – usavam como talismãs. "Abracadabra" era parte de uma fórmula mágica para invocar a ajuda de espíritos benevolentes para combater doenças e ter boa sorte. A palavra também aparece na "Árvore do Conhecimento" (Etz ha-Da'at), um pequeno códice escrito por Eliseu ben Gad de Ancona, na Itália, no século XVI. O primeiro encantamento incluído no livro é uma "cura celestial" para "todos os tipos de febre". Ele começa dizendo: "Av avr avra avrak avraka avrakal avrakala avrakal avraka avrak avra avr av" Como destaca Zsofi Buda no blog da Biblioteca Britânica, é fácil descobrir neste feitiço a palavra mágica "abracadabra". Na Inglaterra, como em muitos outros lugares, "abracadabra" continuava oferecendo esperanças de cura ainda no século XVIII. A palavra é destacada no livro Um Diário do Ano da Peste (Ed. Artes e Ofícios, 2002), escrito em 1722 pelo autor de Robinson Crusoé, Daniel Defoe (1660-1731). O autor lamenta que as pessoas acreditassem em fraudes "como se a peste [bubônica] não fosse mais do que uma espécie de possessão de um espírito maligno", recorrendo a superstições para afastá-lo. Entre essas superstições, estavam "papéis amarrados com tantos nós; e certas palavras ou figuras neles escritas, particularmente a palavra 'abracadabra', em forma de triângulo ou pirâmide". As pessoas que confiavam nos talismãs continuavam seguindo as instruções fornecidas séculos antes por Sereno Samônico. Elas os usavam por nove dias e depois os descartavam, atirando-os sobre o ombro esquerdo antes do amanhecer em um riacho que fluísse de oeste para leste. Tudo em vão. "Quantos pobres foram depois levados em carros funerários e atirados em fossas comuns com esses pingentes infernais pendurados no pescoço", escreveu Defoe. Havia também quem carregasse amuletos com a pirâmide voltada para cima, para atrair boa sorte. No início do século XIX, com o surgimento da obsessão britânica pelo espiritismo, o famoso ocultista inglês Aleister Crowley (1875-1947) decidiu se apropriar da palavra mágica. Ele reconstruiu "abracadabra" por meio de uma reformulação cabalística que a transformou em "abrahadabra", na sua obra O Livro da Lei, que define os princípios básicos da sua nova religião, chamada Thelema. Para ele, "abracadabra" é "a Palavra do Éon, que significa a Grande Obra cumprida". Naquela época, a palavra já estava perdendo seu suposto poder de cura. Mas, ao mesmo tempo, já adquiria outro significado, quando foi incorporada pelos mágicos aos seus repertórios. Foi assim que, a partir das primeiras décadas do século XIX, "abracadabra" se transformou, como num passe de mágica, no encantamento que conhecemos hoje, desde a infância.
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28/04 - Greve das federais reflete década de desfinanciamento e demandas reprimidas
Após anos de expansão, orçamento de universidades sofreu grandes cortes nos governos Temer e Bolsonaro. Expectativa de aumento de verbas na atual gestão de Lula não se concretizou. Professores da Universidade Federal de Roraima entraram em greve na segunda-feira (22). Rayane Lima/g1 RR O mês de março foi simbólico para alunos, professores e funcionários do Campus dos Malês da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), instituição federal localizada no município de São Francisco do Conde, na região do Recôncavo Baiano (BA). Uma cerimônia no pátio marcou a retomada das obras das salas de aulas do campus, iniciadas em 2014 e jamais terminadas por falta de recursos. "Faz dez anos que funcionamos em locais cedidos pela prefeitura", explica a professora Clarisse Goulart Paradis, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e vice-presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub). De lá para cá, embora a universidade tenha se tornado uma comunidade acadêmica vibrante de alunos negros, quilombolas e africanos dos países de língua portuguesa, com cursos de graduação e pós-graduação, os reflexos da falta de recursos são visíveis. "Não temos sala de aulas para nossos cursos de graduação e pós-graduação; muito antes da pandemia começamos a fazer um esquema híbrido e de rodízio de salas. Temos problemas muito concretos de falta de transporte público, falta de residência universitária, sendo que presença da universidade pressiona o preço dos imóveis", diz Paradis, dando exemplos do que ela chama de cadeia de efeitos do desfinanciamento. A retomada das obras dos dois prédios, que terão salas de aula e laboratórios previstos para ficarem prontos no ano que vem, é um dos primeiros sinais positivos de investimento após anos de retração. Entre 2014 e 2022, o valor investido por estudante pelo governo federal na Unilab caiu em 15,8%, de acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A paralisação de professores e funcionários que acontece em ao menos 29 instituições federais de ensino superior desde 15 de abril, reflete a expectativa do segmento por uma recuperação de orçamento do setor, que viveu forte expansão nos dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva, seguida de redução orçamentária prolongada, especialmente nas gestões dos presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro. O levantamento do Dieese aponta que, entre 2010 e 2022, o valor empenhado por estudante das universidades federais – ou seja, os recursos reservados pela União para investimento – encolheu em 68,7%. Os relatos entre professores, funcionários e alunos apontam um acúmulo de demandas: alunos pagando insumos de laboratório ou interrompendo pesquisas, técnicos substituídos por trabalho terceirizado, falta de residência estudantil e políticas de assistência que integravam a política de expansão das universidades para além dos grandes centros. Expansão interrompida Nascida no auge do Reuni, programa do governo Lula em que o governo federal adotou uma série de medidas para retomar o crescimento do ensino superior público e abrir oportunidades a grupos excluídos, como quilombolas e indígenas, a Unilab é uma das 69 instituições federais que amargaram uma década de investimentos decrescentes, segundo o Dieese. A partir de 2003, foram criadas 14 universidades federais, dez delas voltadas para a interiorização do ensino superior público. Em São Paulo, na Universidade Federal do ABC (UFABC), o valor real investido por estudante caiu 28,8% entre 2018 e 2022, no governo do presidente Jair Bolsonaro; já no período entre 2010 e 2021, a queda total foi de 72,7%. O número de alunos, aulas e serviços prestados, no entanto, não parou de crescer. Entre 2010 e 2021, a relação de alunos matriculados na UFABC por docente subiu de 10,2 para 21; em relação aos funcionários, saltou de 10,8 para 22. Em assembleia pública no dia 16 de abril, o professor Daniel Pansarelli, da Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional da UFABC disse que os custos da universidade dispararam em 2023, com a volta do funcionamento presencial e o reajuste das bolsas. A expectativa era de que o novo governo Lula retomasse o aumento das verbas, o que não aconteceu. "Recebemos para 2024 menos que o valor de 2023. A Lei Orçamentária Anual de 2024 não corrigiu as perdas que as universidades tiveram ao longo dos anos", diz Pansarelli. Fachada da UnB Divulgação/UnB Nem mesmo universidades tradicionais e consolidadas como a Universidade de Brasília (UnB) escaparam dos cortes. Entre 2018 e 2021, o valor real investido por estudante na UnB caiu 18,8%, segundo o Dieese. Em valores nominais, o orçamento total de investimento da UnB apresentou redução de 40%, passando de R$ 34,2 milhões, em 2023, para R$ 20,5 milhões, em 2024, conforme divulgou a universidade em fevereiro. "Este ano a situação é complicada. O orçamento para 2024 nos coloca no cenário de redução orçamentária e com recurso condicionado para a assistência estudantil", disse a decana de Planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional, Denise Imbroisi. A estimativa é que haja um déficit de R$ 25,7 milhões no orçamento em 2024 para arcar com todas as despesas planejadas. Em reunião com o presidente Lula este mês, a diretoria da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Márcia Abrahão Moura, defendeu a importância de valorização dos servidores técnicos-administrativos em educação e docentes, da retomada das políticas de assistência estudantil e destacou, nesse contexto, a autonomia das universidades federais seguindo o exemplo das universidades de São Paulo, onde há estabilidade orçamentária anual, além da garantia constitucional na nomeação de reitores. No encontro, o governo propôs reajuste de 9%, a partir de janeiro de 2025 e de 3,5%, em maio de 2026. Para 2024, o governo já havia formalizado, para todos os servidores federais, proposta de reajuste no auxílio-alimentação, que passaria de R$ 658 para R$ 1 mil (51,9% a mais), de aumento de 51% no auxílio-saúde e no auxílio-creche. Menos publicações, menos qualidade Tanta imprevisibilidade se reflete nos indicadores de qualidade. Segundo a Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec), 29 universidades brasileiras caíram de posições na edição de 2023 do World University Rankings (CWUR). De acordo com a publicação, o principal fator para o declínio geral das instituições brasileiras é o desempenho em pesquisa, em meio à intensa competição global entre instituições bem financiadas. Com processos de seleção bastante exigentes tanto para alunos quanto para professores, as federais são referência de qualidade no ensino superior do Brasil. Dados do Índice Geral de Cursos (IGC) 2022, medido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), apontam que, entre as universidades com nota máxima, 72% são federais. "Quando são identificados problemas de financiamento nas universidades, toda a capacidade produzir pesquisa e conhecimento e de formar profissionais para o mercado de trabalho é comprometida", alerta a supervisora do escritório do Dieese no DF, Mariel Angeli Lopes. "As universidades estão tentando de todas as maneiras fazer a zeladoria da melhor maneira possível, por conta própria, mas com recurso cada vez menor", diz a economista. A falta de recursos interfere diretamente na capacidade de realizar publicações relevantes, explica a economista do Dieese. "Sem laboratório muitas vezes você não consegue fazer as pesquisas de ponta. Fora a incapacidade de dar bolsas para os alunos, investir em viagens para congressos. Tudo isso influencia". Como muitos representantes das federais, Paradis, da Unilab, reconhece a disposição do governo em olhar para o problema das universidades federais, um avanço em relação às gestões anteriores. Para ela, no entanto, é fundamental garantir que o plano de democratizar o acesso ao ensino superior no Brasil seja concluído. "É importante que a democratização seja acompanhada do aumento da qualidade da universidade, não pode ser uma democratização inconclusa". VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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27/04 - Quais são as 3 universidades da América Latina entre as 100 melhores do mundo
A lista de 2024 é liderada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), mas há três representantes latino-americanos — um deles no Brasil. Praça do Relógio na USP Cecília Bastos/Usp Imagens Na lista das 100 melhores universidades do mundo, uma delas é brasileira e somente outras duas também são da América Latina. A lista de 2024 elaborada pela empresa de análise Quacquarelli Symonds (QS) é liderada mundialmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA, o MIT), seguido pela Universidade de Cambridge e pela Universidade de Oxford, ambas no Reino Unido. 🎓O ranking QS é um dos mais prestigiados do mundo. O principal fator que ele leva em consideração é a reputação acadêmica, mas inclui também outras métricas como o número de docentes por aluno. 👩🏽‍🏫 Os avaliadores analisaram mais de 17 milhões de artigos acadêmicos e as opiniões de mais de 240 mil professores e especialistas para elaborar a lista, que é publicada há duas décadas. 👋🏼Este ano, incorporaram nas suas métricas as oportunidades de emprego proporcionadas pelas instituições acadêmicas e pelas redes internacionais de pesquisas que possuem. 10 melhores universidades do mundo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA Universidade de Cambridge, no Reino Unido Universidade de Oxford, no Reino Unido Universidade de Harvard, nos EUA Universidade de Stanford, nos EUA Imperial College de Londres, no Reino Unido Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), na Suíça Universidade Nacional de Cingapura (NUS), em Cingapura University College de Londres (UCL), no Reino Unido Universidade da California, em Berkeley, nos EUA As três universidades latino-americanas entre as 100 melhores do mundo 1. Universidade de São Paulo (USP) A Universidade de São Paulo (USP), fundada em 1934 após a unificação de diversas faculdades já existentes, é hoje a maior e mais prestigiada universidade do Brasil, com mais de 65,7 mil alunos, segundo o levantamento do QS World University Rankings. A USP, que ocupa o 85º lugar no ranking mundial, é uma universidade pública e gratuita, financiada principalmente pelo Estado de São Paulo, além de um grupo de empresas e parte do orçamento nacional. A universidade vem subindo posições na lista nos últimos anos, passando do 121º lugar em 2022 para o 85º este ano. A sua reputação acadêmica é uma das mais elevadas, assim como a sua rede internacional de pesquisa e os seus resultados em termos de colocação profissional. Em 2023, a USP lançou 50 bolsas de pós-doutorado exclusivas para pesquisadores negros, em um país onde 56% da população se identifica dessa forma, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, aqui no Brasil, há mais de uma década existe o sistema de cotas que reserva metade das vagas para alunos provenientes de escolas públicas, o que tem sido considerado um marco nas mudanças no sistema educacional brasileiro. 2. Universidade Nacional Autônoma do México Alguns lugares abaixo, a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) ocupa a 93ª posição, tendo também melhorado sua posição nos últimos anos. Fundada em 1910 como uma universidade nacional, seus quase 160 mil alunos – mais de 4,2 mil deles estrangeiros –, segundo dados do QS World University Rankings, a tornam a maior da América Latina e do mundo. A UNAM tem três vencedores do prêmio Nobel entre seus ex-alunos. 3. Universidade de Buenos Aires A Universidade de Buenos Aires (UBA), embora tenha caído em um ano do 67º para o 95º lugar, é uma das melhores universidades da América Latina. Fundada em 1821 na Argentina, é uma universidade pública gratuita onde se formaram cinco ganhadores do prêmio Nobel. Dos seus mais de 117.000 estudantes, 29.500 são estrangeiros, de acordo com o QS World University Rankings — a maior proporção de estudantes estrangeiros entre as instituições de ensino da região. A Universidade de Buenos Aires enfrenta uma situação delicada devido à decisão do governo argentino de estender o mesmo orçamento de 2023 para 2024 num país com uma inflação interanual de 276%. Na semana passada, o conselho superior da universidade declarou emergência orçamental e convocou uma manifestação em defesa da instituição acadêmica para o próximo dia 23 de abril. Ranking da educação: Brasil está nas últimas posições no Pisa 2022; veja notas de 81 países em matemática, ciências e leitura Ranking aponta a USP entre as 100 melhores universidades do mundo
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26/04 - MEC prorroga prazo para as convocações da lista de espera do Fies
17 de maio é a nova data para quem participa do processo seletivo para fechar contratos de empréstimo e pagar a graduação. Fies oferecerá 112.168 vagas nos dois processos seletivos de 2024. Marcello Casal Jr/ Agência Brasil O Ministério da Educação (MEC) anunciou nesta sexta-feira (26) que prorrogou até 17 de maio o prazo para as convocações da lista de espera do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) do primeiro semestre de 2024. A decisão foi anunciada após reclamações de estudantes, que alegam que erros do Ministério da Educação (MEC) no processo seletivo estão atrapalhando a convocação de novos alunos na lista de espera. Os estudantes — que disputam mais de 67 mil vagas para fechar contratos de empréstimo e pagar a graduação — relatam falhas técnicas, demora excessiva na fila de espera e outros problemas que, na visão deles, exigiriam uma ampliação do prazo de inscrições. Em resumo, as queixas do estudantes são as seguintes: 💻O sistema eletrônico pelo qual os estudantes enviam os documentos na matrícula tem problemas técnicos desde o início do processo, atrasando todas as etapas seguintes; 📋As listas de espera não estão "rodando" no ritmo esperado, por isso, milhares de alunos que não foram aprovados na 1ª chamada aguardam a convocação; 📝A mesma pessoa está sendo aprovada em mais de uma opção de curso (algo vetado pelo edital do Fies); 🗓️ O prazo final do Fies termina em 30 de abril e, mesmo com as falhas relatadas acima, a pasta afirma que "não vislumbra possibilidades de prorrogação”. Além disso: O edital do Fies 2024 foi publicado apenas em 7 de março, quase dois meses após a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — em 2023, o documento saiu em 27 de janeiro, antes das notas da prova. As inscrições do Fies terminaram em 18 de março, após algumas universidades já terem iniciado o ano letivo. Isso fez com que os aprovados, que ainda teriam todo o trâmite da pré-aprovação e da matrícula, perdessem as primeiras semanas de aula. Abaixo, entenda os detalhes dos problemas: 💻Problema 1: sistema de entrega de documentos com falhas 🔴Os alunos que foram pré-selecionados na 1ª chamada (divulgada em 28 de março) tinham de enviar, como é de praxe, uma série de documentos para a universidade. O sistema eletrônico usado pelas instituições de ensino, no entanto, apresentou problemas técnicos e atrasou esse processo. Por isso, o MEC aumentou o prazo para a etapa de conferência de dados pessoais. Segundo relatos enviados à reportagem, mesmo assim, as falhas não foram corrigidas e continuam atrasando as matrículas. "O sistema de acesso das faculdades oscilou muito, falhou e comprometeu os prazos. Foi uma correria gigante [desde o início]", explica Rogério*, coordenador de bolsas e financiamento de uma instituição de ensino privada. "É comum termos intercorrências no Fies, mas, neste ano, foram muitas mudanças [nas regras do programa] em pouco de espaço de tempo. É como trocar o pneu com o carro andando", diz. 📋Problema 2: a lista de espera não está 'rodando' Acontece, então, um efeito cascata: 🔴Quando um candidato que passou na 1ª chamada não efetiva a matrícula ou não entrega os documentos a tempo, a vaga é transferida para a lista de espera (todos os reprovados disputam essa segunda chance). Em geral, a lista "roda" várias vezes, e novos alunos vão sendo convocados. O período para essa "repescagem", segundo o edital, vai de 28 de março a 30 de abril. 🔴No entanto, jovens ouvidos pelo g1 afirmam que a lista de espera não está "rodando" como em anos anteriores. A primeira saiu em 28 de março, como era previsto, mas a segunda só foi divulgada em 18 de abril. Desde então, afirmam os estudantes, nenhum outro nome foi convocado. 🔴Provavelmente, o que explica essa lentidão é justamente o problema no sistema de entrega dos documentos. Forma-se um ciclo: os candidatos pré-selecionados não conseguem completar a matrícula -> o MEC prorroga o prazo para esses alunos entregarem os documentos --> as vagas ficam "represadas" e não são liberadas para as listas de espera. "Durante os 20 dias em que a lista não 'rodou', tive crises de ansiedade constantes, e não consegui ser produtiva nem no trabalho, nem nos estudos", conta Alice Rêgo, de 20 anos, de Xinguara (PA). Ela busca uma vaga em medicina. "Acho que o pessoal do MEC não tem noção do quão difícil é, porque isso mexe com um sonho gigante. Tento vestibular há 5 anos, e o Fies é minha esperança de realizar isso. Estão acabando com a minha saúde mental." Maria Eduarda Souza, de 24 anos, também está aflita com a lentidão das listas de espera. "Estou arrasada, porque só tem uma pessoa na minha frente [na 'fila']. Conversei com alguns alunos que foram convocados para essa mesma faculdade [em Maceió] e que não se matricularam, mas as vagas deles não foram disponibilizadas para mais ninguém depois", conta. 🔴Diante do problema nos mecanismos de matrícula, instituições de ensino estão com vagas do Fies ociosas: nem são ocupadas pelos convocados na 1ª chamada, nem vão para a lista de espera. "Se continuar dessa forma, muitas vagas não serão preenchidas e muitos vão perder a oportunidade de estudar e conseguir concretizar um direito fundamental e garantido pela Constituição Federal de 1988", escreveram candidatos em um e-mail enviado ao MEC. "Precisamos ter uma prorrogação no prazo final para divulgação das listas de espera." A pasta respondeu aos estudantes, em mensagem obtida pelo g1, que “não vislumbra possibilidades de prorrogação”. Jhessyka Neves, de 33 anos, afirma que ficou desnorteada com esse retorno. "A gente fica aguardando, paga cursinho, não sabe se vai pra frente ou pra trás, e a lista não roda. Estou vendo pelo site que tem vaga ociosa, que não tá sendo preenchida", conta a candidata a medicina. 📝Problema 3: aprovação dupla de um mesmo candidato Na segunda lista de espera divulgada pelo MEC, há elementos que não respeitam determinadas regras do programa. O Fies permite que cada candidato se inscreva em até 3 opções (A, B e C) de curso/faculdade, em ordem de preferência. Se, na 1ª chamada, a pessoa for convocada para a alternativa C, por exemplo, não terá o direito a concorrer na lista de espera para a A ou a B. ➡️Resumindo: passou em alguma das suas opções de graduação? Você pode se matricular nela ou abrir mão do Fies neste semestre. Não há chance de disputar a "repescagem" nas suas outras alternativas. Essa regra existe justamente para dar mais chance a todos os alunos que disputam o financiamento. No entanto, o sistema falhou: há registros de candidatos que já tinham sido aprovados na primeira chamada e que, ainda assim, foram selecionados novamente na lista de espera. É o caso de Marina*, que passou "direto" em uma vaga de medicina pelo Fies, mas não quis se matricular e, por isso, nem entregou os documentos para o financiamento. Automaticamente, ela já deveria ter sido excluída do processo seletivo. Só que... seu nome apareceu novamente na lista de espera do Fies, em outra opção de graduação. Ou seja: foi aprovada duas vezes. "Quando vi o e-mail com essa segunda convocação, fiquei preocupada e nervosa, porque sabia de um monte de gente que precisava da vaga e que estava apreensiva. Confrontei a faculdade, já que isso não poderia ter acontecido pelas regras do Fies. Confirmaram que meu nome estava entre os selecionados [de novo]. Enquanto isso, outras pessoas estão tentando se matricular", conta ao g1. * A pedido dos entrevistados, os nomes verdadeiros foram trocados por fictícios. Vídeos Estudantes relatam problemas no processo seletivo do Fies
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26/04 - Enem 2024: prazo para pedir isenção da taxa de inscrição termina nesta sexta; saiba quem tem direito e como solicitar
Candidatos que tiveram isenção no Enem 2023 e não compareceram à prova precisam justificar a ausência para ter direito ao não pagamento em 2024. Pedidos de isenção para o Enem 2024 devem ser feitos até 26 de abril. Na imagem, parcitipante acessa página do Enem Divulgação/Depositphotos Esta sexta-feira (26) é o último dia para candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 solicitarem a isenção do pagamento da taxa de inscrição. Como, até a mais recente atualização desta reportagem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ainda não havia publicado o edital da prova, não é possível saber quanto será cobrado de quem não obtiver essa gratuidade. Na edição de 2023, assim como em anos anteriores, a quantia era de R$ 85. 👉 Os pedidos de isenção devem ser feitos na Página do Participante (enem.inep.gov.br/participante), com o login da conta "gov.br". No X (antigo Twitter), o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, citou o novo álbum da cantora Anitta para convocar os alunos: Initial plugin text Abaixo, confira as respostas para as principais dúvidas sobre o Enem 2024. 💰 Quem tem direito à isenção da taxa de inscrição? Podem pedir a isenção os candidatos que: estiverem no 3º ano do ensino médio de escolas públicas em 2024; estudaram durante todo o ensino médio na rede pública ou como bolsistas integrais da rede privada, desde que tenham renda familiar per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 1.980); sejam membros de família de baixa renda com inscrição no Cadastro Único para programas sociais do governo federal (CadÚnico). 💻 Como solicitar a isenção? É preciso entrar na Página do Participante e informar o CPF, a data de nascimento, o e-mail e um número de telefone válido. ☹️ E quem estava isento no Enem 2023, mas não fez a prova? Neste caso, é necessário entrar na Página do Participante e justificar a ausência (anexando um atestado médico que comprove que o candidato estava doente no dia da prova ou um boletim de ocorrência que prove algum imprevisto, por exemplo). Caso contrário, perderá o direito à isenção. ✉️ Quando sairão os resultados da isenção? Em 13 de maio. Caso o pedido seja negado, é possível entrar com recurso entre 13 e 17 de maio. 📝 Quem conseguir a isenção precisa se inscrever no Enem? Sim. Todos, isentos ou não, deverão fazer a inscrição no Enem 2024, no período que ainda vai ser divulgado pelo Inep. Datas do período de isenção e justificativa 15 a 26 de abril: justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. 13 de maio: resultado da justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. 13 a 17 de maio: recurso da justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. 24 de maio: resultado do recurso da justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. Redação nota mil no Enem: alunos de escola pública que atingiram pontuação dão dicas Vídeos
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26/04 - O aristocrata francês que entendeu a evolução 100 anos antes de Darwin
Se você ainda não ouviu falar dele, ficará surpreso, pois com suas observações ele compreendeu muito do que ainda consideramos ciência de vanguarda. Na imagem, ilustração de Louis Leclerc, francês que pautou a evolução antes de Darwin. Leclerc diferenciou-se por suas contribuições ao cálculo infinitesima. Getty Images (via BBC) Charles Darwin publicou sua obra-prima A Origem das Espécies em 1859, na qual descreveu um mundo antigo em que a vida mudava gradualmente de uma forma a outra sem a necessidade de intervenção sobrenatural. E quando a fúria desencadeada por suas ideias radicais ainda não estava apaziguada, o naturalista começou a ler um livro de um sujeito chamado Georges-Louis Leclerc, um aristocrata francês cujo título de nobreza era conde de Buffon. 👉🏽 Ele havia morrido cerca de 80 anos antes e, quando despertou o interesse do pioneiro da teoria da evolução, já não era tão conhecido. Darwin ficou muito surpreso. "Páginas inteiras (do livro de Buffon) são ridiculamente parecidas com as minhas", escreveu ele a um amigo. "É surpreendente ver o seu ponto de vista nas palavras de outro homem." Tal foi o impacto que em edições posteriores de A Origem das Espécies, Darwin reconheceu Buffon como uma das "poucas" pessoas que tinham compreendido, antes dele, que as espécies mudam e evoluem. "E mais: no 100º aniversário de Darwin, houve uma série de homenagens em que se disse que o trabalho de Darwin não pode ser subestimado, mas que cada ingrediente necessário para a teoria da evolução já estava presente nas idéias de Buffon", disse o escritor Jason Roberts à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC. Uma conquista enorme, mas que Buffon não podia apresentar abertamente em seu tempo: ele tinha que disfarçar, observou Roberts, que investigou a vida e obra de Darwin para o livro Every Living Thing ("Cada Ser Vivo", em tradução livre), "Vários historiadores dizem que (Buffon) sabia que não era o momento adequado para divulgar essas informações, pois o tempo todo ele tinha problemas com a igreja. "Foi Buffon quem disse pela primeira vez que a Terra tinha talvez bilhões de anos, e a escala de tempo era tão grande que a vida poderia ter evoluído a partir de um único ancestral." Dizer algo assim o expôs e fez com que fosse chamado de herege, por apontar que a Terra era mais antiga do que dizia a Bíblia. "Ele sabia que era radical. Por isso, assim que escreveu, acrescentou um parágrafo dizendo: 'Mas esta é, claro, uma especulação ridícula, porque o Livro de Gênesis nos diz o contrário'." Não foi a única vez que ele usou essa estratégia de expor suas idéias e depois atenuá-las em suas obras, particularmente em sua magistral História Natural, Geral e Particular (1749-88). São ideias que surpreendem hoje tanto quanto surpreenderam Darwin há mais de um século e meio, pois a compreensão do cientista francês ia muito além da teoria da evolução. Da mudança climática... Jason Roberts escreveu livro sobre as visões opostas de Buffon e Carl Linneo. Na imagem, a capa do livro ao lado de uma foto do autor. Divulgação (via Getty Images) Embora Buffon seja lembrado como um aristocrata, ele só recebeu seu título de nobreza aos 65 anos, além de um lugar fixo na intelectualidade francesa como um matemático, escritor e erudito brilhante. Sua origem, na verdade, era muito mais humilde: era filho de um cobrador de impostos na Borgonha rural, e a expectativa era que também se tornasse um funcionário público menor. "Mas quando seu tio-avô morreu, deixou-lhe uma fortuna. De repente, aos 11 anos, seu mundo mudou, e ele foi criado para ser um aristocrata presunçoso, embora tenha acabado com muito mais interesse na aristocracia da mente, das ideias." E dedicou grande parte de sua fortuna a criar o que Roberts descreve como "a primeira reserva ecológica". Ela comprou 40 hectares de terra, plantou árvores e preparou-se para observar não só como elas cresciam, mas também quais espécies surgiam. "Foi talvez a primeira pessoa a estudar a natureza no seu contexto, em vez de espécimes mortos isolados, e, como sabia que tudo demoraria a amadurecer, quando tinha 27 anos, impôs-se um rigoroso regime físico para se manter na melhor forma possível durante o maior tempo possível." Aparentemente, surtiu efeito porque "viveu mais de 80 anos, e as pessoas diziam que até morrer parecia ser 20 anos mais jovem". Foi também em sua propriedade onde ocorreu um experimento conhecido: ele aqueceu e deixou em vermelho vivo bolas sólidas de ferro de diferentes tamanhos e observou quanto tempo demoravam para esfriar. 💡 Com os dados que obteve, extraiu uma equação sobre a relação entre o tempo de resfriamento e o volume, e usou-a para calcular a idade da Terra. Seu resultado foi sem sentido, mas tinha lógica: se, como tinham indagado pensadores como Isaac Newton, a Terra poderia ter começado como um pedaço de ferro vermelho brilhante, talvez um remanescente da colisão de um cometa com o Sol, quanto tempo teria demorado para que esfriasse até que pudesse ser habitada, no ponto em que a água não evaporasse? "Nunca ficou totalmente claro se ele realmente fez essa experiência, ou se foi uma experiência hipotética para que as pessoas entendessem o conceito. Ele chegou à conclusão de que foi um tempo muito longo", diz Roberts. "E, escrevendo na década de 1750, ele disse que a mudança climática era uma realidade, que os humanos estavam mudando indelevelmente o meio ambiente do planeta. Ele não previu especificamente o aquecimento global, porque era uma era pré-industrial, mas advertiu que pensássemos mais profundamente sobre por que estávamos explorando recursos e nos assentando em grande escala sem ser necessário." ... até o DNA Como se isso não bastasse, suas observações o levaram a intuir a existência do DNA, o ácido nucleico que contém as informações genéticas usadas no desenvolvimento e funcionamento de todos os organismos vivos, responsável pela transmissão hereditária. "O conceito de Buffon era que, se toda a vida tinha evoluído a partir de um ancestral único, isso significava que os componentes básicos da vida eram os mesmos, que havia moléculas orgânicas que se montavam para criar organismos", conta Roberts. "Então ele disse, basicamente, 'tem que haver algo no processo de reprodução que mudou com o tempo, de maneira que as regras de montagem tenham sido diferentes'." "Se fosse esse o caso, ele questionou, então fazia sentido que houvesse algum tipo de matriz interna, um 'molde' ou um conjunto de instruções que dessem aos organismos sua forma particular." Como no caso de Darwin, que sem dúvida merece o crédito pela teoria da evolução, Gregor Mendel merece o crédito por ter resolvido os aspectos das regras da genética na herança vegetal. "Mas Buffon lançou a ideia. E não podemos afirmar com certeza que tenha inspirado Mendel, embora tenhamos o livro que ele leu quando começou a experimentar e ele contenha uma passagem sobre Buffon que está sublinhada", afirma o escritor. Todas essas ideias, por mais que as disfarçasse, levaram Buffon a ser oficialmente censurado por instituições da Igreja Católica e pela Universidade da Sorbonne, que na época era controlada pela igreja. "Ameaçado apresentar acusações formais contra ele se não renegasse suas afirmações. Ele escreveu uma declaração dizendo: 'Eu me cubro de pó e cinzas e renego qualquer coisa no meu livro que seja contra os ensinamentos da igreja'. Ele pegou essa carta e a colocou na próxima edição de sua obra, e não mudou uma palavra. E disse: 'É melhor ser recatado do que ser enforcado'." Os motivos do esquecimento Tendo feito tudo isso e muito mais, por que Buffon não é mais conhecido? "Ele era", diz Roberts. "Quando Buffon morreu, ela era uma das pessoas mais famosas do mundo. Em Paris havia uma enorme estátua em sua homenagem e cerca de 20 mil pessoas saíram às ruas em seu funeral. Seus escritos foram tão populares que durante o século seguinte seguiu sendo o autor francês mais popular." Estátua do naturalista Georges-Louis Leclerc de Buffon (1707-1788), no Jardin des Plantes, em Paris. Getty Images (via BBC) As razões para o esquecimento são várias, incluindo o fervor anti-aristocrático da Revolução Francesa. Mas, acima de tudo, a rivalidade com outro pioneiro científico que foi seu contemporâneo e também se dedicou à tarefa de explorar a vida: o sueco Carl Linneo, pai da taxonomia. Era seu oposto, inclusive na maneira de encarar sua vida pública. Linneu cultivava a admiração (chamava seus pupilos de "apóstolos"), enquanto Buffon enxergava elogios públicos como "um espectro vão e enganoso". No entanto, o que mais favoreceu Linneu foi uma competição ideológica póstuma incomum na qual sua visão de mundo estava mais em sintonia com as aspirações das potências europeias. "Linneo foi o grande classificador e taxônomo que quis categorizar e rotular tudo. Com a ascensão do colonialismo global, o conceito de apagar os nomes indígenas para as espécies, ou qualquer conhecimento prévio sobre a vida, e essencialmente colonizar conceitualmente através da concessão de novos 'nomes científicos', que muitas vezes imortalizavam quem 'descobria', apelava à mentalidade da época", explica Roberts. "Isso, e a ideia de que a própria natureza poderia ser domesticada." Buffon concordou que o conceito de espécie era necessário para se garantir que se falava do mesmo animal. Mas não era necessário colocar tudo em hierarquias ordenadas, pois isso implicava impor à natureza uma ordem que não existia, explica Roberts. "Ele disse: 'não finjamos que estamos domesticando a natureza colocando essa estrutura artificial sobre ela'." A discordância entre os dois não se reduzia à natureza que rodeava os humanos, mas a eles próprios. Linneu acreditava que os humanos deveriam ser classificados de acordo com os valores europeus. É por isso que lhe é atribuído ter estabelecido categorias raciais para as pessoas. Ele colocou os europeus brancos claramente no topo. O Homo europaeus, como ele o chamava, era loiro, de olhos azuis, "gentil, agudo e inventivo". O Homo africanus era escuro e "lento, malicioso e negligente" enquanto o Homo americanus era de pele vermelha e "inflexível e alegre", e o amarelo Homo asiaticus, "severo, altivo, ganancioso". Buffon rejeitou essa hierarquia racial. "As diferenças são meramente externas", escreveu ele em 1758. "As alterações da natureza são superficiais." "Além disso, pensava que os humanos provavelmente evoluíram para sua forma atual não na Europa, a crença comum, mas sim em algum próximo ao (à linha do) Equador, e certificou-se de que incluísse o norte da África e a China. Isso quando se assumia que os brancos eram o homem original e todos os outros eram uma cópia ruim", afirma Roberts. "Muitos cientistas no século XIX incomodavam-se com a abordagem de Buffon." É por isso que ele foi relegado para o segundo plano. Mas, pouco a pouco, desde o século XX, a visão de Buffon e a importância das suas ideias começaram a ser redescobertas. Com o avanço da ciência, foi-se confirmando o quão pertinente muito do que o aristocrata francês escreveu, e cada vez mais se reafirma o lugar que merece na história. VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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25/04 - VÍDEO: Professora da rede pública do RJ viraliza ensinando pontuação para os alunos com música
Vídeo de Carliene Gerald, de Volta Redonda, foi publicado em 15 de abril e já tem mais de 20 milhões de visualizações. Professora conta que a ideia é facilitar o aprendizado dos alunos. Professora da rede pública viraliza ensinando pontuação para alunos com música Uma professora da rede pública de Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro, viralizou nas redes sociais ao mostrar como ensina pontuação através da música para os seus alunos do 3° ano do ensino fundamental. O vídeo, publicado no Instagram no dia 15 de abril, já soma mais de 20 milhões de visualizações (veja acima). Carliene Gerald tem 29 anos e é professora há mais de uma década. Desde 2021, ela dá aula na Escola Municipal Fernando de Noronha, no bairro Vila Brasília. A ideia de juntar música e educação vem de muito tempo, quando a professora ainda cursava magistério. "Eram muitos conteúdos. Eu já transformava os conteúdos em música e eu aprendia com maior facilidade. Na hora de realizar as provas, era mais fácil", explicou. Na escola em que trabalha, antes de assumir o ensino fundamental, passou pela educação infantil. E a música sempre esteve presente. Carliene Gerald Arquivo pessoal "Desde a educação infantil, eu já canto com as crianças. Quando eu vim para o fundamental, eu vim com esse hábito. Eu resolvi permanecer com esse jeito de cantar com as crianças, essa relação mais afetiva com as crianças", explicou Carliene. A professora está com a mesma turma há três anos. Desde o 1° ano do fundamental, quando passou a dar aula para os alunos, continuou usando a música como ferramenta de aprendizado. Como deu certo, optou por manter a didática. "Eu comecei a perceber que eles começaram a gostar muito dessas musiquinhas. Acompanhei essa turminha do primeiro ano para o segundo, permanecemos assim, do segundo para o terceiro, permanecemos também com as músicas. Chega no terceiro ano o conteúdo fica um pouco mais complexo e é assim: do primeiro para o segundo o conteúdo vai aumentando e do segundo para o terceiro é a mesma coisa, já entendendo que, afinal, é o fim do ciclo da alfabetização", explicou ela. Initial plugin text Carliene afirmou que a ideia principal não é apenas cantar, e sim passar "um momento lúdico onde as crianças possam memorizar o conteúdo com mais facilidade". "Eu sempre canto as músicas com gestos. Não são músicas isoladas. Sempre tem gestos, sempre tem muita brincadeira. Para que quando a criança se lembre daquele conteúdo, ela se lembre daquela música que era uma música legal, uma música alegre. E além de facilitar a memorização, a música tem esse poder, a melodia tem esse poder", comentou. "Às vezes, a gente passa num lugar, escuta uma musiquinha e aquilo fica gravado na nossa cabeça. Com as crianças, é a mesma coisa. Eles escutam tanta coisa, né, tantas músicas, e aí eu achei que tava dando certo. Deu certo trazer esses conteúdos que são um pouco mais complexos não só da língua portuguesa, mas também de outras matérias, como ciências, histórias e geografia", completou. Carliene Gerald Arquivo pessoal Repercussão Com mais de 20 milhões de visualizações e mais de 1 milhão de curtidas, o vídeo de Carliene chegou à atriz Nanda Costa, que a definiu como "maravilhosa". O post tem ainda outros milhares de comentários elogiando a didática da professora. Ela afirmou que não esperava toda essa repercussão. "Eu não acreditei. Foi um susto, porque o meu número de seguidores cresceu muito. Quando eu postei o vídeo tinha 26 mil seguidores. Em dois dias, eu já tinha batido mais de 150", afirmou ela. O número só foi subindo. No momento da publicação desta reportagem, Carliene já tinha mais de 225 mil seguidores no Instagram. Na escola, logo após o viral, a professora foi recebida pelos seus alunos em êxtase e com uma série de perguntas. "As crianças já vieram com uma enxurrada de perguntas: 'Tia, como foi? Eu vi você. E aí, como é que foi? Foi legal. Conta pra gente. Nós vimos você", relembrou. O momento foi gravado e, claro, divulgado no Instagram da professora (assista abaixo). Initial plugin text O carinho recebido por Carliene ultrapassou os muros da escola. Os familiares dos alunos ficaram encantados e valorizaram o trabalho da professora. "Os familiares das crianças começaram a ver, mandaram pras famílias, e eles ficaram assim, nessa euforia. As mães sempre me apoiando, minha família sempre me apoiando, as professoras aqui da minha escola, minha diretora, todo mundo sempre me apoiando, me incentivando", completou Outro viral Initial plugin text Esse não foi o primeiro vídeo da professora que viralizou nas redes sociais. No dia 23 de fevereiro, Carliene publicou um outro dando sugestão para professoras de como trabalhar o combate à dengue com alunos da educação infantil e ensino fundamental por meio da música. O vídeo já soma mais de 720 mil reproduções. A professora contou que não acreditou quando percebeu o tamanho da repercussão. "Eu chorei muito. Chorei muito, porque eu comecei a ver outras crianças de outras escolas cantando. Eu pensei: 'Meu Deus do céu! Como assim uma musiquinha que eu fiz há tantos anos atrás os alunos de outras escolas estão cantando?'. Foi uma sensação de algo que eu compartilhei que tá dando certo pelo Brasil. As escolas começaram a postar nos stories e me marcavam. Aí, eu chorava, chorava, chorava, chorava...", relembrou ela. Trajetória na educação Carliene concluiu o magistério em 2012. Atualmente, ela está cursando pedagogia, com previsão de se formar no final deste ano. Em 2013, começou no seu primeiro emprego como professora. Foi auxiliar de educação em uma creche particular, onde ficou por quatro meses. "Dava muito banho nas crianças. Amava! Ficava com os bebês, ficava com os pequenininhos, tirava a criança de natação, colocava a criança para natação", relembrou. Depois, Carliene assumiu sua primeira turma em uma escola particular, ficando nela por nove anos. Saiu da instituição em 2021, quando começou a dar aula na Escola Municipal Fernando de Noronha. Ela foi convocada pela prefeitura dois anos após ter sido aprovada em um concurso público. "Amo a escola pública. Quando você entende realmente as propostas, o que ela se dispõe a fazer, você se apaixona. Aqui nessa mesma escola onde eu estou, eu já atuei também na gestão, fui convidada pela minha diretora. Trabalhei na parte de gestão da escola por seis meses. Nesse ano, eu estou só com a minha turma de manhã e no projeto sábado na escola, aos sábados", disse a professora. Importância da música Carliene cantando na igreja Reprodução/Arquivo pessoal Neta de maestro, e filha e irmã de professores de música, Carliene cresceu no meio musical. Ela canta na igreja junto com o marido e percebeu que essa arte casaria muito bem com a educação. "Eu enxergo a música como uma ferramenta, uma ferramenta para os professores. A música tem o poder de gerar em nós vários sentimentos. Tem música que a gente escuta que a gente fica triste. Tem música que a gente escuta que a gente fica feliz, que a gente fica animado. E usando essa ferramenta dentro de sala de aula, eu sinto que eu consigo alcançar um número maior de alunos", contou. Siga o g1 no Instagram | Receba as notícias no WhatsApp VÍDEOS: as notícias que foram ao ar na TV Rio Sul
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25/04 - Professores temporários deveriam ser 'exceção' nas redes estaduais, mas estudo mostra situação inversa
Dados analisados pelo Todos pela Educação apontam que 43,6% dos temporários atuam há ao menos 11 anos na profissão. Estratégia garante corpo docente regular com precarização dos contratos de trabalho. Sala de aula no DF; unidade da federação é uma das que teve aumento no quadro de temporários e redução dos contratados. TV Globo/Reprodução O Brasil nunca teve um número tão baixo de professores concursados atuando nas redes estaduais: eram 505 mil em 2013 (68,4% do total), efetivo que caiu para 321 mil no ano passado (46,5%), aponta levantamento do Todos pela Educação. A queda ocorre paralelamente à consolidação de outro tipo de contratação nos estados, os professores temporários. ⛔ "Esse tipo de contratação deveria ser uma exceção, a ser utilizada em casos específicos previstos na legislação, mas o que vemos é que ela tem se tornado a regra nas redes estaduais de ensino", afirma a Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação. Os dados analisados pelo Todos, extraídos da base do Ministério da Educação, apontam que quase metade (43,6%) dos temporários trabalha há ao menos 11 anos na profissão. "(Isso indica) que esse tipo de contratação tem sido utilizado não apenas para suprir uma demanda pontual, mas também para compor o corpo docente fixo de algumas redes de ensino", analisa o Todos em seu relatório. 👨🏼‍🏫 🧑🏼‍🏫 Segundo levantamento do Todos, o total de temporários supera o de concursados desde 2022. "Em 2023, as redes contavam com 356 mil temporários (alta de 55% em uma década), contra 321 mil professores efetivos (queda de 36% no mesmo período)", analisa o levantamento. SP tem 57% de professores não concursados na rede estadual de ensino, aponta Censo Escolar 2023 🏫 Ao longo destes 10 anos, o total de professores em atuação (concursados ou temporários) teve uma redução de 57 mil docentes, o que o Todos pela Educação aponta estar alinhado com a diminuição de matrículas da educação básica, uma consequência da dinâmica demográfica brasileira, do aumento das taxas de aprovação e da redução da evasão escolar. A quantidade de professores temporário e efetivos também varia bastante de acordo com a Unidade Federativa. O levantamento mostra que, em 2023, 14 estados e o Distrito Federal possuíam mais efetivos do que temporários. Nesse cenário, Minas Gerais é o estado com maior porcentagem de temporários na rede estadual, com cerca de 80% dos professores sendo contratados nessa modalidade. A porcentagem também supera os 70% em estados como Tocantins, Acre, Espírito Santo e Santa Catarina. (veja no gráfico abaixo) Já o Rio de Janeiro é o estado com a maior taxa de professores efetivos (96%). Na Bahia, Pará e Rio Grande do Norte, as porcentagens também são elevadas, superando os 90%. Precarização do trabalho O modelo de contratação de temporários significa custos menores para estados: na remuneração, há 15 redes em que o salário dos professores temporários, calculados por hora, é menor que o de professores efetivos em início de carreira, chegando a uma diferença de até 140%, no caso de Pernambuco. Nas outras 10 redes analisadas, não há diferença. 💵"Essa diferença pode ser, inclusive, um dos motivos relacionados ao aumento no número de professores temporários, que podem ser menos onerosos para o estado, já que estes docentes não estão dentro da carreira e, ao se aposentar, não entram na previdência estadual. Além disso, em algumas redes, é comum que professores temporários não tenham os mesmos direitos trabalhistas e benefícios dos efetivos", analisa o estudo do Todos. A precarização do trabalho aparece ainda no tempo de contrato: em nove redes estaduais, o tempo de contrato de professores temporários é de apenas 24 meses, o que obriga que os professores enfrentem um processo de seleção a cada 2 anos, sem garantia de remuneração no intervalo entre os contratos. "É essencial avançar a discussão em duas frentes: aumentar a frequência de realização de concursos e, sobretudo, a qualidade deles, com a melhoria dos instrumentos de seleção e a inclusão de provas práticas; e o investimento em políticas de valorização e profissionalização dos docentes temporários”, afirma Gontijo.
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24/04 - Foguete de garrafa PET pode atravessar mais de 4 estádios de futebol; veja VÍDEO com teste
Alunos de escolas públicas e particulares participam anualmente da Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog), uma olimpíada na qual vencem os modelos mais eficientes. Inscrições vão até 1º de maio. Foguete de garrafa PET pode atravessar mais de 4 estádios de futebol; veja VÍDEO com teste Centro de massa, 3ª Lei de Newton, ação e reação, pressão, aletas… Você se lembra desses conceitos? Acredite: fabricar e lançar um foguete de garrafa PET pode ser uma forma de relembrar (ou aprender) tudo isso (veja o vídeo acima). Mas não pense que vai dar para soltar o objeto na sua sala, viu? Ele é potente: atinge uma velocidade de mais de 100 km/h e já alcançou distâncias superiores a 480 metros. 🚀Desde 2007, alunos do ensino fundamental e do ensino médio participam dessa experiência — e tentam quebrar recordes — na Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog), uma olimpíada organizada pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB), com apoio de entidades como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 🥇Os vencedores, além de receberem troféus e medalhas, ainda podem ganhar uma viagem ao Rio de Janeiro, em Barra do Piraí, para participar da Jornada Brasileira de Foguetes. “Como não tem prova escrita e é um trabalho manual, observamos que mesmo os alunos que tiram notas ruins em matemática podem ir bem na Mobfog — e aí, passam a se interessar pelo assunto e a se sentirem mais confiantes”, explica João Canalle, professor-adjunto da UERJ, astrônomo e presidente da Mobfog. Mais abaixo, entenda como uma garrafa PET pode alcançar uma distância de mais de 400 metros e veja as histórias de dois vencedores da olimpíada: um jovem que foi aprovado na USP e que participará da maior competição mundial de foguetes; e uma aluna com deficiência visual que saiu de um pequeno município na Bahia para mostrar seu experimento no Rio de Janeiro. 🌠Como um foguete de garrafa PET pode ter um alcance tão grande? Foguete feito de garrafa PET funciona a partir da pressão gerada no interior do recipiente Arte/g1 A palavra mágica que faz com que uma garrafa PET, movida por ar comprimido, alcance mais de 400 metros de distância é: “pressão”. Veja a explicação do professor João Canalle abaixo: Antes de encaixar a garrafa à base de lançamento, você deve enchê-la com água (preenchendo ⅓ do volume total). Depois, quando seu foguetinho já estiver pronto para a “viagem”, com a base bem presa ao solo, é hora de “jogar mais ar” lá dentro, usando uma bomba de encher pneu de bicicleta. Cabe a você escolher qual a pressão que vai ser exercida no interior da garrafa. Em pneus de carro, costuma ser de 30 PSI. No foguete, pode ser bem mais do que isso: de 100 PSI, por exemplo. Quanto maior a pressão lá dentro, maior a força com que a água vai ser empurrada para fora. É como se ela não conseguisse mais ficar lá (o mesmo fenômeno que observamos ao estourar um champanhe e ver a rolha escapar). Quando puxamos a corda que está amarrada à garrafa, a água é expulsa “para trás” (ação). Como bem nos ensina a 3ª Lei de Newton, a reação vai acontecer no sentido exatamente oposto: ou seja, a garrafa vai ser disparada “para frente”, como um foguete. O voo vai depender de variáveis como: velocidade do vento, ângulo da garrafa em relação ao chão, formato do foguete e posição das aletas (aquelas abinhas que funcionam como um leme de barco, dando o direcionamento correto). A trajetória vai ser uma parábola com a concavidade voltada para baixo. 🌎Da Mobfog à maior competição de foguetes do mundo Pedro participou do Latin American Space Challenge 2023 e se prepara para mais uma competição internacional Arquivo pessoal Para os jovens que já gostavam de exatas, participar da competição pode literalmente levá-los longe. Pedro Balduci, por exemplo, de 21 anos, foi medalhista da Mobfog quando estava no ensino médio, e agora, como estudante de engenharia da Universidade de São Paulo (USP), prepara-se para a maior competição de foguetes do mundo: a Spaceport America Cup, disputada em junho nos Estados Unidos. O grupo de Pedro concorrerá com o “Pacífico”, que pesa bem mais que uma garrafa PET: 40 kg. “É um foguete com motor sólido, movido por uma mistura de açúcar com nitrato de potássio. Pode chegar ao apogeu [pico de altura] de 3 km”, diz. “Foi a Mobfog que me apresentou a esse mundo. Antes dela, não sabia ainda se queria estudar engenharia, mas participar da olimpíada me deu certeza. Passei a procurar quais universidades tinham grupos de foguetemodelismo, por isso que cheguei à USP [a instituição tem o Projeto Júpiter]”, diz. 👨‍🚀'Tenho deficiência visual, mas tudo foi adaptado para mim', diz vencedora de olimpíada Professor Canalle, da Mobfog, entregou o troféu à aluna Yasmim, que tem deficiência visual Arquivo pessoal Em geral, são os professores de matemática e de física que incentivam os alunos a participar das olimpíadas científicas. Em Tanhaçu (BA), por exemplo, o docente Clébio Almeida, do projeto social “Ciência Para Todos”, foi quem apresentou a competição para Yasmin Silva, de 16 anos. Ela tem deficiência visual e conseguiu, após fazer o reconhecimento tátil de cada peça, construir o foguete e lançá-lo na Mobfog. Como a equipe dela teve um dos melhores desempenhos, ainda foi convidada a ir para a Jornada de Foguetes no Rio. “Essas experiências me ajudaram a aprender os conteúdos, criar mais responsabilidade e ser mais independente. Eu nunca tinha viajado sozinha antes! Foram 26 horas de ônibus. Conheci pessoas novas e dei o primeiro passo para o meu futuro acadêmico”, conta. Lançamento de foguete de garrafa PET realizado pelo g1 Rafael Leal/g1 🔴Como funciona a Mobfog? Na Mobfog, os alunos precisam construir e lançar foguetes de forma oblíqua, a partir de uma base de lançamento. Cada equipe é formada por um professor e um, dois ou três alunos. Há diferentes níveis de competição: 🚀Os foguetes mais simples, elaborados por crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, são feitos de canudo ou de papel e impulsionados por ar comprimido. 🚀E os mais complexos, para alunos a partir do 6º ano, são fabricadas a partir de garrafas PET. Para quem já estiver no ensino médio, o que muda é a forma de propulsão: em vez de usarem ar comprimido, os foguetes feitos de garrafa passam a ser movidos pela reação química entre vinagre e bicarbonato de sódio. Os lançamentos acontecem na escola de cada aluno. Cabe ao professor responsável medir o alcance de cada foguete e passar os resultados para a Mobfog. E atenção: se você for montar um foguetinho, escolha obrigatoriamente um espaço amplo, sem circulação de pessoas. Cronograma da Mobfog Inscrições das escolas e dos alunos: até 1º de maio de 2024 Lançamento dos foguetes nas escolas: até 17 de maio de 2024 (os professores ficam responsáveis por medir o alcance e passar os dados para os organizadores da competição) Jornada de Foguetes: 2º semestre de 2024 (em data a ser definida) Contato para dúvidas: oba.secretaria@gmail.com e +55 (21) 2018-5506 (Whatsapp e ligação) Vídeos
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23/04 - Problemas no Fies: candidatos relatam atrasos na lista de espera e aprovações 'duplas'; MEC diz a alunos que vai manter prazos
Resposta do Ministério da Educação foi enviada diretamente aos estudantes e obtida pelo g1. Alunos afirmam que estão desesperados e ansiosos diante da possibilidade de não serem selecionados até 30 de abril, quando o processo seletivo termina. Estudantes relatam problemas no processo seletivo do Fies Candidatos que se inscreveram no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) do 1º semestre de 2024 afirmam que erros do Ministério da Educação (MEC) no processo seletivo estão atrapalhando a convocação de novos alunos na lista de espera. Os estudantes — que disputam mais de 67 mil vagas para fechar contratos de empréstimo e pagar a graduação — relatam falhas técnicas, demora excessiva na fila de espera e outros problemas que, na visão deles, exigiriam uma ampliação do prazo de inscrições. Ainda assim, a pasta afirmou a esse grupo, por e-mail, que não mudará as datas do programa. Até a mais recente atualização desta reportagem, o MEC não havia respondido às perguntas enviadas pelo g1. Em resumo, as queixas do estudantes são as seguintes: 💻O sistema eletrônico pelo qual os estudantes enviam os documentos na matrícula tem problemas técnicos desde o início do processo, atrasando todas as etapas seguintes; 📋As listas de espera não estão "rodando" no ritmo esperado, por isso, milhares de alunos que não foram aprovados na 1ª chamada aguardam a convocação; 📝A mesma pessoa está sendo aprovada em mais de uma opção de curso (algo vetado pelo edital do Fies); 🗓️ O prazo final do Fies termina em 30 de abril e, mesmo com as falhas relatadas acima, a pasta afirma que "não vislumbra possibilidades de prorrogação”. Além disso: O edital do Fies 2024 foi publicado apenas em 7 de março, quase dois meses após a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — em 2023, o documento saiu em 27 de janeiro, antes das notas da prova. As inscrições do Fies terminaram em 18 de março, após algumas universidades já terem iniciado o ano letivo. Isso fez com que os aprovados, que ainda teriam todo o trâmite da pré-aprovação e da matrícula, perdessem as primeiras semanas de aula. Abaixo, entenda os detalhes dos problemas: 💻Problema 1: sistema de entrega de documentos com falhas 🔴Os alunos que foram pré-selecionados na 1ª chamada (divulgada em 28 de março) tinham de enviar, como é de praxe, uma série de documentos para a universidade. O sistema eletrônico usado pelas instituições de ensino, no entanto, apresentou problemas técnicos e atrasou esse processo. Por isso, o MEC aumentou o prazo para a etapa de conferência de dados pessoais. Segundo relatos enviados à reportagem, mesmo assim, as falhas não foram corrigidas e continuam atrasando as matrículas. "O sistema de acesso das faculdades oscilou muito, falhou e comprometeu os prazos. Foi uma correria gigante [desde o início]", explica Rogério*, coordenador de bolsas e financiamento de uma instituição de ensino privada. "É comum termos intercorrências no Fies, mas, neste ano, foram muitas mudanças [nas regras do programa] em pouco de espaço de tempo. É como trocar o pneu com o carro andando", diz. 📋Problema 2: a lista de espera não está 'rodando' Acontece, então, um efeito cascata: 🔴Quando um candidato que passou na 1ª chamada não efetiva a matrícula ou não entrega os documentos a tempo, a vaga é transferida para a lista de espera (todos os reprovados disputam essa segunda chance). Em geral, a lista "roda" várias vezes, e novos alunos vão sendo convocados. O período para essa "repescagem", segundo o edital, vai de 28 de março a 30 de abril. 🔴No entanto, jovens ouvidos pelo g1 afirmam que a lista de espera não está "rodando" como em anos anteriores. A primeira saiu em 28 de março, como era previsto, mas a segunda só foi divulgada em 18 de abril. Desde então, afirmam os estudantes, nenhum outro nome foi convocado. 🔴Provavelmente, o que explica essa lentidão é justamente o problema no sistema de entrega dos documentos. Forma-se um ciclo: os candidatos pré-selecionados não conseguem completar a matrícula -> o MEC prorroga o prazo para esses alunos entregarem os documentos --> as vagas ficam "represadas" e não são liberadas para as listas de espera. "Durante os 20 dias em que a lista não 'rodou', tive crises de ansiedade constantes, e não consegui ser produtiva nem no trabalho, nem nos estudos", conta Alice Rêgo, de 20 anos, de Xinguara (PA). Ela busca uma vaga em medicina. "Acho que o pessoal do MEC não tem noção do quão difícil é, porque isso mexe com um sonho gigante. Tento vestibular há 5 anos, e o Fies é minha esperança de realizar isso. Estão acabando com a minha saúde mental." Maria Eduarda Souza, de 24 anos, também está aflita com a lentidão das listas de espera. "Estou arrasada, porque só tem uma pessoa na minha frente [na 'fila']. Conversei com alguns alunos que foram convocados para essa mesma faculdade [em Maceió] e que não se matricularam, mas as vagas deles não foram disponibilizadas para mais ninguém depois", conta. 🔴Diante do problema nos mecanismos de matrícula, instituições de ensino estão com vagas do Fies ociosas: nem são ocupadas pelos convocados na 1ª chamada, nem vão para a lista de espera. "Se continuar dessa forma, muitas vagas não serão preenchidas e muitos vão perder a oportunidade de estudar e conseguir concretizar um direito fundamental e garantido pela Constituição Federal de 1988", escreveram candidatos em um e-mail enviado ao MEC. "Precisamos ter uma prorrogação no prazo final para divulgação das listas de espera." A pasta respondeu aos estudantes, em mensagem obtida pelo g1, que “não vislumbra possibilidades de prorrogação”. Jhessyka Neves, de 33 anos, afirma que ficou desnorteada com esse retorno. "A gente fica aguardando, paga cursinho, não sabe se vai pra frente ou pra trás, e a lista não roda. Estou vendo pelo site que tem vaga ociosa, que não tá sendo preenchida", conta a candidata a medicina. 📝Problema 3: aprovação dupla de um mesmo candidato Na segunda lista de espera divulgada pelo MEC, há elementos que não respeitam determinadas regras do programa. O Fies permite que cada candidato se inscreva em até 3 opções (A, B e C) de curso/faculdade, em ordem de preferência. Se, na 1ª chamada, a pessoa for convocada para a alternativa C, por exemplo, não terá o direito a concorrer na lista de espera para a A ou a B. ➡️Resumindo: passou em alguma das suas opções de graduação? Você pode se matricular nela ou abrir mão do Fies neste semestre. Não há chance de disputar a "repescagem" nas suas outras alternativas. Essa regra existe justamente para dar mais chance a todos os alunos que disputam o financiamento. No entanto, o sistema falhou: há registros de candidatos que já tinham sido aprovados na primeira chamada e que, ainda assim, foram selecionados novamente na lista de espera. É o caso de Marina*, que passou "direto" em uma vaga de medicina pelo Fies, mas não quis se matricular e, por isso, nem entregou os documentos para o financiamento. Automaticamente, ela já deveria ter sido excluída do processo seletivo. Só que... seu nome apareceu novamente na lista de espera do Fies, em outra opção de graduação. Ou seja: foi aprovada duas vezes. "Quando vi o e-mail com essa segunda convocação, fiquei preocupada e nervosa, porque sabia de um monte de gente que precisava da vaga e que estava apreensiva. Confrontei a faculdade, já que isso não poderia ter acontecido pelas regras do Fies. Confirmaram que meu nome estava entre os selecionados [de novo]. Enquanto isso, outras pessoas estão tentando se matricular", conta ao g1. * A pedido dos entrevistados, os nomes verdadeiros foram trocados por fictícios. Vídeos Estudantes relatam problemas no processo seletivo do Fies
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22/04 - Pé-de-Meia: Lula diz que governo vai estender programa a inscritos no CadÚnico e incluir mais 1,2 milhão de beneficiários
Previsão anterior contemplava apenas beneficiários do Bolsa Família, segundo Lula. Aumento prevê aporte de R$ 3 bilhões ao ano na iniciativa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta segunda-feira (22) que decidiu modificar a "linha de corte" do programa Pé-de-Meia para incluir mais 1,2 milhão de estudantes na iniciativa. Lula explicou que o governo estenderá o pagamento a alunos que integram famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) dos programas sociais do governo. Antes, conforme o presidente, a linha de corte estava nas famílias que recebem Bolsa Família – o universo de inscritos no CadÚnico é maior do que o de inscritos no Bolsa Família. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o aumento no número de beneficiários do programa prevê aporte de R$ 3 bilhões ao ano. "Quando nós anunciamos o Pé de Meia, a linha de corte era o cadastro do Bolsa Família. Ficou de fora o cadastro do Cad [Único, cadastro dos programas sociais do governo federal]. Nós resolvemos aumentar e colocar a linha de corte no cadastro do Cad e vai entrar, parece, que mais 1,2 milhão meninos e meninas no Pé-de-Meia", disse Lula. Pé-de-meia: governo divulga valores de bolsa para alunos do ensino médio O Pé-de-Meia é um programa do governo federal que, por meio do Ministério da Educação, fornece incentivo financeiro para estudantes de baixa renda regularmente matriculados no ensino médio da rede pública, como forma de combater a evasão escolar. A mudança, segundo Lula, consta na medida provisória assinada nesta segunda para criar o programa Acredita. A nova ação prevê, entre outros pontos, renegociação de dívidas de microempreendedores individuais (MEIs), micro e pequenas empresas, o "Desenrola Para Pequenos Negócios". O Pé-de-Meia contempla alunos dos 14 aos 24 anos. À época da regulamentação do programa, o MEC informou que a prioridade para receber o benefício era dos estudantes que integram famílias que recebem o Bolsa Família. Os valores são repassados da seguinte forma: incentivo para matrícula, no valor anual de R$ 200; incentivo de frequência, no valor anual de R$ 1.800; incentivo para conclusão do ano, no valor anual de R$ 1.000; incentivo para o Enem, em parcela única de R$ 200.
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22/04 - Por que o descobrimento do Brasil nem sempre foi celebrado em 22 de abril
Até 1817, muitas pessoas acreditavam que a data do “descobrimento” era 3 de maio. Desembarque dos portugueses em Porto Seguro, conforme obra de Oscar Pereira da Silva, de 1904 Domínio Público A ideia — ou o conhecimento — de que o território brasileiro recebeu os colonizadores portugueses pela primeira vez em 22 de abril de 1500 não era sabida ou divulgada até o início do século 19. Até 1817, a maior parte daqueles que se importavam com isso julgava ser a data do “descobrimento” o 3 de maio daquele mesmo ano. Há explicações para essa hipótese. E também para o fato de a data correta ter permanecido desconhecida por tanto tempo. É um enredo com nuances que envolvem sigilo estatal, liturgia católica e guerras napoleônicas. 👉 Então vamos ponto a ponto. Hoje é sabido que os portugueses aportaram à costa brasileira em 22 de abril de 1500 por causa de um documento que se tornou praticamente a certidão de nascimento do Brasil: a carta escrita por Pero Vaz de Caminha (1450-1500), integrante da comitiva de Pedro Álvares Cabral (1467-1520), para comunicar ao rei lusitano dom Manuel 1º (1469-1521) o “achamento” de novas terras. Isto fica claro a partir de trechos da carta. Caminha diz que “na terça-feira […], que foram 21 dias de abril, […] topamos alguns sinais de terra”. No outro dia, “quarta-feira seguinte, pela manhã topamos aves a que chamam furabuchos” e “neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!”. Era o 22 de abril do descobrimento. “Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome — o Monte Pascoal. E åa terra — a Terra de Vera Cruz”, descreve ele. Segundo o relato de Caminha, no dia seguinte houve o desembarque. “E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela seguimos direitos à terra”, conta. Ou seja: pelo relato do escrivão oficial da empreitada, os navegantes avistaram sinais de terra no dia 21, tiveram a certeza de estarem próximos a um território no dia 22 e desembarcaram no dia 23. A carta de Pero Vaz de Caminha foi escrita relatando os acontecimentos da viagem de forma cronológica, a partir do dia 9 de março daquele ano até o dia 2 de maio. “[Foi] escrita entre os dias 26 de abril e 1º de maio de 1500” e teve [como objetivo informar ao rei de Portugal, dom Manuel 1º, o descobrimento e apresentar-lhe o que aí se encontrou”, explica o livro "Cronistas do Descobrimento", organizado pelo jornalista Antonio Carlos Olivieri e pelo historiador Marco Antonio Villa. Considerando este documento, não era para restar dúvida: oficialmente poderia se considerar o tal “descobrimento” como tendo ocorrido em qualquer uma das três datas consecutivas, 21, 22 ou 23 de abril. Isto parece óbvio, se a carta tivesse sido publicizada na época. No entanto, a monarquia lusa determinou sigilo. “A escrita da carta de Pero Vaz de Caminha foi concluída em 2 de maio de 1500, sendo o primeiro registro oficial português sobre o encontro do território do atual Brasil”, contextualiza à BBC News Brasil o historiador André Figueiredo Rodrigues, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pintura de Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo feita em 1900 ilustra Pero Vaz de Caminha lendo sua carta a Pedro Alvares Cabral Domínio Público Endereçada ao rei, a carta foi enviada a Portugal pelo navegador Gaspar de Lemos, “em navio separado da esquadra de Pedro Álvares Cabra”, pontua Rodrigues, “que se dirigia para as índias, a fim de cumprir sua missão inicial e consolidar uma rota marítima ao Oriente, contornando a África”. Ao chegar a Portugal, o documento ficou guardado nos arquivos da Secretaria de Estado, pois o rei dom Manuel o classificou como secreto, mandando que o documento não fosse divulgado para evitar que o encontro do Brasil fosse transmitido aos espanhóis, para evitar possíveis invasões e conquistas de terras no território que lhe cabia pelo Tratado de Tordesilhas. Da Secretaria de Estado, a carta acabou sendo encaminhada ao Arquivo Nacional, instalado na Torre do Tombo do castelo de Lisboa. “O silêncio atribuído ao documento o fez ser esquecido nos emaranhados papéis constantes naqueles dois órgãos portugueses”, acrescenta Rodrigues. ➡️ Vale ressaltar que, naqueles séculos de Brasil colônia, não havia nenhuma preocupação em referendar uma data oficial, já que o propósito não era criar símbolos nacionais ou mesmo a ideia da criação de uma nação deste lado do Atlântico. O território brasileiro era apenas um adendo, um anexo, uma fonte de matérias-primas e riquezas para a a metrópole portuguesa. Sobre o escrivão Pero Vaz de Caminha, pouco se sabe. Ele teria nascido no Porto, onde chegou a ocupar o posto de vereador, alguns anos antes de integrar a esquadra de Cabral. Em 1476, herdou do pai o cargo de mestre da balança da Casa da Moeda, um cargo de responsabilidade que seria como escrivão e tesoureiro oficial. Fé na Santa Cruz Se o sigilo estatal explica o desconhecimento público da data, é preciso explicar por que outra acabou sendo aquela entendida como o dia do descobrimento: 3 de maio. Sabia-se que Cabral havia chamado o território de Ilha de Vera Cruz e, depois, de Terra de Santa Cruz. Ora, a interpretação foi religiosa. No calendário litúrgico da época, a comemoração da Santa Cruz era em 3 de maio — a data foi transferida para 14 de setembro depois do Concílio Vaticano 2º, ocorrido entre 1962 e 1965. “Há um grande consenso entre os historiadores e muitos colocam isso como fato de que o nome de Vera Cruz estava associado a uma data religiosa, 3 de maio”, diz à BBC News Brasil o historiador Victor Missiato, pesquisador na Unesp e professor no Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré. “Durante muito tempo o 3 de maio representou a chegada dos portugueses ao Brasil.” Fac-símile de página da carta Domínio Público Rodrigues explica que a origem dessa interpretação remete ao historiador português Gaspar Correia (1492-1561) que, ao narrar o descobrimento do Brasil, “chegou a essa conclusão devido aos nomes dados às novas terras, que foram batizadas como Ilha de Vera Cruz, em 1500, Terra de Vera Cruz, em 1503, Terra de Santa Cruz, também em 1503 e Terra de Santa Cruz do Brasil, em 1505, possivelmente em homenagem ao Dia de Santa Cruz, então celebrado em 3 de maio”. Devido a essa associação entre o território recém-encontrado e os nomes que reportavam à celebração da Santa Cruz, passou-se a acreditar ter sido nesse dia a chegada de Cabral ao futuro território denominado Brasil. A carta de Caminha permanecia preservada na Torre do Tombo. Preservada e praticamente incógnita. “Estava arquivada ali junto à Coroa Portuguesa mas, de fato, não se dava muita atenção a ela, permanecia sem grandes estudos e referências”, diz å BBC News Brasil o sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Mas, conforme pontua Rodrigues, algum diretor do arquivo português determinou que fosse feita uma cópia, entendendo o seu valor. Sua ideia era preservar o conteúdo, fazendo uma espécie de backup. Mesmo relegada à uma certa insignificância, a carta tinha sua existência sabida — apenas não era valorizada e utilizada como ponto de pesquisa. “Era conhecida desde sempre”, enfatiza à BBC News Brasil o historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Unesp. A biblioteca de dom João Avancemos para o início do século 19. No episódio que ficaria conhecido como a fuga da corte portuguesa da invasão das tropas napoleônicas, dom João 6º (1767-1826) transferiu a corte para o Rio de Janeiro. Mas não veio apenas ele e aqueles que lhe eram próximos. Trouxe também todo o aparato estatal e uma riquíssima biblioteca. Conforme frisa Rodrigues, veio “Trazendo consigo a biblioteca real, livros e vários documentos”. Entre eles, a tal cópia “da dita carta, entre os documentos trasladados”. “O documento original permaneceu em Portugal e até hoje está no arquivo da Torre do Tombo, que é o Arquivo Nacional de Portugal”, conta o historiador. “Já a cópia que foi trazida para o Brasil foi parar no acervo do Arquivo da Marinha Real, no Rio de Janeiro.” “Esses documentos chegaram ao Brasil e começaram a ser estudados, de forma que nove anos depois da chegada da família real descobriu-se de fato a existência da carta, alterando aí a data de origem da descoberta do Brasil”, diz Ramirez. Isto porque este material caiu no colo de um sacerdote católico que também atuava como geógrafo e historiador, o padre Manuel Aires de Casal (1754-1821). “Ele teve acesso [à missiva] e tornou público seu conteúdo em 1817”, resume Rodrigues. Capa do livro de Aires de Casal, publicado em 1817 Domínio Público "O padre fez isso no livro Corografia Brazilica". Corografia significa “descrição particular de uma nação ou de uma área geográfica” e esta foi a primeira obra do tipo impressa no território brasileiro. Até a divulgação da carta pelo padre Aires de Casal, a data do 22 de abril como sendo a da ‘descoberta’ oficial do Brasil pelos portugueses era desconhecida. Para Martinez, o episódio simbolizou a “convocação de um documento que comprovasse uma determinada posição de Portugal na história europeia e na história da colonização”. E isso era extremamente importante naquele início de século 19, em que o antigo poderio português havia sido bastante reduzido frente à potência inglesa e à aliança entre França e Espanha. Missiato observa que é interessante notar “o fato de esse documento estar vinculado à monarquia portuguesa e nunca ter sido utilizado [antes], até em termos de reconhecimento da história”. “[A carta] não tinha uma validade histórica tão importante para Portugal e acabou ganhando importância no Brasil quando foi relida a partir de uma nova releitura da história”, analisa ele. Sobre o padre Aires de Casal, poucas informações biográficas são conhecidas. Ele provavelmente nasceu em Portugal — embora alguns historiadores afirmem que ele tenha nascido na Bahia — e acabou vindo à colônia para exercer as funções sacerdotais. Atuou na então província do Ceará e, quando a família real se transferiu para o Rio, aproximou-se da corte com o objetivo de esmiuçar os arquivos como pesquisador. “Eu diria que a importância histórica dele se deve mais à eficiência do trabalho, o fato de ter elaborador a ‘Corografia’, do que a qualquer outra atividade que ele tivesse realizado anteriormente”, avalia Martinez. Essa proximidade com a corte o habilitou a retornar à Portugal juntamente com a comitiva de dom João 6º, em 1821. Os lugares que marcaram o encontro entre povos originários e colonizadores portugueses Criação de uma identidade nacional A nova data, o 22 de abril de 1500, acabaria sendo reforçada após a Independência, a partir de 1822, porque então passou a ser visto como necessária a criação de uma identidade nacional. “O documento foi recuperado dentro de um espírito de valorização política da monarquia portuguesa no contexto pós-napoleônico, com o mundo reorganizado, a partir de 1815, lançando Portugal e outras pequenas nações a uma posição muito vulnerável e secundária diante de uma ordem internacional da Europa polarizada de um lado pela Inglaterra e, de outro, pela aliança entre França e Espanha”, argumenta Martinez. “A publicação da carta de Caminha tem essa motivação: enfrentar o medo e a incerteza das pequenas nações diante do novo cenário de relações de poder que estava se desenhando na Europa pós-napoleônica”, conclui. Era uma maneira de fincar os pés no cenário internacional, ressaltando a relevância de Portugal na vida política. Missiato ressalta que a obra de Aires de Casal, por exemplo, acabou sendo base de diversos estudos do século 19, já que “marcou o início de uma historiografia brasileiro no período”. “Isto foi relevante em um país que ainda não tinha tradição nessa produção”, comenta. “Por fim, esse documento passou a ser representado dentro de um conjunto de documentos oficiais importantes por conta da tentativa de formar uma origem nacional para o Brasil, de criar uma continuidade, um passado histórico, um sentimento de descoberta”, explica Missiato. “Tudo isso é passado pela monarquia do século 19.” A valorização da descoberta da chegada dos portugueses à América e o estabelecimento da colonização, o registro afetivo e devocional e de lealdade à monarquia que estão contidos no texto da carta de Caminha reforçam essa intenção tão necessária no início do século 19: a de criar uma identidade nacional, um patriotismo em Portugal alimentado pela obra de colonização. Essa valorização no cenário internacional era alimentada por idealizações e simbolismos e, como diz o historiador, “a criação de um um mundo, um imaginário, uma identidade baseada em valores simbólicos, morais e políticos”. Além disso, a mudança da data pode ser vista como um lembrete de que, para a história, nenhum conhecimento deve ser encarado como definitivo. “Na historiografia se diz que o passado não é estático, está sempre em movimento, é sempre reinterpretado. De modo que o passado é sempre uma interpretação feita a partir do presente, e eventualmente podem ser que surjam outros documentos para explicá-lo”, explica Ramirez. VÍDEO: Réplica de navio mostra como eram as embarcações dos portugueses que chegaram ao Brasil
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21/04 - Estudantes brasileiros conquistam vitória inédita no maior torneio de robótica do mundo
Time 'Los Atômicos', de São Paulo, conquistou o título na categoria de 9 a 16 anos, uma das mais importantes do evento, realizado em Houston, nos Estados Unidos. Brasil conquista prêmios inéditos em mundial de robótica Um grupo de estudantes brasileiros conquistou um título inédito no maior torneio de robótica do mundo. Realizado em Houston, nos Estados Unidos, o torneio reuniu mais de 15 mil jovens de mais de 50 países para quatro dias de desafios e criatividade. O time "Los Atômicos", de São Paulo, conquistou o título na categoria de 9 a 16 anos, uma das mais importantes do evento. A tarefa do grupo era encontrar uma solução para um desafio contemporâneo. O resultado foi um projeto focado na inclusão e na acessibilidade infantil: um tabuleiro de xadrez controlado por comandos de voz. O Brasil saiu vitorioso com um total de nove medalhas. O torneio valoriza o esforço de estudantes com idades entre 6 e 19 anos, que, em equipes, devem construir e operar robôs, além de desenvolver projetos de ciência e tecnologia para beneficiar suas comunidades. Neste ano, o Brasil foi representado pela maior delegação até então: 144 competidores de escolas públicas e privadas, provenientes de 10 estados diferentes. LEIA TAMBÉM: Inteligência artificial para formular material das escolas públicas de SP: modernização ou risco de erros? Veja análise de especialistas Rotinas de skincare para adolescentes: como conversar com os filhos sobre os riscos da nova tendência das redes sociais Sem esforço, não há genialidade: a criatividade se treina
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21/04 - Rotinas de skincare para adolescentes: como conversar com os filhos sobre os riscos da nova tendência das redes sociais
Especialistas explicam que hábito pode reduzir a saúde da pele, além de alimentar padrões de beleza que causam adoecimento mental. Orientar os pequenos é a principal aposta para combater os riscos. Reprodução/Freepik Como conversar com os filhos sobre os riscos de skincare para adolescentes. Reprodução/Freepik "Pressão estética nessa idade não é algo aceitável." Foi isso que a skatista e influenciadora Karen Jonz escreveu em uma publicação no Instagram na qual pede para que pais, blogueiras e marcas reflitam sobre o impacto da indústria dos cosméticos em crianças. A publicação acompanha um vídeo que mostra a animação da filha de Karen, Sky, de 8 anos, ao entrar em uma loja de cosmético. A tetracampeã mundial do skate falou ainda sobre como os conteúdos das redes sociais e as embalagens, cores, brilhos e desenhos nos cosméticos chamam a atenção dos pequenos. E fez um alerta: os produtos não são para crianças. A publicação de Karen é um outro lado de uma tendência que tem tomado conta das redes sociais nos últimos meses: a de skincare (rotina de cuidados com a pele por meio de produtos) realizada por crianças e adolescentes. Nos diversos vídeos publicados nas redes sociais, produzidos principalmente dos Estados Unidos, meninas de 14 anos ou menos compartilham rotinas complexas de cuidado com a pele, compostas por tônicos, água micelar, esfoliantes, hidratantes faciais e até ácidos e produtos antienvelhecimento. Segundo Elisete Crocco, coordenadora do setor de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB), esse novo hábito é inspirado nas rotinas de skincare sul-coreanas. Ela e a doutora em psicologia clínica pela PUC-Rio e especialista em doenças da beleza, Joana Novaes, avaliam que essa tendência mostra uma adultização precoce, estimula o consumismo e naturaliza a utilização de produtos impróprios para crianças — produtos estes que podem, inclusive, piorar a saúde da pele. Não existe uma lógica real ou uma justificativa clínica para esse movimento. O que vemos são crianças tendo acesso a produtos que elas muito provavelmente não precisam, usando de forma indiscriminada e sem recomendação ou acompanhamento. É impossível prever os prejuízos à longo prazo, mas teremos que lidar com eles daqui a 20 anos. Rotina de beleza sul-coreana transforma cosméticos do país em febre mundial Tendência é perigosa Apesar de não ser possível prever os prejuízos longínquos dessa nova tendência, Elisete Crocco, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que os danos de curto prazo já acontecem cada vez mais frequentemente. "Uma criança que tem a pele normal e começa a usar ácidos que promovem renovação celular acaba alterando a barreira de proteção cutânea, aquela primeira camada de proteção da pele, deixando-a com microfissuras e mais porosa. Com isso, a pele não consegue manter a água para hidratação e acaba ficando ressecada", explica a especialista. Em casos mais drásticos, a falta de orientação adequada e o uso indiscriminado de alguns produtos podem sensibilizar a pele e até causar manchas e queimaduras. Além disso, esse comportamento deixa também danos psicológicos. (Veja mais abaixo.) Com isso em mente, a especialista explica que até o começo da adolescência, apenas beber bastante água para manter a pele hidratada e usar um protetor solar deve ser o suficiente para manter a saúde da pele desde que não haja nenhuma condição dermatológica evidente. Com exceção desses cuidados, qualquer outra rotina de skincare deve ser definida com auxílio de um dermatologista. Elisete diz ainda que, em geral, as primeiras consultas dermatológicas acontecem durante a adolescência, quando o paciente começa a apresentar acne ou mudança na textura da pele. Então, o médico monta uma proposta de tratamento personalizada que leva em conta o tipo e as necessidades da pele. Orientação dos pais Para a psicóloga Cíntia Gouvea, que estuda o impacto das redes sociais na formação da personalidade, os pais devem, sempre que possível, intermediar ou, pelo menos, estar cientes dos conteúdos acessados por menores de 16 anos na internet. Segundo a pesquisadora, além de evitar o consumo de conteúdo impróprio, isso é importante para que os pais saibam quando e como orientar os filhos. "Os pais precisam refletir também se eles são passivos ou ativos em cenários como esse da nova tendência. Tanto estimular esse comportamento quanto fazer vista grossa pode trazer riscos para o filho", alerta a psicóloga. Como educar filhos (e filhas) antimachistas: veja 4 dicas essenciais A especialista em doenças da beleza da PUC, Joana Novaes, avalia que há certa influência do mercado publicitário dos dermocosméticos, que convence os pais de que facilitar o acesso a estes produtos seria cuidar da filha. No entanto, ela diz que é preciso pensar criticamente. Se as crianças veem esses produtos na internet e passam a querê-los, precisamos entender como elas têm acesso a eles. São os pais ou as próprias filhas que compram? Os pais sabem o que as filhas estão comprando e usando? Sabem por que elas querem estes produtos e para que eles servem? Todas essas perguntas devem ser feitas de um lugar de curiosidade genuína, partindo da vontade de ajudar. É a partir das respostas dessas perguntas que os pais podem entender seu papel neste cenário e definir a melhor maneira de orientar os filhos. Essa orientação pode vir tanto dos próprios pais — que podem se informar sobre o assunto, explicar os riscos, descobrir o que está por trás da relação das filhas com estes produtos —, como podem também recorrer à uma dermatologista. "Às vezes, o pai e a mãe não conhecem aquele produto, não sabem para que serve ou como orientar os filhos. Nessas horas, vale sempre procurar um especialista que entende do assunto para explicar de maneira simples do que se trata", explica Elisete Crocco, coordenadora do setor de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB). Mercado da tendência Joana Novaes, especialista em doenças da beleza da PUC, sinaliza que essa tendência é fruto de uma mudança do mercado que impulsionou uma mudança de comportamento. “Antes, as crianças eram vistas como um possível público-alvo futuro. Hoje, elas já movimentam um nicho e já são entendidas como público-alvo atual.” Para a especialista, uma série de coisas alimenta essa tendência, como a apresentação de produtos em embalagens chamativas e infantilizadas e a oferta indiscriminada de conteúdo não especializado nas redes sociais. “Imagine uma criança que usa as redes sociais sem fiscalização dos pais, e que dá de cara com um vídeo de uma jovem de 20 anos testando um produto com uma embalagem fofa, e falando sobre como aquele produto melhorou sua pele. Alguém com 12 anos pode se reconhecer naquilo e achar que precisa usar o produto também." Segundo a especialista, a partir daí, cria-se um comportamento parecido com o que já era observado em outras gerações, mas com o agravante da precocidade. Surge, então, uma geração que consome indiscriminadamente sem considerar seriamente a necessidade daquele produto, baseando-se apenas no desejo de fazer parte daquele movimento, e sem pensar também nos possíveis riscos de aplicar desde tão cedo produtos cosméticos na pele. Outro perigo alertado pela especialista é o da criação de uma falsa imagem pelas crianças da própria aparência, já que boa parte dos conteúdos de beleza disponíveis na internet tendem a reforçar um ideal de beleza que nunca é alcançável e que sempre mudam, criando um ciclo vicioso. Como "desenhar" para os pais o que é a carga mental das mães.) 'É preciso estar disposta a conversar' Karen Jonz, que propôs a reflexão sobre a indústria da beleza e dos cosméticos na rede social, contou ao g1 que fez a publicação porque aquele já era pensamento que carregava consigo como mãe e como internauta. "Só recentemente que comecei a frequentar lojas de maquiagens e cosméticos e lembro de ficar muito confusa, perdida. Aos poucos, fui pesquisando e aprendendo o que priorizar e o que comprar, mas, tendo minha filha comigo naquele ambiente, me liguei de que deveria ser ainda mais confuso para ela", disse. Acho que estamos em um momento comercial de cosméticos diferente, com muita oferta, com muita com muita influência e, ao mesmo tempo, com muita desinformação. E precisamos entender esses fenômenos para conversar e orientar as crianças. Karen diz que já conversou com a filha sobre pressão estética e padrão de beleza, e permite que Sky use maquiagem apenas de forma lúdica, para expressar sua criatividade durante as brincadeiras. Ela pondera que, futuramente, a filha pode ter outra relação com a maquiagem e com sua imagem pessoal. Mas, até lá, se propõe a conversar com Sky para que ela internalize que, independentemente de sua escolha, seja guiada pela própria vontade, e não porque os outros fazem, ou porque os outros esperam que ela faça. A skatista diz que não quer ser regra para outros pais, mas sente que tem cumprido bem seu papel, agindo de maneira que contempla sua relação com a filha. E o segredo não é tão secreto: "o importante é oferecer outras experiências, tirar o foco da internet, e deixar ela ser a criança que ela é". VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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21/04 - Sem esforço, não há genialidade: a criatividade se treina
Os grandes avanços na ciência, na arte e na tecnologia são geralmente atribuídos à genialidade, mas isso ignora todo o trabalho que há por trás. A criatividade, em suma, é uma luta constante na qual é preciso estar muito alerta Divulgação Mozart queixou-se, em uma carta, de ser considerado um prodígio, quando a verdade era que, segundo ele, ninguém no mundo tinha trabalhado mais a técnica musical do que ele. Em outra carta, ele destacou sua predisposição para trabalhar em vez de ficar ocioso e lamentou ter ficado 14 dias sem escrever uma única nota. "Não por preguiça ou descuido, mas porque era impossível para mim." Isso vindo de um dos compositores mais prolíficos e criativos da história da música. Mas então, o que é criatividade? "É criar, criar algo novo", diz o artista Cristóbal Toral, para quem "a criatividade vem de uma vocação". Uma vocação inicial que "é um mistério" e que, no seu caso, foi a pintura. Você precisa de habilidades e de preparação, mas isso não é suficiente, afirma ele em entrevista à DW. "Porque você pode pintar muito bem, mas não contribuir com nada." "A criatividade, em suma, é uma luta constante na qual é preciso estar muito alerta" e "com vontade de inovar e de se renovar", resume. Toral, um dos mais reconhecidos pintores espanhóis em atividade, também viveu "momentos de bloqueio e momentos difíceis". "Mas é claro que isso se resolve pintando, pintando e cometendo erros na tela, e é assim que as coisas surgem... Como disse Picasso, a inspiração deve pegar você trabalhando." "Lembro-me de quando Botero, que era um grande amigo, convidou-me para ir ao seu barco no verão. Um dia eu disse a ele: 'Mas Fernando, você viu o barco maravilhoso que você tem, o desenho dele...? Uma beleza, uma obra de arte!'... E ele riu", lembra, embora o escultor colombiano recentemente falecido tenha concordado com ele. "Quero dizer com isso que a criatividade se expressa não só na arte, mas em uma infinidade de coisas", diz Toral, declarando-se um "apaixonado por design" e citando exemplos que vão de calotas de carros a cafeteiras. A principal pesquisadora da criatividade é a psicóloga americana Teresa Amabile, que não leciona em escola de artes, mas na Harvard Business School, a escola de negócios de maior prestígio do mundo. A sua investigação, que abrange mais de 40 anos de experiências clínicas e observações em setores como as novas tecnologias, centra-se atualmente em como aumentar a criatividade no ambiente de trabalho. Empresas como Pixar ou Apple a convidaram para explicar suas ideias, assim como o Fórum de Davos. Não lhe faltam referências ilustres. Não é brincadeira, é bullying: entenda comportamentos que configuram crime Por que estudar em escola particular no Brasil não é garantia de bom desempenho em exame internacional Por que os japoneses usam palavras de origem portuguesa? Mais de mil invenções e mais de mil tentativas Para ilustrar o surgimento de uma ideia, geralmente usa-se uma lâmpada. Não é por acaso. Foi uma invenção de Thomas Alba Edison, que registrou mais de mil patentes ao longo de sua vida profissional. Quando apresentou a invenção, em 1879, já a pesquisava há mais de um ano e disse ter feito mais de mil tentativas. Perguntaram-lhe se ele não havia desanimado depois de tanto fracasso e ele respondeu que não houve fracasso, que simplesmente aprendeu mil maneiras de como não fazer uma lâmpada. "Grande parte dos freios à criatividade surge das convenções sociais, de preconceitos e estereótipos, aprendizados anteriores, sistemas educacionais repetitivos e mecânicos, tendência ao conformismo, insegurança e medo da rejeição, do fracasso ou do ridículo", enumera o psicólogo Guillermo Ballenato Prieto. "A crítica costuma ser uma grande inimiga da criatividade, é aconselhável reduzi-la nas organizações, bem como limitar ao máximo as sanções quando se comete um erro”, aconselha, em entrevista por e-mail à DW. Thomas Edison, por exemplo, além de possuir outros truques criativos, procurou estimular a criatividade de seus funcionários e impôs em sua oficina uma cota de uma descoberta menor a cada dez dias e uma grande a cada seis meses. É um dos exemplos que Ballenato dá nos cursos para desenvolver a criatividade que oferece na Universidad Carlos III de Madrid. O objetivo de Edison era que todos os seus funcionários aceitassem o desafio. Um de seus alunos mais avançados, Henry Ford, aprendeu com suas técnicas organizacionais e acabou se tornando um dos industriais mais importantes dos Estados Unidos como fundador da empresa automobilística Ford. "Sentir que podemos superar as adversidades nos ajuda a superá-las", afirma Ballenato. Ford expressou isso em outras palavras em uma de suas declarações mais citadas. Amabile diz que, quando começou a abordar a criatividade como objeto de estudo, as pesquisas se concentravam na personalidade do gênio e não no trabalho por trás dele, mas que, na realidade, as pessoas comuns também podem ser criativas, incluindo as crianças. Ballenato segue essa linha. "É possível treinar a mente para desenvolver a criatividade", afirma. "É uma ginástica mental que pode incorporar diversas estratégias. Entre elas destaco o valor de quebrar hábitos, dar voto de confiança ao absurdo, olhar além do aparente, ampliar a perspectiva, investigar e enriquecer a mente com novas informações, manter um registro das ideias..." Assim como Amabile, Ballenato destaca a importância da motivação e da colaboração em equipe. "Com a troca de ideias ocorre uma fecundação cruzada que se nutre de novas informações, perspectivas, relações e associações de ideias", afirma. Também faz diferença a organização do trabalho: "Estruturas mais horizontais e igualitárias tendem a potencializar mais a criatividade do que hierarquias excessivamente verticais", resume. "Paralelamente, é preciso premiar iniciativas, contribuições e ideias", acrescenta. "O bom ambiente de trabalho e a alta motivação são excelentes catalisadores" da criatividade, afirma. Ele também recomenda desconectar-se e o ócio para superar bloqueios. Nesses casos, Cristóbal Toral procura inspiração na natureza e na sua diversidade ilimitada. "Não existem dois verdes iguais nem duas folhas iguais", diz o pintor com admiração. "Criatividade implica inconformismo, abertura à mudança, 'ir além' do convencional. É um estado de consciência e, em última análise, uma atitude perante a vida" conclui Ballenato. Os riscos de crianças consumirem conteúdos gerados por Inteligência Artificial
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21/04 - Inteligência artificial para formular material das escolas públicas de SP: modernização ou risco de erros? Veja análise de especialistas
Secretaria de Educação de São Paulo admite, após documento interno 'vazar', que existe projeto-piloto para usar plataformas digitais na revisão e na atualização de slides exibidos nas aulas. Entenda quais os benefícios e riscos envolvidos na estratégia. Ferramentas de inteligência artificial são avaliadas por governo de SP Michal Jarmoluk/Pixabay A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo prevê usar uma plataforma de inteligência artificial (IA) para formular e atualizar os slides mostrados pelos docentes nas aulas do ensino fundamental II e do ensino médio. ➡️Segundo o órgão, é um “projeto-piloto” que não vai elaborar o conteúdo “do zero”: partirá do que já foi escrito por professores curriculistas (especialistas na formulação de materiais) para “inserir novas atividades, exemplos de aplicação prática do conhecimento e informações adicionais que enriqueçam as explicações de conceitos-chave de cada aula”. ❓Até a mais recente atualização desta reportagem, a Secretaria de Educação de São Paulo não havia confirmado qual será o tipo de ferramenta empregada – não sabemos, portanto, se o governo adotará uma plataforma formulada especificamente para o uso educativo ou se escolherá algo mais generalista, semelhante à versão 3.5 do ChatGPT. Nesta sexta-feira (19), o Ministério Público cobrou explicações do governo paulista e um maior detalhamento do projeto. O g1 conversou com docentes da educação básica e do ensino superior, pesquisadores, autores de materiais didáticos e especialistas em tecnologia para debater: quais os riscos de os materiais apresentarem erros ou limitarem a dinâmica das aulas; de que forma os professores serão impactados pela mudança (terão mais trabalho ou economizarão tempo?); que vantagens e desvantagens existem na adoção de IA na preparação dos slides; quais cuidados são essenciais para que não haja prejuízo aos alunos. Não é a primeira vez que o governo de São Paulo apresenta um projeto de uso da tecnologia na educação e gera discussão entre docentes e pesquisadores. Há oito meses, o governador Tarcísio de Freitas havia tentado abrir mão dos livros impressos e substituí-los somente por materiais didáticos digitais nas salas de aula – o plano foi cancelado após sofrer críticas de especialistas. Antes de entender, mais abaixo, as possíveis consequências do uso de IA na formulação dos slides, veja o que já se sabe sobre o projeto do governo paulista: A ferramenta adotada deve formular a primeira versão da “modernização da aula”, com cerca de 18 slides. Tomará como base os temas pré-definidos pela secretaria estadual e as referências passadas pelo órgão. Um profissional contratado analisará esse conteúdo e fará as adaptações pedagógicas e correções necessárias. Um time interno da secretaria fará uma revisão do material e poderá, se necessário, enviá-lo de volta para o profissional da etapa anterior. Os recursos didáticos (como mapas e imagens) serão colocados nas apresentações. As aulas serão validadas. Cada profissional “revisor” terá dois dias úteis para entregar três aulas. 🔴Inovação ou atitude precipitada? Beatriz Alqueres, gerente-executiva no Instituto Ayrton Senna, acredita que usar a ferramenta de inteligência artificial na revisão dos slides será “formalizar algo que já está acontecendo”. “Todos nós já estamos usando o ChatGPT, por exemplo, para agilizar nossos trabalhos ou fazer pesquisas rápidas. A absorção disso é um ‘foguete’; muito orgânica e fácil. Pode parecer [um ponto de vista] romantizado, mas a IA tem um potencial enorme. Se vamos conseguir explorar adequadamente isso, aí já é incerto.” Esta perspectiva de defender a “modernização” também é defendida por Lucas Rodrigues, mestre em data science pela Universidade de Paris e CEO do Clipping, startup de educação especializada em inteligência artificial. “O governo, ao adotar essa medida, traz uma inovação e começa já a se preparar para o futuro que está vindo. E é uma linguagem que os próprios alunos também vão adotar”, diz. Já Paulo Blikstein, professor de tecnologias da aprendizagem na Universidade Columbia (EUA), afirma que não seria o momento de implementar em sala de aula uma tecnologia considerada por ele tão incipiente. “Não temos experimentos suficientes para saber da taxa de acerto dessas ferramentas. É muito temeroso e problemático usá-las na rede pública. É como ter uma técnica nova de cirurgia, que ainda não foi testada, e aplicá-la no SUS [Sistema Único de Saúde]”, diz. “O governo está agindo de forma apressada, trazendo para alunos algo que precisaria ter sido testado amplamente na academia. Só está indo na onda de inovação tecnológica, colocando em risco a educação das crianças e jovens.” Ele sugere que, antes de haver esse projeto em São Paulo, o governo participasse de um consórcio com pesquisadores de universidades estrangeiras, por exemplo, para elaborar testes mais precisos. 🔴Maior eficiência ou sobrecarga de trabalho dos professores? Rodrigues, da área de data science, vê o uso das ferramentas digitais como uma forma de poupar tempo dos 90 professores curriculistas da rede paulista. “Há um ganho de produtividade, porque, como vemos na proposta, [o conteúdo gerado pela IA] ainda vai passar por uma revisão humana. Uma pessoa que antes gastaria uma semana para escrever [ou atualizar] um conteúdo deve poder conseguir revisar em apenas um dia”, diz. “Isso vai universalizar mais o acesso à educação e dar uma escala maior ao aprendizado.” Para Bernardo Soares, pesquisador em formação docente, educação e tecnologia, e autor de livros didáticos, o efeito pode ser exatamente o oposto: sobrecarregará tanto os professores que revisarão os materiais quanto aqueles que aplicarão os slides no dia a dia. “Já é difícil revisar uma aula feita por outro professor; imagina só a feita por um computador. É o docente que sabe alinhar o conteúdo às necessidades do currículo paulista e da base curricular. Ele vai ter bem mais trabalho [para corrigir tudo]”, diz. Blikstein, da Universidade Columbia, concorda que haverá uma sobrecarga dos docentes. “Um material didático necessita de precisão de 100%. A gente sabe que tipos de erro os humanos costumam cometer, mas e os que a inteligência artificial cometem? São falhas mais difíceis de detectar. É obrigatório revisar os dados, as sequências, os detalhes, as informações. No mundo, já estão percebendo que, em muitos casos, essa revisão demora mais do que elaborar o material ‘manualmente’”, afirma o professor. ➡️A dinâmica de aprimoramento das ferramentas de inteligência artificial depende dos próprios usuários. Quanto mais a plataforma for usada, mais ela “aprende”. Veja um exemplo abaixo: O g1 pediu para o ChatGPT formular slides para alunos do 5º ano sobre funções trigonométricas. Em menos de um minuto, havia um esquema com o que deveria ser abordado em cada tela. No entanto, em vez de chamar um dos elementos do triângulo de “cateto”, o sistema usou o termo “lado”: Resposta do ChatGPT usa o termo "lado", em vez de "cateto" (que seria o mais correto). Reprodução Depois de corrigido, o “robozinho” admitiu que não havia escolhido a melhor palavra da primeira vez: ChatGPT é "corrigido" pelo g1. Reprodução A partir de exemplos como esse, Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), afirma que os professores curriculistas acabarão trabalhando “gratuitamente” para as empresas de tecnologia donas dessas ferramentas. “Treinar uma ferramenta é um trabalho a mais para o docente. Ele já tem conhecimento da BNCC [Base Nacional Comum Curricular] e do currículo, tem experiência em sala de aula. Não vejo como isso possa acrescentar algo positivo.” 🔴Dar mais autonomia para o professor ou ‘engessar’ as aulas? A Secretaria de Educação de São Paulo já fornece atualmente os slides que os professores devem usar nas aulas. É um material que passa atualmente por revisão de humanos e que, mesmo sem a intervenção da inteligência artificial, já é criticado por parte dos professores da rede. “Em geografia, que é a minha disciplina, eu recebo os slides prontos, sem uma sequência didática lógica. Às vezes, são 20 ou 30 que eu preciso passar em 45 minutos de aula. Se não der tempo, não posso voltar a eles na aula seguinte, porque a coordenação e a direção fazem esse controle [do cronograma]”, conta uma docente que preferiu não se identificar. “A direção chega a praticar assédio moral se o professor não usar todo o material.” O g1 questionou a Secretaria de Educação de SP sobre essa denúncia, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Beatriz Alqueres, do Instituto Ayrton Senna, diz que o uso das ferramentas digitais precisa ser associado a uma reflexão sobre as práticas escolares. “Até o uso do livro didático, que já está impresso, pode ‘engessar’ a aula. O ‘pulo do gato’ é pensar na relação dos professores com o material adotado. Como podemos associar tudo para fortalecer a aprendizagem dos alunos?”, questiona. 🔴Ter novas ideias ou correr o risco de errar mais? Alqueires diz que, com a plataforma digital, “os professores vão poder ter apoio para pensar em formas de interdisciplinaridade”. “A ferramenta ajuda a integrar mais os conteúdos de diferentes áreas, sem exigir que o professor domine todos os assuntos. O docente de matemática pode ter sugestões de como associar sua disciplina aos assuntos de física e história”, afirma. “É mais rápido usar a ferramenta de IA do que fazer o professor se apropriar de todos esses conhecimentos.” O pesquisador Soares preocupa-se com a limitação das plataformas digitais em produzir conteúdos – não só no sentido de poder apresentar erros conceituais ou ultrapassados, mas também de restringir a perspectiva do aluno sobre determinado fato histórico. “Li outro dia, nas redes sociais, que usar a IA vai ser o fim da doutrinação política nas escolas. Mas a questão é que, dependendo do modo como a pessoa vai dar o comando para a plataforma, o resultado pode ser ainda mais enviesado. O ChatGPT, por exemplo, vai usar os termos do comando digitado para pesquisar a resposta na rede. Ou seja, vai chegar a resultados que confirmem uma visão específica de algo.” Rodrigues também enfatiza que há esse risco. “Se for usada uma palavra preconceituosa, os resultados podem refletir a mesma ideia. Claro que se diminui o risco com a revisão humana, mas talvez não completamente, porque a informação é replicada [pelo ‘robô’] de forma cada vez mais sutil.” Como o governo não divulgou a ferramenta que usará no projeto, não é possível ainda mensurar os riscos de gerar erros nos materiais. “Espero que não seja algo tão limitado. Já tentei usar o ChatGPT, por exemplo, para dar aula de redação. Pedi sugestões de livros sobre um tema, mas vários que ele me passou sequer existiam”, conta o professor Soares. Quais medidas são essenciais para minimizar riscos no uso de IA? ChatGPT não tem a informação atualizada sobre a presidência do Brasil (busca feita em 19 de abril de 2024). Reprodução A seguir, veja um resumo dos cuidados necessários no uso da IA na formulação do material didático, segundo os especialistas entrevistados pelo g1. Atenção às informações desatualizadas. O ChatGPT 3.5 (versão gratuita), por exemplo, usa uma base de dados ultrapassada e não consegue dizer quem é o presidente atual do Brasil. A checagem de tudo é absolutamente essencial. As ferramentas geram textos que, por serem escritos corretamente, passam a ilusão de sempre estarem corretos. Se o professor não prestar atenção, pode haver erros graves. Os direitos autorais devem ser respeitados. É comum que essas plataformas não citem a fonte original da informação. O profissional que fará a pergunta ou dará o comando para a ferramenta precisará de um treinamento específico. A orientação não deverá ser só pedagógica, mas também técnica. Que termos usar para gerar os resultados esperados? A inteligência artificial não conhece o aluno. Ela produzirá apenas conteúdos objetivos. Cabe à rede direcionar quais são as demandas específicas de cada turma ou escola. Deve haver investimento em tecnologia. Relatos colhidos pelo g1 apontam que, em algumas escolas estaduais, equipamentos como TV e projetor estão quebrados. O professor acaba improvisando uma aula na lousa normal. Por que a Suécia desistiu da educação 100% digital? Vídeos
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19/04 - Governo propõe reajuste maior em 2025 para tentar encerrar greve nas universidades federais e institutos
Nova rodada de negociações termina com Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos reafirmando que não há margem no orçamento para reajuste ainda em 2024. Registros da 4a. Reunião da Mesa Específica e Temporária com o MGI, com representação da entidades dos Técnico-Administrativos da Educação, FASUBRA e SINASEFE. Divulgação/FASUBRA Na tentativa de pôr fim à greve que atinge mais de 50 universidades e 79 institutos federais no país, o governo federal apresentou nesta sexta-feira (19) uma nova proposta com um reajuste maior para professores e técnicos administrativos. De acordo com o secretário de Relações de Trabalho José Lopez Feijóo, o ministério se compromete com a concessão de 9% de aumento em janeiro de 2025 e mais 3,5% em maio de 2026. Na primeira oferta do governo, o reajuste seria de 9% de aumento, sendo 4,5% em 2025 e 4,5% em 2026. Para este ano, não havia previsão de aumento. A nova proposta prevê 9% em janeiro de 2025 e mais 3,5% em maio de 2026, totalizando 12,5%. Não há também previsão de aumento para 2024. "Em relação à proposta que apresentamos na reunião anterior, praticamente dobramos a proposta, inclusive do ponto de vista de impacto orçamentário", afirma o secretário. Na visão de Feijó, a proposta para os docentes foi bem recebida, não houve acordo para o fim da greve, mas o governo entende que a negociação evoluiu positivamente. Para os docentes, a reestruturação de carreira foi um assunto com menos força do que a mesa dos técnicos em educação, no caso dos docentes são demandas para alterar algumas portarias. "Nós atendemos a um pleito muito antigo da categoria, que é a luta pela reestruturação da carreira. Nesta reivindicação, eles tinham 12 pontos, dos quais nove nós atendemos. O que significa um ganho efetivo salarial e uma rapidez na ascensão na carreira. Servidores e servidoras que antes para chegar ao topo da carreira precisariam de 22 anos e meio, agora poderão chegar ao topo em 18 anos, uma redução de quatro anos e meio, o que significa um importante ganho de remuneração", afirma Feijóo. A Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação das Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA) e Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) disseram que a proposta apresentada pelo governo é insuficiente e a greve continua. Sem espaço fiscal em 2024 O secretário-executivo-adjunto do Ministério da Educação (MEC), Gregório Grisa, argumentou não haver espaço fiscal neste ano para reajuste salarial, apenas para os auxílios alimentação, saúde e creche. Para compensar, o governo, em outro aceno aos grevistas, decidiu contemplar aposentados e pensionistas no reajuste desses benefícios, o que não estava previsto inicialmente. O texto que o governo colocou na mesa reajusta já a partir de maio deste ano: o auxílio alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil a assistência à saúde complementar per capita média (auxílio saúde) de R$ 144 para R$ 215 a assistência pré-escolar (auxílio creche) de R$ 321 para R$ 484,90 Histórico da greve O movimento de paralisação começou em março, mas ganhou fôlego nesta semana, quando as tentativas de negociação com o governo federal para reajustar salários e aumentar o orçamento da educação não trouxeram os resultados esperados pelos grevistas. Os níveis de adesão ao movimento grevista são diferentes em cada instituição de ensino — nem sempre todos os setores das universidades e dos institutos estão paralisados. Em algumas universidades, parte dos professores não aderiu à greve; em outras, só os técnicos interromperam as atividades. 🔴 Demandas dos grevistas Além da recomposição salarial, professores e servidores das instituições reivindicam: reestruturação das carreiras; revogação de normas relacionadas à educação que foram aprovadas nos governos Temer (2016-2018) e Bolsonaro (2019-2022), como o novo ensino médio; reforço no orçamento das instituições de ensino e reajuste imediato de auxílios estudantis. 🔴 Impacto para os estudantes Professores do IFPI deflagram greve Eric Souza/g1 Milhares de estudantes já avaliam quais serão os impactos da paralisação. Mesmo compreendendo as reivindicações dos funcionários, estudantes entrevistados pelo g1 relatam, em resumo, as seguintes preocupações: perda de conteúdo pedagógico, especialmente entre quem cursa o ensino médio nos institutos federais e já carrega defasagens do período da pandemia; "calendário corrido" depois do fim da greve, com reposição de aulas nas férias e excesso de matéria ensinada em um período curto após a normalização; incerteza sobre a data da formatura, incluindo o risco de atrasar a inserção no mercado de trabalho formal; demora maior em receber o diploma e possibilidade de ficar de fora dos processos seletivos para universidades no ano que vem, como Sisu e Prouni (caso de quem está cursando no ensino médio nos institutos federais); ansiedade com gastos extras e problemas na alimentação, já que restaurantes/bandejões universitários, que oferecem pratos a menos de R$ 1, estão fechados em alguns locais; prejuízo em projetos de pesquisa, porque há instituições que limitaram o funcionamento das bibliotecas ou interromperam as mentorias dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC); atraso na concessão de novos auxílios estudantis, devido à paralisação do setor administrativo; risco de evasão dos alunos mais vulneráveis, caso a greve se estenda por muitos meses. 🔴 Quando aconteceram as últimas greves nas federais? Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), o histórico de greves em universidades e institutos federais nos últimos 20 anos foi o seguinte: 2005: 112 dias de paralisação pelo reajuste de salários (40 universidades aderiram); 2008: 112 dias de paralisação pela reivindicação de verba para o orçamento (39 universidades aderiram); 2012: 125 dias de paralisação pelo reajuste de salários e de planos de carreira (60 universidades aderiram); 2015: 139 dias de paralisação pelo reajuste de salários (39 universidades aderiram); 2016: 26 dias de paralisação para impedir a aprovação da emenda constitucional 95 (44 universidades aderiram). Educação em greve: 48 universidades e 71 institutos federais aderiram à paralisação
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19/04 - Sem paralisar aulas, professores da UFRJ protestam por melhores condições de trabalho
Docentes apoiam reivindicações, mas tentam diálogo para evitar a greve que atinge mais de 50 universidades federais. O grupo se reuniu na entrada do prédio do Ministério da Fazenda, no Centro do Rio, nesta sexta-feira (19). Com o lema “Eu amo a UFRJ”, o ato cobra por reajuste de salários e investimento em bolsas de pesquisas. Professores da UFRJ protestam por melhores condições de trabalho para evitar greve na instituição Reprodução Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizaram um protesto nesta sexta-feira (19), em frente ao prédio do Ministério da Fazenda, no Centro do Rio de Janeiro. No local, os docentes se manifestaram por melhores condições de trabalho, como reajustes salariais e maior investimento em bolsas de pesquisa na instituição federal. Na última quinta-feira (18), 52 universidades e de 79 institutos federais entraram em greve. Além dessas instituições, 14 campus do Colégio Pedro II também anunciaram adesão ao movimento grevista. Greve nas universidades e institutos federais deixa alunos sob a incerteza de impactos na rotina e nos planos Com o lema “Eu amo a UFRJ”, os professores esperam que a mobilização do grupo possa sensibilizar os gestores da educação no país. Eles acreditam que uma resposta positiva do Governo Federal possa evitar a paralisação das atividades na UFRJ. "Vivemos uma redução contínua do orçamento e o resultado é visível nos corredores, salas, laboratórios, bibliotecas e museus da UFRJ. Mesmo assim seguimos produzindo conhecimento, gerando inovações e servindo com excelência à sociedade brasileira. Queremos condições dignas para seguir nessa trajetória", cobrou Mayra Goulart, presidente da Adufrj, a Associação de Docentes da UFRJ. Servidores da educação de mais de 40 universidades e institutos federais estão em greve A manifestação contou com a participação de cientistas, pesquisadores, estudantes e até do reitor da universidade Roberto Medronho, que estendeu as cobranças também ao Ministério da Educação. "A missão da UFRJ é produzir conhecimento, mas sobretudo conhecimento que seja fundamental para a vida de quem mais precisa, das comunidades carentes nas regiões metropolitanas e nos rincões do nosso país. E não existe produção de conhecimento sem investimento". "Nossa luta aqui não é apenas por mais repasses. Isto é o mais urgente, para a universidade não parar. Mas nossa luta é por mais investimentos também na educação do nosso país", comentou Medronho. Para Tatiana Roque, professora do Instituto de Matemática, sem os repasses do governo, os alunos mais humildes serão os mais afetados. "Com a redução dos repasses a gente não vai conseguir manter estes alunos. A gente precisa de assistência estudantil, de bandejão, de alojamento, sob o risco de perder estes alunos. Não podemos permitir este retrocesso. Educação não é gasto. É investimento", disse Tatiana Roque.
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19/04 - Dia dos Povos Indígenas: valorizar professores é desafio para educação bilíngue e intercultural nas aldeias
Apesar de ser um direito garantido na Constituição Federal, a educação escolar indígena sofre com a formação docente e a falta de estrutura adequada. Crianças na Escola Indígena Sakruiwe, localizada em território Xerente Márcio Vieira/Governo do Tocantins Embora o direito dos povos indígenas à educação escolar seja garantido pela Constituição Federal de 1988, ainda hoje existe uma diversidade de desafios para assegurá-lo na prática, afirmam especialistas nesta sexta-feira (19), quando é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. Um dos problemas que preocupam é a falta de valorização de professores indígenas. 👉🏾 De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, a educação escolar indígena deve ser bilíngue e intercultural para que haja a recuperação e a valorização da memória histórica dos povos indígenas, de suas línguas e ciências, e a reafirmação das identidades étnicas, além do acesso a informações e conhecimentos não indígenas. Os povos indígenas são, de maneira geral, educadores dentro de sua comunidade. Mas, quando olhamos para o aspecto da educação escolar, existe um abismo nas políticas públicas que os deixa à margem do cenário educacional do país. O que é a educação escolar indígena A educação escolar indígena nada mais é do que a institucionalização dos saberes sociais e coletivos dos povos originários somada a uma versão adaptada da educação formal não indígena. “Não se trata de tentar eurocentrizar a educação de estudantes indígenas, levando-os para as escolas, mas de incluí-los e compartilhar com eles saberes da sociedade não indígena, ainda respeitando a individualidade de cada povo e garantindo a sobrevivência de seu modo de vida”, explica Helenice Ricardo. Para Gersem Baniwa, doutor em antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) e membro do povo Baniwa, do Amazonas, garantir a educação escolar indígena nos moldes previstos na Constituição e na LDB é fundamental para dar aos povos indígenas protagonismo em suas formações. Existem escolas em territórios indígenas desde o século 16. O que precisamos é que essas escolas tenham professores indígenas, gestores indígenas, que consigam formar e liderar os estudantes indígenas. Segundo o especialista, que dá aulas no Departamento de Antrolpologia da UnB, permitir aos jovens indígenas a oportunidade de serem educados em suas línguas maternas, por professores integrantes de povos indígenas — enquanto aprendem sobre temas da realidade indígena, mas também sobre assuntos externos a eles — pode ajudá-los a compreender diferentes realidades a partir das próprias. Escola indígena em Rondônia Governo de Rondônia/Divulgação Formação de professores indígenas Um ponto importante para a garantia da aplicação da educação escolar indígena é a formação de professores indígenas com licenciatura, pedagogia ou magistério, capacitados para ensinar estudantes de educação básica. Hoje, já existem licenciaturas interculturais que passsaram a ser ofertadas graças à pressão de movimentos dos povos originários. Esses movimentos acompanharam o aumento da escolarização indígena no século 20 e exigiram o direito a uma educação especializada, ministrada por seus pares. 📚 A ideia desses cursos é que os estudantes indígenas concluam o ensino médio em suas próprias comunidades e tenham a oportunidade de virarem professores licenciados para ensinar as próximas turmas de jovens indígenas. Cursos como esses são financiados por um fundo específico do Ministério da Educação, o Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind). Segundo o MEC, em 2023, o repasse de verbas para o programa foi de R$ 8,6 milhões. Uma das licenciaturas que integran o Prolind é dada pelo Departamento de Educação Escolar Indígena da UFAM, que é ofertada desde 2008 e já formou 370 professores indígenas, segundo Helenice Ricardo. Começamos com uma demanda do Povo Mura e depois atendemos mais sete turmas. Passamos pelos Sateré-Mawé, Munduruku e, a partir de 2011, começamos a atender territórios etnoeducacionais com múltiplos povos. Em 2024, pela primeira vez, uma turma de licenciatura intercultural está se especializando diretamente da sede da UFAM, em Manaus. Antes, as formações aconteciam em pólos da universidade, no interior do estado. "Essa é uma conquista importante não só para os indígenas em formação, que estão ocupando um espaço que lhes pertence, mas também para os demais estudantes não indígenas, que vão aprender de maneira prática que quanto mais múltiplo e diverso é o ambiente universitário, mais saudável ele é", avalia Helenice. 📆 Na UFAM, a licenciatura para professores indígenas dura 4 anos e meio e começa com uma formação geral básica. No terceiro ano do curso, a turma é dividida em três áreas (linguagens, ciências da natureza e ciências humanas e sociais), e volta a ser unificada no final da formação. Segundo Helenice, que integra o departamento responsável pelo curso, essa estrutura está longe do ideal de uma formação bem direcionada, mas explica que, muitas das vezes, um daqueles professores pode ser o único a lecionar o ensino médio em sua aldeia, então, precisa saber um pouco sobre cada área. Vácuos da educação indígena E é isso mesmo que acontece. De acordo com levantamento da ONG Todos Pela Educação obtido com exclusividade pelo g1, em 2023, cada escola indígena de educação infantil tinha menos de dois professores. O levantamento revela que houve aumento no número de escolas, mas queda na média de professores por instituição em comparação a 2021. 2021: 2.035 escolas indígenas de educação infantil, e 4.301 professores atuando nessas instituições. 2023: 2.257 escolas, e 3.869 professores atuantes. Essas mesmas escolas também sofriam com falta de fornecimento de energia elétrica e de material pedagógico infantil e indígena, além de problemas estruturais em 2023. Imagina sair de sua comunidade, de sua região, para estudar e se especializar, e voltar para trabalhar em um local despreparado, impróprio para suprir as necessidades. São meses fora de casa para estudar, recebendo nenhum ou quase nenhum auxílio financeiro, apenas para testemunhar o descaso das redes de ensino. Outros problemas enfrentados pelos professores indígenas são a desvalorização salarial e profissional, e o cenário de incerteza no trabalho, segundo o antropólogo. "Muitos professores que trabalham em escolas indígenas rurais têm contratos temporários, não tem vínculo empregatício com as redes de ensino e acabam trabalhando por baixos salários, correndo o risco de serem demitidos na primeira oportunidade", explica. Segundo o especialista, diante deste cenário, muitos profissionais formados optam por não trabalhar como professores ou escolhem fazer concursos em zonas urbanas em busca de estabilidade profissional. ‘Temos que decolonizar a educação' Gersem Baniwa acredita que garantir a valorização dos professores indígenas é um passo importante para que a educação escolar indígena aconteça da maneira descrita em lei. E ele defende que nem só os povos originários se beneficiariam disso. "Quem foi educado nos moldes da educação tradional tem dificuldade de entender que educação não é uma experiência única, composta dos mesmos elementos. Mas é algo fluido que muda e precisa mudar a partir da realidade de cada um. E isso que é a educação indígena, uma forma de educar adequada aos povos indígenas, mas tão válida e correta quando o ensino formal das cidades", diz. Helenice Ricardo concorda que a partir do exemplo da educação indígena, as escolas brasileiras não indígenas podem aprender muito. Podemos aproveitar essa experiência para criar novas epistemologias e metodologias para nossa educação como um todo, aceitando e permitindo as influências do povo brasileiro, dos afrodescendentes e dos indígenas, oferecendo, assim, uma educação decolonial, diferente do que fazemos há séculos. Para ela, essa é a única forma de expandir a educação de uma maneira inclusiva e mais parecida com a diversidade brasileira. VÍDEOS E PODCAST DE EDUCAÇÃO
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18/04 - Greve nas universidades e institutos federais deixa alunos sob a incerteza de impactos na rotina e nos planos
No ensino médio, alunos temem atraso no diploma e defasagem de conteúdos cobrados no Enem. Já no ensino superior, interrupção de serviços de assistência estudantil pode prejudicar especialmente os mais pobres, afirmam entrevistados. Servidores da educação de mais de 40 universidades e institutos federais estão em greve Milhares de alunos de 51 universidades e de 79 institutos federais já avaliam quais serão os impactos da greve de professores e técnicos deflagrada nestas instituições. Mesmo compreendendo as reivindicações dos funcionários (entenda mais abaixo), estudantes entrevistados pelo g1 relatam, em resumo, as seguintes preocupações: perda de conteúdo pedagógico, especialmente entre quem cursa o ensino médio nos institutos federais e já carrega defasagens do período da pandemia; "calendário corrido" depois do fim da greve, com reposição de aulas nas férias e excesso de matéria ensinada em um período curto após a normalização; incerteza sobre a data da formatura, incluindo o risco de atrasar a inserção no mercado de trabalho formal; demora maior em receber o diploma e possibilidade de ficar de fora dos processos seletivos para universidades no ano que vem, como Sisu e Prouni (caso de quem está cursando no ensino médio nos institutos federais); ansiedade com gastos extras e problemas na alimentação, já que restaurantes/bandejões universitários, que oferecem pratos a menos de R$ 1, estão fechados em alguns locais; prejuízo em projetos de pesquisa, porque há instituições que limitaram o funcionamento das bibliotecas ou interromperam as mentorias dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC); atraso na concessão de novos auxílios estudantis, devido à paralisação do setor administrativo; risco de evasão dos alunos mais vulneráveis, caso a greve se estenda por muitos meses. Os níveis de adesão ao movimento grevista são diferentes em cada instituição de ensino — nem sempre todos os setores das universidades e dos institutos estão paralisados. Em algumas universidades, parte dos professores não aderiu à greve; em outras, só os técnicos interromperam as atividades. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, todos os docentes estão trabalhando, mas o restaurante universitário ficou fechado por três semanas (agora, abre apenas no jantar, de 3ª a 5ª feira). Luísa Cattabriga, aluna da instituição, diz que não tem mais dinheiro para pagar pelas refeições. "Sou aluna pobre e estava contando com R$ 0,70 cobrados no restaurante da faculdade. Agora, estou tendo de gastar o que não tenho para poder me alimentar, sendo que fico o dia inteiro tendo aula, das 9h às 22h. Tem gente que nem está conseguindo comer. Sou a favor da greve, mas falta empatia com a situação dos estudantes", afirma. A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuella Mirella, preocupa-se exatamente com os alunos mais vulneráveis. "Quanto mais o governo demorar para apresentar uma proposta para atender demandas, maior vai ser o risco de evasão dos estudantes, porque fica difícil de se manterem. A gente defende uma reforma completa e entende as reivindicações, mas a universidade precisa voltar a funcionar." Mais abaixo, nesta reportagem, leia depoimentos de alunos afetados pela greve. 🔴O que querem os grevistas? O movimento de paralisação começou em março, mas ganhou fôlego nesta semana, quando as tentativas de negociação com o governo federal para reajustar salários e aumentar o orçamento da educação não trouxeram os resultados esperados pelos grevistas. "Se eu chegasse para vocês e dissesse que a greve não traz prejuízos, seria cinismo da minha parte. Mas estamos tentando ao máximo dialogar com o governo para resolver isso o mais rápido possível. E as reitorias devem congelar o calendário para cumprir depois o número obrigatório de dias letivos", afirma David Lobão, coordenador geral da Sinasefe (sindicato nacional dos servidores federais da educação). "Não é a greve que causa o maior prejuízo, e sim a falta de investimentos. Precisamos da recomposição orçamentária [na educação]. Antes, os filhos dos trabalhadores chegavam [aos institutos federais] e eram aprovados nas melhores universidades depois. Era um nível de excelência que se perdeu nos últimos anos", diz Lobão. Durante o governo Bolsonaro, as universidades e institutos federais enfrentaram sucessivos cortes e congelamentos orçamentários. Em novembro de 2022, por exemplo, essas instituições sofreram um bloqueio de R$ 366 milhões. Segundo Lobão, os grevistas esperam que o governo Lula esteja mais aberto ao diálogo com os trabalhadores. "Não votamos nele para agora ficarmos parados em casa. Os avanços até agora foram tímidos; queremos disputar o que é 'disputável' no orçamento", afirma. ➡️O Ministério da Educação (MEC) afirma que "está atento às demandas e segue em diálogo franco e respeitoso em busca de acordo". "Equipes da pasta trabalham com o governo para apresentar proposta de reestruturação da carreira de técnicos e construir alternativas de valorização dos quadros de servidores públicos das instituições, participando de todas as rodadas nas mesas de negociação", diz o MEC. Uma reunião nesta sexta-feira (19) discutirá as possíveis soluções. 🔴'Posso perder uma vaga de emprego se o calendário acadêmico for alterado', diz jovem Alunos ouvidos pelo g1 se dividem entre reconhecer a necessidade de valorizar professores e funcionários e o desejo de concluir a graduação sem prejuízos. Fernando Bisi, de 22 anos, por exemplo, estuda publicidade e propaganda na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conta que não é contrário à greve, mas fica preocupado com "as incertezas". "Se for uma greve de uma semana, duas ou três, eu não vejo com um problema. O problema é se ela se estender por meses, [porque] eu teria de adiar minha formatura", diz. "Eu me inscrevi em um processo seletivo de uma vaga de empresa em que preciso estar formado até o meio do ano. Posso perder [a oportunidade] se o calendário acadêmico for alterado." Yasmin Santos, de 18 anos, aluna do 4º ano do ensino médio no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), também se preocupa com o atraso do cronograma. "É um terror psicológico ficar em casa sem saber quando vamos voltar. Estamos perdendo conteúdos e, se as aulas forem repostas só no ano que vem, não vamos ter o diploma nem poder entrar na faculdade. Vai ter sido um ano inteiro estudando para o Enem jogado no lixo", conta. Professores do IFPI deflagram greve e UFPI ainda define data; Eric Souza/g1 🔴'Depois, vai ser aquela pressa para passar os conteúdos', teme estudante Rayanderson Silva, de 18 anos, estuda design de moda na Universidade Federal do Ceará (UFCE) e diz que está com receio do ritmo que as aulas terão após a greve. "Sei que os professores veem a greve como algo necessário para chamar a atenção do governo, mas, querendo ou não, isso causa malefícios no aprendizado dos alunos. Já que não estamos tendo conteúdos, nem aulas e nem nada, tudo vai ficar para depois da greve, e vai ser muito corrido, tudo em cima da hora", conta. Ele mora em Horizonte, a 55 km do campus de Fortaleza, onde estuda. "Minha rotina era acordar às 3h30 manhã, pegar o ônibus às 5h e voltar pra casa às 21h. Meu maior receio é quando voltarem as aulas, porque vai juntar essa rotina cansativa com a pressa dos professores em aplicar conteúdos e passar seminários", relata. Anabelle de Amorim, estudante do curso de história da Universidade Federal de Brasília (UnB), também faz a mesma ponderação: ressalta que os incômodos são um efeito colateral de uma reivindicação justa dos profissionais, mas se incomoda com o impacto no acúmulo de atividades. "A greve acaba bagunçando bastante a nossa vida. O calendário acadêmico tinha finalmente sido normalizado depois dos atrasos devido à pandemia e a universidade estava voltando ao ritmo normal. Agora vamos voltar a ter um calendário mais corrido, o que atrapalha bastante nossos estudos e outras atividades, como a pesquisa e a extensão", comenta Anabelle. Antônio Guimarães, estudante de engenharia de produção da mesma universidade, diz que os diferentes níveis de adesão à greve também atrapalham a organização do cronograma. "A greve vem me afetando principalmente do ponto de vista de rotina, porque alguns professores mantiveram as aulas e outros suspenderam. Quando forem repor as aulas terei de ir novamente apenas para algumas matérias, tendo um gasto maior com transporte", conta. 🔴'Não consigo usar a biblioteca', afirma estudante de instituto federal Álvaro Dantas, de 18 anos, está no 4º ano do ensino médio do IFPB e precisa entregar o TCC. A biblioteca, no entanto, está funcionando apenas para a devolução de livros, e não para empréstimos, segundo ele. "Não consigo acessar os arquivos e estou sem a mentoria do TCC. Ficamos de mãos atadas. Precisamos dos professores e de aulas de qualidade. Alguns ainda conseguem pagar um cursinho por fora para ter o conteúdo, mas e os mais pobres, que precisam exclusivamente do ensino público? Vão ficar prejudicados no Enem?", questiona. 🔴Quando aconteceram as últimas greves nas federais? Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), o histórico de greves em universidades e institutos federais nos últimos 20 anos foi o seguinte: 2005: 112 dias de paralisação pelo reajuste de salários (40 universidades aderiram); 2008: 112 dias de paralisação pela reivindicação de verba para o orçamento (39 universidades aderiram); 2012: 125 dias de paralisação pelo reajuste de salários e de planos de carreira (60 universidades aderiram); 2015: 139 dias de paralisação pelo reajuste de salários (39 universidades aderiram); 2016: 26 dias de paralisação para impedir a aprovação da emenda constitucional 95 (44 universidades aderiram). 🔴Entre os grevistas, há divergências nos percentuais de reajuste Professores e servidores das instituições reivindicam: reestruturação das carreiras; recomposição salarial; revogação de normas relacionadas à educação que foram aprovadas nos governos Temer (2016-2018) e Bolsonaro (2019-2022), como o novo ensino médio; reforço no orçamento das instituições de ensino e reajuste imediato de auxílios estudantis. Os percentuais de reajuste estão em debate. Na UNB, os professores pedem recomposição salarial com reajuste de 22,71%, divididos em três parcelas: 2024: 7,06% 2025: 7,06% 2026: 7,06% O governo federal, por meio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), propôs um reajuste de 9% dividido em duas parcelas: 2024: sem reajuste 2025: 4,5% 2026: 4,5% O governo também apresentou uma proposta de reajuste dos auxílios alimentação, saúde e creche que não contempla aposentados e pensionistas. O texto que o governo colocou na mesa reajusta já a partir de maio deste ano: o auxílio alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil (alta de 51,9%) a assistência à saúde complementar per capita média (auxílio saúde) de R$ 144 para R$ 215 a assistência pré-escolar (auxílio creche) de R$ 321 para R$ 484,90 Ministério da Gestão anunciará proposta Em nota, o Ministério da Gestão informou que apresentará, na sexta-feira (19), uma "proposta convergente" com o relatório do grupo de trabalho formado por representantes dos Ministérios da Educação e da Gestão, das universidades e instituições de ensino, além de entidades sindicais representantes dos servidores do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE). "A reestruturação de carreiras na área de Educação é um compromisso prioritário do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. (...) O Ministério da Gestão segue aberto ao diálogo com os servidores da área de educação e de todas as outras áreas", informou o ministério. Educação em greve: 48 universidades e 71 institutos federais aderiram à paralisação
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17/04 - Ferramenta de inteligência artificial do governo paulista já corrigiu mais de 400 mil redações desde dezembro
Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostram ainda que a Secretaria Estadual da Educação prevê gastar R$ 900 mil por mês pela ferramenta de 'assistente de correção virtual' da plataforma Redação Paulista. Inteligência artificial está sendo testada para produzir material didático Implementada em 30 de novembro de 2023, uma ferramenta de assistência virtual de correção de redações criada pela Secretaria Estadual da Educação de São Paulo (Seduc-SP) já corrigiu, até 25 de março, 405.410 redações escritas por estudantes da rede e inseridas na plataforma Redação Paulista. Pelo menos 23.375 professores em 4.210 escolas estaduais usaram a ferramenta no mínimo uma vez. Os dados foram obtidos pelo SP2 via Lei de Acesso à Informação (LAI), e mostram que o governo prevê gastar uma média de R$ 900 mil por mês pelo uso do "assistente de correção virtual", ou cerca de R$ 10 mil em todo o ano de 2024. Em dezembro de 2023, primeiro mês de operação da ferramenta, foram gastos R$ 350 mil. LEIA MAIS: Governo de SP avalia utilizar inteligência artificial para 'aprimorar' conteúdo digital nas escolas estaduais IA da Seduc corrige, professor revisa A ferramenta funciona na plataforma Redação Paulista, que já existia antes da adoção de inteligência artificial. Segundo dados da própria secretaria, "mais de 2,4 milhões de estudantes submeteram 3,5 milhões de redações" apenas no segundo semestre de 2023. Com a assistente virtual, a pasta afirmou, em dezembro, que a ideia é agilizar e facilitar essas revisões. A Seduc-SP informou, via LAI, que a "correção é apresentada apenas para o professor, que pode editar os comentários e a nota apresentada". A TV Globo procurou a Seduc para saber se a revisão é obrigatória para todas as redações. Por meio da assessoria de imprensa, a secretaria atualizou os números informados via Lei de Acesso à Informação e disse que "com o encerramento do 1º bimestre, 1,9 milhão redações foram corrigidas com o apoio do assistente". A pasta disse ainda que "realizou formações virtuais e presenciais com os professores" e que a plataforma Redação Paulista realiza automaticamente uma correção ortográfica e gramatical do texto de cada estudante antes que ele seja enviado, "que servem para alertar o aluno a forma correta da escrita". "Para fazer as mudanças necessárias no texto, o estudante precisa reescrever a palavra e, só aí, fica liberada a função de envio do texto para o professor. Quando o docente recebe o texto, a plataforma aponta automaticamente se foram seguidos os critérios avaliativos obrigatórios, como coerência, argumentação e adesão ao tema. Cada um desses tópicos deve ser validado pelo professor, a quem cabe, após o uso do recurso, a avaliação final quanto a intepretação textual e a correta adesão ao tema da redação, até atingir a completa correção e nota", explicou a Seduc. Professora de 'redações nota mil' ainda não adotou IA Sharlene Leite, professora que se especializou em aulas de redação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), afirmou ao SP2 que está estudando como usar tecnologias como a inteligência artificial no processo pedagógico de corrigir e avaliar os textos de seus alunos, mas ainda não adotou nenhuma delas. "Não nós estamos usando a inteligência artificial, embora já estejamos estudando todos esses processos", afirmou ela, que atualmente é diretora de Redação do Grupo Fleming Educação, um curso pré-vestibular com unidades em Brasília, Curitiba, Santa Catarina e Porto Alegre. Atualmente, ela coordena uma equipe de 100 professores que corrigem uma média de 4 mil redações por semana. E já deu aulas para cinco estudantes que obtiveram a nota mil na redação do Enem. De professora de redação a candidata do Enem: após ter duas alunas com nota mil na redação do Enem, Sharlene Leite, de Brasília, decidiu fazer a prova para se colocar no lugar de seus alunos Arquivo pessoal/Sharlene Leite Os motivos para essas revisões ainda serem feitas manualmente envolvem o próprio estado atual da tecnologia, que ainda não atingiram um grau de autonomia suficiente para economizar o tempo dos corretores, mas garantir o aprimoramento específico dos estudantes nessa habilidade. "A inteligência artificial ainda apresenta muitas inconsistências, principalmente na interpretação mais fina. Ela já tem sido muito eficiente no que diz respeito a questões objetivas, cujas respostas estão fechadas", explica a especialista. "A redação é a única parte da prova [de vestibulares como o Enem] na qual o aluno consegue colocar alguma subjetividade. Então, a inteligência artificial ainda não está apta a interpretar com tanta acurácia as especificidades da nota, principalmente considerando que a redação pode equivaler até 33% da aprovação de um estudante pelo Enem", avalia Sharlene Leite, professora especialista em redação. E completa: "Uma correção mais genérica pode ser eficiente em larga escala, de repente. Mas uma correção com aprimoramento específico a inteligência artificial ainda não entrega". A conclusão da professora vem de várias ferramentas que ela tem testado. "Várias plataformas já oferecem, a gente já fez vários testes. Mas, para a alta performance, nós não conseguimos substituir a correção de um professor pela correção do robô", disse Sharlene. "E outro ponto relevante é que, se o professor tem de fazer uma revisão, ele precisa ler esse texto. Então acaba ficando um retrabalho dentro desse contexto de revisão." IA para produzir material didático O governo estadual também pretende adotar ferramentas de inteligência artificial na produção do material didático digital, as aulas em slides introduzidas em 2023 pela gestão de Renato Feder à frente da pasta. A informação foi revelada nesta quarta-feira (17) pelo jornal Folha de S. Paulo. A TV Globo teve acesso, na tarde desta quarta, ao documento que, segundo fontes ouvidas pela reportagem, ainda tinha circulação restrita à coordenação pedagógica, e ainda não havia sido distribuída para as diretorias regionais de ensino e às escolas. Uma captura de tela do documento mostra que se trata da produção de aulas digitais com "em torno de 18 slides de conteúdo, excetuando slides padrão (capa, referências etc.)". O trabalho deve ser feito por cerca de 90 professores chamados de "curriculistas", que elaboram o material posteriormente distribuído aos docentes que atuam em sala de aula. Ainda de acordo com o documento, o processo de trabalho seria feito em cinco etapas: A primeira etapa é a "versão original" da aula. Segundo o documento, uma "ferramenta de IA gera a primeira versão da aula com base nos temas pré-definidos e referências concedidas pela Secretaria". Depois há uma etapa de "edição". O texto diz ao professor que ele é "responsável por avaliar a aula gerada e realizar todos os ajustes necessários para que ela se adeque aos padrões pedagógicos e de qualidade definidos no Guia de premissas pedagógicas e de padronização". O processo não termina aí. Uma terceira etapa é a "revisão técnica", na qual outra equipe interna da Secretaria "revisa o material e realiza os ajustes necessários", podendo devolver ao professor curriculista para que ele adeque o conteúdo. A quarta etapa é de "pré-produção": uma vez que o conteúdo seja considerado adequado, ele passa por "revisão linguística, formatação e produção de recursos didáticos inéditos (como gráficos, tabelas, infográficos entre outros)". Por fim, vem a etapa final, de "aprovação", realizada mais uma vez pelo "time interno da Secretaria, que valida a aula para ser divulgada para a rede de escolas estaduais". O projeto-piloto, ainda de acordo com o documento, tem previsão de início na próxima segunda-feira (22), com uma semana de formações e treinamentos on-line. E a previsão é que os professores participantes entreguem três aulas a cada dois dias úteis, e sejam contratados como prestadores de serviço à secretaria. Em nota ao g1, a Seduc negou que substituiria os professores por inteligência artificial. "É o professor que vai transmitir esse conhecimento para o aluno", explicou, no fim da tarde, o secretário-executivo da pasta, Vinicius Neiva, em informações encaminhadas à TV Globo. "O que a gente pretende com isso é simplesmente aperfeiçoar esse processo, e trazer um processo mais interativo, um processo mais ágil, mais eficiente e que seja voltado para o aprendizado do aluno, de uma forma mais interessante e mais estimulante para ele." (Vinicius Neiva, secretário-executivo da Seduc-SP) *Sob supervisão de Ana Carolina Moreno *Com supervisão de Ana Carolina Moreno.
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17/04 - Greve nas universidades: servidores de instituições federais marcham na Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Ao menos 51 universidades e 79 institutos estão em greve no Brasil por reestruturação de carreira. Servidores cobraram Ministério da Gestão, que disse que apresentará proposta até final da semana. Servidores de universidades e institutos federais protestam em Brasília Servidores públicos de universidades e institutos federais se reuniram, na manhã desta quarta-feira (17), em Brasília, para uma marcha em direção ao Ministério da Gestão, na Esplanada dos Ministérios (veja vídeo acima). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. Ao menos 51 universidades e 79 institutos federais estão em greve no Brasil por reestruturação de carreira, recomposição salarial e orçamentária, e revogação de normas aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro, segundo levantamento feito pelo g1. Na manifestação desta quarta-feira, os servidores carregavam faixas com as principais reivindicações dos docentes, e cobraram um resposta do governo federal. Procurado pelo g1, o Ministério da Gestão disse que a reestruturação de carreiras na área da educação é um "compromisso prioritário" da pasta e que vai apresentar uma proposta até sexta-feira (19) (veja íntegra mais abaixo). “Não vamos aceitar que a nossa categoria seja dividida em classes, e que uma ganhe mais que a outra. Queremos reajuste para todos, ativos, aposentados e pensionistas", disse um representante da Federação de Sindicatos de trabalhadores técnico-administrativos em educação das instituições de ensino superior públicas do Brasil (Fasubra). Os docentes da Universidade de Brasília (UnB) estão em greve desde segunda-feira (15), por tempo indeterminado (veja detalhes abaixo). Os servidores técnico-administrativos da universidade estão paralisados desde o dia 11 de março. Greve na UnB Professores da UnB votam pela greve na universidade Fernanda Bastos/g1 O início da greve dos professores da UnB foi aprovado por 257 votos a favor e 213 contra em Assembleia Geral Extraordinária convocada pela Associação de Docentes da UnB (Adunb) no dia 8 de abril. A ação é motivada pela falta de reajustes salariais e nos auxílios alimentação, saúde e creche. Os professores pedem, além da recomposição salarial, a equiparação dos benefícios e auxílios com os servidores do Legislativo e do Judiciário ainda em 2024 e também a revogação de atos normativos criados durante governos anteriores que impactam a carreira dos docentes (entenda abaixo). Segundo o MEC, no ano passado, o governo federal promoveu reajuste de 9% para todos os servidores. "Equipes da pasta vêm participando da mesa nacional de negociação e das mesas específicas de técnicos e docentes instituídas pelo MGI, e da mesa setorial que trata de condições de trabalho", diz a pasta. Reivindicações dos professores Os professores da UnB pedem recomposição salarial com reajuste de 22,71%, divididos em três parcelas: 2024: 7,06% 2025: 7,06% 2026: 7,06% O governo federal, por meio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), propôs um reajuste de 9% dividido em duas parcelas: 2024: sem reajuste 2025: 4,5% 2026: 4,5% O governo também apresentou uma proposta de reajuste dos auxílios alimentação, saúde e creche que não contempla aposentados e pensionistas. O texto que o governo colocou na mesa reajusta já a partir de maio deste ano: o auxílio alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil (alta de 51,9%) a assistência à saúde complementar per capita média (auxílio saúde) de R$ 144 para R$ 215 a assistência pré-escolar (auxílio creche) de R$ 321 para R$ 484,90 O que diz o Ministério da Gestão "A reestruturação de carreiras na área de Educação é um compromisso prioritário do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Na sexta-feira (19/5) o governo apresentará uma proposta convergente com o relatório do Grupo de Trabalho formado por representantes dos Ministérios da Educação e da Gestão, das universidades e instituições de ensino, além de entidades sindicais representantes dos servidores do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE). O Ministério da Gestão segue aberto ao diálogo com os servidores da área de educação e de todas as outras áreas." LEIA TAMBÉM: GREVE NA EDUCAÇÃO: quase 300 campi de institutos federais estão sem aula VOTAÇÃO A FAVOR DA GREVE: Professores da UnB decidem entrar em greve Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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17/04 - Entenda por que o SUS Paulista pode causar déficit de R$ 55 milhões para o HC da Unicamp
Projeção foi feita pela própria universidade e exposta para deputados estaduais no início do mês. Segundo diretor-executivo da área da saúde, hospital já está subfinanciado. Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP) Reprodução/EPTV1 Uma mudança na forma de remuneração pelos serviços prestados via Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado de São Paulo, batizada de Tabela SUS Paulista, pode causar um déficit financeiro de R$ 55 milhões para o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp em 2024. Entenda todos os detalhes abaixo. 👇 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp 📈 A projeção foi feita pela direção da área da saúde da universidade em Campinas (SP) no início de abril. O HC, localizado no campus da Unicamp, já vive as primeiras consequências da alteração dos repasses. "A nossa necessidade é para hoje. Nós estamos subfinanciados neste mês em mais de R$ 7 milhões", revela Oswaldo Grassiotto, diretor-executivo da área da saúde da universidade. 👀 Nesta matéria, você vai ver: O que mudou? Por que a mudança prejudica a Unicamp? O que é alta complexidade? O que é a Tabela SUS Paulista? Por que a Unicamp não é beneficiada pelo SUS Paulista? Como o HC funciona mesmo subfinanciado? Por que o HC não fecha o pronto-socorro? O que deve ser feito para solucionar o problema? O que mudou? 🤔 Como era antes? Antes, o financiamento dos hospitais pelo SUS em São Paulo era feito a partir de um teto estabelecido em R$ 186 milhões anuais, aproximadamente R$ 15,4 milhões mensais. Esse valor era fixo: independentemente de quantos procedimentos o HC realizasse, eles recebiam esse pagamento. 👉 Ou seja, quando a Unicamp relata um subfinanciamento de R$ 7 milhões no mês de março, isso quer dizer que o HC está operando com aproximadamente metade dos recursos que ele costumava receber. 🤔 Como é agora? Com o SUS Paulista, o pagamento é baseado nos procedimentos feitos. Simplificando, isso significa que se o hospital realizar mais procedimentos, ele recebe mais dinheiro. No entanto, os valores são estabelecidos com base na complexidade dos procedimentos realizados, e isso é justamente o fator que prejudica o HC da Unicamp. Mutirão de pacientes da fila de cirurgias do SUS para avaliação pré-operatória no HC da Unicamp Elaine Ataide Por que a mudança prejudica a Unicamp? O HC atende muitos casos de urgência, e a maioria destes casos são de baixa remuneração e geralmente resultam em internações prolongadas. Isso ocupa os leitos do hospital e dificulta a realização de procedimentos mais complexos e mais bem remunerados, que seriam, em teoria, a principal função do HC Unicamp. 🤔 E por que o HC atende esses casos? A unidade é do tipo "porta aberta", ou seja, que está sempre disponível para receber pacientes. Independentemente do horário, condição médica, agendamento ou encaminhamento médico, o hospital oferece serviços de emergência e pronto-socorro que operam ininterruptamente. Esses casos de urgência ocupam 80% dos leitos e geram superlotação, mas não era para ser assim, segundo a diretoria da área de saúde. Tanto porque o HC foi idealizado para atender casos de alta complexidade quanto porque a maioria dos casos poderia ser resolvidos em outras unidades de saúde. 🩺 "Na chegada, a gente vê que três a cada quatro casos que chegam de urgência não precisariam vir para a Unicamp. Poderiam ter sido resolvido em um hospital pequeno, lá na cidade de origem do paciente", diz Grassiotto. "Mas chegou na urgência, você vai ter que atender, vai ter que dar algum destino". HC da Unicamp enfrentou mais um dia de superlotação Heitor Moreira/EPTV 🤔 O que é alta complexidade? São procedimentos que exigem um alto nível de especialização técnica, estrutura adequada e, muitas vezes, tecnologia de ponta. Alguns exemplos: cirurgias no coração, cirurgias em bebês e transplantes de órgãos. O que remediava a situação do HC era justamente o financiamento do SUS pelo teto de R$ 186 milhões anuais. 💊 O contrato anterior permitia que a Unicamp realizasse até 80% dos procedimentos de baixa e média complexidade sem afetar o repasse de verbas. O que é a Tabela SUS Paulista? Segundo o governo do Estado de São Paulo, a Tabela SUS Paulista é uma iniciativa inédita cujo objetivo é aumentar o atendimento na rede pública de saúde e reduzir filas de espera. Ela foi implementada em 1º de janeiro de 2024. 📆 ⏩ Para isso, além de mudar critérios para o repasse das verbas, a estratégia da Secretaria Estadual de Saúde é complementar o valor encaminhado pelo Ministério da Saúde pelos procedimentos hospitalares. O governo estadual defende que isso possibilita que as unidades de saúde recebam até cinco vezes a tabela adicional do SUS. Veja exemplos de procedimentos reajustados no gráfico abaixo. 👇 https://public.flourish.studio/visualisation/17589738/ A iniciativa, segundo o governo, visa corrigir uma subvalorização destes procedimentos mais simples, já que os valores da tabela federal do SUS não são reajustados há, pelo menos, dez anos. O governo também afirma que o sistema de remuneração deve beneficiar 354 hospitais em todo o estado, entre eles Santas Casas, entidades filantrópicas e autárquicas, que representam 50% do atendimento hospitalar na rede pública paulista. 🏥 Hospital de Clínicas (SP) da Unicamp Reprodução/EPTV Por que a Unicamp não é beneficiada pelo SUS Paulista? O complemento de verba estadual sobre o valor do SUS federal beneficia hospitais privados filantrópicos e alguns hospitais públicos específicos, os autárquicos. No caso do HC, mesmo tendo um grande volume de atendimento, ele não se enquadra nesses critérios. Hospitais filantrópicos são instituições sem fins lucrativos que recebem incentivos do governo para prestarem serviços de saúde à população carente. Já os hospitais autárquicos são unidades públicas com autonomia administrativa, muitas vezes ligadas a órgãos governamentais. 🚫 No entanto, no caso da Unicamp, o HC é parte integrante da universidade e do governo estadual. Por isso, ele não se enquadra nos critérios estabelecidos para receber o benefício adicional do SUS Paulista. "A Unicamp ter um déficit, do que ela poderia receber, comparado com o que ela está recebendo, de no mínimo R$ 50 milhões, porque nós vamos continuar trabalhando. Nós não vamos fechar leitos, não vamos diminuir o pronto-socorro, simplesmente porque não dá pra fazer. Mas nós estamos sendo punidos duas vezes", afirma Grassiotto. Essa dupla punição a que Grassiotto se refere ocorre pelos seguintes motivos: pelos atendimentos que o HC presta via pronto-socorro, que aumenta a realização de procedimentos de baixa e média complexidade e são menos remunerados, pelo fato do HC ser um hospital público ligado ao governo estadual, sem uma fundação que administre a unidade de saúde — o que o caracterizaria como hospital autárquico. Em nota enviada ao g1, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que o HC da Unicamp tem o orçamento vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia. Além disso, a SES também informou que as pastas de Saúde, Ciência e Tecnologia e a reitoria da Unicamp vêm estudando maneiras de complementar a receita utilizando a Tabela SUS Paulista, com recurso estadual. (Veja a nota na íntegra no fim da reportagem.) 💰 Caso a Unicamp fosse contemplada pela tabela SUS Paulista, segundo a projeção da própria universidade, ela deveria receber R$ 264 milhões anuais, R$ 78 milhões a mais que o teto de gastos previsto pelo contato anterior. 👉 Isso permitiria que o HC seguisse realizando os procedimentos de baixa e média complexidade e operando o pronto-socorro com um equilíbrio financeiro bom o suficiente para, inclusive, melhorar o atendimento e desfazer filas de espera por cirurgias. Fila para atendimentos via SUS no HC da Unicamp, em Campinas Reprodução/EPTV Como o HC funciona mesmo subfinanciado? 💲 O diretor-executivo da área de saúde da Unicamp explica que para cada R$ 1 que o SUS investe no HC, a universidade investe R$ 3. Pelo menos 20% de todos os recursos repassados para a instituição de ensino é direcionado ao Hospital de Clínicas. Esse investimento da Unicamp, segundo Grassiotto, é o que paga salários, compra insumos e financia outras atividades essenciais para o funcionamento do HC. No ano passado, segundo o diretor, a universidade investiu R$ 550 milhões apenas em procedimentos de média e alta complexidade. 🩺 "Funcionamos assim, meio apertado do ponto de vista financeiro, mas passamos o ano de 2023 e a Unicamp não mexe no recurso que ela coloca, apenas corrige todos os anos conforme as receitas que vem do governo do Estado", explica. No entanto, esses 20% de recursos investidos na área de saúde pela Unicamp — é uma espécie de 'ponto de honra' para a universidade nunca deixar o orçamento abaixo deste índice, segundo Grassiotto — é dividido em 12 parcelas mensais, tal qual uma mesada. O problema é que com o subfinanciamento via SUS, essa reserva tem meses contados. 📅 "Nós estamos gastando a parcela de dezembro nesse momento. Com a falta de dinheiro tão grande em janeiro, fevereiro e março, nós tivemos que antecipar as parcelas. A Unicamp está adiantando a mesada e quando chegar agora no mês de maio, junho, nós estaremos sem dinheiro da universidade para tocar o HC. Nós vamos tocar com aquele dinheiro do SUS que está com um déficit de R$ 7 milhões a cada mês", lamenta o diretor. O diretor executivo da Área da Saúde da Universidade, Oswaldo Grassiotto durante apresentação dos dados aos deputados estaduais Antônio Scarpinetti Por que o HC não fecha o pronto-socorro? Grassiotto diz que o HC da Unicamp é a 'ponta da linha de urgência-emergência'. Em outras palavras, quem chega até lá é porque não conseguiu atendimento em outros lugares e foi encaminhado para o hospital. E esse é o principal motivo pelo qual não é possível fechar o pronto-socorro do HC. 🏥 🥼 O diretor da área de saúde do HC explica que a região de Campinas não tem capacidade ou não está organizada para fazer atendimentos de média complexidade ou de urgência-emergência, e por isso os tratamentos que poderiam, em tese, serem feitos em hospitais menores ou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), vão para a Unicamp. "Isso vem acontecendo desde que se tem um pronto-socorro aberto, e sempre que a gente tenta corrigir e fechar o pronto-socorro, como a rede regional não dá conta de atender porque ela não está organizada, a Unicamp recebe uma pressão muito forte para reabri-lo no dia seguinte. Essa pressão é irresistível, porque vem prefeito, governador, autoridades em geral falar 'doutor, abre e depois nós vamos dar uma solução pra isso'", relata Grassiotto. Mas a solução não vem, e o HC da Unicamp segue superlotado de casos de baixa e média complexidade. No fim, isso gera dois efeitos negativos: a superlotação e o baixo retorno financeiro via SUS. "Isso desloca muito a nossa capacidade de produzir a alta complexidade, que é reduzida, e aumenta muito a nossa produção na baixa e média complexidade. O resultado disso é que o valor financeiro do que nós fazemos é pequeno", resume Grassiotto. O que deve ser feito para solucionar o problema? Os representantes do HC Unicamp expuseram esse problema aos deputados estaduais durante uma reunião com 12 políticos no campus de Barão Geraldo, em Campinas, no início de abril. A universidade defende que o SUS Paulista seja ampliado para contemplar mais hospitais para garantir um atendimento adequado a todos os pacientes. "O paciente não quer saber se ele está sendo atendido em um hospital filantrópico ou autárquico, ele quer que a saúde dele seja cuidada como um cidadão brasileiro com direito ao SUS. É pra não ter esse tratamento diferenciado e negativo para o usuário da Unicamp que a gente vem se movimentando", afirma Grassiotto. Além da inserção do HC na Tabela SUS Paulista, outra pauta que a Unicamp levanta há tempos é a reorganização do sistema de saúde regional, sendo necessário, segundo a universidade, a construção de um hospital regional em Campinas dedicado ao atendimento de urgência. A expectativa é que a construção deste hospital regional permita que o HC se concentre em procedimentos de alta complexidade. "A Unicamp dá o terreno e opera o hospital. Ela só não financia o hospital porque ela já está financiando o nosso", diz Grassiotto. Além disso, enquanto a construção do hospital regional não acontece, a Unicamp sugere que seja criada uma infraestrutura mínima de atendimento de urgência, como a abertura UPAs ou a utilização de pequenos hospitais regionais com leitos disponíveis para desafogar o HC. Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que está comprometida com a busca de uma solução que não traga impactos para o atendimento da população. Veja, abaixo, o texto na íntegra. ⏬ A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que a Tabela SUS Paulista, implantada em janeiro de 2024, foi criada para aumentar os repasses aos hospitais filantrópicos, em razão da defasagem na tabela federal do Ministério da Saúde. O HC de Campinas, diferente dos outros hospitais universitários , é ligado à Unicamp cujo orçamento é vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia. As pastas de Saúde, Ciência e Tecnologia e a reitoria da Unicamp vêm estudando maneiras de complementar a receita utilizando a Tabela SUS Paulista, com recurso estadual. A SES está comprometida com a busca de uma solução que não traga impactos para o atendimento da população. VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas
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17/04 - Por que os japoneses usam palavras de origem portuguesa?
No Japão, há muitas palavras que são parecidíssimas com as de mesmo significado em português — e não é por acaso. Obra de artista japonês anônimo retrata o martírio de São Paulo Miki, samurai que se tornou catequista, e seus companheiros, em Nagasaki Domínio Público As línguas são vivas e, longe de serem estáticas, sofrem a influência de seus falantes, transformando-se com o passar do tempo e por meio do intercâmbio com outros idiomas e outras culturas. No Japão, há muitas palavras que são parecidíssimas com as de mesmo significado em português. E isso não é por acaso. Quase cinco séculos atrás, os japoneses incorporaram ao seu vocabulário termos específicos, muitos utilizados até hoje. Por exemplo: pan para designar pão, biroodo para veludo, tabako para tabaco e karuta para carta de baralho. Mas 11 mil quilômetros separam Lisboa de Tóquio e, aparentemente, não há nada em comum entre essas duas culturas, uma forjada na Europa medieval, outra carregada do tradicionalismo oriental nipônico. A explicação está na religião. Mais especificamente, nos esforços empreendidos pela Companhia de Jesus — mesma ordem religiosa que, por meio de José de Anchieta (1534-1597) e tantos outros, encarregou-se de catequizar indígenas brasileiros durante a colonização, e mesma ordem religiosa do argentino Jorge Bergoglio, o Papa Francisco. Esta história pode ser resumida no fato de que os portugueses foram pioneiros no contato frequente entre europeus e nipônicos. Mas suas nuances culturais e religiosas estão no cerne de uma fascinante troca linguística. E está em evidência por causa da série Xógum: A Gloriosa Saga do Japão, que estreou em fevereiro e é baseada no romance Shōgun, escrito pelo britânico James Clavell (1924-1994) e publicado originalmente em 1975. Os primeiros portugueses a chegar ao Japão foram alguns comerciantes, em 1541 ou 1542. Desenvolveu-se, a partir dessa altura, uma importante atividade comercial que, com base em Macau, transportava produtos, principalmente seda e prata, entre a China e o Japão. Gonçalves é ex-reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e diretor da revista La Civiltà Cattolica. Conforme conta à reportagem a professora de japonês Monica Okamoto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), isso ocorreu precisamente em Tanegashima, uma pequena ilha ao sul do Japão. “Foi o primeiro encontro do povo japonês com o ocidente”, relata. “Na época, o Japão estava sob o domínio do xogunato, um sistema de governo militar, e os xoguns ficaram impressionados com algumas tecnologias apresentadas pelos portugueses, sobretudo a arma de fogo do tipo mosquete.” “Assim, num primeiro momento, os xoguns permitiram a entrada dos portugueses com a intenção de conhecer outras inovações ocidentais nos campos militar e naval”, acrescenta Okamoto. “Os portugueses, por outro lado, iniciaram suas missões de catequização, introduzindo o catolicismo no Japão por meio da instalação de escolas, santas casas e igrejas. Desse intenso e curto período de relações internacionais entre Japão e Portugal [até por volta de 1630], muitas palavras portuguesas acabaram sendo incorporadas ao vocabulário japonês.” Padroado O fumi-e, em ilustração do alemão Philipp Franz von Siebold, datada de 1850 Domínio Público “O primeiro jesuíta a chegar ao Japão foi [o missionário] São Francisco Xavier [(1506-1552)], em 1549. Era navarro [na atual Espanha] e fez parte do grupo que, com Santo Inácio de Loyola [(1491-1556)], fundou a Companhia de Jesus”, contextualiza Gonçalves. Teria sido o próprio Loyola quem havia decidido enviar Xavier para o oriente, “a pedido do rei de Portugal, dom João 3º [(1502-1557)], que pretendia desenvolver a atividade missionária nos territórios alcançados pelos navegadores portugueses”, conta o padre. Uma curiosidade é que no mesmo ano em que Xavier desembarcou no Japão, chegou à colônia portuguesa que daria origem ao Brasil o primeiro grupo de jesuítas, cujo superior era o padre Manuel da Nóbrega (1517-1570). A chegada de Xavier foi o começo de um movimento que, ao longo dos anos, levaria dezenas de padres jesuítas ao Japão. Segundo o padre jesuíta Nilson Maróstica, ex-reitor do Santuário Nacional São José de Anchieta, dos 95 membros da Companhia de Jesus que trabalharam no Japão até 1600, 57 eram portugueses, 20 eram espanhóis e 18, italianos. O que os levava, segundo afirma Maróstica à BBC News Brasil, era “a esperança de levar o cristianismo e o catolicismo para o Japão”. Mas se as nacionalidades eram um tanto difusas, a missão jesuíta no oriente tinha comando lusitano. Isto porque esses sacerdotes atuavam no âmbito do chamado padroado português. Era um acordo selado em meados dos anos 1400, início do processo conhecido como expansão marítima, em que a Santa Sé delegou à Coroa de Portugal o poder exclusivo de organização e financiamento de todas as tarefas religiosas nos domínios e nas terras conquistadas pelos portugueses. Gonçalves comenta que o mecanismo consistia de “um conjunto de privilégios e obrigações concedidos por sucessivos papas aos reis de Portugal”. Pelo padroado, a Coroa tornou-se a principal responsável pela missionarização nos territórios alcançados pelos navegadores portugueses. Em alguns desses territórios, estabeleceu-se uma administração portuguesa estável. Foi o caso de Goa, Malaca ou Macau, no oriente. “Em outros territórios, existia apenas uma presença baseada nos interesses comerciais recíprocos, sem qualquer dominação política ou militar. Esse foi o caso do Japão, onde os protagonistas da presença europeia foram os comerciantes e os missionários.” “Inicialmente, apenas missionários jesuítas. Mais tarde, também franciscanos e dominicanos”, completa Gonçalves. Maróstica define o padroado “como iniciativa dos reis católicos de implantarem em suas terras recém-descobertas a igreja de seus reinos”. “Os jesuítas recebiam normalmente verbas anuais para instalarem religiosos, quase sempre 18 padres, em um colégio ou em uma igreja. Ou seja, eram os reis que contratavam as congregações religiosas para instalarem a fé católica nas novas posses de seus reinos”, explica. 300 mil cristãos japoneses Ilustração de autoria desconhecida de uma missa cristã no Japão, provavelmente do século 17 Domínio Público Conforme apontam pesquisas, os jesuítas foram bem-sucedidos no trabalho de evangelização, fazendo com que o país chegasse a ter cerca de 300 mil cristãos no período. “[Os missionários] conseguiram rapidamente muitas conversões”, ressalta Gonçalves. “Por isso, tem-se afirmado que a chegada de Xavier […] marca o início do ‘século cristão do Japão’”. Essa expressão foi cunhada pelo historiador britânico Charles Boxer (1904-2000), autor de, entre outros, ‘The Christian Century in Japan, 1549-1650’. A metodologia missionária dos jesuítas era chamada de “acomodação”. Adotaram os costumes locais, estudaram a língua e escreveram catecismos e outras obras em japonês. Adaptaram, sempre que possível, a prática cristã às tradições culturais japonesas. Um modus operandi muito parecido com o aplicado no território colonial brasileiro. De acordo com os registros, o primeiro japonês tornado católico foi um homem chamado Anjiro (1511-1550) — de cuja biografia pouco se sabe. Ele havia cometido um homicídio e, quando encontrou os jesuítas, acabou sendo contratado como tradutor. Maróstica afirma que, por ter sabido “do perdão dos pecados [conforme prega o cristianismo], ele se interessou em abraçar esta fé para livrar sua consciência”. Depois de batizado, ele ganhou nome português. Tornou-se Paulo de Santa Cruz. Xavier ganhou alguém para atuar ao seu lado na comunicação com os locais. “[Anjiro] o conduziria a outros japoneses e lhe ensinaria os rudimentos da cultura”. Os missionários jesuítas dedicaram-se ao estudo do idioma e, depois de pouco tempo, já conseguiam ler textos cristãos em japonês nas praças públicas. O interesse era instigado. Em carta da época, Xavier escreveu que “esses japoneses são tão curiosos que, desde a nossa chegada, não se passou um só dia sem que tivesse vindo ter conosco bonzos [monges budistas] e leigos, desde a manhã até a noite, para nos fazerem perguntas de toda espécie”. Segundo Maróstica, como “nenhum habitante” daquelas terras havia feito ainda “a travessia do mar”, a chegada dos europeus “despertou muita curiosidade neles”. “Essa euforia da multidão japonesa despertou o interesse do daimio [algo como senhor, uma autoridade da época] local, Shimazu Takahisa [(1514-1571)], que mandou um dos funcionários [até os jesuítas] para que eles fossem trazidos ao palácio”, relata o religioso. Conta-se que Xavier foi recebido com presentes e toda a pompa da corte. O jesuíta presenteou a autoridade japonesa com uma encadernação da Bíblia. “E o único presente que aceitou dele foi a liberdade para poder pregar pelas cidades daquela região. O damio concedeu com alegria. E se interessou em saber o conteúdo do livro sagrado dos cristãos”, acrescenta. Mas se os religiosos eram movidos pelo divino, Portugal tinha olhares mais terrenos. “O interesse dos portugueses nesta aproximação era puramente comercial”, resume Maróstica. “Ao chegar, encontraram uma cultura e civilização estabelecida há milhares de anos e, assim, começaram a trocar mercadorias. Sempre em silêncio, pois nenhum falava a língua do outro, até a chegada de Francisco Xavier, como eu disse, que aprendeu rapidamente o idioma.” “Da parte dos japoneses, o daimio, governador ou senhor local, tinha interesse nas mercadorias trazidas pelos portugueses, mas principalmente em conhecer a língua, a cultura e os conhecimentos dos europeus”, comenta o jesuíta. “Nesse período, os reinos do Japão não viviam com muita paz. Eram tempos intranquilos. E os japoneses eram ávidos por conhecimento.” O padre conta que eles “queriam conhecer especialmente as armas de fogo”. Por outro lado, os lusos “pagavam muito bem pelas especiarias e mercadorias de fabricação japonesa”. A cristianização japonesa deixou de ser um movimento localizado e logo se expandiu por outras regiões. “Até o final do século 16 era possível encontrar pessoas batizadas em praticamente todas as províncias do Japão, muitos deles organizados em comunidades. Mesmo sem a presença de sacerdotes, eles se organizavam em comunidades leigas”, conta Gonçalves. Cruz proibida Pintura de autoria desconhecida retrata o martírio de cristãos no Japão Domínio Público Mas a lua de mel foi gradualmente terminando. “Estima-se que, no seu auge, tenha chegado a haver cerca de 300 mil cristãos no Japão. Mas a intromissão estrangeira em um país em fase de unificação incomodou as autoridades locais. Logo, o catolicismo foi progressivamente reprimido e martirizado em várias partes do país, até ser proibido”, diz Maróstica. “A expulsão dos missionários e a proscrição do cristianismo foi acompanhada de violentas perseguições”, ressalta Gonçalves. “Muitos foram condenados à morte e martirizados, testemunhando com a dádiva da própria vida a fé que professavam.” Fizeram parte desta história alguns nomes japoneses que, mais tarde, se tornaram beatos ou santos da Igreja, como é o caso de São Paulo Miki (1562-1597), samurai que se tornou catequista e tinha fama de exímio pregador. Apesar dos esforços dos missionários para se adaptarem à cultura local, o cristianismo foi visto pelos dirigentes japoneses como uma religião estrangeira. Além disso, a presença dos missionários, no final do século 16 e princípio do século 17, coincidiu com um período de centralização e unificação política no Japão. Essa unificação incluía também uma dimensão religiosa que não era propícia à aceitação de uma religião importada. “Espalhou-se também o receio de que os missionários fossem a guarda-avançada de uma tentativa de domínio militar e político por parte das potências europeias”, completa ele. Era soft power. Como diz Gonçalves, “estas razões de política interna e o desejo de preservar a própria autonomia levaram ao encerramento do Japão à influência exterior”. Os missionários foram expulsos em 1614. “E, pouco tempo depois, o próprio cristianismo foi proibido”, diz o padre. Essa expulsão foi formalizada por documento elaborado pelo monge Konchi’in Sūden (1569-1633), encarregado de questões religiosas e relações exteriores no governo do xogum Tokugawa Hidetada (1579-1632). “Foi considerada a primeira declaração oficial e completa de proibição dos cristãos [no Japão]”, explica Maróstica. “Tempos de martírio vieram: as torturas físicas e psicológicas foram usadas contra os cristãos. As autoridades criaram o fumi-e, que consistia em obrigar os cristãos a pisar na imagem de Cristo ou da Virgem [Maria], apostatando-se de sua fé”, conta o jesuíta. O ponto emblemático dessa virada de mesa foi o episódio conhecido como rebelião de Shimabara, iniciada em 1637. Calcula-se que cerca de 40 mil japoneses, em boa parte católicos, tenham se revoltado contra a proibição da fé cristã no país. O movimento foi sufocado pelas tropas do governo. A partir dali, os cristãos remanescentes passaram a celebrar na clandestinidade. Eram os chamados kakure kirishitan — “cristãos escondidos”. “Apesar da proibição, pequenos grupos de cristãos japoneses, sem a presença de clero ou missionários, mantiveram-se em comunidades escondidas”, salienta Gonçalves. Palavras portuguesas 👉 Os portugueses foram expulsos, mas ficaram as palavras em português. “Há muitas palavras japonesas que têm origem no vocabulário português. E uma boa parte dela foi introduzida no século 16”, diz a professora Okamoto. “Algumas palavras em português foram introduzidas para o japonês, para dar nomes a coisas novas que não tinham antes no país. Entraram objetos novos e então tiveram a necessidade de dar os nomes a cada uma das novidades. Havia também palavras relacionadas ao cristianismo que eram inseridas entre os fiéis e escritos nas publicações dos jesuítas”, explica à BBC News Brasil a professora Junko Ota, que leciona língua e literatura japonesa na Universidade de São Paulo (USP). “Foi inevitável que palavras, nomes substantivos que chegaram pela primeira vez ao Japão no século 16, fossem incorporados à língua local. Estas palavras se referem a produtos que lá não havia e costumes que não pertenciam àquela cultura”, complementa Maróstica. Botan é botão. Pan é pão. E há muitos outros exemplos, como: tabako, cigarro; kirishitan, cristão; bateren, padre; birôdo, veludo; biidoro, vidro; karuta, jogos de carta. “Em geral, [são palavras que] correspondem a objetos ou costumes introduzidos pelos portugueses”, pontua Gonçalves. “Antes dessa influência portuguesa, algumas dessas palavras não tinham um correspondente para o japonês porque esses elementos não existiam no Japão”, concorda Okamoto. “Por exemplo, o pão e o bolo castela [tipo de pão-de-ló, chamado de pão de Castella e, em japonês, ‘kasutera’].” Ota relativiza, contudo, a influência dos religiosos europeus no léxico japonês. “Os jesuítas portugueses tiveram um número bastante grande de fiéis, mas isso causou a repressão bastante forte por parte da força dominante da época, resultando na retirada deles do país”, comenta. “Assim, as publicações deles caíram no esquecimento dos japoneses por séculos. Só mais tarde descobriram o valor, do ponto de vista linguístico, por exemplo, do dicionário Japonês-Português compilado no início do século 17.” “Há uma lista enorme de palavras japonesas de origem portuguesa resultante da chegada ao Japão dos portugueses em 1543, sendo os primeiros europeus a aportar e a estabelecer um fluxo contínuo e direto de comércio entre o Japão e a Europa”, afirma Maróstica. “Os portugueses também trouxeram novos alimentos, plantas e produtos para o Japão, como o tabaco e o pão.” O linguista Caetano Galindo, professor na UFPR e autor de, entre outros, Latim em Pó, explica à BBC News Brasil como ocorre esse tipo de influência de um idioma em outro. A história do contato linguístico é a história do contato de culturas, de povos. E o vocabulário, muito especificamente, é a área mais suscetível a esse tipo de influência. “Costumo dizer que o vocabulário é a epiderme da língua, é a área dos toques, onde os contatos se dão com mais facilidade”, diz. “No caso da presença portuguesa no território japonês, isso foi prolongado e algo material. Não foi só um livro que chegou. Foram pessoas, foi uma leva cultural, um processo de interpenetração cultural que deixou marcas e essas marcas vão estar na cultura japonesa assim como as marcas da imigração japonesa vão estar na cultura brasileira e a gente continua comendo sushi e usando esta palavra.” Mas dentre as influências mais curiosas, ele lembra do tempurá, uma fritura de vegetais que se tornou prato clássico da culinária nipônica. “Isso tende a demonstrar um contato mais profundo entre as culturas”, comenta ele. Essa comida não existia no Japão, mas quando os missionários portugueses lá estiveram acabaram criando esse prato para o período da quaresma, em que tradicionalmente católicos praticantes se abstêm do consumo de carne. Não há um consenso para a origem do nome, se oriunda da palavra “tempero” ou da expressão latina ad tempora quadragesimae — justamente a que designa o período da quaresma. Em texto publicado originalmente em 1975, o pesquisador Tai Whan Kim, ligado à Universidade de Coimbra, identificou que a maioria dos termos emprestados do português ao Japão são aqueles relacionados à prática religiosa cristã. Kurusu, por exemplo, é cruz; inheruno, inferno; e anjo ficou exatamente igual. Kim também observou que a maior parte das palavras relacionadas à cultura material ocidental acabaram ficando obsoletas e hoje são consideradas arcaicas — foram substituídas por termos mais modernos. É o caso de boro, para bolo; amendo, para amêndoa; konpradoru, para comprador; e sabon, para sabão. “Uma quantidade de palavras portuguesas sobrevivem nos dialetos de Kyushu, particularmente em Nagasaki, que foi o centro do trabalho missionário católico e das relações comerciais no século cristão”, acrescenta Kim. Exemplos são bobura, para abóbora; banco para banco; e baranda, varanda. “A palavra mais frequentemente usada pelos japoneses, que é totalmente portuguesa, é o nosso famoso cacoete ‘né?’”, comenta Maróstica. Impactos culturais De acordo com o jesuíta Maróstica, a influência cultural dos portugueses sobre o Japão foi além do vocabulário. “Por exemplo, o costume de jejuar nos tempos das grandes solenidades do cristianismo”, afirma. “Foi muito bem aceito pelos japoneses.” Os jesuítas também levaram e traduziram para o japonês obras clássicas da literatura ocidental, como as fábulas de Esopo e as cartas de Sêneca. “E ensinaram aos japoneses o canto gregoriano e a música polifônica, bem como o uso de instrumentos musicais como o órgão, o violino e a flauta”, diz o religioso. “Os japoneses adaptaram esses instrumentos e estilos à sua própria tradição, criando gêneros como o krishitan ongaku, a música cristã.” Não à toa, órgão em japonês é orugan. “Os portugueses introduziram no Japão alimentos como o açúcar, o pão, o trigo, a batata-doce e a fritura em óleo”, acrescenta. “Finalmente, a influência portuguesa no Japão também se fez sentir na área econômica. Os portugueses foram os primeiros a abrir o comércio entre o Japão e o resto do mundo, trazendo consigo produtos valiosos como a seda, as especiarias, o açúcar e o ouro.”
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17/04 - Ministério da Educação estuda criar universidade indígena
Portaria criou grupo de trabalho para analisar viabilidade técnica e orçamentária da instituição. Proposta semelhante já foi discutida em 2014. Candidatos durante vestibular indígena da Unicamp Antoninho Perri O Ministério da Educação (MEC) criou um grupo de trabalho para estudar a criação da "Universidade Indígena". Uma portaria com a medida foi publicada na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira (17). Essa não é a primeira vez que uma equipe é formada pelo governo federal para discutir o assunto. Em 2014, durante a gestão de Dilma Rousseff, o MEC criou um grupo de trabalho para debater uma proposta semelhante. Em dezembro de 2023, representantes dos povos indígenas participaram de uma audiência pública na Câmara dos Deputados onde pediram a criação de uma universidade própria. Durante a audiência, os líderes de povos originários defenderam a implementação de uma instituição com políticas educacionais voltadas para os povos indígenas. Atualmente, países como Bolívia e México possuem universidades indígenas. A unidade mexicana, por exemplo, oferece cursos como Direito, Biotecnologia e Sistemas Computacionais, além de mestrados e doutorados. Ao menos 51 universidades federais e 79 institutos estão em greve O grupo de trabalho A equipe criada pelo MEC terá como objetivo fazer estudos para subsidiar a criação da instituição e implementar a universidade. Um relatório deve ser apresentado em um prazo de até 180 dias. Além de estudos técnicos, o grupo também terá de: analisar o impacto orçamentário da criação da universidade; fazer um relatório que aponte a viabilidade técnica da instituição; avaliar se existem riscos na implementação da unidade. Serão nomeadas seis pessoas para fazer parte do grupo de trabalho, incluindo um representante da Secretaria de Educação Superior e outro do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Além disso, a portaria autoriza que a equipe convide representantes de entidades indígenas e indigenistas para participar das reuniões. VÍDEOS: mais assistidos do g1
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16/04 - Youtubers ensinam como lucrar com uso de inteligência artificial para criar vídeos e livros infantis 'em minutos'
Produtos infantis feitos em massa preocupam especialistas por baixa qualidade pedagógica. 'Basta ter cores chamativas', diz um influencer em um dos vídeos. Youtubers ensinam a lucrar com uso de inteligência artificial para criar vídeos e livros Em vídeos com milhares de visualizações, youtubers ensinam como criar vídeos e livros infantis com uso de inteligência artificial (IA). "Inteligência artificial insana, que cria livros infantis em segundos, e tem conexão para você vender direto na Amazon e começar a ganhar dinheiro aqui na internet. E quer mais? Grátis", diz um dos vídeos. 🚨 No entanto, produtos infantis feitos em massa preocupam especialistas. Baixa qualidade pedagógica, ponto de vista enviesado e pouca diversidade (refletida, por exemplo, na ausência de personagens negros) são alguns dos problemas apontados. (Veja mais abaixo.) Além disso, os canais ou conteúdos criados muitas vezes não informam ao público quando houve uso de inteligência artificial. 'Simples de criar e que monetiza rápido', diz canal Os tutoriais foram publicados no último ano, após o surgimento e popularização de ferramentas de inteligência artificial. Os vídeos mais vistos passam de 300 mil visualizações. Neles, os youtubers explicam, em minutos ou até segundos, como o espectador pode criar um ebook (livro digital) ou um vídeo para o público infantil – na maioria das vezes gratuitamente. Um dos vídeos mais acessados sobre o assunto tem como título: "Ganhe dinheiro no YouTube com esse canal dark simples de criar e que monetiza rápido". Nele, o youtuber diz: "Se você sonha em ter um canal dark no YouTube, este é o caminho! Canais semelhantes estão ganhando dinheiro no youtube e você não pode perder essa chance de começar a transformar suas ideias em sucesso". 🎥 O termo "dark" é usado para chamar os canais em que o youtuber não aparece. Ou seja, a página possui apenas conteúdos como animação, gravação de tela do computador, etc. 🤑 Os produtores de conteúdo ensinam como criar os vídeos e também como ganhar dinheiro com eles. Em um vídeo publicado em agosto de 2023 e que já passa de 60 mil visualizações, o dono do canal @ganhandonoautomatico alega que o conteúdo criado tem "conexão" com a Amazon. O canal @ReinaldoeMayara tem três livros digitais feitos com IA a venda na Amazon, com valor médio de R$ 67,03 (veja imagem abaixo). Desde junho, eles publicaram 42 vídeos voltados para a criação de conteúdo com inteligência artificial, sendo sete desses direcionados para crianças. O g1 entrou em contato com os youtubers para saber quantos livros foram vendidos desde que foram anunciados – dois deles em dezembro e um janeiro de 2024 –, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. Livros anunciados na Amazon feitos por inteligência artificial Reprodução/Amazon 'Basta ter cores chamativas', orienta um dos tutoriais ✏️ Na maioria dos vídeos, os youtubers explicam comandos que os espectadores precisam seguir, como pedir ao ChatGPT para que escreva a história. 🎨 Além das diretrizes tecnológicas, os youtubers também apontam detalhes específicos que devem existir no conteúdo infantil, como a locução e as cores. "Galera, lembrando que como é canal e vídeo infantil basta ter cores chamativas, músicas animadas e movimento que já vai fazer sucesso, não precisa ser tão detalhista ta?". Sobre a locução, eles indicam que o espectador utilize uma voz infantil para captar a atenção das crianças. Uma das tecnologias sugeridas pelos youtubers é o Kreado.AI – a tecnologia oferece 140 idiomas, mais de mil tipos de vozes e reproduz 800 caracteres em áudios. Quanto às cores, eles ressaltam que é preciso ser chamativo para reter a atenção da criança. O g1 entrou em contato com o YouTube para confirmar quantos vídeos infantis são produzidos com o uso de inteligência artificial e quantos vídeos que ensinam sobre como criar esse tipo de conteúdo existem na plataforma, mas a rede social não se posicionou até a publicação desta reportagem. Vídeos no YouTube que ensinam a fazer conteúdos para crianças com IA Reprodução/YouTube Falta de representatividade e moral da história repetida Apesar da facilidade e rapidez tecnológica, os conteúdos para crianças feitos com IA são criticados por especialistas, especialmente por dois motivos: personagens em sua maioria brancos e moral da história sempre igual. Os personagens criados por IA são na maioria das vezes muito parecidos e pouco diversos. E, segundo os especialistas, isso ajuda na predisposição das crianças desenvolverem algum preconceito. “Se você procurar uma imagem de princesa, provavelmente receberá personagens brancas, loiras e de olhos claros. Dificilmente aparecerá outras etnias ou raças”, explica Agnaldo Arraio, professor de faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Por exemplo, no vídeo: "Criar vídeos animados digitando texto com inteligência artificial gratuita", com 61 mil visualizações, do canal @chamadatech, a IA criou uma menina branca, sendo que o youtuber pediu apenas que a personagem tivesse "cabelos cacheados cor de mel e olhos que brilhavam como estrelas". No último ano, este canal publicou 21 vídeos ensinando como criar conteúdos infantis. Em outro canal, do @thiagofelizola, o vídeo: "Como criar desenhos animados usando IA & ChatGPT [Grátis]" mostra que a tecnologia criou um menino branco, sendo que não havia nenhum pedido específico sobre o tom de pele. (veja imagens abaixo). Procurados pelo g1, o dono do canal, Thiago Felizola, afirmou que não pensa na cor de pele dos personagens para criar os vídeos. "Peço de maneira genérica e (a inteligência artificial) me mostra isso mesmo". Já o @chamadatech não respondeu até a publicação desta reportagem. "Na prática, esses personagens (sempre brancos) podem induzir crianças a padrões que não as ajudem a reconhecer ou valorizar outras culturas", diz o professor de pedagogia da USP. "Mas ele ressalta que, a depender de como a tecnologia é usada, (os pais e as crianças) podem ter experiências diferentes na educação. Mas é preciso usar a IA com pensamento crítico". Personagens brancos nos conteúdos criados por IA para crianças @chamadatech e @thiagofelizola/YouTube Outro problema pedagógico apontado é que os textos produzidos pela inteligência artificial são muito semelhantes – ou seja, a "moral da história" é muitas vezes a mesma, prejudicando o aprendizado infantil. Em uma nota divulgada em 2021, a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Audrey Azoulay, afirmou que ler muitos livros – consequentemente, com diferentes narrativas – ajuda explorar várias ideias e culturas. No vídeo do @chamadatech, o ChatGPT criou uma história sobre Sofia, uma garota que encontra uma árvore mágica e pede para que seu animal comece a falar para poderem brincar juntos, e o desejo é realizado. A história, segundo o vídeo, tem a moral de que o amor e o companheirismo não têm barreiras. O tema foi abordado de forma parecida no vídeo do @thiagofelizola. O youtuber pediu apenas que a inteligência artificial criasse uma história "infantil e emocionante" com aproximadamente 200 palavras. A tecnologia produziu a história de um menino chamado Leo, que sonhava em tocar as estrelas. Então, uma estrela-cadente caiu em suas mãos, e ele a ajudou, "com amor e companheirismo" a fazer com que ela voltasse para o céu. "Ensinamos a criar histórias morais de amor e amizade, bem melhor do que muitos desenhos que ensinam sobre bruxas fantasmas, etc", diz o canal @ReinaldoeMayara, que também explica como fazer conteúdo infantil com IA aos seus espectadores. O g1 entrou em contato com o ChatGPT para entender por que as histórias sugeridas são parecidas, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. Conteúdos não informam que foram criados com IA Além de problemas pedagógicos, os especialistas destacam outra desvantagem – e dessa vez focado nos pais: a falta identificação de quais livros digitais ou vídeos foram criados por IA. Isso porque ainda não há regras específicas para desenhos infantis na Amazon ou no YouTube, por exemplo. Os três livros digitais do canal @ReinaldoeMayara disponíveis na Amazon não informam que são feitos por inteligência artificial. Os youtubers apenas disseram em um dos vídeos disponíveis no YouTube que usaram IA para criar os ebooks. E para o livro digital não ser detectado como feito por IA, o canal ressalta que: "(Depois que pedir para o ChatGPT criar o conteúdo), você deve reescrever a sua história, (e então) usar a plataforma Smodin, para detectar se o texto foi gerado por humanos ou não. Você pode ir trocando as palavras, mudando alguns sentidos", diz a youtuber, no vídeo "Como Criar um livro de história infantil corretamente para vender na Amazon KDP". A Amazon solicita que o autor apenas informe se o produto foi totalmente gerado por IA. Segundo o documento de diretrizes da empresa, caso as ferramentas tecnológicas tenham sido usadas para auxiliar na escrita ou edição, por exemplo, não há necessidade da comunicação do uso da ferramenta. O g1 entrou em contato com a empresa para entender se existe alguma perspectiva de mudança nas regras, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. Print do vídeo "Ganhe dinheiro no YouTube com esse canal dark simples de criar e que monetiza rápido" Reprodução/YouTube/@CanalClaYOliveiraOficial O YouTube, por sua vez, criou em março um selo que obriga o youtuber a informar se houve o uso de IA apenas em determinadas situações, como a troca do rosto de uma pessoa por outra ou a representação realista de eventos fictícios. "O objetivo é fortalecer a transparência com os espectadores e construir confiança entre os criadores e seu público", informou a empresa em nota. Porém, até o momento, a plataforma de vídeos não exige que os criadores informem se a inteligência artificial foi usada na etapa de produção, como a geração de roteiros, ideias de conteúdo ou quando a mídia for irrealista – como um desenho infantil.
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16/04 - Preconceito, baixa qualidade e mais: entenda riscos de conteúdos gerados por inteligência artificial para crianças
Influenciadores divulgam dicas de como produzir (e lucrar) com vídeos e livros criados com base em conteúdos gerados por ferramentas como o ChatGPT. Os riscos de crianças consumirem conteúdos gerados por Inteligência Artificial Cada vez mais populares nas redes sociais, conteúdos gerados por inteligência artificial (IA) voltados para o público infantil viraram motivo de alerta entre especialistas. Baixa qualidade pedagógica, ponto de vista enviesado e pouca diversidade (refletida, por exemplo, na ausência de personagens negros) são alguns dos problemas apontados. Esse nicho tem sido impulsionado por influenciadores que ensinam como produzir, em questão de minutos, livros digitais e animações para crianças – além de explicarem como fazer dinheiro com esses produtos. Os vídeos mais assistidos no YouTube, por exemplo, chegam a bater 300 mil visualizações. O uso de ferramentas de IA, como o ChatGPT, da empresa OpenAI, é relativamente novo. Tanto que adultos ainda enfrentam dificuldade para lidar com os conteúdos gerados por esses softwares – se determinada informação é verdadeira ou falsa, como os casos de deepfake. Quando se trata de crianças, então, a situação exige ainda mais cuidados. É o que explica Débora Cardoso, professora de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As crianças são pessoas em desenvolvimento e funcionam como esponjas. O que elas consumirem pode interferir no desenvolvimento delas. Ela pondera, no entanto, que as crianças do século 21 já nasceram na era digital, então é preciso encontrar um equilíbrio para o uso da tecnologia na infância. Além do consumo de conteúdos gerados por IA, a popularização da tecnologia abre espaço para que as crianças utilizem essas ferramentas – e isso também é motivo de preocupação para especialistas. Veja, abaixo, quais são os problemas para as crianças que podem ser agravados em decorrência dessa tecnologia. 🧠 Preguiça mental Segundo Álvaro Machado Dias, professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o uso excessivo e ferramentas de IA e o consumo de conteúdos de baixa qualidade produzidos por meio dessas ferramentas podem deixar o cérebro preguiçoso. como identificar: para o professor, os pais conseguem identificar que a criança está usando IA se passou a ter mais tempo livre. Por exemplo, passou a fazer as lições de casa em menor tempo. riscos: se esses vídeos estão sendo usados para otimizar o tempo, reduzindo os esforços cerebrais, a criança pode desenvolver um "enferrujamento mental", alertam os especialistas. Além disso, elas podem até desenvolver uma dificuldade cognitiva de prestar atenção em mais de um assunto. o que fazer: Tirar o acesso ao computador pode até ser uma solução fácil, mas pouco funcional, alerta o especialista. O ideal é motivar o aprendizado da criança e, se for usar inteligência artificial, que seja ao lado dos responsáveis. A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) recomenda que crianças com menos de 13 anos não acessem ferramentas de IA. A OpenAI, dona do ChatGPT, também indica a mesma idade. Porém, não há restrição etária para acessar. 📖 Manipulação A criança tem poucas experiências de vida e repertórios que a ajudem ter pensamentos críticos. Por isso, os vídeos feitos por IA podem atrapalhar o discernimento sobre o que é certo ou errado, assim como o processo de tomada de decisões. Como identificar: para a professora do Mackenzie, a criança manipulada demonstra mudanças de comportamento – podem ficar mais agressivas ou tristes, sentimentos que antes não eram comuns. Esses sentimentos, segundo a especialista, podem aflorar se, por exemplo, a criança pedir para os pais comprarem um brinquedo que sempre aparece em um vídeo feito por IA e não conseguir o que quer. riscos: Agnaldo Arraio, professor de faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que entre os riscos está o entendimento do que é certo ou errado. "Se diariamente nos deparamos com adultos sendo manipulados pela desinformação, que supostamente já são escolarizados e teriam as competências para discernir o que é real e o que é manipulado, imagine uma criança muito pequena que ainda não teria essa possibilidade de discernimento". o que fazer: Arraio sugere acompanhar as crianças durante o uso da IA pode ser um dos melhores caminhos. “Proibir não funcionaria, pois elas [crianças] poderiam acessar escondido e longe da possibilidade de acompanhamento de adultos”, afirma. 🧑🏾 Estereótipos e preconceito A criança pode desenvolver algum tipo de preconceito a depender do conteúdo consumido. Isso porque, segundo especialistas, a tecnologia pode apresentar personagens dentro de padrões de raça e gênero, por exemplo, prejudicando o acesso às diferenças, criando bolhas e falta de repertório em termos de diversidade. Como identificar: segundo os especialistas, observar a criança é a melhor saída: se fala algo preconceituoso, se faz alguma piada ou tira sarro de outro colega, seja pela cor ou por algum problema físico, por exemplo. Além disso, indicam observar se os conteúdos produzidos por IA e consumidos pelas crianças têm tons pejorativos. riscos: o principal risco é a criança continuar com pensamentos preconceituosos e estereotipados, podendo chegar a praticar bullying com colegas de sala, por exemplo. o que fazer: Débora Cardoso, professora do Mackenzie, afirma que o primeiro contato que a criança pode ter com falas preconceituosas é no âmbito familiar. Dessa forma, os pais precisam ficar atentos aos discursos e conversas que a criança escuta. Além disso, precisam ficar em contato com a escola para ver se o filho está convivendo com colegas que também tenham falas problemáticas. 🫂 Problemas na socialização: O uso excessivo de tecnologia pode inibir a criança de ter vontade de conviver com colegas de sala. Assim como pode, desde cedo, colocá-las em uma bolha virtual, limitando suas oportunidades de ter contato com novas culturas. como identificar: Crianças gostam de ficar sozinhas, ressalta a professora do Mackenzie Débora Cardoso. Porém, é necessário ficar atento se estão gastando mais tempo no celular do que com os colegas de sala, por exemplo. E se a criança está conversando apenas sobre o universo da internet ou consegue falar sobre outros assuntos. riscos: de acordo com o professor da USP Agnaldo Arraio, a forte presença das máquinas no cotidiano das crianças pode desumanizar qualquer pessoa – ou seja, “o risco de deixar a criança exposta apenas às máquinas é quase que tirar o direito de acesso às diferenças que existem no mundo”. o que fazer: os especialistas recomendam que os pais tentem controlar o tempo que o filho fica no celular. Não é preciso tirar o aparelho da criança, mas ficar de olho no conteúdo que é consumido. Além disso, é indicado que os responsáveis ofereçam mais tempo ao filho, para conseguirem se divertir juntos, sem internet. Como esses conteúdos são produzidos Vídeos que ensinam a fazer conteúdos com IA para crianças Reprodução/YouTube O conteúdo para crianças feitos com IA também são criticados pelos especialistas, especialmente por dois motivos: "moral da história" sempre igual e personagens em sua maioria brancos. No primeiro caso, a criança fica presa a apenas uma visão de mundo; no segundo caso, elas podem desenvolver algum tipo de preconceito Segundo especialistas, os textos de IA não são diversos – ou seja, a moral é muitas vezes a mesma, prejudicando o aprendizado infantil. Em uma nota divulgada em 2021, a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Audrey Azoulay, afirmou que ler muitos livros – consequentemente, com diferentes narrativas – ajuda explorar várias ideias e culturas. As imagens desses conteúdos, por sua vez, retratam personagens na maioria das vezes muito parecidos, sem contemplar a diversidade. E, segundo os especialistas, isso ajuda na predisposição das crianças desenvolverem algum preconceito. “Se você procurar uma imagem de princesa, provavelmente receberá personagens brancas, loiras e de olhos claros. Dificilmente aparecerá outras etnias ou raças”, explica Arraio, professor da USP. ""Na prática, esses personagens (sempre brancos) podem induzir crianças a padrões que não as ajudem a reconhecer ou valorizar outras culturas". Por exemplo, no vídeo: "Criar vídeos animados digitando texto com inteligência artificial gratuita", com 61 mil visualizações, do canal @chamadatech, a IA criou uma menina branca, sendo que o youtuber pediu apenas que a personagem tivesse "cabelos cacheados cor de mel e olhos que brilhavam como estrelas". Em outro canal, do @thiagofelizola, o vídeo: "Como criar desenhos animados usando IA & ChatGPT [Grátis]" mostra que a tecnologia criou um menino branco, sendo que não havia nenhum pedido específico sobre o tom de pele. (veja imagens abaixo). Personagens brancos nos conteúdos criados por IA para crianças @chamadatech e @thiagofelizola/YouTube Procurados pelo g1, o dono do canal @thiagofelizola, Thiago Felizola, afirmou que não pensa na cor de pele dos personagens para criar os vídeos. "Peço de maneira genérica e (a inteligência artificial) me mostra isso mesmo". Já o canal @chamadatech não respondeu até a publicação desta matéria.
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15/04 - Ao menos 52 universidades federais e 79 institutos estão em greve
Servidores federais reivindicam reestruturação de carreira, recomposição salarial e orçamentária, e revogação de normas aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro. Professores do Instituto Federal do Piauí aderem à greve. Andressa Lopes/Rede Clube Ao menos 52 universidades, 79 institutos federais (IFs) e 14 campus do Colégio Pedro II estão em greve, de acordo com um levantamento realizado pelo g1. Professores e servidores das instituições reivindicam reestruturação de carreira, recomposição salarial e orçamentária, e revogação de normas aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro. Os níveis de paralisação variam. Em algumas instituições, professores e técnicos-administrativos aderiram à greve. Em outros casos, apenas os professores, ou apenas os técnicos, estão paralisados. Procurado pelo g1, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), que representa os professores e demais servidores federais, informou que, apesar de se reunir desde 2023 com o Governo Federal, nenhuma proposta que contemple as reivindicações dos servidores foi apresentada. Já o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) não respondeu aos questionamentos até a publicação da reportagem. O Ministério da Educação declarou, por meio da assessoria de imprensa, que "vem envidando todos os esforços para buscar alternativas de valorização dos servidores da educação, atento ao diálogo franco e respeitoso com as categorias". A pasta diz ainda que vem participando das mesas de negociação que trata de condições de trabalho dos servidores que atuam nas instituições de educação. Abaixo, confira como está a situação pelo país. Norte Acre: servidores da Universidade Federal do Acre (Ufac) e do Instituto Federal do Acre (Ifac) estão em greve. Amapá: servidores do Instituto Federal do Amapá (IFAP) e da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) aderiram à paralisação. Pará: as federais do Pará (UFPA), do Oeste do Pará (Ufopa), Federal Rural da Amazônia (Ufra), e o Instituto Federal do Pará (IFPA) e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) também estão em greve. Rondônia: a Universidade Federal de Rondônia (Unir) e o Instituto Federal de Rondônia também estão paralisados. Tocantins: técnicos da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e um campi do Instituto Federal do estado estão em greve. Nordeste Alagoas: tanto a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) quanto o Instituto Federal de Alagoas (IFAL) estão paralisados. Bahia: 17 campi do Instituto Federal da Bahia também entraram em greve. Técnicos da Universidade Federal do Recôncavo Baiano também aderiram ao movimento. Ceará: estão em greve a Universidade Federal do Ceará (UFC) Universidade Federal do Cariri (UFCA) Universidade Federal da Integração Luso-Afro Brasileira (Unilab) e o Instituto Federal do Ceará (IFCE). Maranhão: técnicos e professores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) também aderiram à paralisação. Paraíba: estão em greve os técnicos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e professores e técnicos do Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Pernambuco: a greve afeta pelo menos a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). Piauí: dois campi do Instituto Federal do Piauí e a Universidade Federal do Piauí (UFPI) Campus Teresina estão em greve. Rio Grande do Norte: o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) aderiram à paralisação. Sergipe: estão paralisados o Instituto Federal de Sergipe (IFS) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). Sul Rio Grande do Sul: a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e três campi do Instituto Federal do RS estão paralisados. Paraná: a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e o Instituto Federal do Paraná (IFPR) também estão em greve. Santa Catarina: estão em greve servidores da Universidade Federal de SC (UFSC), da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), do Instituto Federal Catarinense (IFC) e do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) Sudeste Espírito Santo: tanto o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) quanto a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) estão em greve. Minas Gerais: estão em greve a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cetef), quatro campi do Instituto Federal de Minas Gerais, quatro do IF do Sul de Minas e o Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e Universidade Federal de Lavras (Ufla) também aderiram. Rio de Janeiro: os técnicos-administrativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) estão em greve; no Colégio Pedro II os professores estão em greve. Docentes e técnicos-administrativos do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) também aderiram. São Paulo: seis campi do Instituto Federal de São Paulo e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foram afetados pela paralisação dos servidores. Centro-Oeste Distrito Federal: a Universidade de Brasília (UnB) está paralisada. Mato Grosso: 18 campi do Instituto Federal do Mato Grosso também aderiram à paralisação, assim como a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Mato Grosso do Sul: o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) e a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) estão em greve. Goiás: servidores administrativos da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade Federal de Catalão (UFCat), e da Universidade Federal de Jataí (UFJ), e dois campi do Instituto Federal de Goiás também estão em greve. G1 no DF1: Professores da UnB decidem entrar em greve VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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15/04 - Enem 2024: prazo para pedir isenção da taxa começa nesta segunda; saiba quem tem direito e como solicitar
Candidatos que tiveram isenção no Enem 2023 e não compareceram nos dias das provas precisam justificar a ausência para ter direito ao não pagamento em 2024. Pedidos de isenção para o Enem 2024 devem ser feitos até 26 de abril. Na imagem, parcitipante acessa página do Enem Divulgação/Depositphotos O prazo para solicitar a isenção de pagamento da taxa de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 começa nesta segunda-feira (15). O Inep, órgão responsável pelo exame, ainda não divulgou o valor da inscrição. Na edição de 2023, assim como em anos anteriores, o valor para quem não tinha isenção foi de R$ 85. 👉 Os pedidos de isenção devem ser submetidos na Página do Participante (enem.inep.gov.br/participante) com o login do gov.br até 26 de abril. Abaixo, confira as respostas para as principais dúvidas sobre o benefício e sobre o Enem 2024. 💰 Quem tem direito à isenção de taxa? Participantes que estão no 3º ano do ensino médio de escolas públicas; alunos que estudaram durante todo o ensino médio na rede pública ou como bolsistas integrais da rede privada, desde que tenham renda familiar per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 1.980); cidadãos em vulnerabilidade social, membros de família de baixa renda com inscrição no Cadastro Único para programas sociais do governo federal (CadÚnico). 💻 Como solicitar a isenção? É preciso entrar na Página do Participante e informar o CPF, a data de nascimento, o e-mail e um número de telefone válido. ☹️ E quem estava isento no Enem 2023, mas não fez a prova? Nesse caso, é necessário entrar na Página do Participante e justificar a ausência (anexando um atestado médico ou um boletim de ocorrência, por exemplo). Caso contrário, perderá o direito à isenção. ✉️ Quando saem os resultados da isenção? Em 13 de maio. Caso o pedido seja negado, é possível entrar com recurso entre 13 e 17 de maio. 📝 Quem conseguir a isenção precisa se inscrever no Enem? Sim. Todos, isentos ou não, deverão fazer a inscrição no Enem 2024, no período que ainda vai ser divulgado pelo Inep. Datas do período de isenção e justificativa 15 a 26 de abril: justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. 13 de maio: resultado da justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. 13 a 17 de maio: recurso da justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. 24 de maio: resultado do recurso da justificativa de ausência no Enem 2023 e solicitação de isenção do Enem 2024. Redação nota mil no Enem: alunos de escola pública que atingiram pontuação dão dicas Vídeos
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11/04 - Por que estudar em escola particular no Brasil não é garantia de bom desempenho em exame internacional
Resultado de escolas particulares no Brasil ficou abaixo da média internacional na última edição do Pisa. Especialistas listam fatores para entender a questão. Desempenho escolar do Brasil está abaixo na média, e não somente no sistema público DW/N. Pontes Muitas famílias brasileiras buscam em escolas particulares um caminho para garantir melhor oportunidade de educação para seus filhos, mas nem sempre essa alternativa é uma garantia de aprendizado. Avaliações internacionais recentes confirmaram que o desempenho escolar geral do país está abaixo da média não somente no sistema público, mas também no privado. Os números da edição mais recente do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostraram que, embora o Brasil tenha conseguido passar pela pandemia sem piorar suas notas em matemática, leitura e ciências, os alunos brasileiros ficaram estagnados em níveis bastante insuficientes de aprendizado e bem abaixo da média internacional. A avaliação realizada em 2022 indicou um desempenho abaixo da média em todos os recortes de renda: nem mesmo os alunos mais ricos ou as escolas particulares alcançaram a média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por que estudar em escola particular no Brasil não é garantia de bom desempenho em exame internacional DW Será que isso significa pagar pela educação – sacrifício e meta para tantas famílias brasileiras que buscam mobilidade social – não é garantia de qualidade? A DW consultou especialistas e listou cinco fatores que ajudam a entender a questão. 1. O que o Pisa mostra sobre as escolas particulares Realizado de três em três anos com estudantes na faixa dos 15 anos em 81 países membros e parceiros da OCDE, o Pisa traça um painel mundial da aprendizagem de estudantes na educação básica. Na edição de 2022, o foco foi em matemática. 👉🏽 O objetivo é avaliar se, aos 15 anos de idade, próximos do fim da escolaridade obrigatória em muitos países, os estudantes já aprenderam o suficiente para serem cidadãos plenos. No Brasil, 10.798 alunos de 599 escolas passaram pela avaliação; destes, 1437 (ou 14,2%) eram de escolas privadas. A maioria dos participantes brasileiros representados no Pisa 2022 era da rede pública: estadual, (73,1%), seguida de municipais (10,3%) e federais (2,5%). Enquanto a média geral de pontos do Brasil foi de 379 em matemática, 93 pontos abaixo da média da OCDE de 472, as escolas particulares fizeram 456 pontos. Melhores que a média do país, mas ainda abaixo da internacional. Nem os alunos mais ricos no Brasil alcançaram a média da OCDE em matemática. Foram piores que estudantes de perfil parecido em países como Turquia e Vietnã, que fizeram mais de 500 pontos. Brasil está nas últimas posições no Pisa 2022; veja notas de 81 países em matemática, ciências e leitura 2. Pandemia atrapalhou As escolas particulares detêm uma fatia relativamente pequena da educação básica no Brasil. Das 47,3 milhões de matrículas registradas em 2023, 9,4 milhões (19,9%) eram no sistema privado. No ensino médio, as particulares representam 13%. A baixa representatividade talvez ajude a explicar a escassez de trabalhos acadêmicos sobre a qualidade do ensino privado: a grande maioria das pesquisas se refere ao ensino público. O pesquisador Ocimar Munhoz Alavarse, doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP), é exceção: há décadas dedica-se a interpretar as estatísticas de avaliações de ensino, como o Pisa e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), para compreender o que está além das médias de indicadores. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional da Faculdade de Educação da USP, Alavarse diz que o atual Pisa reflete os alunos fora da escola na pandemia. "Impactou todo mundo, mas as escolas privadas continuam tendo resultado, nas médias, superiores." Nem as famílias de classes média e alta, diz o professor, estavam prontas para a educação remota. "Muitas também não tinham em suas casas dois, três computadores, quando o pai e mãe também trabalhavam em casa", diz, pontuando que, obviamente, a situação era mais grave para as famílias de baixa renda. As escolas também estavam despreparadas. "Uma coisa é recorrer eventualmente a esses recursos [tecnológicos]; outra coisa é transferir algo que há 200 anos se faz, que é o ensino presencial, para o computador", afirma Alavarse. 3. Influência de fora da escola A estrutura do Pisa permite comparar alunos do mesmo nível socioeconômico de vários países. Segundo a OCDE, o status socioeconômico foi responsável por 15% da variação no desempenho em matemática no Pisa 2022 no Brasil, mesmo nível da OCDE. "Todas as pesquisas reafirmam: quanto maior o nível socioeconômico do aluno, maior tende a ser o desempenho", diz Alavarse. Escolas de bairros de alta renda, por exemplo, tendem naturalmente a ter desempenho melhor do que territórios de vulnerabilidade social. Não por mérito, mas por injustiça social. Os alunos com melhores condições já partem do início da "corrida" com vantagens: o nível de escolarização da mãe, o engajamento da família nos estudos, os livros e estímulos que a criança tem em casa, as condições de alimentação, saúde: tudo o que colabora ou atrapalha o aluno nos estudos, por exemplo. 4. Escolas particulares são bem diferentes entre si Diferentemente do que pode supor o senso comum, não dá para tratar todas as escolas particulares como um mesmo grupo. "Uma coisa são as escolas de elite das principais capitais, que custam R$ 5 mil, R$ 6 mil, R$ 15 mil por mês. E existem escolas que chamamos de escola de bairro, que atende um público entre C e D, e elas acabam ficando num limbo", explica a pedagoga e mestre em educação Beatriz Cortese, diretora do Cenpec, organização sem fins lucrativos que promove equidade e qualidade na educação pública. "Por um lado, elas não seguem a regulação e o cuidado das escolas públicas, que o governo acompanha, e por outro não têm a mesma estrutura das particulares", acrescenta Cortese. Pedro Flexa, diretor da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), diz que "de fato os resultados do Pisa atestam que fatores extraescolares têm grande peso". Ele destaca, no entanto, o impacto positivo que as escolas particulares podem ter para famílias mais pobres, contribuindo para a sociedade. José Antonio Figueiredo Antiório, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo, diz que há muitas escolas de mensalidade muito baixas que não são sequer regularizadas. "Um problema muito sério que estamos tentando resolver", ressalta. 5. Muitos alunos aprendem menos Mesmo que a "foto" do ensino particular seja mais bonita, não significa que a maioria dos alunos aprendam. Alavarse cita dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para mostrar que, embora as escolas privadas tenham em média um resultado melhor que as públicas, há uma grande parcela de alunos que saem da escola despreparados. Ele cita o Saeb 2021, que mostra que, entre alunos do 9º ano avaliados em matemática, 50% não aprenderam o que era esperado. Na mesma comparação, nas escolas municipais esse percentual era de 87%, segundo o especialista. "Moral da história: se eu olhar para resultados [do Pisa e Saeb], sim: os resultados são superiores do que das escolas públicas. Mas também tem uma quantidade gigantesca, metade dos alunos, que não atinge o que seria esperado", diz. Comparando ao padrão europeu almejado no Pisa, ele estima que a média das escolas privadas do Brasil equivaleria à média dos níveis socioeconômicos mais baixos da OCDE. Mas é fato que, para o topo dos alunos de melhor desempenho, o padrão é melhor. "Tem uma pequena parcela dos alunos da escola privada que têm desempenho parecido com o da Suíça", afirma o professor da USP. Embora diga que o conceito de qualidade da escola pode variar de acordo com a família – uns querem desempenho no Enem, outros mais habilidades emocionais, por exemplo –, Alavarse alerta que, a depender da escola e dos sonhos de cada um, muitas podem não estar obtendo o que é esperado ao pagar a mensalidade. VÍDEOS E PODCAST
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09/04 - Ônibus escolares atolam e prejudicam estudantes de escolas públicas na capital do país; veja imagens
Ao todo, cinco escolas são atendidas pelo transporte que circula na zona rural do Gama, onde fica estrada. Administração responsabiliza chuvas pelo problema. Ônibus escolar atola na zona rural do Guará, no Distrito Federal. Por mais cedo que saiam de casa para pegar o ônibus escolar, os estudantes da zona rural do Gama, em Brasília, têm que resolver uma questão no caminho para o colégio: a que horas vão chegar? Por conta dos buracos e da lama, os motoristas dos ônibus fazem zigue-zague para vencer o caminho. No entanto, nem sempre dá certo (veja vídeo acima). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. O ônibus escolar leva meninos e meninas para cinco escolas públicas do Distrito Federal. Nos últimos dias, por duas vezes o ônibus atolou na estrada e eles chegaram atrasados. Ônibus atola no Gama e motorista tenta tirar o veículo da Lama. Reprodução/TV Globo Nesta segunda-feira (8), as crianças tiveram que esperar por um outro veículo. Na semana passada foi preciso usar um trator para retirar o ônibus escolar do atoleiro (veja vídeo abaixo). Em nota, a Administração do Gama, onde fica a estrada, respondeu que "por conta do período de chuvas, a estrada sofreu danos após reparos". Já a Novacap, responsável pelas obras, diz que "atua mediante demandas das administrações regionais". As escolas afetadas são todas do Gama: Centro de Ensino Fundamental 3 Escola Classe 3 Centro de Ensino Fundamental 6 Escola Classe 21 Centro de Ensino Médio 1 Um trator retirou ônibus atolado na região rural do Gama. LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Criança desce de ônibus correndo e é atropelada por outro ônibus no DF ATROPELAMENTO DE CICLISTAS: Justiça mantém prisão de motorista que atropelou 5 ciclistas no DF; uma vítima está em estado grave Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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09/04 - Imagens de eclipse solar total 'multiplicado' no chão chamam a atenção; ciência explica fenômeno
Segundo especialistas, efeito conhecido como 'pinhole' acontece quando a luz de um objeto atravessa por um espaço pequeno e é projetada em uma superfície. Vídeo mostra projeção do eclipse solar 'multiplicado' no chão; ciência explica fenômeno Pequenos círculos, com o centro escuro e as bordas claras, se movimentam pelo chão. Imagens que mostram esse efeito curioso do eclipse solar total, visto nesta segunda-feira (8), na sombra das árvores chamaram a atenção nas redes sociais. Segundo especialistas, o fenômeno é real e explicado pela física. Um vídeo foi feito no México nesta segunda-feira e compartilhado na internet. (Veja o vídeo acima) 🍃🍃🍃 O que acontece é que a passagem de luz através das folhas das árvores projeta a imagem do eclipse no chão, agindo como uma "câmera pinhole" (na tradução literal do inglês, "buraco de alfinete") -- semelhante àquele experimento comum nos anos iniciais da escola, feito com uma caixa e um pequeno buraco, para projetar a imagem do outro lado. Nesse modelo, a luz de um objeto atravessa um espaço pequeno, que pode ser um buraco em uma folha de papel ou caixa, por exemplo. Com isso, a imagem é projetada do outro lado. Nas imagens que circulam na internet, as árvores agiram como o "filtro" e causaram a projeção do eclipse no chão. Eclipse foi refletido no chão por fenômeno pinhole Arte/g1 Através das folhas das árvores, temos pequenas passagens de luz e, como elas estão a uma distância suficiente, elas permitem ver a imagem do eclipse projetada por entre as folhas. Isso acontece pela forma como a luz se propaga por entre as folhas, como no pinhole. ➡️ O modelo era uma das formas indicadas como segura pela própria Nasa, agência espacial norte-americana, para visualizar o eclipse. Isso porque não se pode olhar diretamente para o sol porque é um risco para a saúde dos olhos. Turista na Flórida observa eclipse solar através de pinhole Tampa Bay Times/AP O efeito pinhole registrado na segunda-feira já havia sido visto em outros eclipses, como nessa imagem de 2012 abaixo. Imagem feita em 2012 durante eclipse Reprodução/Redes Sociais Segundo o pesquisador Jaziel Coelho, pesquisador do Departamento de Física da Ufes, essas imagens são muito comuns durante um eclipse solar total. "É um fenômeno físico que é conhecido como 'buraco de alfinete' (câmera pinhole). As imagens são lindas e impressionantes. As sombras projetadas pelas folhas da árvore durante o eclipse solar podem ter uma aparência crescente devido a esse efeito (da imagem da Lua cobrindo o Sol)", explica. Efeito pinhole: projeção do eclipse solar total através das folhas das árvores Reprodução/Nasa Langley Research Center Eclipse total do Sol O eclipse solar total mais recente pôde ser visto apenas do México, Estados Unidos e Canadá. 🌑🌒🌓 Um eclipse solar ocorre quando a Lua se posiciona entre o Sol e a Terra de uma maneira que ela acaba lançando uma sombra sobre a Terra. Quando a Lua bloqueia toda a luz do Sol, temos o chamado eclipse solar total. Apesar de acontecer uma ou duas vezes por ano, é considerado raro porque somente as pessoas que estão em uma determinada faixa do planeta conseguem ver o eclipse total. A faixa de visibilidade tem no máximo 270 quilômetros de largura, o que limita a visualização do fenômeno. No caso do eclipse desta segunda, a faixa abrangeu parte da América do Norte. Vídeo mostra como foi o eclipse solar total Eclipse solar total; FOTOS do fenômeno visto no México, EUA e Canadá
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08/04 - Professores da UnB decidem entrar em greve
Decisão foi tomada em assembleia na tarde desta segunda-feira (8), em Brasília, e greve será iniciada na próxima segunda (15). Professores pedem recomposição salarial com reajuste de 22,71%; servidores técnico-administrativos da universidade estão em greve desde 11 de março. Professores da UnB votam pela greve na universidade Fernanda Bastos/g1 Os professores da Universidade de Brasília (UnB) decidiram entrar em greve durante assembleia realizada na tarde desta segunda-feira (8). Os servidores técnico-administrativos da universidade estão em greve desde o dia 11 de março. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. A greve dos professores foi aprovada por 257 votos a favor e 213 contra. Também por meio de votação, a categoria decidiu que a paralisação se inicia na próxima segunda-feira (15). O prazo foi dado para a mobilização dos professores e para a organização do movimento, segundo a Associação de Docentes da UnB (Adunb). A última paralisação dos professores foi em 2012. O Ministério da Educação e o Ministério da Gestão disseram que as negociações com os professores continuam (veja notas completas abaixo). Reivindicações dos professores Professores durante assembleia convocada pela Adunb na UnB Divulgação/Comunicação Adunb Os professores da UnB pedem recomposição salarial com reajuste de 22,71%, divididos em três parcelas: 2024: 7,06% 2025: 7,06% 2026: 7,06% O governo federal, por meio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), propôs: 2024: sem reajuste 2025: 4,5% 2026: 4,5% O governo também apresentou uma proposta de reajuste dos auxílios alimentação, saúde e creche que não contempla aposentados e pensionistas. Os professores pedem, além da recomposição salarial, a equiparação dos benefícios e auxílios com os servidores do Legislativo e do Judiciário ainda em 2024 e também a revogação de atos normativos criados durante governos anteriores que impactam a carreira dos docentes. O que diz o Ministério da Educação "O Ministério da Educação (MEC) vem envidando todos os esforços para buscar alternativas de valorização dos servidores da educação, atento ao diálogo franco e respeitoso com as categorias. No ano passado, o governo federal promoveu reajuste de 9% para todos os servidores. Equipes da pasta vêm participando da mesa nacional de negociação e das mesas específicas de técnicos e docentes instituídas pelo MGI. E, ainda nessa semana, conduzirão reunião da mesa setorial que trata de condições de trabalho". O que diz o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos "Em 2023 o Ministério da Gestão viabilizou, a partir de negociação com as entidades representativas dos servidores federais, reajuste linear de 9% para todos os servidores, além do aumento de 43,6% no auxílio alimentação. Esse foi o primeiro acordo para reajustes fechado entre o governo e servidores em oito anos. Também foi formalizada proposta, para este ano de 2024, de reajuste no auxílio-alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil (51,9% a mais); de aumento em 51% nos recursos destinados à assistência à saúde suplementar (“auxílio-saúde”); e, ainda, de acréscimo na assistência pré-escolar (“auxílio-creche”) de R$ 321 para R$ 484,90. Como parte do processo de debates sobre reajustes para o ano de 2024, foram abertas mesas específicas para tratar de algumas carreiras. Dez mesas já chegaram a acordos e oito estão em andamento, sendo que com as entidades representativas das carreiras educacional, os Ministérios da Gestão e o da Educação criou um Grupo de Trabalho (GT) para tratar da reestruturação do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE). O relatório final do GT, entregue no dia 27/3 à ministra Esther Dweck, servirá como insumo para a proposta do governo de reestruturação da carreira, que será apresentada aos servidores na Mesa Específica de Negociação. O Ministério da Gestão segue aberto ao diálogo com os servidores da área de educação e de todas as outras áreas." LEIA TAMBÉM INSTITUTOS FEDERAIS: Com greve de professores e funcionários, quase 300 campi estão sem aula ÍNDICE DE ANALFABETISMO: DF tem menor índice de analfabetismo do país Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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08/04 - Greve de professores e funcionários: quase 300 campi de institutos federais estão sem aula
Trabalhadores reivindicam reestruturação de carreira, recomposição salarial e orçamentária, e revogação de normas aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro. Categoria estudantil está dividida entre apoiar ou não o movimento. Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), um dos que aderiu à greve IFMT/Divulgação Professores e funcionários técnico-administrativos de quase 300 campi de institutos federais estão em greve nesta segunda-feira (8), sem previsão de retorno às atividades normais. A paralisação começou, na maior parte das unidades, em 3 de abril. 📝 *Campi é o plural de campus. Do latim, campus significa terreno e edifícios de uma universidade ou outra escola. Apesar de campi ser o plural recomendado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), a versão aportuguesada câmpus também já é usada por instituições federais. Também aderiram ao movimento: o Colégio Pedro II, o Instituto Nacional de Educação de Surdos, o Instituto Benjamin Constant e a Cefet-RJ, no Rio de Janeiro, além de escolas e colégios federais vinculados ao Ministério da Defesa. De acordo com o Sisasefe (sindicato nacional que representa os servidores), todos os alunos dessas instituições estão sem aula. ➡️Quais as reivindicações dos trabalhadores? Os grevistas requerem: reestruturação das carreiras; recomposição salarial; revogação de normas relacionadas à educação que foram aprovadas nos governos Temer (2016-2018) e Bolsonaro (2019-2022), como o novo ensino médio; reforço no orçamento das instituições de ensino e reajuste imediato de auxílios estudantis. ➡️O que diz o governo? O Ministério da Gestão afirma que viabilizou, em 2023, um reajuste linear de 9% no salário dos servidores e de 43,6% no auxílio-alimentação. Segundo a pasta, foi o primeiro acordo firmado com as categorias nos últimos 8 anos. Para 2024, o governo diz que apresentou uma proposta de: elevar o auxílio-alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil; aumentar 51% dos recursos de assistência à saúde; subir o auxílio-creche de R$ 321 para R$ 489,90. Esses itens estão sendo debatidos com as entidades educacionais em mesas específicas, segundo o que o Ministério da Gestão disse ao g1. Um relatório final com o plano de reestruturação das carreiras será apresentado em 27 de março à ministra Esther Dweck. O Sisasefe confirma que o diálogo dos sindicatos com o governo federal começou em junho de 2023, mas "o governo não mostrou um atendimento compatível às demandas da categoria até o momento". "A partir da reunião de 18/12/2023, os servidores federais da Educação Profissional, Científica e Tecnológica passaram a debater a possibilidade de construir uma greve — a qual foi aprovada em 27/03 com deflagração para 03/04", afirma a entidade de trabalhadores. ➡️Há previsão de retorno às atividades? Não. ➡️Qual é o posicionamento dos alunos? A categoria estudantil está dividida: a maioria, segundo fontes afirmaram ao g1, é contrária à paralisação. Vídeos Abaixo, veja o que mudou no Novo Ensino Médio após aprovação do texto na Câmara: Entenda o novo Ensino Médio
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08/04 - Nº de alunos com TEA matriculados em escolas estaduais de Piracicaba cresce 61% desde 2022
Em 2022, as escolas somavam 139 alunos. Até abril deste ano, são 244 estudantes, segundo dados da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP). Cidades da região da Piracicaba emitem 680 carteiras de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; veja como fazer Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD)/ Governo do Estado de São Paulo O número de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede estadual de ensino em Piracicaba (SP) aumento 61% desde 2022, quando as escolas somavam 139 alunos. Até abril deste ano, são 244 estudantes. Os dados são da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP). 📲 Receba no WhatsApp notícias da região de Piracicaba Em 2023, o número de alunos com TEA que frequentam a escolas da rede estadual de ensino na cidade era de 188, de acordo com levantamento mais atualizado disponibilizado a pedido do g1 Piracicaba e região nesta sexta-feira (5). Na última terça-feira (2) foi celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse dia, o Governo de São Paulo publicou um decreto que permite aos pais e responsáveis de alunos no Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou com deficiência intelectual contratarem ou disponibilizem auxiliar pessoal para a criança na sala de aula. O serviço fica por conta dos familiares. A medida, conforme reportagem publicada no g1, no última quinta-feira (4), não isenta o Estado da obrigação com os alunos da rede pública de São Paulo, porém beneficia quem tem condições financeiras ou disponibilidade de tempo para adotar a medida. Especialistas apontam que a nova legislação representa um tímido avanço, mas que famílias econômica e socialmente vulneráveis continuam desamparadas mesmo com a nova legislação. Leia mais aqui. Carteirinha A Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD) informou, nesta que, desde a implantação da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CipTEA) em abril de 2023, foram emitidas mais de 580 em Piracicaba. 🪪Saiba o que é preciso para solicitar a carteira, no final da reportagem👇 O número representa aumento de 40,7% na quantidade de documentos disponibilizados no ano passado, quando a cidade somava 412 identificações. “Deste total, mais de 68% são do sexo masculino, 31% do sexo feminino e 1% de outros”, especifica a secretaria. Idade escolar Dos cadastrados, a faixa etária que mais domina os pedidos de emissão da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CipTEA) é a equivalente a idade escolar na cidade. A maioria das emissões do documento abrange crianças com idades entre 0 e 10 anos, com cerca de 363 documentos. Na sequência, está o grupo de pessoas com idades entre 11 e 20 anos, sendo 120 emissões da carteirinha na cidade. Entre os jovens com 21 e 30 anos, há 40 documentos registrados em Piracicaba (SP). A cidade soma mais de 30 carteirinhas feitas para pessoas com faixa etária entre 31 e 40 anos. O número de emissões começa a diminuir a partir dos 40 anos, segundo levantamento da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Entre pessoas com idades de 41 a 50 anos, há 20 registros do documento em Piracicaba e 10 emissões para pessoas com mais de 50 anos. A emissão é realizada de forma digital, pelo portal ciptea.sp.gov.br, desenvolvido pela Prodesp, ou presencialmente nos mais de 240 postos do Poupatempo, nos serviços eletrônicos. “Hoje, 26 unidades no Estado possuem salas sensoriais para atendimento de pessoas com TEA, entre elas o posto no município de Piracicaba”, afirma a (SEDPcD) Benefícios Os cadastros servem para alimentar a base de dados dos municípios e do Estado com informações úteis ao aprimoramento de políticas públicas voltadas às necessidades da pessoa com transtorno do espectro autista. Segundo a SEDPcD, o documento permite que pessoas com TEA tenham atendimento integral, prioritário e humanizado nos serviços públicos de todo Estado de São Paulo. "A carteira, e o cordão de girassol também, são essenciais para o respeito aos direitos das pessoas com TEA, sejam elas jovens, crianças ou adultos. São elementos para garantir atendimento prioritário e inserção social pela identificação, sem que se precise falar ou provar mostrando um laudo", afirma a especialista Jussara Rosolen. Famílias Familiares e especialistas listam os benefícios e a importância de se fazer o pedido da Ciptea para garantir atendimento prioritário e facilitar acessos resguardados. O advogado Frederico Cosentino fez o cadastro para emissão da carteira da identificação do filho Leonardo, de sete anos, diagnosticado dentro do espectro. "A Ciptea é uma importante ferramenta para fazermos valer nossos direitos. Quanto mais nos fizermos presentes aos olhos do poder público e da sociedade, melhor a qualidade de vida dos indivíduos que estão dentro do espectro, dos familiares e da sociedade num todo", considera o pai. Frederico e Leonardo Cosentino Arquivo pessoal Necessidades ocultas A professora, psicopedagoga e mestra em Educação e Ciências pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Jussara Rosolen, explica que tanto a Ciptea quanto o Cordão de Girassol - que é outro elemento de identificação - são ferramentas importantes para que os direitos da pessoa com TEA sejam reconhecidos e resguardados. "Se a pessoa porta a carteirinha ou está com o cordão verde com o girassol, ela não precisa passar por nenhuma situação, às vezes, até de constrangimento, para assegurar o direito ocupar lugar em fila ou vaga preferencial ou estacionar em vaga especial, por exemplo, uma vez que no caso do TEA, às necessidades são ocultas", analisa. Estímulos sensoriais e TEA A especialista salienta que a pessoa diagnosticada com transtorno do espectro autista, muitas vezes, é muito sensível a estímulos sonoros, espaciais, de movimento, olfativos, entre outros. O cordão, identificado pelo girassol, e a carteira garantem visibilidade à condição e, com isso, facilita acessos a atendimentos prioritários "Excesso de estímulos sensoriais, a exemplo de cheiros ou sons, podem desencadear crises e, por isso, a carteira e o cordão são importantes para indicar a necessidade do respeito ao atendimento prioritário devido a existência de uma deficiência oculta. Na mais justo que atender a isso", especifica. LEIA MAIS: Carteirinha de identificação da pessoa com Transtorno do Espectro Autista pode ser emitida Autismo: o que é camuflagem social, que dificulta diagnóstico em meninas Cordão de girassol: desenho identifica pessoas com deficiências ocultas ou não aparentes Jussara trabalha com crianças com necessidades educacionais especiais há cinco anos e é especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA, do inglês, applied behavior analysis). A especialista lembra que, a Lei nº 12.764, de 2012, definiu o Transtorno do Espectro Autista (TEA) como uma deficiência. A medida foi resultado da luta de Berenice Piana, mãe de uma criança autista. "Berenice lutou por diversas leis de inclusão social para pessoas com TEA, entre elas a inserção escolar das crianças e jovens com a condição", relata. Região de Piracicaba tem cerca de 300 documentos emitidos desde abril deste ano Frederico Cosentino/Arquivo pessoal Deficiência oculta: olhares atravessados À reportagem, Frederico Cosentino relacionou, pelo menos, duas razões pelas quais considera importante buscar pelo documento. "O autismo, diferentemente de muitas deficiências, nem sempre é facilmente identificada por terceiros. Todas as vezes em que precisei fazer uso da fila preferencial, recebi olhares atravessados, pois visualmente meu filho não apresenta uma deficiência", destaca. Base de dados e políticas públicas Além disso, o advogado também pontua que o cadastro com pedido de emissão da Ciptea também é importante alimentar a base de dados da cidade e do Estado e, com isso, fornecer informações que sejam incorporadas a possível aperfeiçoamento e/ou criação de novas ações. "Para que possam aprimorar políticas públicas direcionadas às nossas necessidades", acrescenta. Consentino ressalta que a apresentação da carteira facilita e otimiza o acesso a direitos resguardados por lei em qualquer lugar ou situação. Ele comenta situações vividas antes e depois de ter o documento em mãos. "Frequentemente, exigiam a apresentação de laudo médico, atestando o diagnóstico do TEA. Nem sempre lembramos de ir passear com um laudo médico. Com o Ciptea isso facilita bastante, pois apresento o documento e está tudo certo", observa. Ao telefone, Leonardo, o Leo, manda o recado: "Eu acho a minha carteira Ciptea muito legal", opina. Cordão de girassol. AGÊNCIA SENADO/DIVULGAÇÃO A carteira de identificação do TEA A Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) está prevista na Lei Federal nº 13.977, de 8 de janeiro de 2020, conhecida como a Lei Romeo Mion. A versão paulista da Ciptea começou a ser disponibilizada em abril de 2023, após decreto do governador Tarcísio de Freitas. Desde então, o serviço de emissão é feito, exclusivamente, pela unidade do Poupatempo no Canindé, na capital paulista. De acordo com a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD), há um estudo para ampliação do oferecimento em outros postos. Apesar de não emitir a carteirinha, os Poupatempos das cidades, auxiliam os moradores a como obter o documento por meio do Portal Ciptea. 👨‍💻Como solicitar a carteira de identificação da pessoa com TEA? O documento deve ser solicitado pela internet, por meio do portal Ciptea criado pela Prodesp. Para acessar,👉clique aqui. 📌Quais são os passos? Basta preencher o cadastro disponível no site e anexar os documentos solicitados. 🪪Quais são os documentos solicitados? Foto de rosto e laudo médico. 🖨️É possível imprimir a carteirinha em casa? Sim. Quando aprovada, a carteirinha ficará disponível para download e impressão. 🗓️Em quanto tempo a Ciptea fica pronta? Em média, em 40 dias entre cadastro, análise e emissão. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba
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07/04 - QUIZ: quantas perguntas rápidas sobre eclipse você é capaz de acertar?
Eclipse solar poderá ser visto (com a devida proteção, claro!) nesta segunda-feira (5), nos Estados Unidos, no Canadá e no México. Responda a 8 questões sobre o assunto e veja se seu sucesso será parcial ou total (🥁). Eclipse solar total é visto no Oregon, nos Estados Unidos, em foto de 21 de agosto de 2017. NASA/Aubrey Gemignani Aqui no Brasil, não conseguiremos ver o eclipse total que acontecerá nesta segunda-feira (8) — o privilégio de presenciar esse fenômeno vai ser exclusivo de quem estiver no México, nos Estados Unidos e no Canadá. Mas nem por isso vamos ficar de fora do assunto, né? Além de acompanhar a transmissão ao vivo aqui no g1 (a partir das 12h30, no horário de Brasília), você também pode testar seus conhecimentos sobre eclipse nas perguntas abaixo. 🌟🌟Quantas estrelas sua memória merece? Será que dá para garantir o alinhamento perfeito das suas ideias e ganhar a coroa (solar)? Veremos a seguir. O conteúdo do quiz foi formulado pelo g1 e revisado por Carlos Marmo, professor de física do Curso Anglo (SP).
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07/04 - Não é brincadeira, é bullying: entenda comportamentos que configuram crime e saiba como agir
Lei promulgada em janeiro de 2024 prevê pena de reclusão e multa em casos mais sérios de agressões físicas ou psicológicas no ambiente escolar. 7 de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas. Mikhail Nilov/Pexels Dar apelidos, zombar de característica física ou traço racial, usar um colega como personagem constante de piadas: atitudes como essas, muitas vezes tidas como brincadeiras, são, na verdade, bullying. Este domingo (7 de abril) é o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas. 📊 De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, realizada pelo IBGE, 23% dos estudantes de 13 a 17 anos afirmaram ter sofrido bullying na escola nos 30 dias anteriores à pesquisa. Em contrapartida, 12% dos alunos na mesma faixa etária assumiram ter praticado essa violência no mesmo período. Segundo a advogada Ana Paula Siqueira, que preside a Associação SOS Bullying, "é bullying qualquer forma de agressão física ou psicológica, xingamento, violência, ameaça ou exclusão feita por uma pessoa ou um grupo contra outra pessoa." Ela explica que, de acordo com Lei do Bullying, de 2015, essa violência só acontece no ambiente escolar (da educação básica ao pós-doutorado), em clubes ou agremiações recreativas. Mas, se qualquer uma dessas atividades acontece na internet, é cyberbullying. E, com a promulgação da Lei 14.811, em janeiro de 2024, casos de bullying e cyberbullying são passíveis de penas de reclusão e multa em casos mais sérios. Brincadeira x Bullying Para Ana Paula Siqueira, a brincadeira pode ser facilmente diferenciada do bullying, já que os objetivos são opostos. “Se a intenção daquela determinada atitude é excluir, ridicularizar ou magoar alguém, não é brincadeira. Brincadeiras são quando todos se divertem. Então, quando alguma pessoa começa a sofrer, se torna bullying”. É bullying também quando a degradação é feita no ambiente digital. Nestes casos, o termo cyberbullying é aplicado. As características são quase as mesmas do bullying convencional. A principal diferença é que, enquanto em uma delas pode ocorrer a violência física e a clara identificação dos agressores, a outra acontece principalmente com anonimato e violência psicológica. Com o avanço tecnológico, o cyberbullying se tornou ainda mais comum, e com isso, veio a compreensão de que o bullying também pode ser praticado – e sofrido – por pais, professores, e outros membros da comunidade escolar. “Quando o grupo de mães no WhatsApp começa a xingar a professora, é cyberbullying. Se, no grupo de alunos, eles estão xingando os professores, é cyberbullying. Se, no grupo de professores, estão colocando apelido e discriminando o aluno, também é cyberbullying", explica a advogada. Sinais do bullying A violência ocorrida no ambiente escolar pode deixar marcas na vítima. Em crianças, os principais sinais aparecem em mudanças de comportamento e em reações físicas, como: fobia escolar; apatia ou retração emocional; falta ou excesso de apetite; queda no rendimento escolar; ataques de pânico ou de ansiedade; asia, vômito ou mal-estar; entre outros. Como reagir ao bullying Apesar de haver medidas de combate ao bullying, como a lei que tipifica esse tipo de violência como crime hediondo, é preciso haver também alternativas de prevenção. Para prevenir Os pais não podem achar que seus filhos nunca vão sofrer essa violência. Ou pior, que seus filhos nunca vão praticar bullying. É preciso educar essas crianças, conversar com elas. Da mesma maneira, a escola não pode deixar de ensinar sobre bullying por achar que seus alunos nunca vão praticá-la ou sofrer com ela. Os pais devem ainda olhar as interações dos filhos nos canais digitais e fiscalizar as trocas de mensagens para garantir que a rede de contato da criança é de confiança. As escolas e os educadores também precisam ter uma linha de atuação clara no combate a este tipo de violência. Segundo a especialista, a não tolerância deste tipo de conduta no ambiente escolar também pode inibir comportamentos violentos deste tipo. Além disso, o poder público pode participar de maneira ativa, oferecendo incentivo e capacitação aos profissionais da educação. Para combater Para lidar com essa violência uma vez que ela acontece, é imprescindível que as escolas disponibilizem canais de denúncia. "Os estudantes precisam ter uma alternativa que lhes assegure o direito de denunciar sem medo de represália. Essa ferramenta também pode ser aberta à denúncias de pais e professores, desde que os dados sejam tratados com a devida segurança", explica Ana Paula Siqueira. Aos pais da vítima, cabe acolher a criança em um primeiro momento e, a seguir, informar a escola do ocorrido. É importante registrar a denúncia à escola, seja em canais digitais ou por escrito, com reconhecimento de recebimento da instituição, para cobrar atualizações e um parecer final sobre o assunto. A vítima e os responsáveis também podem recorrer a uma denúncia oficial no Conselho Tutelar, no Ministério Público ou na delegacia de polícia. E, caso fique comprovado que a escola foi informada do ocorrido e não tomou nenhuma providência, ela também pode responder judicialmente pela infração. Além do bullying Há ainda o entendimento de que algumas agressões que, inicialmente, são entendidas como bullying, podem ser julgadas na esfera criminal de outras maneiras. Por exemplo: Se um grupo de estudantes se junta para agredir fisicamente um outro aluno, configura lesão corporal. Ofender com base no tom da pele, da textura do cabelo, da raça da pessoa, caracteriza injúria racial. "Ou seja, mesmo uma 'brincadeira', um 'xingamento direcionado', ou agressões físicas mais graves são crimes da mesma maneira, e devem ser desincentivados e punidos quando necessário", conclui Ana Paula Siqueira.
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06/04 - Datafolha: 83% apoiam cotas em universidades federais; critério racial divide opinião
Critério racial é visto como melhor modelo por 42%, enquanto 41% consideram que vagas deveriam ser destinadas apenas para alunos de escola pública, independente de cor ou raça. Governo revisou lei de cotas para universidades em 2023 Jornal Nacional/Reprodução Pesquisa divulgada pelo Datafolha no jornal Folha de S.Paulo neste sábado (6) mostra que 83% dos brasileiros apoiam as cotas em universidades e institutos federais, mas há divisão quanto ao critério racial para a destinação das vagas. Sobre as cotas, os entrevistados responderam: Deve permanecer como está pois é importante para corrigir desigualdades raciais: 42%; Deve haver reserva de vagas apenas para estudantes de escolas públicas, independente de cor ou raça: 41%; Não deve ter reserva de vagas para ninguém: 15%; Não sabe/outras respostas: 2%. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas nos dias 19 e 20 de março, com margem de erro de dois pontos para mais ou menos. Pessoas negras (47%) e jovens de 16 a 24 anos (47%) são os principais apoiadores da atual política pública, enquanto brancos (18%) e pessoas com 60 anos ou mais (21%) são contra reservar vagas em universidades e institutos federais para quaisquer pessoas. As margens de erro para grupos específicos é de 3 a 5 pontos para mais ou para menos no quesito raça e de 4 a 5 pontos nas faixas etárias. Revisão da lei de cotas Desde 2013 as universidades e institutos contam com critérios de cotas para parte das vagas de estudantes. A lei foi revisada no ano passado e definiu metade das vagas para alunos de escolas públicas de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. O que mudou: Ficam reservadas 50% das vagas de ingresso nos cursos de graduação para estudantes com renda familiar igual ou menor a um salário mínimo – R$ 1.320 por pessoa (valor anterior era de um salário mínimo e meio – R$ 1.980); inclusão de quilombolas na reserva de vagas; políticas de inclusão em programas de pós-graduação de pretos, pardos, indígenas e quilombolas e pessoas com deficiência; e avaliação do programa a cada 10 anos, com ciclos anuais de monitoramento. Lula sanciona nova Lei de Cotas; veja as mudanças em vigor nas universidades federais
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05/04 - A curiosa e desconhecida história de Alves Ribeiro, o 1º médico brasileiro formado em Harvard
O cearense estudou nos EUA e depois construiu a carreira como ‘médico da pobreza’ na sua terra natal — onde também fundou uma revista científica, publicou um livro de saúde com linguagem popular e abriu um museu pioneiro de História Natural. Alves Ribeiro estudou nos EUA e atuou boa parte da carreira em Fortaleza Domínio Público Quando nos deparamos com um personagem que acumulou feitos notáveis durante a vida, costumamos dizer que "esteve à frente de seu tempo". Mas, para o historiador Eduardo Vasconcelos, professor da Universidade Estadual de Goiás, não parece adequado usar essa frase para definir a trajetória de Joaquim Antonio Alves Ribeiro, o primeiro brasileiro a se formar em medicina na prestigiada Universidade Harvard, nos EUA, no ano de 1853. Na avaliação dele, Alves Ribeiro foi precisamente "um homem de seu tempo". Depois de formar-se nos Estados Unidos, ele voltou para a terra natal, onde virou "médico da pobreza", foi o primeiro profissional contratado pela Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, ajudou a lidar com problemas de saúde pública e trouxe inovações tecnológicas ao Brasil. 🎓 O dr. Alves Ribeiro também publicou um livro para auxiliar o trabalho das parteiras e criou uma das primeiras publicações médico-científicas do país — batizada de "A Lancêta", numa provável alusão ao tradicional periódico científico inglês The Lancet. E mais: o médico ainda fundou o primeiro museu do Ceará, a partir de uma coleção de objetos de história natural (fósseis, penas, pedras…) que reuniu durante a vida. Apesar desses feitos, a trajetória de Alves Ribeiro passou praticamente sem chamar a atenção de quase ninguém por mais de um século e meio — por fatos e contextos que, em diferentes níveis, afetaram (e ainda afetam) o Ceará, o Brasil e o mundo. Mas, como você vai conhecer ao longo desta reportagem, o trabalho de pesquisa de Vasconcelos ajudou a desenterrar a história. De Icó a Cambridge Vasconcelos ouviu falar no dr. Alves Ribeiro pela primeira vez quando ainda estava fazendo a graduação em história na Universidade Federal do Ceará. 📚"Lembro de ler um boletim que mencionava o fato de o primeiro museu do Ceará ter sido fundado pelo 'saudoso médico Joaquim Antonio Ribeiro'", destaca ele. "Isso acendeu uma luz na minha cabeça. Queria saber quem foi esse cidadão e por que ninguém falava dele." "Após alguma pesquisa, não encontrei muitas informações sobre Alves Ribeiro nem em publicações locais, regionais, nacionais ou internacionais. Havia um silêncio, uma obliteração com relação a esse cidadão", constata Vasconcelos. Após concluir o mestrado em história da ciência pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), no Rio de Janeiro, o pesquisador decidiu dedicar seu doutorado, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a desvendar quem de fato foi esse médico cearense que viveu no século 19. A tese de doutorado virou o livro "A Ciência Peculiar de Joaquim Antonio Alves Ribeiro", publicado recentemente pela Editora Cancioneiro. O autor também criou um site para reunir e compartilhar informações sobre o cearense. "Minha pretensão não era fazer uma biografia e explicitar detalhadamente todos os aspectos da vida de Alves Ribeiro, mas, sim, iluminar algumas de suas ações e atividades científicas", pondera o pesquisador. Há pouquíssimas informações sobre os anos de juventude desse personagem: sabe-se apenas que ele nasceu em 1830 na cidade de Icó, na região sul do Ceará. "Até o início da formação médica, não se conhece praticamente nada sobre ele, pois não foram identificados documentos ou informações concretas", admite Vasconcelos. No livro recém-lançado, Vasconcelos compila toda a investigação que fez sobre a vida de Alves Ribeiro Divulgação Os fatos começam a ficar mais sólidos a partir dos anos em que ele cursou medicina em Harvard, onde obteve o diploma em 1853. 🏫Vale lembrar aqui que, à época, essa universidade americana não tinha o prestígio internacional dos dias de hoje — como o próprio historiador escreve no livro, as elites brasileiras sempre preferiam mandar os filhos para estudar em instituições europeias, como as universidades de Coimbra, em Portugal, ou de Montpellier, na França. Mas o que fez Alves Ribeiro optar por Harvard? Vasconcelos não tem nenhum documento que comprove os motivos da escolha, mas a pesquisa permite que ele faça algumas conjecturas. "O pai de Alves Ribeiro tinha terras e criava gado para o fornecimento de couro. A família dele estava inserida no contexto da ocupação do sertão", contextualiza o pesquisador. "É possível que o pai dele tivesse contato com algum comerciante estrangeiro, em especial dos EUA ou do Reino Unido, para quem pode ter pedido sugestões sobre onde estudar fora", especula. "A partir de 1847, tivemos também uma crise econômica internacional que elevou os preços globais e valorizou as principais moedas europeias." Nesse cenário, estudar nos Estados Unidos possivelmente virou uma alternativa mais viável. 🧑‍🏫 "As universidades americanas eram boas e mais baratas. Além disso, o processo de seleção era relativamente simples, com provas de latim, matemática e inglês", acrescenta o historiador. Especulações à parte, Alves Ribeiro de fato zarpou para os Estados Unidos e estudou medicina na Universidade Harvard — como mencionado anteriormente, ele se formou em 1853. Durante as pesquisas para o doutorado, Vasconcelos avaliou listas de matrículas para se certificar que o cearense havia sido de fato o primeiro brasileiro a ingressar no curso de Medicina da instituição. Ele até identificou que, nos registros de Harvard de 1833-34 e 1836-37, há menção a dois estudantes que tinham o sobrenome White. Eles são identificados como "naturais do Rio de Janeiro, Brasil". "Mas White não é um nome nada comum para o Brasil do século 19… Eu acredito que eles tinham alguma ascendência anglo-saxã, ou eram filhos de representantes comerciais ou diplomáticos dos Estados Unidos ou do Reino Unido", avalia Vasconcelos. "Com isso, à luz dos documentos pesquisados, é possível dizer que, até o presente momento, Joaquim Antonio Alves Ribeiro foi o primeiro brasileiro não descendente de estrangeiros, filho de brasileiros natos, que se formou em medicina por Harvard", conclui ele. Harvard virou uma opção viável para a família de Alves Ribeiro, especula historiador Getty Images/via BBC O bom filho à casa torna Após a formação, Alves Ribeiro voltou ao Brasil e precisou revalidar o diploma antes de poder atuar como médico no país. Ele cumpriu essa etapa, que é exigida até os dias de hoje, na Faculdade de Medicina da Bahia. Na sequência, ele se mudou para o interior do Rio Grande do Norte, onde foi contratado para lidar com uma epidemia. "Ele passou cerca de um ano lá, mas logo foi embora porque se deparou com atrasos de salários e condições ruins de trabalho", destaca Vasconcelos. Depois, ele estabeleceu um consultório particular em Recife, Pernambuco, onde permaneceu por três anos. "Ele recebia pacientes brasileiros e da comunidade internacional, pois fazia atendimentos em inglês e francês", detalha o historiador. Após essa experiência, Alves Ribeiro decidiu regressar ao seu Estado natal. Desde a década de 1830, o governo do Ceará mantinha um cargo conhecido como "médico da pobreza". Curiosidade histórica: essa função foi instituída durante o governo de José Martiniano Pereira de Alencar, o pai do escritor José de Alencar, autor de clássicos como Iracema, Senhora e O Guarani. "O médico da pobreza era pago pelo governo da província para atender as pessoas com problemas de saúde que não tinham dinheiro para custear uma consulta", resume Vasconcelos. Num cenário onde não existia qualquer rascunho de saúde pública, essa era uma forma de oferecer algum tipo de atendimento a quem mais precisava. O pesquisador destaca que, à época, a figura do médico não tinha o prestígio e a autoridade dos dias de hoje. Até os idos de 1860, a medicina sequer sabia o que causava a maioria das doenças — bactérias, vírus e outros patógenos eram desconhecidos, e demoraria mais de meio século até que os antibióticos estivessem disponíveis. "Principalmente entre as camadas mais populares, o médico disputava espaço com outros agentes de cura, como as benzedeiras, os xamãs e os raizeiros", lista Vasconcelos. Alves Ribeiro trabalhou justamente nesse universo, onde precisou lidar com epidemias, contaminações de açudes e outros males que atingiam a província. "Em março de 1871, é criado o primeiro hospital de caridade do Ceará, a Santa Casa de Misericórdia que, está em funcionamento até os dias de hoje", diz o autor. "E Alves Ribeiro se torna o primeiro médico da Santa Casa de Fortaleza", complementa. Ele também se notabilizou por estar em contato com as novidades e adotar tecnologias inovadoras da época. Um dos aparatos que o médico incorporou na prática foi o insensibilizador, um aparelho que borrifava éter para "anestesiar" os pacientes e diminuir a dor durante procedimentos cirúrgicos, como amputações, extrações de dentes, queima de tumores e até cesarianas. A Gazeta Médica da Bahia, um periódico especializado, fez um artigo sobre o tal insensibilizador em julho de 1866. "Os primeiros ensaios [no Brasil com o insensibilizador] de que temos notícias foram feitos no Ceará pelo nosso ilustre colega Sr. Dr. J. A. A. Ribeiro." O próprio Alves Ribeiro contribui para o artigo, ao compartilhar um pouco de sua experiência com a nova tecnologia — o que denota um outro traço importante da personalidade do médico, sobre o qual falaremos adiante. O valor da comunicação em saúde O médico cearense também se destacou pelas publicações que fez durante a vida. A mais famosa delas se chama Manual da Parteira, ou Pequena Compilação de Conselhos na Arte de Partejar, Escrita em Linguagem Familiar. 📝 Por meio de um texto acessível e do uso de imagens, Alves Ribeiro compilou uma série de orientações sobre como realizar um parto com sucesso. "Como médico, ele sabia que precisava socializar as informações", diz Vasconcelos. "Ele tinha essa preocupação recorrente, até porque a prevenção e o tratamento de surtos, epidemias e outras questões de saúde dependia de uma abordagem coletiva." O historiador explica que, à época, certamente existia uma enorme demanda por informações em temas de saúde. "Precisamos ter em mente que o Ceará é grande. Uma mulher que entrava em trabalho de parto no Crato, a 600 km da capital, não chegaria a tempo à Santa Casa em Fortaleza. E seguramente o médico também não conseguiria se deslocar até o local para socorrê-la", conta ele. "O Manual da Parteira surge da necessidade de suprir a comunidade com informações de uma maneira simples, com imagens, para que a maioria das pessoas conseguisse ler e interpretar." 🖊️ Alves Ribeiro ainda foi a mente por trás da criação periódico científico A Lancêta, um dos primeiros do gênero no Brasil, em 1862. Vasconcelos revela que o médico conhecia o jornal The Lancet, fundado em 1823 no Reino Unido. Ele chegou a enviar correspondências à pubicação britânica em 1858. Portanto, o nome aportuguesado d'A Lancêta, que tratava de temas relacionados a medicina, fisiologia, cirurgia e química, entre outros, para um público especializado, pode ser interpretado como uma espécie de homenagem. 📖 "Nesse sentido, ao intitular o jornal como A Lancêta, o dr. Alves Ribeiro desejava que a folha médica tivesse características análogas ao instrumento cirúrgico, já que, como médico, ele estava habilitado a manusear tanto a lanceta de fato, o instrumento, quanto a lanceta como figura alegórica, o jornal, por meio do qual a palavra impressa também poderia ou deveria provocar cortes e incisões nos debates em pauta", escreve Vasconcelos no livro. Durante a pesquisa, o historiador encontrou seis edições disponíveis do periódico. "Ele se propunha a ser uma espécie de arena pública para discutir e refletir sobre o que estava acontecendo na medicina", caracteriza ele. O Gabinete de História Natural Mas os interesses de Alves Ribeiro iam além da sua profissão: no final da década de 1850, ele começou a colecionar objetos de história natural, como animais taxidermizados, minerais, moedas e artefatos indígenas. Em 1867, o médico resolveu abrir sua coleção para visitação pública. Ele cobrava uma taxa para manter a exposição. Um jornal da época publicou: "Amanhã abrir-se-á às 4 horas da tarde o Museu de História Natural na rua da Boa Vista, esquina da travessa Municipal. Igualmente estará aberto todos os domingos e dias santos à mesma hora." "Os bilhetes vendem-se à porta do edifício a 500 réis cada um. O proprietário, não mirando interesse pecuniário, é, contudo, obrigado a taxar aos visitantes essa espórtula [quantia], a fim de ocorrer às despesas com o estabelecimento, e à aquisição de novos produtos", finaliza o anúncio O gabinete de história natural é considerado o primeiro museu criado no Ceará — e um dos pioneiros nesta área do conhecimento de todo o Brasil. No início da década de 1870, Alves Ribeiro decidiu doar toda a sua coleção para o governo estadual, que a partir dos objetos criou o Museu Provincial, que funcionava no mesmo prédio da biblioteca pública. Vasconcelos entende que o interesse do médico em história natural está relacionado à formação dele em Harvard. "John Collins Warren, um decano da Escola de Medicina de Harvard, tinha uma coleção de História Natural que foi posteriormente doada à universidade", diz o professor. 🦣"Essas coleções reuniam diversos elementos da vida, como esqueletos, fósseis, animais, moedas, pedras, enfim, tudo que fosse exótico e diferente." "Nesse sentido, Alves Ribeiro é um homem de seu tempo, e sempre buscava conhecimento e as últimas novidades da ciência", complementa ele. Esquecido pela história Mas com uma trajetória tão interessante e cheia de características únicas, por que Alves Ribeiro não é um personagem mais conhecido e estudado? Na visão de Vasconcelos, isso se deve a dois fatores principais, que envolvem o Ceará, o Brasil e o mundo inteiro. Em primeiro lugar, é preciso resgatar dois acontecimentos globais da época. De um lado do Atlântico, o Reino Unido passava pela Segunda Revolução Industrial, pautada na fabricação de produtos têxteis. Do outro, os Estados Unidos — até então a maior fonte de algodão para as fábricas britânicas — se engalfinharam em crises internas que culminaram na Guerra de Secessão a partir de 1861. "A Inglaterra teve que buscar outros fornecedores ao redor do mundo, em especial na América Latina e na África. E, particularmente no Brasil, o semiárido nordestino possui o algodoeiro mocó, que não provê produtos numa grande qualidade quando comparado aos fios egípcios, por exemplo, mas pode ser utilizado para fabricar produtos de segunda ou terceira linha", explica o historiador. Nesse contexto, o Ceará virou um grande fornecedor de algodão, enriqueceu e se tornou uma província com melhores condições, apesar de afastada da capital, no Rio de Janeiro. "Mas, a partir de 1877, essa região foi assolada por uma grande seca que impossibilitou o cultivo do algodão", complementa Vasconcelos. "Os historiadores então pegam esse recorte pós-1877 e concluem que não pode ter existido ali produção intelectual e científica. O Ceará passou a ser entendido apenas como um lugar de seca, cangaço, messianismo e mandonismo", diz o especialista. "Mas Alves Ribeiro antecede uma série de marcos referenciais. Ele é o homem que vem antes da seca e de todo esse processo", avalia ele. Para fechar, outro motivo que Vasconcelos aponta para o primeiro médico brasileiro formado em Harvard ser um ilustre desconhecido tem a ver com uma falha da "historiografia nacional", que ignora o que acontecia fora do eixo político-econômico do país. "Os historiadores olham a ciência como uma atividade custosa, que exige muito dinheiro. Portanto, no século 19, ela só poderia ser feita no Rio de Janeiro e, pouco depois, em São Paulo", interpreta ele. "A produção historiográfica de hoje privilegia a Ciência realizada apenas no Sudeste, especialmente em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro." "Mas essa tendência ignora histórias profícuas, de personagens que viveram em outros lugares e deveriam estar nesse panteão das atividades científicas realizadas no Brasil, como o próprio dr. Alves Ribeiro", conclui ele. O médico cearense morreu em 1875, aos 45 anos, vítima de um câncer de estômago. ‘Hoje, uma das principais escolas de medicina do Ocidente, de Harvard, é a do estilo de vida’, destaca médico
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05/04 - Amazônia: uma sala de aula no topo da árvore
No topo de uma árvore de 32 metros de altura se esconde uma sala de aula na Amazônia peruana. Ali, jovens locais aprendem mais sobre essa região – rica em biodiversidade, mas ameaçada por extração ilegal de madeira e pela mineração. Escola no Peru fica no topo de uma árvore da floresta amazônica. Deutsche Welle Em uma das regiões mais remotas e ricas em biodiversidade do mundo, se esconde uma sala de aula inusitada. 🌳 Ela fica no topo de uma árvore de 32 metros de altura da floresta amazônica, em Madre de Dios, no Peru. Ali, jovens de comunidades locais aprendem mais sobre essa região, que é ameaçada por extração ilegal de madeira e pela mineração. Além de dar aos estudantes novas oportunidades de trabalho, longe da extração de madeira e da mineração, a escola também ajuda a reduzir a evasão escolar, muito comum na região entre adolescentes de 11 e 12 anos. A estrutura da escola foi montada com árvores amazônicas que caíram naturalmente. Ela é alimentada por energia solar e tem internet de alta velocidade via satélite. O local também funciona como parada turística, que oferece uma estadia em plena floresta.
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04/04 - 60 anos ou mais: processo seletivo da UnB para idosos será semestral
Próxima prova será no segundo semestre de 2024. Edital será publicado no dia 26 de abril. Idosos aprovados em processo seletivo da UnB TV Globo/Reprodução O sonho não pode ter fim 📚! O UnB 60mais, processo seletivo para que pessoas idosas entrem na Universidade de Brasília (UnB), será realizado semestralmente. A decisão foi aprovada por unanimidade pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) no final de março e passa a valer no segundo semestre de 2024. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 DF no WhatsApp. De acordo com Thaís Lamounier, diretora de Inovação e Estratégias para o Ensino de Graduação (DIEG) da UnB, em 10 de abril será finalizada a consulta aos cursos de graduação, para definir a quantidade de vagas disponibilizadas no próximo processo seletivo. A consulta é necessária devido as vagas serem extraordinárias, ou seja, não interferem nas vagas ofertadas pelo vestibular ou Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O edital será publicado no dia 26 de abril. Além das informações sobre a quantidade de vagas e cursos, o edital vai informar sobre os requisitos e data para inscrição e realização da prova. 📅 'Repercussão muito benéfica na universidade' UnB divulga lista dos aprovados em processo seletivo para idosos A prova para seleção de pessoas idosas, conhecida como UnB 60mais, foi anunciada em dezembro de 2023 e aplicada em janeiro deste ano. Inicialmente, não havia previsão de quando a avaliação seria realizada novamente. Segundo a diretora Thaís Lamounier, a repercussão da primeira prova foi "muito benéfica na universidade". A lista dos aprovados foi divulgada no fim de fevereiro. A diretora explica que a ideia do UnB 60mais surgiu como uma atividade de Política do Envelhecer Saudável, em parceria com a Câmara de Direitos Humanos da UnB (CDH). O Decanato de Ensino de Graduação (DEG), especialmente a Diretoria de Inovação, pensou no processo baseado no Estatuto do Idoso. "A proposta é incentivar o contato dos mais novos com os mais velhos", diz a diretora ao destacar a importância dos idosos frequentarem as mesmas turmas que os demais estudantes. Quando o edital foi lançado, anunciando 136 vagas em 37 cursos, a expectativa do decanato era de que 500 a mil idosos se inscrevessem. Foram 3.014 candidatos, e 1.531 pessoas classificadas. Destas, 13 alcançaram a nota máxima na avaliação. Segundo Thaís Lamounier, a expectativa é que a próxima edição ofereça mais vagas para a população. LEIA TAMBÉM: VOCÊ PROVARIA? Pesquisadores da UnB criam cerveja com pólen de abelha e seriguela RANKING INTERNACIONAL: UnB fica em 1º lugar entre as universidades federais Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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04/04 - 7 em cada 10 estudantes querem trabalhar e estudar durante o ensino médio e esperam ganhar R$ 860, diz Datafolha
Necessidade de ajudar a família financeiramente afasta jovens do ensino integral, tão defendido por especialistas por combater a evasão escolar e promover melhoria da aprendizagem. Sala de aula em escola do Maranhão Divulgação/Governo do Maranhão 7 em cada 10 estudantes querem trabalhar e estudar durante o ensino médio e esperam ganhar R$ 860, diz Datafolha @media print { .ms-editor-squiggles-container { display:none !important; } } .ms-editor-squiggles-container { all: initial; } Uma pesquisa do Datafolha encomendada pela ONG Todos Pela Educação mostra que 7 em cada 10 estudantes pretendem estudar e trabalhar durante o ensino médio. Em média, eles esperam ganhar R$ 860 por mês, segundo o levamento divulgado nesta quinta-feira (4). É justamente esse um dos entraves para que o ensino integral -- tão defendido por especialistas para melhorar a aprendizagem -- tenha uma maior adesão dos jovens, indica o levantamento. Um terço dos 462 estudantes ouvidos afirmam que não se matriculam em escolas integrais porque precisam ou querem arranjar um emprego. A pesquisa foi feita de janeiro a fevereiro de 2024, com jovens de 14 a 16 anos que entraram no ensino médio (público ou particular) no começo deste ano. Com abrangência nacional, o levantamento incluiu 113 municípios de diferentes portes, de todas as regiões. Pergunta do Datafolha: Qual é o principal motivo de você não estudar em escola de tempo integral? 26%: O período integral é muito cansativo. 20%: Quero trabalhar para ter meu próprio dinheiro/ter independência financeira. 15%: Não tenho tempo para outras atividades não profissionais (como cursos, esportes etc.). 14%: Não tenho vontade de ficar mais tempo na escola. 13%: Preciso trabalhar para ajudar minha família financeiramente. 4%: Nunca ouvi falar de escola em tempo integral. 3%: Na região/cidade não tem. 1%: Pratica esportes a semana toda/no período da tarde. 1%: A distância da escola de turno integral é grande; teria de pegar ônibus. 2%: Não sabem/outras respostas. 💰Quanto os alunos acham que receberiam mensalmente? ➡️Em média, os estudantes do ensino médio esperam receber R$ 860 por mês. ➡️Entre os entrevistados mais pobres (com renda familiar mensal de menos de 2 salários-mínimos), a expectativa é ganhar R$ 760. ➡️Há uma diferença entre gêneros também: as mulheres acham que receberiam R$ 806; e os homens, R$ 908. Os valores pagos pelo Pé-de-Meia, programa recém-lançado pelo governo federal para incentivar a permanência escolar de jovens de baixa renda (leia mais abaixo), não chegam a esses patamares esperados pelos alunos: incentivo para matrícula: R$ 200 por ano; incentivo de frequência: R$ 1.800 por ano; incentivo para conclusão do ano: R$ 1.000 por ano; incentivo para o Enem: parcela única de R$ 200. Pé-de-Meia tem grande relevância, mas precisa de ajustes, afirma Todos Pela Educação Segundo o Ministério da Educação (MEC), uma das principais causas de evasão no ensino médio é a necessidade de trabalhar e de ajudar a família financeiramente. Para evitar que os alunos abandonem a escola, a pasta lançou o programa Pé-de-Meia: os estudantes mais pobres que estiverem matriculados em uma instituição de ensino, frequentarem as aulas, forem aprovados e prestarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) podem ganhar até R$ 9,2 mil ao longo dos três anos. Entenda aqui as regras e veja o calendário de pagamento. Para o Todos Pela Educação, a iniciativa está na direção certa, porque: combina pagamentos mensais com outros que ficam retidos na poupança; repassa o dinheiro diretamente para os alunos, e não para os responsáveis; impõe condições de frequência escolar mínima; dá um apoio financeiro para o jovem. Por outro lado, a partir do resultado da pesquisa do Datafolha, especialistas da ONG afirmam que fica evidente a necessidade de um incentivo financeiro maior para os jovens de escolas integrais, que não terão como trabalhar nem por meio período. "Para o estudante que deseja ou precisa trabalhar, estudar em uma escola integral segue muito desafiador, mesmo com o auxílio do Pé-de-Meia. Um caminho para mitigar esse problema é determinar, no desenho da política, que estudantes com matrículas em escola de tempo integral recebam repasses recorrentes adicionais ao valor padrão estabelecido pela política", afirma o parecer do Todos Pela Educação. Pagamentos do 'Pé-de-Meia' começam nesta terça-feira
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03/04 - Redação nota mil no Enem 2023: únicos 4 alunos de escola pública que atingiram pontuação máxima dão dicas
Contagem do Inep considera apenas os que se formaram em 2023. Jovens recomendam, por exemplo, que candidatos se atentem à estrutura da redação, treinem a escrita, memorizem repertórios socioculturais e cuidem da saúde mental. Redação nota mil no Enem: alunos de escola pública que atingiram pontuação dão dicas Entre os 2,7 milhões de candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, 60 tiraram a nota máxima na redação. E nesse grupo, apenas quatro – sim, isso mesmo, quatro – eram estudantes de escola pública. Que dicas eles dão para que esse time aumente na próxima edição da prova? É claro que o ideal seria uma melhoria na qualidade dos colégios estaduais e federais – maiores investimentos em infraestrutura, aumento salarial para os professores, formação docente de qualidade e redução no número de alunos por turma, por exemplo. Mas, no âmbito individual, como se preparar para a redação e chegar ao tão sonhado "mil"? 🎖️Abaixo, veja as estratégias dos quatro “medalhistas”, conheça mais da história deles e, em seguida, leia as íntegras dos textos que escreveram no Enem. E um detalhe: na classificação de “aluno de escola pública”, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) considerou apenas os que: concluíram o ensino médio em 2023; e cursaram ao menos um dos três anos dessa etapa na rede pública. Apenas quatro alunos de escola pública tiraram nota mil na redação do Enem 2023 Arquivo pessoal 1- Estude a estrutura da redação do Enem. Gabriela Gurgel está no grupo dos únicos quatro ex-alunos de escola pública que tiraram nota mil na redação do Enem 2023 Arquivo pessoal Gabriela Gurgel, de Natal, fez o ensino médio no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e prestou o Enem como treineira em 2019, 2021 e 2022. Foram anos de preparo para que, em 2023, ela tivesse um bom desempenho na edição que finalmente valeria uma vaga na universidade. “Escrevia uma redação por semana e mandava para uma professora da escola, para que ela corrigisse. Ela me sugeria alguns temas; outros, eu pegava ‘por fora’”, conta Gabriela, de 20 anos. “Uma dica para os candidatos? Eu diria para ninguém esquecer que a redação do Enem tem uma estrutura básica. Eu revisava essa parte teórica por vídeos no Youtube.” 📝Resumo da estrutura: Texto dissertativo-argumentativo, em escrita formal da língua portuguesa (ou seja, o estudante deve argumentar para defender um ponto de vista). Introdução: apresentação da tese e contextualização da situação-problema. Desenvolvimento: no mínimo, dois argumentos que sustentem a tese (caprichando em exemplos e em citações de livros, filmes ou filósofos, por exemplo). Conclusão: elaboração de uma proposta de intervenção completa (com ação, agente, meio de execução, finalidade e detalhamento), pensada para solucionar o problema proposto naquela edição da prova. LEIA TAMBÉM: Como deve ser a conclusão perfeita de uma redação? Faça o quiz 2- Memorize previamente exemplos de repertórios culturais. Amanda tirou nota mil na redação do Enem 2023 Arquivo pessoal Na argumentação, como explicado acima, é importante que o candidato demonstre ter repertório sociocultural. Ou seja: ele deve citar referências que, de alguma forma, contribuam para reforçar os argumentos defendidos. Isso pode ser feito por meio de menções a filósofos, a obras de arte, a séries de TV ou a músicas, por exemplo. Amanda Teixeira (veja vídeo no início da reportagem), de 18 anos, garantiu a nota máxima na dissertação do Enem ao caprichar nessas citações. Foi uma dica que ela aprendeu em um cursinho on-line de redação no qual estudou por um ano, enquanto terminava o ensino médio em um colégio estadual em Muqui (ES). “Já fui para a prova com algumas ideias em mente de livros ou músicas que poderiam servir para vários temas. Acabei escolhendo citar Lévi-Strauss [antropólogo francês - 1908-2009] e Thomas Hobbes [filósofo e teórico político inglês - 1588-1679)”, conta. A aluna explica que foram dois “divisores de águas” em seu preparo: o curso on-line, que proporcionou conhecimentos específicos sobre redação; e a estrutura de sua escola pública, que ofereceu aulas de reforço em português e matemática. “É um colégio com boa gestão, que sabe aproveitar os recursos que tem e lidar com os problemas que surgem. O que ajuda também é que a minha cidade não tem problemas de grandes metrópoles, como criminalidade. Isso influencia no funcionamento das escolas”, afirma Amanda. 3- Foque em uma estratégia só. Amanda acrescenta mais uma dica: no desespero de buscar mais fontes de informação, o ideal é não “atirar para todos os lados”. “Quer fazer um curso? Foque no curso. Não adianta ficar atrás de vários criadores de conteúdo, porque eles vão acabar falando de coisas que você nem está estudando ainda. Bagunça a mente, sabe? O excesso de informação vai atrapalhando”, diz. 4- Leia redações nota mil de outros anos. Maria Luiza Januzzi também tirou mil na redação do Enem 2023 Arquivo pessoal A terceira ex-aluna de escola pública que tirou nota mil na redação do Enem 2023 foi Maria Luiza Januzzi, de Valença (RJ). Ela conta que o colégio estadual no qual estudou tinha um diferencial: fora do horário normal, os alunos podiam tirar dúvidas ou aprender conteúdos extras com os professores. “Era uma diferença muito grande em relação a outras escolas da região. A equipe inteira estava sempre disposta a nos ajudar”, conta. “Houve corte de verbas e turmas fechadas. Se o apoio fosse maior, ainda mais oportunidades teriam surgido [para os alunos].” Para aumentar ainda mais as chances de uma boa nota na redação, Maria Luiza organizou sua própria rotina de estudos em casa. Chegava do colégio à tarde e cuidava de seu irmão de 2 anos durante a tarde. À noite, então, mergulhava nas videoaulas e nos treinos de escrita. “O que fez diferença foi buscar textos ‘nota mil’ de determinado tema e comparar com o que eu havia escrito. Fui aprendendo com os meus erros.” Leia redações nota mil do Enem 2023 5- Treine e preste atenção aos erros que você comete. Matheus Barros cursou o ensino médio parcialmente em escola pública Arquivo pessoal Matheus Barros, de 17 anos, entrou no grupo de quatro ex-alunos de escola pública na contagem do Inep, mas estudou apenas o primeiro ano do ensino médio em um colégio estadual. “Mudei para uma escola particular no meio [da etapa], porque quero fazer medicina e precisava de um estudo de mais qualidade”, explica o jovem, morador de Paraíso do Tocantins (TO). A estratégia de preparo que ele adotou rendeu bons resultados na redação: sua nota saltou de 780 pontos para 1.000, de um ano para outro. “Eu passava a maior parte do dia na escola. Quando não estava lá, fazia exercícios em casa. E esta é minha dica: aproveitar esse tempo de estudos para treinar e corrigir os próprios erros. Foi o que fez com que eu melhorasse tanto meu desempenho”, diz. Amanda também seguiu essa estratégia. “É importante ter alguém que aponte suas falhas. Eu sempre errava na competência 3, porque colocava argumentos e não os desenvolvia. Mas consegui evoluir ao longo do tempo”, conta. 6- Não viva só em função dos estudos. Passar pela maratona de Enem e vestibulares é também um desafio emocional de controlar a ansiedade. “É uma rotina estressante, associada a um medo muito grande de não passar na faculdade. É um dia a dia de privação: a gente deixa de sair, deixa de ver nossas séries”, descreve Gabriela. Amanda também passou por esse período de estresse, e, por isso mesmo, recomenda que os candidatos do próximo Enem tentem “pegar mais leve”. Ela buscou apoio nos pais, trabalhadores rurais de Muqui. “É preciso estudar com estratégia e não perder as coisas mais importantes da vida, como curtir a família e os amigos”, aconselha. “Não dá para viver só em função dos estudos; precisa espairecer a mente.” É claro que não é fácil achar o equilíbrio. Maria Luiza, também do “clubinho dos nota mil”, diz que foi difícil conciliar os estudos com as obrigações do dia a dia, e ainda ter momentos de lazer. “Mas é gratificante. Vou ser a primeira pessoa da minha família a poder fazer faculdade. Estou feliz de poder mudar esse padrão”, conta ela, que busca uma vaga em medicina. Íntegras dos textos Abaixo, leia as redações nota mil de Gabriela, Amanda, Maria Luiza e Matheus: ✏️Gabriela Gurgel, de Natal (RN) Trecho da redação nota mil de Gabriela Gurgel no Enem 2023 Reprodução/Inep A filósofa contemporânea Hannah Arendt constata, por meio do conceito denominado “banalidade do mal”, a tendência existente nas sociedades no que tange à naturalização das mazelas presentes na coletividade. Nessa vertente, percebe-se que, na realidade brasileira atual, a proposição teórica mencionada se torna evidente, sobretudo quando são considerados os entraves para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Com efeito, hão de ser analisados os principais intensificadores da temática em questão: o machismo estrutural e a omissão estatal. Diante desse cenário, a persistência de um ideário preconceituoso contra o público feminino potencializa a desvalorização de atividades relacionadas ao cuidado. Nesse viés, cabe citar que durante o Período Colonial, houve a estruturação da família brasileira com valores patriarcais, de modo a haver a restrição do papel social da mulher à reprodução e aos afazeres domésticos. No entanto, apesar do lapso temporal, tais convenções ainda estão presentes no território nacional, haja vista que, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres se dedicariam mais que o dobro de horas semanais, em 2019, em comparação aos homens, às tarefas de cuidado. Nessa linha de raciocínio, atividades desse tipo – que incluem o trabalho com crianças, idosos, e pessoas com deficiência, assim como as demandas domésticas – são comumente vistas como uma obrigação feminina, mas, lamentavelmente, recebem um grau inferior de reconhecimento e importância. Isso se torna ainda mais claro pelo fato de muitas tarefas dessa natureza serem mal pagas ou não remuneradas, o que é extremamente preocupante em um país como o Brasil – o qual apresenta, em sua Constituição Federal de 1988, o direito à igualdade laboral. Ademais, é imperioso mostrar a postura inerte do Estado brasileiro quanto à tentativa de invisibilização que acomete a problemática. Sob tal ótica, o sociólogo polonês Zigmunt Bauman define como “Instituições Zumbi” aquelas entidades que mantêm suas estruturas vigentes, contudo não cumprem adequadamente seus papéis sociais. Nesse sentido, o aparato estatal nacional pode ser enquadrado na visão baumaniana, tendo em vista que o trabalho do cuidado colocado em prática pelas mulheres é decorrente, em muitos contextos, da intersecção das desigualdades socioeconômicas e étnicas. Dessa forma, enquanto não for combatida a conjuntura precária vivenciada por tantas meninas e mulheres, as quais se encontram, principalmente, em situação de pobreza e de vulnerabilidade, elas continuarão inseridas em um trabalho de cuidado sem o amparo estatal necessário. Portanto, fazem-se urgentes medidas de enfrentamento aos impasses da temática supracitada. Assim, o Ministério do Trabalho e Emprego deve realizar um registro das principais áreas com presença do trabalho de cuidado. Tal iniciativa será efetivada por intermédio de profissionais do IBGE, os quais, em parceria com o Poder Executivo, irão às residências onde as mulheres exercem suas atividades e organizarão um auxílio financeiro para ajudá-las a garantir suas dignidades enquanto cidadão. Isso poderá proporcionar melhores perspectivas de vida para o público feminino, de maneira a fragilizar o machismo e ampliar a igualdade. ✏️Maria Luiza Januzzi, de Valença (RJ) Trecho de redação nota mil de Maria Luiza Jannuzzi no Enem 2023 Reprodução/Inep De acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser tomado para solucionar uma questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos desafios para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas, como a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da omissão governamental e da influência midiática. Dessa forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação aos obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como cuidadoras. Segundo John Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para as leis”. No entanto, a inércia governamental direcionada à tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor - como a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais negligenciadas. Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao problema. Para Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” - o estado atual das coisas - é sempre penoso. Essa conjuntura pode ser observada no papel que a mídia possui na luta diária de mulheres que exercem o trabalho do cuidado ou doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma mentalidade social machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina, enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres perdem a voz na busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser propagada a ideia de que essa função é sua, e somente sua, obrigação. Portanto, é necessário que esta situação seja dissolvida. Para isso, o governo, órgão responsável por garantir a condição e existência de todos, deve prover apoio psicológico e financeiro às cuidadoras, por meio de investimentos e pelo exercício das leis, a fim de sanar a vulnerabilidade socioeconômica existente no cotidiano desses grupos. Paralelamente, os meios de comunicação precisam combater a lógica de inferioridade e a concepção machista agregadas a este trabalho. Assim, será possível solucionar esta questão, pois será retirada do cenário de invisibilidade, como propõe Djamila. ✏️Amanda Teixeira, de Muqui (ES) Trecho de redação nota mil de Amanda Teixeira no Enem 2023 Reprodução/Inep Na obra intitulada “Brasil, País do Futuro”, Stefan Zweig, autor austríaco, em sua visita ao Brasil, defendeu a ideia de que o país estava destinado a ser um dos mais importantes países do mundo no futuro. No entanto, 80 anos depois, as previsões do autor ainda não se concretizaram e os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado — realizado por mulheres — são entraves para isso. Observa-se, assim, que isso ocorre porque a negligência governamental e a permanência histórica impedem a resolução da questão. Sob esse viés, é preciso atentar para a omissão estatal presente nessa problemática. Nessa perspectiva, o pensador Thomas Hobbes afirma que o Estado é responsável por garantir o bem-estar da população. Entretanto, isso não ocorre no Brasil, pois a falta de atuação das autoridades corrobora a permanência do trabalho de cuidado não remunerado e mal pago realizado, principalmente, por mulheres — que inclui cuidar de crianças e idosos, bem como os afazeres domésticos — , visto que o governo não tem cumprido seu papel no sentido de assegurar os direitos básicos a esse grupo social, como o direito a um salário digno. Assim, as funções sociais e estatais são descumpridas, agravando o problema. Outrossim, a permanência histórica é fator importante como constituinte desse imbróglio. Nesse sentido, consoante ao pensamento do antropólogo Claude Lévi-Strauss, só é possível compreender adequadamente as ações coletivas por meio do entendimento dos eventos históricos. Desse modo, a questão da invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres majoritariamente pobres e vítimas de descriminação de gênero, mesmo que fortemente presente no século XXI, apresenta raízes indissociáveis à história brasileira — que foi marcado pelo machismo e pelo patriarcado —, uma vez que as atividades domésticas não pagas ainda não delegadas as pessoas do sexo feminino de forma quase que exclusiva. Faz-se necessário, portanto, que meios sejam criados para intervir nesse óbice. Logo, o Governo Federal — órgão responsável pela administração federal em todo território nacional — deve estabelecer políticas públicas que garantam a remuneração e a valorização do trabalho de cuidado, por meio da utilização de verbas governamentais para o pagamento de salários. Tal ação deve ser realizada com a finalidade de mitigar a invisibilidade dos afazeres domésticos realizados pela mulher na sociedade brasileira e, consequentemente, combater as raízes históricas presentes nessa questão. Dessarte, o Brasil poderá se tornar um “País do Futuro”, como defendido por Stefan Zweig. ✏️Matheus Almeida Barros, de Paraíso (TO) Trecho de redação de Matheus Barros, nota mil no Enem 2023 Reprodução/Inep Por meio do seu livro "Brasil, país do futuro" - publicado no último século - o escritor austríaco Stefan Zweig expressou a sua confiança de que a nação cresceria e se desenvolveria exponencialmente. Para além disso, nos dias atuais, a sociedade brasileira vivencia uma situação inversa, uma vez que a constante invisibilidade feminina relacionada ao trabalho de cuidado e seus impactos negativos na contemporaneidade não são características de um "país do futuro". Desse modo, algumas negligências governamentais impulsionam a desvalorização trabalhista de cuidado desempenhado pela mulher brasileira e promovem o desenvolvimento de diversas desigualdades econômicas. Logo, tanto a inefetividade das leis direcionadas ao público feminino quanto a escassez de investimentos na educação capacitiva são suscitadores da problemática. Em primeiro plano, é imprescindível destacar a baixa eficiência das leis relacionadas ao trabalho da mulher como um fato que potencializa a invisibilidade do esforço doméstico e de cuidados desse grupo. Nesse sentido, o escritor brasileiro Gilberto Dimenstein defende que a legislação brasileira funciona somente no papel e, na prática, é ineficiente. A partir disso, tal tese pode ser comprovada por meio da má aplicação das leis trabalhistas femininas, uma vez que tais documentos não garantem, efetivamente, os direitos fundamentais da mulher, especialmente no âmbito do trabalho, e geram uma dependência dessa parcela ao cuidado doméstico, que é amplamente desvalorizado e, muitas vezes, não remunerado. Logo, tal insuficiência do sistema legislativo promove uma exploração exagerada da população feminina no país. Além disso, vale ressaltar, ainda, a falta de verbas destinadas à educação como um fator que agrava e desvaloriza o trabalho de cuidado exercido pela mulher brasileira. Nesse sentido, o filósofo esloveno Slavoj Zizek afirma que os políticos liberais modernos priorizam interesses mercadológicos e menosprezam atitudes que beneficiem a coletividade. Dessa maneira, verifica-se uma imprudência estatal que, por sua vez, despreza a importância da educação ao não investir na capacitação feminina, o que impede a entrada desse grupo no mercado de trabalho e obriga a mulher a realizar os desvalorizados "trabalhos de cuidado". Com isso, atitudes que visem ampliar a qualidade do sistema educacional brasileiro mostram-se amplamente necessárias. Portanto, vistos os fatores que impactam negativamente na valorização do trabalho de cuidado feminino, medidas são necessárias para combatê-los. Cabe ao governo federal a realização de fiscalizações legislativas e, por meio de inspeções e vistorias em residências de risco, verificar se as leis trabalhistas femininas estão sendo devidamente aplicadas, a fim de garantir a não exploração da mulher doméstica. Ademais, o Ministério da Educação deve, através do FUNDEB - o Fundo Nacional de Educação Básica destinar investimentos às escolas, visando promover uma capacitação geral e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo. Somente assim, o público feminino conquistará a devida visibilidade no âmbito do trabalho. Vídeos
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03/04 - Portugueses falando ‘brasileiro’? Como variante do idioma usada no Brasil influencia Portugal
Para além de manchetes sensacionalistas e relatos anti-imigração, qual o real potencial de crescimento do português do Brasil em Portugal? Arte com as bandeiras do Brasil e de Portugal Getty Images No final de janeiro, uma postagem feita por uma página portuguesa de conteúdos anti-imigração no X (antigo Twitter) denunciou a existência de uma placa de trânsito escrita em “português brasileiro” em Sintra, na área metropolitana de Lisboa. “Sinal rodoviário escrito em português brasileiro diz que é proibida a circulação excepto a ‘trens’ e bicicletas”, diz a postagem, que traz também uma foto da placa que supostamente “assassina a língua de Camões que é o português europeu”. O grande problema, segundo o autor do post, é que a palavra "trens" teria sido retirada do português usado no Brasil, já que em Portugal o meio de transporte ferroviário é chamado de “comboio”. O fato, porém, é que a palavra "trem" existe também no português europeu, mas com um significado distinto. Em Portugal, pode ser “um carro de cavalos destinado ao transporte de pessoas”, ou uma carruagem, de acordo com a definição do dicionário da Porto Editora. Levando em conta a localização da placa, a palavra "trens" se refere às carruagens puxadas por cavalos que fazem passeios com turistas por Sintra. O episódio faz eco a muitos outros casos de portugueses "puristas" que cada vez mais rejeitam a presença de vocabulários e construções brasileiras na língua falada em seu país. Esse repúdio fica claro em muitas das reações às notícias e manchetes de jornal que denunciam há alguns anos a influência dos conteúdos produzidos por brasileiros nas redes sociais e no YouTube nas crianças e jovens portugueses. Enquanto alguns veem a cobertura da imprensa como exagerada e apontam o peso da xenofobia nas visões propagadas, outros fazem coro às queixas e temem que a presença cada vez maior dos vocábulos importados seja sinal de um "apagamento" da cultura local. Há ainda quem aponte o grande e crescente fluxo migratório — havia 360 mil brasileiros em Portugal em 2022, segundo o Itamaraty — como outro fator que contribui para isso. Mas por que a possibilidade da variante usada no Brasil ser encontrada em Portugal provoca tanta indignação entre alguns cidadãos? E qual a verdadeira extensão dessa influência? Para Fernando Venâncio, linguista português que estuda o tema há décadas, há sim uma presença cada vez maior de traços importados do outro lado do Atlântico no idioma falado em terras portuguesas. Mas isso não é novidade. “Desde finais dos anos 1970 e princípios dos anos 1980, houve uma aquisição de brasileirismos gigantesca”, diz Venâncio, autor do livro O Português à Descoberta do Brasileiro. Na época, isso foi um reflexo principalmente do sucesso das novelas brasileiras em Portugal, explica o linguista. Agora, há um fenômeno novo em curso, que envolve principalmente as crianças e adolescentes. "Em Portugal, eles veem cada vez mais youtubers brasileiros, às vezes, por muitas horas”, diz Venâncio. ‘Aficionada pelos youtubers brasileiros’ "É exagero dizer que as crianças portuguesas passaram a falar ‘brasileiro’", diz linguista português Getty Images A portuguesa Paula Lourenço é professora de escolas de ensino fundamental em Sintra há 24 anos. Ela dá aulas para crianças entre 9 e 10 anos e diz que o uso de expressões e palavras brasileiras pelos seus alunos é cada vez mais evidente. “Neste momento, na escola, tenho um caso de um aluno que fala ‘brasileiro’ apesar de os pais serem portugueses”, conta. A professora relata que esse aluno começou a ser vítima de uma espécie de bullying, com colegas implicando com a forma como ele fala. "Por fim, descobrimos que ele ficava até altas horas da noite sem supervisão a ver vídeos, principalmente aqueles shorts [vídeos curtos] que são reproduzidos um atrás do outro.” Segundo Paula, o gosto pelos vídeos produzidos por influenciadores e youtubers do Brasil é compartilhado por praticamente todos os seus alunos. “Houve um boom principalmente durante a pandemia. Até eu já estou um pouco aficionada pelos youtubers brasileiros, porque comecei a ver para acompanhar o que meus alunos gostam”, diz a professora. Mesmo nas aulas de inglês, a professora Teresa de Gruyter nota a repetição dos “brasileirismos”. “Usamos muito a palavra ‘giro’ em Portugal quando queremos falar de uma coisa que achamos engraçada ou interessante. Mas quase não ouço mais. Hoje em dia, utiliza-se mais ‘é bonitinho’, que é muito mais brasileiro”, conta a portuguesa, que dá aulas principalmente para adolescentes em uma escola de línguas em Cascais. Teresa nasceu em Portugal e se mudou para a África do Sul na década de 1990. “Quando saí do país há 25 anos, estávamos muitos expostos ao português brasileiro através das telenovelas e das músicas", diz. "Mas, desde a minha volta há menos de 10 anos, começo a notar que todo este mundo dos youtubers e tiktokers [produtores de conteúdo da rede social TikTok] influenciam muito mais a maneira de estar e a maneira de falar das crianças no geral.” Graça Rio-Torto, professora de Linguística da Universidade de Coimbra, vê, no entanto, as novas construções e palavras aprendidas pelas crianças e jovens portugueses como aprendizados positivos. “Essas palavras novas enriquecem o léxico dessas crianças e não há mal nenhum nisso”, diz ela. "Mas se os pais portugueses têm preocupação com o fato dos seus filhos estarem a falar mais abrasileirado, lamento. Mas os responsáveis são eles. Não é tanto o contato com colegas brasileiros na escola que fazem com que elas falem assim, mas o número de horas que os pais permitem que elas fiquem na internet." A professora Paula Lourenço concorda: “Essa influência é boa pelos conhecimentos que transmite na área no enriquecimento do vocabulário, da globalização e de conhecer outras culturas”. “O problema são os casos extremos em que já não sabem utilizar as expressões corretas nem no português do Brasil, nem de Portugal”, afirma Lourenço. Para a professora, são o uso excessivo de telas sem supervisão e o isolamento das crianças e adolescentes que prejudicam o aprendizado e a compreensão de textos. Venâncio diz que o fato de jovens portugueses usarem expressões brasileiras não deveria ser motivo de alarde. “As crianças deixam sair uma ou outra palavra que ouviram no YouTube, mas é exagero dizer que passaram a falar ‘brasileiro’.” A cidade espanhola nos EUA onde negros eram livres 200 anos antes do fim da escravidão ‘Uma deturpação do português’ Letras penduradas no teto, em exposição no Museu da Língua Portuguesa Renata Bitar/g1 Entre os destaques do YouTube que servem de referência para o sucesso brasileiro em Portugal estão os canais dos irmãos Felipe e Luccas Neto, com respectivamente 46 e 42 milhões de inscritos. Ao mesmo tempo, o canal de humor Porta dos Fundos atrai o público adulto português há alguns anos. Para a linguista brasileira Jana Behling, doutoranda na Universidade de Coimbra que estuda o tema, o “impacto do brasileiro” também pode ser notado por meio da popularidade de cantores como Marília Mendonça e até da literatura produzida por autores contemporâneos, de Itamar Vieira Júnior a livros com conteúdo religioso. “Coimbra é sempre mais conservadora, mas ainda assim desfila o ‘brasileiro’ no Poetry SLAM, que é uma competição em que poetas leem ou recitam um trabalho original”, ressalta. Esse sucesso não acontece sem conflitos. Apesar dos consecutivos shows esgotados em Portugal, Luccas Neto já foi repudiado por popularizar na fala portuguesa palavras brasileiras, como "geladeira" no lugar de "frigorífico", "ônibus" no lugar de "autocarro" e assim por diante. “Alguns portugueses enxergam essa popularidade como se emporcalhasse a língua europeia”, avalia Behling. “Isso sem falar nas gírias, típicas do despojamento de qualquer língua, mas que as xenofobias ainda olham com desdém.” As professoras Paula Lourenço e Teresa de Gruyter afirmam ouvir com frequência reclamações de pais sobre as novas expressões adotadas pelos filhos. “Alguns pais mais tradicionais reclamam ou corrigem os filhos quando os ouvem dizer palavras mais à brasileira”, diz de Gruyter. “Mas tem outros pais que são bastante flexíveis, principalmente na zona do país onde eu vivo, em que existem tantos estrangeiros”. Lourenço acrescenta que, por outro lado, muitos pais não dão atenção a isso. “As pessoas estão tão sobrecarregadas com o trabalho que deixam os filhos ficarem horas na frente das telas e não percebem como isso os está influenciando.” O linguista Xoán Lagares, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), nota que ainda “há muito preconceito em relação ao português do Brasil porque ele se diferencia em muitos pontos, sobretudo na sintaxe do que é a tradição normativa portuguesa constituída em Portugal”. “Então, para muitos portugueses, as diferenças são identificadas como erros, como uma deturpação do português”. Mas, segundo Lagares, especialista em história social e cultural das línguas, não existe uma versão mais correta da língua. “No caso do português, não há uma gramática oficial. Há uma tradição normativa que se manifesta em gramáticas e dicionários”, explica. Essa tradição tem sua origem em Portugal e foi elaborada a partir dos usos considerados de prestígio no país. “O que aconteceu é que no Brasil foram se desenvolvendo outros usos de prestígio em relação à gramática”, diz o professor. Por isso, vigora hoje no Brasil uma tradição normativa autoral e interpretativa, que pode variar conforme a gramática e a visão dos seus autores. Para alguns linguistas, as diferenças entre as variedades que se estabeleceram dos dois lados do Atlântico já são tão grandes que deveria haver uma separação definitiva entre o português e o brasileiro. “Não dá mais para dizer que falamos português do Brasil”, opina a linguista Jana Behling. “Dou aula de 'brasileiro' hoje em dia, porque algumas pessoas acham o brasileiro mais fácil do que o português. Isso para mim indica uma ruptura.” Xoán Lagares, porém, afirma que ainda é difícil falar em suas línguas separadas. “Em termos de descrição linguística, não há um critério para dizer em que momento duas variantes se tornam línguas diferentes. Esse é um problema em várias partes do mundo. Por isso, muitas vezes, é apenas uma questão política.” ‘É uma moda como outra qualquer’ Mas qual a real influência do português do Brasil em Portugal, para além das críticas embutidas nas manchetes de jornais e dos "brasileirismos" denunciados nas redes sociais? Segundo os especialistas consultados pela BBC News Brasil, é difícil prever o impacto que isso pode ter ao longo do tempo. Até o momento, há poucas pesquisas publicadas que analisam o fenômeno – e novas expressões, palavras e estrangeirismos surgem e desaparecem nas línguas a todo tempo. “Alguns youtubers brasileiros têm muita qualidade, e não é por acaso que as crianças assistem e também aprendem com eles”, diz Fernando Venâncio. “Mas é impossível dizer se esse fenômeno novo vai ter futuro, porque também há alguns youtubers portugueses que estão a aprender bastante com os brasileiros e estão a produzir mais coisas com alguma qualidade.” Para Xoán Lagares, a influência atual se dá sobretudo na sintaxe e a partir de algumas construções específicas. Ou seja, não engloba toda a língua. “É difícil que eles mudem, por exemplo, a colocação pronominal por conta da forma usada no Brasil. Essas coisas demoram e são difíceis de acontecer”, diz. “Veja no Brasil, onde ensinamos a questão da ênclise e até hoje não se consolidou, muitos alunos precisam ser corrigidos na escola e em redações.” O linguista afirma ainda que o próprio preconceito demonstrado por alguns portugueses em relação à variedade brasileira deve barrar qualquer influência maior. “Há muitas questões identitárias, de reconhecimento da própria variedade e de lealdade linguística envolvidas”, afirma. Por sua vez, a linguista Graça Rio-Torto avalia que o inglês exerça uma influência hoje mais forte em Portugal do que o português falado no Brasil, sobretudo nas linguagens técnicas e da área de informática. Ela é categórica ao afirmar que o português falado em Portugal não sofrerá mudanças profundas e permanentes a partir dessa influência, ao menos por enquanto. Para ilustrar seu argumento, ela ressalta que Portugal passou por séculos de dominação estrangeira e foi colonizado por árabes e espanhóis. "Esses fatos tiveram alguma influência sobre a língua, mas não alteraram o rumo principal das mudanças linguísticas em curso”, diz ela. "Como linguistas, não esperaríamos que em tão pouco tempo e em um conjunto numericamente não tão significativo assim de falantes pudesse ter uma influência decisiva sobre a língua." Havia essa mesma preocupação, segundo ela, nos anos 1970, quando as novelas brasileiras eram muito populares. "Também se dizia que muitas construções lexicais e até gramaticais iriam ser introduzidas na variedade portuguesa. Mas não foi tanto assim", diz. "É uma moda como outra qualquer, circunscrita no tempo." Esta reportagem foi publicada originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c6pkzze6484o VÍDEOS: notícias de Educação
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02/04 - Total de cursos superiores com avaliação satisfatória é de 26% no EAD e 38% no modelo presencial, diz MEC
Índice avalia a qualidade do ensino superior no país e dá notas de 1 a 5 para os cursos. Em 2022, foram avaliados 26 cursos de bacharelado e tecnológicos, principalmente de ciências sociais e humanas, e de gestão. Sala de aula na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) UCDB/Reprodução Apenas 450 cursos de ensino superior na modalidade de educação a distância (EAD) conseguiram notas 4 ou 5 no Conceito Preliminar de Curso (CPC) do Ministério da Educação (MEC). Número divulgado nesta terça-feira (2) é referente a 2022 e representa cerca de 26,6% dos cursos EAD avaliados. No ensino presencial, mais de 38% dos cursos tiveram avaliação 4 e 5, consideradas satisfatórias nos Indicadores de Qualidade da Educação Superior. 👉🏾 CPC é um dos indicadores usados para avaliar a qualidade da educação superior do país. Esse indicador é obtido a partir do desempenho dos alunos no Enade, da qualificação do corpo docente e dos recursos didático-pedagógicos (como laboratórios) da universidade (veja mais abaixo). 📊 É o CPC que indica a qualidade do curso. Por exemplo, quando uma universidade diz que tem um curso de direito nota 5 no MEC, é ao CPC que está se referindo. Notas no MEC: como descobrir o conceito de um curso ou faculdade? Em 2022, foram avaliados os seguintes cursos: Bacharelados Administração Administração Pública Ciências Contáveis Ciências Econômicas Comunicação Social (Jornalismo) Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) Direito Psicologia Relações Internacionais Secretariado Executivo Serviço Social Teologia Turismo Tecnológicos Comércio Exterior Design de Interiores Design Gráfico Design de Moda Gastronomia Gestão Comercial Gestão de Qualidade Gestão Pública Gestão de Recursos Humanos Gestão Financeira Logística Marketing Processos Gerenciais Abaixo, veja como os cursos, divididos por modalidade, foram avaliados em 2022: 🖥️ Cursos EAD Nota 1 (insatisfatória): 93 Nota 2 (insatisfatória): 124.108 Nota 3 (Regular): 1.155.053 Nota 4 (Satisfatória): 159.529 Nota 5 (Satisfatória): 3.730 👨🏽‍🏫 Cursos presenciais Nota 1 (insatisfatória): 1.322 Nota 2 (insatisfatória): 112.309 Nota 3 (Regular): 763.413 Nota 4 (Satisfatória): 584.954 Nota 5 (Satisfatória): 58.653 Entenda como é feita a avaliação ✏️O Conceito Preliminar de Curso (CPC) avalia as graduações (administração em determinada faculdade, por exemplo) e considera: o desempenho dos alunos no Enade 2022 (prova feita no início e no fim da graduação); a formação dos professores (se são mestres e doutores, por exemplo, e se trabalham em regime de dedicação exclusiva); a percepção dos estudantes sobre o próprio curso (questionário respondido no Enade); o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), que analisa o desempenho dos alunos concluintes (Enade) e dos alunos ingressantes (Enem), para avaliar o aprendizado absorvido durante o curso. Matrículas x CPC Nos cursos avaliados em 2022, o número de matrículas das modalidades EAD e presencial teve pouca diferença, em uma divisão de 49% e 51% respectivamente. O que chama atenção, no entanto, é a diferença nas matrículas por faixa dos cursos. Dos mais de 1,4 milhão de alunos matriculados em cursos EAD em 2022, apenas 11,3% estavam registrados em cursos de nota 4 ou 5. Se comparado com o ensino presencial também em 2022, dos mais de 1,5 milhão inscritos na modalidade, 42,3% estavam em cursos de nota 4 e 5.
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02/04 - Em um ano, 200 mil alunos com autismo foram matriculados em escolas comuns; falta de apoio a professores ainda é obstáculo
Colégios são proibidos de recusar a matrícula de um aluno com deficiência, mas ainda há desrespeito à lei, mesmo que de maneira velada. No Dia da Consciência do Autismo, entenda por que, apesar do avanço no número de estudantes com TEA, o Brasil ainda não pratica a inclusão plena de pessoas do espectro. Em um ano, 200 mil alunos com autismo foram matriculados em escolas comuns De 2022 a 2023, no Brasil, o número de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados em salas de aula comuns — ou seja, junto com alunos sem deficiência — aumentou 50%: saltou de 405.056 para 607.144, segundo dados do Censo de Educação Básica. A presença desse grupo nas escolas vem crescendo a um ritmo acelerado, como é possível observar no gráfico abaixo. Em 2017, o total de alunos com TEA em escolas públicas e privadas não chegava nem a 100 mil, mostra o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Agora, de um ano para outro, surgiram 200 mil novas matrículas. Há duas explicações principais para esse aumento: maior capacidade diagnóstica das equipes de saúde; conscientização sobre a importância e a obrigatoriedade de acolher as crianças com TEA (leia mais abaixo). ➡️Cientistas e profissionais da educação reforçam que a convivência entre pessoas com e sem deficiência é benéfica para todos – tanto do ponto de vista social (compreensão das diferenças, cidadania, melhora na capacidade de comunicação) quanto do cognitivo (a escola deve apresentar os conteúdos de maneira que todos os estudantes possam aprender e desenvolver o pensamento lógico, o raciocínio matemático ou conhecimento histórico, por exemplo). 👎O problema é que a matrícula é só o primeiro passo – e as etapas subsequentes ainda deixam a desejar. Não basta “permitir” a entrada da criança. “Precisamos garantir o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem. O aluno deve frequentar as aulas, aprender e participar das atividades. Incluir é muito mais do que colocar todo mundo na mesma sala”, afirma Renata Tibyriça, defensora pública do Estado de São Paulo. No entanto, pelo que o g1 apurou a partir de entrevistas com professores, pesquisadores, defensores públicos, familiares de pessoas com autismo e os próprios indivíduos com TEA, há ainda os seguintes obstáculos: formação frágil de docentes e funcionários, que acabam indo atrás de preparo por iniciativa própria, sem apoio da escola ou do governo; falta de adaptação de atividades e aulas; desconhecimento sobre como agir diante de surtos de agressividade e de outros possíveis sintomas; bullying; cobrança de taxas extras na mensalidade (prática ilegal); descumprimento do direito a um acompanhante contratado pelo colégio; evasão escolar e ausência de recursos para lidar com os diferentes tempos de aprendizagem. Antes de ver os detalhes dos obstáculos acima, entenda: 📈O que está levando ao crescimento das matrículas de pessoas com autismo? O Transtorno do Espectro Autista é um grande "guarda-chuva" que abarca pessoas com quadros bem diferentes – há desde aquelas de “grau 1”, que são mais independentes e precisam de menos suporte, até as de “grau 3”, que precisam de maior auxílio e não falam, por exemplo. Em geral, os sintomas principais giram em torno de: dificuldades de interação social, problemas na comunicação e alteração nos interesses (como resistência a mudanças de rotinas ou maneiras diferentes de brincar). Como resumido mais acima, há duas explicações principais para o aumento de casos de TEA no mundo: Maior capacidade diagnóstica: O Brasil não tem, por enquanto, estatísticas próprias sobre o número de cidadãos com autismo no país. Mas, nos EUA, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) calcula que 1 em cada 36 crianças de 8 anos seja autista. Em 2000, era 1 em 150. Esse crescimento na prevalência do transtorno está diretamente relacionado a um maior preparo dos profissionais de saúde para detectar casos de TEA. É possível, portanto, que entre os 200 mil novos estudantes com autismo de 2022 para 2023, estejam crianças que já estavam matriculadas em 2021, mas ainda sem diagnóstico. Ainda que o corpo médico esteja mais instrumentalizado, há um caminho a percorrer, explica Patrícia Braga, professora associada da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora da plataforma científica Pasteur USP. “Estamos capacitando mais médicos agora, mas é um processo em construção que está muito aquém do necessário no Brasil. A idade média [da criança diagnosticada] é de 5 anos aqui, enquanto é de 3 anos na Europa”, explica. Anita Brito, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, conta que não encontrou psicólogos ou médicos especializados em autismo quando começou a investigar o caso de Nicolas, seu filho. “Ele tem 25 anos e é um autista ‘clássico’ [com os sintomas mais característicos de TEA], mas só foi diagnosticado aos 5. Eu mesma só descobri que também era autista em 2014, já adulta. Na minha casa, antes, a gente tinha rótulo de louco. Diziam que meu pai tinha o demônio no corpo.” ➡️Observação: Atualmente, cientistas estudam se, além do aumento da capacidade diagnóstica, existem elementos ambientais que podem estar elevando os casos de autismo, como determinadas infecções virais em grávidas. Mas não caia em fake news: a ciência já comprovou que as vacinas não levam ao autismo. Maior conscientização e acesso aos direitos previstos em lei “Uma escola que recusa a matrícula de um aluno com autismo está cometendo um crime”, explica a defensora Tibyriça. Por exemplo: A Lei nº 7.583/1989, artigo 8º afirma que “constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência”; E a Lei nº 12.764/2012, artigo 7º, diz que “o gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos.” O aumento no número de matrículas mostra que há um melhor entendimento de que aceitar um aluno autista na escola não é nenhum favor. É uma obrigação legal. Mas, mesmo diante desses avanços, ainda há, segundo a defensora pública, casos de escolas que recusam a entrada do aluno de maneira velada. 📢De repente, não tem mais vaga? Filho de Emanuel faz atividade com professora em escola comum Arquivo pessoal “O que tem acontecido é que, quando as famílias dizem que o filho é autista, o colégio particular diz que não tem mais vaga. E aí fica muito difícil provar que foi uma decisão motivada pela deficiência. Os pais só descobrem depois, quando veem que outra criança sem autismo conseguiu entrar na escola”, conta Tybiriça. “Outra situação clássica é a direção tentar convencer de que não conseguirá oferecer o atendimento adequado. Expõe as dificuldades e tenta desencorajar a família." O psicopedagogo Lucelmo Lacerda, professor da Especialização em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) do CBI of Miami, passou por uma situação parecida com um de seus filhos, que tem autismo e foi matriculado em uma instituição de ensino comum. “Chamavam várias e várias vezes a gente para ir buscá-lo. Havia a intenção clara de fazer com que ele não fosse mais [para as aulas], até que ele acabou mesmo saindo [do colégio]. A escola inclusiva precisa dar condições de permanência. Estar matriculado não é estar com tudo resolvido.” Ao g1, Cláudio Vinícius Dornas, diretor da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (que representa cerca de 48 mil escolas privadas do país), afirmou que: os autistas estão “em mais evidência em relação a outras deficiências, o que já traz um grande problema (...), trazendo a falsa impressão de que as outras são secundárias e de pouca importância”; embora os colégios sejam proibidos de negar matrícula a pessoas com deficiência, não são obrigados a “elaborar um projeto pedagógico específico (...) [nem] receber de forma indiscriminada todo e qualquer tipo de pessoa deficiente [o termo ‘deficiente’ não é mais usado, e sim ‘pessoa com deficiência]”; dependendo do grau da deficiência, “é impossível o estabelecimento de ensino suprir a demanda pedagógica daquele aluno singular” e que as escolas devem ter "uma conversa franca” com os pais, para “evitar frustrar a expectativa deles”. A defensora pública Renata Tibyriça, no entanto, explica mais uma vez que “a escola privada, assim como a pública, não pode recusar matrícula ou apoio para os alunos com deficiência. A recusa de matrícula é crime, com penalidade administrativa e possibilidade de ação indenizatória”. Ela diz também que a Lei Brasileira de Inclusão prevê a obrigação de realizar estudo de caso e plano de atendimento educacional especializado, e de oferecer todas as formas de apoio. “A Confenen tentou evitar a aplicação disso às escolas privadas com uma ação direta de inconstitucionalidade”, conta a defensora. O Supremo Tribunal Federal decidiu, no entanto, em 2016, que as normas se aplicam a todos, inclusive da rede privada. Mais abaixo, você lerá também sobre outras dificuldades para a inclusão plena. ✏️‘Eu tinha 4 autistas na sala, mas nenhuma capacitação. Eu mesma procurei uma pós’, diz professora Os professores ouvidos pela reportagem pediram para não ser identificados e tiveram seus nomes trocados. Mariana*, da rede pública de uma grande capital, chegou a ter quatro alunos com autismo na mesma turma. "Um era diferente do outro: um só mexia as mãozinhas sem parar; outro era bem agressivo e jogava a mesa e a cadeira, por exemplo. Eu não queria deixar ninguém no canto da sala. A coordenação me ajudou, mas acabei correndo atrás de formação por conta própria”, relata. “Foi um choque. O que eu ia fazer com aquelas crianças? Fui atrás de uma pós-graduação no assunto, porque sabia que ia encontrar mais alunos que precisavam de apoio.” Ela não teve nenhuma ajuda de custo para pagar os estudos. “Nós não temos nada: não recebemos capacitação, não temos materiais didáticos apropriados. A escola não tem verba. Queremos desenvolver nosso trabalho, mas falta auxílio do governo. O gratificante é ver, no fim do ano, que os pais não se sentiram abandonados e que a criança conseguiu se desenvolver.” Luana*, quando estudava em um curso de formação de professores, fazia estágio obrigatório e não remunerado em uma escola pública. Aos 17 anos, mesmo sem experiência ou conhecimento adequado, ela passou a ser acompanhante de um aluno autista de 13 anos. “A pessoa responsável parou de ir, aí me colocaram no lugar. Eu fiquei com medo, estava insegura, não tinha preparo nenhum. Ninguém quer saber se temos suporte e se o aluno vai ser bem atendido. As escolas estão cada vez mais lotadas de alunos com deficiência, mas não vejo gente qualificada em número suficiente”, conta. “Na teoria, tudo é lindo. Na prática, ninguém quer saber.” Assim como Mariana, Luana também decidiu se instrumentalizar por conta própria e entrou na faculdade de psicologia. Atualmente, aos 23 anos, ela trabalha como mediadora de conhecimentos de um menino com TEA de 4 anos, em uma escola particular. “A família dele que me contratou, para que eu tenha contato com todas as terapeutas que o atendem. Agora, sim, me sinto mais preparada.” [entenda mais abaixo se essa prática é permitida] No ensino médio de uma rede estadual, a professora Noêmia diz que está exausta. “Não dispomos de materiais adequados. É uma inclusão de faz de conta. Quando dá certo, é porque o professor buscou sozinho [recursos].” Ao g1, o MEC afirmou que ações de formação docente têm sido o foco da pasta, para que “a escola seja para todos”. Disse também que ampliou, em novembro de 2023, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que prevê o preparo de professores, a entrega de ônibus acessíveis e a distribuição de recursos de tecnologia assistiva, por exemplo. 🧑‍🎓Como formar professores? O psicopedagogo Lucelmo Lacerda diz que a formação continuada (aquela que é feita ao longo da carreira do professor, mesmo depois da licenciatura) não pode ser apenas sustentada por palestras. “Os melhores resultados vêm de onde os docentes receberam preparo. Aqui no Brasil, ficam falando só de respeitar as diferenças. O preparo vai muito além de ajudar a sensibilizar e tocar o coração dos professores. Existe ciência nisso”, afirma. Os profissionais da educação devem aprender, tanto na universidade quanto na formação continuada, como adaptar atividades para pessoas com deficiência, de que forma agir para prevenir surtos de agressividade e como integrar os alunos com dificuldade de socialização, por exemplo. Não existe uma fórmula pronta, até porque cada aluno com autismo é diferente do outro. “Eu, por exemplo, sou autista nível 1 [que necessita de pouco suporte no dia a dia]. Se eu estivesse na escola, precisaria talvez de um grupo que me ajudasse nas habilidades sociais e prevenisse o bullying”, diz Lucelmo. “Já meu filho é de nível 3 [muito suporte]. Ele não fala e não entende o que é falado. Precisa de adaptações no conteúdo: não adianta querer ensinar para ele o que é oração coordenada sindética. Tem de ensinar os nomes dos colegas, as letras. Adaptar o conteúdo mesmo.” ➡️O Parecer 50, documento com boas práticas para lidar com alunos com TEA, já foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), mas falta a homologação do Ministério da Educação (MEC). Entre os defensores da inclusão, há dois grupos: os que defendem o parecer, por acreditarem que traz o embasamento científico necessário para amparar as escolas, e os que acreditam que faltou debate com educadores para a elaboração do texto. 👨‍👦Desrespeito ao direito a acompanhante Quando comprovada a necessidade pela escola, os alunos com TEA têm, por lei, direito a dois tipos de acompanhante: um auxiliar que ajude nas atividades do dia a dia, relacionadas à higiene e à alimentação; um profissional que foque nas questões pedagógicas e ajude na comunicação, na concentração do estudante e na adaptação de atividades feitas pelo professor titular. A defensora pública Renata Tibyriça costuma receber casos de pais de alunos que, mesmo mostrando ao colégio a urgência de um acompanhante ou um "mediador", ouvem um “não” como resposta. A Justiça, então, é acionada para garantir que a criança ou o adolescente receba o atendimento adequado. E atenção: a escola não pode cobrar nenhuma taxa extra dos pais do estudante para que os serviços acima sejam prestados. Na rede privada, principalmente, tem se tornado comum que a própria família contrate um acompanhante de confiança para estar com o aluno em sala de aula. A legislação, no entanto, reforça que isso deve ficar a cargo da instituição de ensino. O que se espera da escola? 📝Planejamento pedagógico: A partir de uma avaliação pedagógica, é necessário avaliar quais as maiores necessidades da criança/adolescente e definir um “plano de atendimento”. Será preciso adaptar materiais? Oferecer mais tempo para prova? Usar tecnologias assistivas? “O problema é que, em geral, essa avaliação demora para acontecer. Ninguém sabe do que o aluno precisa, e ele acaba ficando jogado no fundo da sala”, afirma Tibyriça. O ideal é que a escola tenha ao menos um profissional especialista em educação especial para orientar os demais professores e discutir cada caso. ✂️Adaptação de atividades e avaliações: O importante é adaptar as atividades de acordo com as necessidades de cada aluno. É um desafio que aumenta no decorrer dos anos escolares, quando os conteúdos vão ficando mais abstratos. Especialistas recomendam que toda a turma esteja envolvida no mesmo tema, mesmo que com diferentes abordagens. Por exemplo: se todos do 6º ano estão aprendendo a fazer contas com algarismos decimais, um aluno com deficiência que ainda não saiba somar pode ser desafiado a fazer um trabalho mais simples, também relacionado a números. 🕹️Anita Brito, citada no início da reportagem, conta que os professores de Nicolas usaram o Super Mario, “ídolo” do menino na infância, para despertar o interesse dele nas disciplinas escolares. “Na prova de biologia, todo o conteúdo de plantas carnívoras e animais herbívoros tinha relação com o Mario. Na aula de português, meu filho aprendeu pontuação a partir de diálogos do personagem. Depois, a gente foi tirando aos poucos [as referências ao game]”, conta. Nicolas, que atualmente trabalha como escritor, fotógrafo, artista plástico, palestrante e atendente terapêutico, lembra que o recurso realmente o ajudava a prestar mais atenção. “Eu gostava muito do Super Mario, aí isso me ajudava a entender a lição de maneira mais clara. Ajudava na dificuldade de interpretação”, diz. “Os professores me passavam lições sem sair do assunto da matéria, mas de forma mais simplificada.” 🗣️Comunicação: Jary, que tem autismo, estuda em escola comum de Nova Iguaçu (RJ) Arquivo pessoal Emanuel Santana, fundador da Adapte (startup de educação inclusiva) e pai de dois meninos com autismo e de uma menina neurotípica, defende o desenvolvimento de recursos de comunicação alternativa (como pictogramas, pranchas visuais, cartões postais, calendários e painéis ilustrativos). “As pessoas reclamam que os autistas gritam. Mas, se você deixar uma figurinha com o desenho de uma privada, por exemplo, o aluno pode puxá-la e entregá-la para o professor [quando precisar ir ao banheiro]. É uma forma de comunicação que pode funcionar”, diz. Um recurso semelhante deu certo com Jary, de 7 anos, filho da técnica de segurança Marilene Valladares, em Nova Iguaçu (RJ). “Na primeira escola, ele falava ‘ai, ai’ e ninguém entendia o que era. Ele estava com frio. Depois que passou a usar o tablet como comunicação alternativa, isso melhorou. Ele tem dias mais receptivos, outros menos, mas está superando nossas expectativas aos poucos.” Questões sensoriais: Podem ser feitas adaptações que minimizem os incômodos de alunos com TEA (muitos têm sensibilidade auditiva, visual ou tátil, por exemplo). É possível diminuir a luz da sala, colocar cadeiras com rodinhas sobre o carpete (para evitar o barulho de arrastá-las) e comprar apoios para os pés. “Se for uma demanda de mexer as mãos, a escola pode dar aquelas bolinhas de apertar. Ou, se o aluno quiser se balançar na carteira [é um movimento repetitivo comum], alguém pode levá-lo até o balanço do parquinho”, sugere Santana. Minha experiência foi traumatizante': a importância do combate ao bullying “Os autistas são vítimas perfeitas do bullying, diz a literatura científica. Não temos sinais físicos de deficiência e apresentamos inabilidade social. Quanto mais leve for o autismo, maior é o risco de outras crianças e jovens praticarem bullying. Nos casos mais severos, com o transtorno mais nítido, acontece menos”, conta o psicopedagogo Lucelmo, que tem TEA. “Minha experiência foi extremamente traumatizante e violenta. Eu sofri em todas as escolas”, lembra. Ele diz que as escolas devem investir em: canais de denúncia de bullying; palestras sobre diversidade que incluam famílias e alunos; definição do que será feito caso algum episódio de discriminação aconteça; treinamento de habilidades sociais para todos os alunos que tenham prejuízos na socialização. E as escolas exclusivas para pessoas com deficiência? Podem existir? Esse é um ponto sem consenso entre os especialistas: há quem defenda a inclusão incondicional, chamando o ensino exclusivo de “excludente”; e existem os que acreditam que, para alguns alunos com deficiência, uma instituição especializada pode trazer mais ganhos. “O aluno tem direito de ir para a escola comum, mas pode ser que, na prática, o formato acabe não sendo tão produtivo em alguns casos. Os educadores têm de considerar essas diferenças. Alguns vão se adaptar bem, outros, não. Cada autista é único”, diz Patrícia Braga, da USP. Lucelmo concorda e diz que nenhum país do mundo aboliu as escolas especializadas. “Vão dizer o quê? Que a Finlândia é um retrocesso na educação? A Holanda? A Suíça? É um discurso que ganha ares de progressismo, mas que não faz sentido.” Já a defensora Renata Tibyriça enxerga a existência do ensino especializado como um estágio de transição até que as escolas comuns consigam praticar a inclusão de maneira mais efetiva. “Talvez, essas instituições desapareçam se a educação comum realmente for para todos. Não pode haver incentivo para um sistema segregado. Essa coexistência [das duas modalidades] pode acontecer agora, mas os investimentos devem ser feitos nas escolas inclusivas.” Atualmente, o Censo Escolar mostra que apenas 4,5% das pessoas com TEA que estão matriculadas na educação básica foram, de fato, para o ensino voltado apenas para quem tem deficiência. Um decreto promulgado pelo então presidente Jair Bolsonaro, em setembro de 2020, incentivava a criação de classes e escolas especializadas em educação especial. O texto, criticado por especialistas por supostamente violar o direito à inclusão, foi revogado pelo presidente Lula em janeiro de 2023, assim que assumiu o mandato. Vídeos
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01/04 - UFSCar abre inscrição para vagas restantes da graduação; veja como se candidatar
São 294 vagas em 23 cursos que estão distribuídos nos quatro campi: Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba e São Carlos (SP). Entrada do campus da UFSCar em São Carlos Reprodução EPTV A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) abriu inscrição para as vagas restantes e formação de cadastro reserva para ingresso nos cursos de graduação, ainda em 2024. São 294 vagas em 23 cursos que estão distribuídos nos quatro campi: Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba e São Carlos (SP). 📲 Participe do canal do g1 São Carlos e Araraquara no WhatsApp Os interessados precisam preencher um FORMULÁRIO ELETRÔNICO DE INSCRIÇÃO, que está disponível no site da UFSCar, até as 23h59 da terça-feira (2). UFSCar abre inscrição para vagas restantes da graduação; veja como se candidatar Para concorrer as vagas, é necessário que o candidato cumpra os seguintes requisitos: ter concluído o ensino médio; ter obtido resultado superior a zero em cada uma das 5 notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em provas realizadas entre os anos de 2019 e 2023. Estudantes com matrícula ativa em cursos presenciais ou EaD (Ensino a Distância) de graduação da UFSCar não podem realizar inscrição para este edital. Confira o edital completo aqui LEIA TAMBÉM: UFSCar admite erro, anula 2ª chamada de aprovados e divulga nova lista para manifestação de interesse por vaga; entenda Após erro em lista da UFSCar, candidatos desconvocados podem processar instituição; entenda Nova lei de cotas, erro em algoritmo e falta de tempo para testar sistema: reitora da UFSCar explica anulação da 2ª chamada Quadro preliminar de vagas Campus Araras Agroecologia (Integral) - 11 vagas; Biotecnologia (Integral) - Cadastro reserva; Ciências Biológicas - Licenciatura (Noturno) - Cadastro reserva; Física - Licenciatura (Noturno) - 21 vagas; Química - Licenciatura (Noturno) - 14 vagas. Campus Lagoa do Sino Administração (Integral) - 26 vagas; Ciências Biológicas (Integral) - Cadastro reserva; Engenharia Ambiental (Integral) - 32 vagas; Engenharia de Alimentos (Integral) - 28 vagas. Campus Sorocaba Ciências Biológicas - Licenciatura (Integral) - Cadastro reserva; Ciências Biológicas - Licenciatura (Noturno) - Cadastro reserva; Engenharia Florestal (Integral) - 13 vagas; Física - Licenciatura (Noturno) - Cadastro reserva; Geografia - Licenciatura (Noturno) - 10 vagas; Matemática - Licenciatura (Noturno) - 5 vagas ; Química - Licenciatura (Noturno) - Cadastro reserva; Turismo (Integral) - 20 vagas. Campus São Carlos - Sede Biblioteconomia e Ciência da Informação (Noturno) - 3 vagas; Ciências Sociais (Integral) - 10 vagas; Engenharia Elétrica (Integral) - Cadastro reserva; Engenharia Física (Integral) - Cadastro reserva; Engenharia Mecânica (Integral) - Cadastro reserva; Engenharia Química (Integral) - Cadastro reserva; Filosofia (Noturno) - 3 vagas; Física - Bacharelado (Integral) - Cadastro reserva; Física - Licenciatura (Noturno) - 9 vagas ; Física - Licenciatura (Integral) - 8 vagas ; Gerontologia (Integral) - Cadastro reserva; Letras Espanhol (Noturno) - Cadastro reserva; Letras Inglês (Noturno) - Cadastro reserva; Linguística (Vespertino) - 16 vagas; ABI Matemática (Integral) - 20 vagas; Matemática - Licenciatura (Noturno) - 20 vagas; Música - Licenciatura (Integral) - 6 vagas; Química (Integral) - Cadastro reserva; Química - Licenciatura (Noturno) - 8 vagas; Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Integral) - 11 vagas. Cronograma das vagas restantes de graduação na UFSCar REVEJA VÍDEOS DA EPTV: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara.
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31/03 - 'Nheengatu App': conheça o 1º aplicativo voltado para o ensino de língua indígena no Brasil
Ferramenta foi apresentada na Campus Party Brasília. Segundo desenvolvedora, Nheengatu já foi língua mais falada da região amazônica. Veja como funciona o 'Nheengatu App' Além do português, estima-se que mais de 250 línguas sejam faladas no Brasil, segundo o Instituto do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Sobrevivendo ao tempo, os idiomas indígenas são parte importante da identidade do país e, pensando nisso, a pesquisadora Suellen Tobler criou o primeiro aplicativo voltado para o ensino de um idioma indígena brasileiro: o Nheengatu App. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. 📱A ferramenta foi apresentada na 6ª edição da Campus Party Brasília, festival de tecnologia, criatividade e inovação que termina neste domingo (31), no Estádio Mané Garrincha; 📱Funciona assim: depois de baixar a ferramenta, o usuário tem acesso a vários exercícios com imagens, para aprender diferentes palavras e frases (veja vídeo acima); 📱Os áudios dos exercícios são feitos por George Borari, professor de Nheengatu da Escola Indígena Borari de Alter do Chão, no Baixo Tapajós; 🗣 O Nheengatu tem origem no tronco linguístico do tupi, com algumas influências do português, assim como o português brasileiro tem influências do tupi. Segundo a desenvolvedora, o Nheengatu já foi a língua mais falada da região amazônica. "Ela já foi conhecida como 'língua geral amazônica'", diz. "Lancei o aplicativo em outubro de 2021. Desde então, ele tem sido usado dentro de salas de aula de escolas indígenas da região do Baixo Tapajós. Essa primeira versão do aplicativo contempla apenas a variação 'Nheengatu Tapajowara', que é língua da região do Baixo Tapajós, mas existem outras variações", explica Suellen Tobler. Ela conta que depois do lançamento do Nheengatu App, muitos povos indígenas que estão na luta pela permanência de suas culturas ficaram interessados em também fazer um aplicativo para suas próprias línguas. "Algumas comunidades me procuraram e felizmente conseguimos viabilizar outros dois aplicativos que estão em desenvolvimento", comemora a pesquisadora. Imagem mostra diferentes tipos de exercícios do Nheengatu App Reprodução Ao todo, o aplicativo conta com 6 diferentes exercícios: de memória, de selecionar palavras, de completar frases, de selecionar frases, de escrever frases, e de formar pares (veja figura acima). Como tudo começou A pesquisadora Suellen Tobler, à direita, e a professora Dailza Araújo, à esquerda Arquivo pessoal A desenvolvedora do projeto, Suellen Tobler, conta que tudo começou com o livro "Nheengatu Tapajowara", que ela ganhou de presente da professora Dailza Araújo, da escola indígena Suraraitá Tupinambá, na Aldeia São Francisco, em Santarém, no Pará. "Fui olhar o livro e percebi que a língua Nheengatu tinha certa semelhanças com o alemão, então eu fiquei muito curiosa e resolvi procurar cursos através de aplicativos para línguas, mas não achei nenhum voltado para línguas indígenas de povos do Brasil. Mas curiosamente, achei muitos aplicativos da Bíblia Judaico Cristã traduzida para diversas línguas indígenas. Foi quando eu percebi essa problemática", conta Suellen. O Nheengatu App foi lançado em outubro de 2021, com o apoio da Lei Aldir Blanc e da Secretaria de Cultura do Pará. Segundo Suellen, até setembro do ano passado, cerca de 2,2 mil usuários únicos da ferramenta já haviam sido registrados, mas nas comunidades, o uso do aplicativo costuma ser coletivo. "Em sala de aula, em algumas escolas indígenas, o app é usado através do projetor. Também não são todas as pessoas que possuem dispositivos móveis, então elas costumam compartilhar os aparelhos", diz a pesquisadora. 'Quanto maior o número de falantes, mais viva a língua estará' Imagem animada mostra funcionamento do Nheengatu App Reprodução Suellen conta que viajou por muitas aldeias e comunidades ribeirinhas para fazer oficinas de produção de conteúdo digital por meio de aplicativos gratuitos para celular. Assim, ela percebeu que era grande a demanda por materiais que pudessem documentar e apoiar a retomada linguística nessas regiões. "São os anciões das comunidades que preservam o conhecimento da língua, e poucos são os jovens que falam, atualmente", explica a pesquisadora. Suellen pontua que os jovens, não apenas os de comunidades indígenas, falam a linguagem da tecnologia. Ou seja, a informação digitalizada chega muito mais rápido para as novas gerações e este fator é fundamental para o processo de retomada linguística. Na página inicial do Nheengatu App, o usuário vê a seguinte frase: "Com a pressão linguística civilizatória, essa língua foi silenciada ao longo do tempo, mas continua viva. Quanto maior o número de falantes, mais viva ela estará!" 👉 A ferramenta de aprendizagem está disponível para download no celular, e também pode ser acessada por meio do site. LEIA TAMBÉM: Única escola indígena do DF é inaugurada em região nobre de Brasília Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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31/03 - Desafio LED: prazo de inscrição termina neste domingo; veja o que é preciso para concorrer a até R$ 85 mil
Prêmio total é de R$ 300 mil, que será dividido entre os participantes que apresentarem os melhores projetos com soluções para problemas da educação brasileira. Participantes do Desafio LED 2022. Weverton Alves/Arquivo pessoal Termina às 23h59 deste domingo (31) o período de inscrição do Desafio LED + g1 2024. A iniciativa quer ajudar estudantes com mais de 18 anos a desenvolver projetos e soluções para problemas da educação no país. As cinco melhores soluções serão premiadas em um total de R$ 300 mil. 💡 O "Desafio LED" é uma ação do Movimento LED - Luz na Educação, iniciativa da Globo e da Fundação Roberto Marinho em parceria com a escola Mastertech. Para se inscrever, é preciso preencher o formulário oficial. Os participantes precisam ter 18 anos ou mais e estar matriculado em um curso com pelo menos 100 horas de carga horária. (Veja outros detalhes mais abaixo.) Em sua terceira edição, o Desafio LED vai dividir o prêmio total de R$ 300 mil entre as cinco melhores ideias inscritas: 1º e 2º lugar: R$ 85 mil cada; 3º: R$ 60 mil; 4º: R$ 40 mil; 5º: R$ 30 mil. Mas, apesar do prêmio em dinheiro, vencedores das edições anteriores da iniciativa acreditam que o maior prêmio veio da experiência como um todo. Entre os principais benefícios listados pelos ex-participantes, estão: Reconhecimento de capacidades e orientação para o pleno desenvolvimento das ideias; Disponibilização de conhecimentos e ferramentas para definir e buscar os objetivos dos projetos; Oportunidade de colocar a mão na massa; Oportunidade de conhecer e interagir com outros jovens atuantes; Chance de superar desafios e ampliar os horizontes. Como montar uma ideia que tenha chances de ser a vencedora? Quais projetos já foram selecionados em concursos anteriores? 👉🏾 Veja EXEMPLOS DE PROJETOS VENCEDORES em edições anteriores: Plataforma que conecta estudantes que usam transporte público e fazem percursos parecidos para reduzir a vulnerabilidade nas ruas - (Maria Eduarda de Carvalho - 1º lugar na edição de 2023); Plataforma para doação, venda e aluguel de materiais de graduação entre os estudantes de faculdades públicas - (Lorena Trigueiro Rocha - 5º lugar na edição de 2023); Projeto de mentoria para jovens de baixa renda desenvolverem planos de ação voltados para a conclusão dos estudos e para a entrada no mercado de trabalho - (Weverton Alves, 2º lugar na edição de 2022). Desafio LED: veja como criar proposta para problemas da educação e concorra a até R$85 mil 👉🏾 Por onde COMEÇAR A MONTAR um projeto? Camila Achutti, sócia da Mastertech, dá a primeira dica: encontrar uma ideia que tenha conexão com a própria realidade de quem vai inscrevê-la. Essa proposta precisa ter uma abordagem objetiva, ou seja, ela deve ser algo possível de colocar em prática. Sempre esperamos ver ideias claras e viáveis, capazes de impactar positivamente milhares de pessoas. Camila Achutti sugere que o tema seja pessoal e familiar. "Se concentre em uma experiência pessoal que o tenha levado a pensar na ideia. Esse é sempre um caminho mais seguro, pois existe um conhecimento próprio que legitima o direito de discutir a questão em questão", afirma Camila. Maria Eduarda de Carvalho, que levou o 1º lugar em 2023, criou a "Entre Pontos", uma plataforma para conectar jovens estudantes que compartilham trajetos e rotas parecidas a fim de reduzir a vulnerabilidade nas ruas e ampliar o acesso às instituições de ensino. A ideia surgiu da vivência pessoal de Maria Eduarda. Quando aluna do ensino médio, ela saía de casa muito cedo e se sentia vulnerável nas ruas Niterói, no Rio de Janeiro, onde mora. "Primeiro, me surgiu a ideia de desenvolver um aplicativo de caronas, mas já existe uma ideia parecida. Então decidi migrar do transporte privado, da carona, para o transporte público, que é onde estava minha dor", explica Maria Eduarda. Tenho uma ideia, quais os próximos passos? Os alunos interessados em se inscrever na iniciativa precisam responder, em até 2 mil caracteres, a seguinte pergunta: Partindo da sua experiência pessoal, qual solução você desenvolveria para melhorar a utilização da tecnologia na educação? Pergunta motivadora do Desafio LED 2024. Reprodução A proposta deve ter: Qual o problema a ser resolvido; Como ele atinge as pessoas e afeta o cenário educacional; Qual a proposta para resolver este problema. A proposta deverá ser inscrita no formulário oficial do desafio (https://bit.ly/DESAFIO-LED-2024). Quantas são as etapas e como é a seleção? O Desafio LED possui cinco etapas, desde a inscrição até a definição dos cinco grandes vencedores. A princípio, são escolhidos 80 participantes dentre as inscrições submetidas. Ao longo das etapas, o número de participante é reduzido até restar apenas os 10 finalistas. A cada etapa, os participantes participarão de mentorias e oficinas online que os ajudarão a descobrir e demarcar os demais objetivos e a aplicabilidade de sua ideia. Isso vai ajudar definir o formato do projeto para a apresentação final. Durante a apresentação final dos projetos no Festival LED, no Rio de Janeiro, os ganhadores descobrirão suas respectivas colocações e seus prêmios em dinheiro, que vão de R$ 30 mil a R$ 85 mil. Todas essas etapas são acompanhadas pelos sócios da Mastertech. Enquanto a avaliação das fases eliminatórias é liderada por Fabio Ribeiro, Camila Achutti é responsável pela liderança pedagógica do Desafio. Cronograma e detalhamento das etapas do Desafio LED 🙋🏾‍♀️ Quem pode participar? Estudantes com mais de 18 anos. É preciso morar no Brasil e estar com matrícula ativa no primeiro semestre de 2024. São válidas matrículas em cursos livres, técnicos, de graduação ou de extensão, nacionais ou internacionais, formais ou não formais, com grade curricular mínima de 100 horas/aula. 🏆 5 ideias serão premiadas com um valor total de R$ 300 mil: 1º e 2º lugar: R$ 85 mil cada; 3º: R$ 60 mil; 4º: R$ 40 mil; 5º: R$ 30 mil. 📑 Confira em detalhes as CINCO ETAPAS do Desafio LED + g1: Inscrição: de 1º de fevereiro a 31 de março. Nesta etapa, os candidatos preenchem o formulário de inscrição (https://bit.ly/DESAFIO-LED-2024) e respondem à pergunta “Partindo da sua experiência pessoal, qual solução você desenvolveria para melhorar a utilização da tecnologia na educação?”. Seleção das histórias: A princípio, são escolhidas 80 participantes para a primeira oficina de inovação. Após a oficina, os candidatos fazem uma nova submissão da ideia e os 40 melhores projetos avançam para a próxima etapa. Seleção dos projetos: é realizada uma nova oficina de inovação, com o objetivo de idealizar os protótipos dos 40 projetos. Após a oficina, os candidatos fazem uma nova submissão da ideia e os 20 melhores projetos avançam para a próxima etapa. Seleção dos protótipos: acontece a terceira oficina de inovação, com foco em storytelling, para os candidatos adequem a apresentação dos protótipos ao evento final. Após a oficina, os candidatos fazem uma nova submissão da ideia e os 10 melhores projetos avançam para a próxima etapa. Fase final: é feita uma mentoria individual para os 10 candidatos finais e uma apresentação para a banca, que seleciona os 5 finalistas. Os escolhidos participarão presencialmente do encerramento do Desafio LED no Rio de Janeiro, onde receberão as respectivas premiações. 📅 A seleção dos 80 participantes iniciais deve acontecer até 10 de abril, e as demais etapas ocorrem ao longo dos meses seguintes, até a seleção e divulgação dos finalistas em 8 de junho. A apresentação final do Desafio e a premiação individual acontece em 22 de junho, durante o Festival LED.
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29/03 - A cidade espanhola nos EUA onde negros eram livres 200 anos antes do fim da escravidão
Quase 200 anos antes da abolição da escravidão, os negros que escapavam das plantações nos Estados Unidos viajavam para o sul, em direção a um lugar que prometia liberdade. A cidade de Saint Augustine é considerada o assentamento urbano mais antigo dos Estados Unidos Alamy/BBC Em outubro de 1687, uma canoa alcançou a costa de Saint Augustine, então um assentamento na Flórida espanhola e hoje a mais antiga cidade continuamente habitada no território continental dos Estados Unidos. Havia oito homens e duas mulheres na canoa, um dos quais carregava uma criança pequena nos braços. Os viajantes eram fugitivos negros que escaparam da escravidão enquanto viviam em uma plantação de propriedade britânica nas Carolinas, ao norte do país. Após desembarcarem, seguiram para o centro da cidade em busca de liberdade. “Eles foram se apresentar diante do governador de Saint Augustine”, disse Jane Landers, professora de história na Universidade Vanderbilt e diretora do Arquivo Digital das Sociedades Escravizadas, que documenta a história dos africanos escravizados e dos seus descendentes. “Eles lhe explicaram que estavam pedindo sua proteção e que queriam se tornar católicos”, contou a especialista. 👉 O grupo de viajantes tinha ouvido falar que aquele assentamento espanhol era um santuário religioso e oferecia liberdade a qualquer povo anteriormente escravizado que quisesse se converter ao catolicismo. Logo, outros negros escravizados das então colônias britânicas ao norte da Geórgia e das Carolinas começaram a fugir para o sul, em direção a Saint Augustine. No Império Espanhol, o conceito de escravidão era muito mais flexível do que no Império Britânico e não se baseava na raça Getty Images/BBC Perigos por mar e terra A jornada para a liberdade poderia levar uma semana ou mais e era perigosa. Os fugitivos navegaram por pântanos e águas costeiras cheias de perigos. Jacarés, panteras e cobras venenosas os aguardavam no deserto. Nas cidades e vilas, os caçadores de escravizados rondavam as ruas. O sol era implacável, assim como os mosquitos, e muitas vezes era difícil encontrar comida e água. Ainda assim, para muitos, a promessa de liberdade valia o risco. Às vezes, os nativos americanos Yamassee que viviam na Geórgia e nas Carolinas ajudavam os fugitivos, essencialmente criando um precursor da "Ferrovia Subterrânea" (a rede subterrânea organizada no século 19 para ajudar os escravizados a escapar das plantações do sul). ➡️ Esses 10 viajantes de canoa originais foram os primeiros a pedir asilo religioso documentado em Saint Augustine e, sem o conhecimento deles na época, lançaram as bases para uma sociedade mais justa e igualitária. Durante os 76 anos seguintes, uma pequena comunidade de americanos negros anteriormente escravizados viveu em Saint Augustine como pessoas livres, o que transformou a cidade em um lugar diferente de qualquer outro local no sul dos Estados Unidos. Fé acima da cor da pele Ao contrário do sistema de escravidão baseado na raça utilizado nas colônias britânicas, a Espanha via a instituição da escravidão de forma diferente. Seguia a antiga lei romana, segundo a qual qualquer pessoa, independentemente da cor da pele, poderia ser escravizada se tivesse sido condenada ou capturada em guerras. No entanto, de acordo com este código espanhol, as pessoas escravizadas tinham certos direitos e proteções, como o direito de serem tratadas com humanidade e de poderem recuperar a sua liberdade, por meio do serviço militar ou da conversão ao catolicismo. Os proprietários de escravizados espanhóis também não tinham permissão para separar famílias ou vender crianças para longe dos pais. Não se trata de cor de pele ou raça. De acordo com a lei romana, você tem direitos. Você pode denunciar maus proprietários que o maltratam e pode pedir uma mudança de propriedade. Além da religião, a política também desempenhou um papel na visão diferente da escravatura na Espanha, uma vez que os espanhóis precisavam de mais pessoas para defender o seu território contra os britânicos, que continuaram a atacar os seus assentamentos a partir do norte. O governador de Saint Augustine ouviu aqueles 10 pedidos de asilo e permitiu que eles ficassem por ali. À medida que mais negros anteriormente escravizados chegavam nos anos seguintes, o rei da Espanha emitiu uma proclamação em 1693. "Se alguém foge de uma colônia protestante e chega a uma colônia católica solicitando a 'verdadeira fé', como a chamavam, essa pessoa deve ser recebida e protegida", disse Landers, que estudou registros de arquivos na Espanha para sua tese sobre o tema “Para os britânicos, tudo girava em torno da raça e da cor da pele. Já os espanhóis diziam: 'Você é católico ou não?'”, explicou. Protegendo sua nova casa Em 1693, Saint Augustine era uma pequena cidade fronteiriça frequentemente atacada por piratas e tropas britânicas. Na altura em que esses primeiros requerentes de liberdade fugiram para o assentamento, o governo local decidiu ter um lugar no norte para monitorar os seus vizinhos britânicos e alertar os residentes caso tivessem de procurar abrigo. Em março de 1738, o governador Manuel Joaquín de Montiano construiu um posto avançado ao norte de Saint Augustine chamado García Real de Santa Teresa de Mose. Na época, cerca de 100 negros livres viviam em Saint Augustine e gozavam dos mesmos direitos que os seus vizinhos europeus. Eles ajudaram os espanhóis a construir as poucas cabanas de palha cercadas por muros de terra que se tornariam o Forte Mose. O forte abrigava 38 homens e suas famílias, a maioria negra. Os homens serviram à milícia do Forte Mose explorando a área circundante: alguns a cavalo, alguns em canoas e alguns a pé. Embora um oficial espanhol estivesse nominalmente encarregado do forte, um homem negro chamado Francisco Menéndez, que havia escapado de uma plantação na Carolina do Sul, era o seu capitão e líder militar de fato. Hoje, a cidade e o Forte Mose são considerados o primeiro assentamento negro livre legalmente sancionado no que mais tarde se tornaria os EUA. Um museu interativo atualmente destaca a história do forte e exibe artefatos descobertos durante a escavação do local. Dois anos após a construção do Forte Mose, as tropas britânicas atacaram, tomaram o local e o destruíram. Mas apenas 16 dias depois, membros da milícia Forte Mose liderada por negros e guerreiros Yamasee se juntaram num ataque surpresa matinal para derrotar os britânicos no que hoje é conhecido como a Batalha de Bloody Mose. Esses soldados negros e nativos se sentiram obrigados a defender o seu território, mas também os seus direitos, que sabiam que seriam melhor protegidos sob o domínio espanhol do que sob o domínio britânico. O fim do sonho Enquanto o Forte Mose estava em ruínas, seus ex-residentes negros retornaram para Saint Augustine, onde se casaram e se integraram à sociedade. “Era uma comunidade muito diversificada, cultural e etnicamente, em todos os sentidos”, disse Regina Gayle Phillips, diretora executiva do Museu e Centro Cultural Lincolnville, instalado na primeira escola pública negra da região. As exposições do lugar abrangem 450 anos, desde os impérios da África Ocidental, a presença negra na Flórida colonial e também os dias atuais. Em 1752, o Forte Mose foi reconstruído em um local ligeiramente diferente e o governo espanhol pediu novamente a alguns residentes negros de Saint Augustine que protegessem o posto. Quando não policiavam os britânicos, os residentes também cultivavam, caçavam, pescavam e tinham os mesmos direitos que os brancos. Mas 11 anos depois, em 1763, os espanhóis venderam a Florida aos britânicos em um tratado de paz, extinguindo efetivamente essa pequena ilha de liberdade no que viria a ser o Sul dos Estados Unidos. “Todos tiveram que fazer as malas e partir porque sabiam que os ingleses viriam e estabeleceriam o mesmo tipo severo de escravidão, onde seriam considerados nada mais do que propriedade”, disse Landers. E eles fizeram as malas, partiram e seguiram para Cuba, que permaneceu sob o domínio espanhol no tratado. “Todos em Saint Augustine se foram, até mesmo os nativos americanos”, disse Kathleen Deagan, arqueóloga e professora associada de Antropologia e História na Universidade da Flórida, que passou quase meio século desenterrando o passado de Saint Augustin. A partir dos documentos temos a sensação de que o que eles realmente não queriam era viver sob o domínio protestante, mas certamente não queriam viver com os britânicos, os seus antigos escravizadores. Como resultado, o Forte Mose logo foi abandonado e esquecido. Um renascimento, mas com problemas Quando a escravidão terminou após o fim da Guerra Civil Americana em 1865, os negros que foram trazidos para Saint Augustine sob o domínio britânico formaram uma comunidade livre. O bairro foi inicialmente chamado de Pequena África, mas logo foi renomeado como Lincolnville, em homenagem ao presidente assassinado, Abraham Lincoln. Homens e mulheres livres alugaram terras ao longo das margens pantanosas do riacho María Sánchez, fazendo com que elas se tornassem seus lares. “Havia laranjais, que eram divididos e alugados para pessoas a partir de US$ 1 por ano. Alguns descendentes das famílias ainda moram aqui”, disse Phillips. Lincolnville foi listada no Registro Nacional de Locais Históricos em 1991 e hoje, o bairro de 45 quarteirões abriga muitas casas e empresas vitorianas que remontam à sua fundação por negros libertos. Saint Augustine e seus residentes também desempenharam um papel fundamental no movimento pelos direitos civis. Em 1964, o ativista local Robert B. Hayling convidou Martin Luther King Jr. para unir forças com os moradores da cidade. Em 9 de junho de 1964, King foi preso após se recusar a sair de um restaurante segregado em um dos hotéis da cidade, o que virou notícia nacional. Mais tarde, seu assessor, Andrew Young, liderou uma marcha noturna de Lincolnville até a Praça da Constituição da cidade (o espaço público mais antigo dos EUA), onde foram atacados por uma multidão enfurecida, o que também foi amplamente divulgado pela mídia. Uma escultura de bronze no extremo leste da praça exibe orgulhosamente os rostos daqueles que protestaram pacificamente durante o movimento pelos direitos civis em Saint Augustine, enquanto no extremo oeste, os visitantes podem visitar a marcha de Young pelos direitos civis seguindo as pegadas de bronze na calçada. Um farol de liberdade Poucos dias depois, o gerente do hotel foi fotografado derramando ácido em uma piscina onde pessoas negras e brancas nadavam juntas para protestar contra a segregação. O incidente gerou protestos que duraram dias, foram transmitidos pela televisão e chegaram às primeiras páginas dos jornais de todo o mundo. Finalmente, em 2 de Julho, o presidente Lyndon Johnson sancionou a Lei dos Direitos Civis, que proibia a discriminação com base na raça, cor, religião, sexo ou origem nacional e inaugurou a integração de escolas e outras instalações públicas. “Os acontecimentos em Saint Augustine foram fundamentais (para a aprovação da lei)”, disse Phillips. Hoje, o histórico Forte Mose foi reconstruído em seu segundo local. Os visitantes podem ver representações do forte original no Museu Fort Mose e também traçar a história do primeiro assentamento africano livre legalmente sancionado em exposições interativas. Ao longo de fevereiro, durante o Mês da História Negra, e em junho (o mês em que os britânicos atacaram o forte), atores locais reconstituem a Batalha de Bloody Mose. O Museu e Centro Cultural de Lincolnville também apresenta exposições sobre as origens da comunidade e a era dos direitos civis na cidade. Centenas de objetos e fotografias destacam as histórias de moradores e manifestantes locais de Lincolnville, incluindo um cartão de impressões digitais da polícia que documenta a prisão de Martin Luther King. Estamos apenas tentando garantir que as pessoas entendam a riqueza da história que começou aqui há mais de 450 anos. Este artigo foi publicado na BBC Travel. Para ler a versão original (em inglês), clique aqui.
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28/03 - Professora com transtorno do espectro autista usa experiência de vida para ensinar sobre diversidade no DF
Sara Borges desenvolveu a fala aos 10 anos. Aos 37, usa voz para ensinar alunos da rede pública de Brasília. Professora com transtorno do aspectro autista usa experiência de vida para ensinar no DF Sara Borges desenvolveu a fala aos 10 anos por causa do autismo nível 2 — em uma escala que vai de 1 a 3. Atualmente, aos 37 anos, ela usa a voz para ensinar alunos da rede pública do Distrito Federal. "Quando eu era criança era difícil me comunicar com as pessoas, falar o que eu sinto. Eu sofria muito bullying na escola e não tinha empatia. Eu pensava 'quando eu crescer, quero ser professora porque eu quero mudar essa realidade'", conta Sara. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. Esse é o primeiro emprego da Sara, aprovada para o concurso de professora da Secretaria de Educação do DF. Além do conteúdo programado, ela aproveita a influência dentro de sala para ensinar sobre tolerância, diversidade e respeito às diferenças. Sara Borges é professora da rede pública de educação do DF TV Globo/Reprodução No início do mês de março, na semana de conscientização e promoção da educação inclusiva, a professora preparou atividades para que os alunos vivenciassem como é ter algum tipo de deficiência (veja o vídeo no começo da reportagem). Os alunos aprovaram. "A maioria do que a gente faz dentro da sala de aula, a gente faz com muitas brincadeiras. Diferente de todas as professoras, ela presta mais atenção em nós, faz aulas mais divertidas", conta Marina Sofia, de 9 anos. "Ela é muito divertida. Faz um monte de experimentos e umas aulas muito divertidas", diz Isaac Alves, também de 9 anos. A coordenadora da Escola Classe da Asa Sul, na região central de Brasília, Jeane Lima, diz que os ensinamentos de Sara vão além da sala de aula. "A gente poder ver onde a Sara chegou é um exemplo para nós, para os pais da escola e para os professores. A Sara é incrível. Ela consegue ter um domínio de turma, acessar o coração das crianças. Isso, em uma sala de aula, é super importante", diz Jeane. Sara não está sozinha nessa jornada pela diversidade. Segundo a Secretaria de Educação do Distrito Federal, na rede pública são mais de 30 mil alunos com deficiência. Desse total, são quase 9 mil com transtorno de espectro autista. LEIA TAMBÉM: DENÚNCIA: escola particular do DF se nega a matricular novos alunos autistas, dizem pais DIAGNÓSTICO: saiba como identificar espectro em crianças Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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28/03 - O ano que durou 445 dias por confusão no calendário
Para domar um calendário romano irremediavelmente desorganizado, Júlio César acrescentou meses, retirou alguns e introduziu os anos bissextos. Mas todo esse grande projeto quase foi frustrado por um erro básico de contagem. O projeto de Júlio César de organizar o confuso calendário romano quase naufragou devido a um erro básico de contagem. Getty Images Houve uma época em que o calendário era muito confuso. A festa da celebração da colheita, por exemplo, caía no meio da primavera. Era o século 1º a.C. Segundo os rituais, deveria haver verduras e legumes prontos para comer durante a festa. Mas bastava o agricultor olhar para o campo e ficava claro que ainda faltavam vários meses para a colheita. O motivo era o primeiro calendário romano. Ele ficou tão desregulado que importantes festivais anuais tinham cada vez menos semelhança com o que acontecia no mundo real. Até que Júlio César (100 a.C.-44 a.C.) quis corrigir esse sistema que não fazia mais sentido. Não era uma tarefa fácil. Era preciso acertar o calendário do Império Romano e ajustá-lo para a rotação da Terra sobre seu eixo (um dia) e sua órbita em torno do Sol (um ano). 🧮 A solução encontrada por César nos deu o ano mais longo da história. Ele acrescentou meses ao calendário e os retirou em seguida, fixou o calendário às estações e criou o ano bissexto. Foi um projeto enorme, que quase deu errado devido a uma peculiaridade da matemática romana. Estamos em 46 a.C. – o Ano da Confusão. Os dias de festa e de jejum, entre outras datas importantes em Roma, eram sujeitos aos caprichos de um calendário que mudava de forma imprevisível ano após ano. Getty Images via BBC O ano de 46 a.C. pode ter sido complicado, mas não tanto quanto o anterior, segundo a professora de história Helen Parish, visitante da Universidade de Reading, no Reino Unido. O primeiro calendário romano era determinado pelos ciclos da Lua e do ano agrícola. Observando com os olhos modernos, a impressão é que está faltando alguma coisa. 'Pronto para a vida': escola alemã tem disciplina que ensina a cozinhar, lavar roupa e declarar imposto de renda 🗓️ O ano tinha apenas 10 meses. Ele começava em março (primavera do hemisfério norte) e o décimo mês do ano – o último – era o que conhecemos hoje como dezembro. Seis desses meses tinham 30 dias e quatro tinham 31. Ao todo, o ano tinha 304 dias. Como ficavam, então, os dias restantes? "Os dois meses do ano em que não havia trabalho a se fazer no campo simplesmente não eram contados", explica Parish. Em outras palavras, o Sol nascia e se punha, mas oficialmente não havia se passado nenhum dia no primeiro calendário romano. "Foi aí que começaram a surgir as complicações", segundo a professora. Em 731 a.C., o segundo rei de Roma, Numa Pompílio (753 a.C.-673 a.C.), decidiu melhorar o calendário romano. Ele acrescentou meses adicionais para cobrir o período de inverno. "Qual o propósito de um calendário que cobre apenas uma parte do ano?", questiona Parish. A resposta de Pompílio foi acrescentar 51 dias ao calendário, criando os meses que hoje chamamos de janeiro e fevereiro. Esta extensão aumentou o ano-calendário para 355 dias. O número pode parecer estranho, mas foi escolhido de propósito. Este número faz referência ao ano lunar (12 meses lunares), que tem 354 dias de duração. Mas, "devido à superstição romana com os números pares, foi acrescentado mais um dia, totalizando 355", segundo Parish. Nesta reorganização, os meses foram dispostos de forma que todos tivessem números ímpares de dias, exceto fevereiro (28). "Por isso, fevereiro é considerado de má sorte e a época de purificação social, cultural e política", segundo Parish. "É o momento em que você tenta apagar o passado." Para a professora, o calendário de Pompílio foi um bom progresso, mas ainda faltavam cerca de 11 dias para atingir o ano solar de 365 dias e algumas horas. 👉🏾 "Mesmo esse calendário melhorado de Pompílio ainda fica dessincronizado com as estações com muita facilidade." Perto do ano 200 a.C., o calendário estava tão adiantado que os romanos registraram como tendo ocorrido em 11 de julho um eclipse solar quase total observado em Roma no que hoje seria o dia 14 de março. Quando o calendário atingiu esse ponto de "erro tão catastrófico", nas palavras de Parish, o imperador e os sacerdotes romanos recorreram à inserção pontual de um mês "intercalado" adicional, chamado mercedônio, para tentar realinhar o calendário às estações. O que é o equinócio de outono, por que ele 'muda' a duração do dia e qual sua relação com o eixo da Terra? Mas isso não funcionou muito bem. Havia, por exemplo, a tendência de acrescentar o mercedônio quando autoridades públicas favorecidas estavam no poder e não para alinhar rigorosamente o calendário às estações. O historiador e escritor clássico Suetônio (69-c. 141) queixava-se de que "muito tempo atrás, a negligência dos pontífices havia desordenado muito [o calendário], com seu privilégio de acrescentar meses ou dias segundo sua própria vontade, de forma que os festivais da colheita não caíam no verão, nem o das uvas, no outono." O que nos traz de volta a Júlio César. No ano de 46 a.C., já estava programada a inclusão de um mercedônio. Mas o astrônomo Sosígenes de Alexandria, consultor de César, afirmou que o mês adicional não seria suficiente daquela vez. Seguindo o conselho de Sosígenes, César acrescentou mais dois meses nunca vistos antes ao ano de 46 a.C. – um com 33 e outro com 34 dias – para alinhar o calendário ao Sol. Estas adições criaram o ano mais longo da história, com 445 dias, ou 15 meses. Após 46 a.C., o mercedônio, os dois meses novos e a prática de meses intercalados como um todo foram abandonados. Se tudo corresse bem, eles não seriam mais necessários. "Então, voltamos a ter um calendário mais parecido com o que reconhecemos", conta Parish. "Excelente! Isso parece familiar e renovador!" Os eventos agrícolas e as comemorações religiosas eram intimamente relacionados na Roma Antiga. O difícil era acompanhar essas datas com o instável sistema de calendário da época. Getty Images Mas, infelizmente, alinhar o calendário ao Sol é uma coisa – mantê-lo alinhado é outra, bem diferente. O inconveniente é que a quantidade de dias (rotações da Terra) em um ano (órbitas da Terra em torno do Sol) não é um número redondo. "É onde todo o problema começa", explica o astrônomo Daniel Brown, da Universidade Trent de Nottingham, no Reino Unido. O número de rotações terrestres em uma volta do planeta em torno do Sol é de cerca de 365,2421897... dias. Em outras palavras, a Terra acrescenta quase um quarto de volta a mais sempre que completa uma órbita em torno do Sol. Por isso, Sosígenes calculou que acrescentar um dia a cada quatro anos – em fevereiro – ajudaria a compensar o desalinhamento. Este sistema teria funcionado muito bem, pelo menos por algum tempo, não fosse a forma idiossincrática em que os romanos contavam os anos. "Eles olhavam para os anos e contavam: um, dois, três, quatro", explica Parish. "Depois, eles recomeçavam a partir de quatro – então, eles contavam: quatro, cinco, seis, sete. Depois, eles começavam em sete – eram sete, oito, nove, 10." "Eles contavam acidentalmente um desses anos duas vezes. Não levou muito tempo para perceber o início do desalinhamento." Isso foi corrigido no reinado de Augusto. Os anos bissextos passaram a acontecer a cada quatro anos em vez de três e o calendário juliano começou a funcionar bem. "Júlio César está quase chegando aonde o calendário precisa estar", afirma Parish. Novas correções O calendário juliano poderia ter sido o calendário definitivo, se a rotação da Terra, de fato, completasse exatamente um quarto de volta a mais todos os anos. Mas essa diferença é um pouco menor, em cerca de 11 minutos. "Ou seja, lentamente ainda estamos ficando dessincronizados", segundo Brown. Os eventos agrícolas e as comemorações religiosas eram intimamente relacionados na Roma Antiga. O difícil era acompanhar essas datas com o instável sistema de calendário da época. Getty Images A solução surgiu apenas muito tempo depois, em 1582, quando o papa Gregório 13 fez novos ajustes no calendário. "Foi a correção feita pela reforma do calendário gregoriano – observar esse ponto e adaptar um pouco mais o calendário, cuidando para que [o ano bissexto] não seja apenas a cada quatro anos, mas para pular essa regra a cada 100 anos", explica Brown. "Mas, depois, eles observaram que isso não coincide completamente – a compensação é excessiva. Por isso, a cada 400 anos, você não pula a regra." É por isso que o ano 2000, por exemplo, foi bissexto: porque ele é divisível por 100 e por 400. Para Parish, "tudo isso parece muito organizado", mas é aqui que a política começa a influenciar o curso do tempo. "É um calendário implementado por uma bula papal e, na verdade, não tem valor fora da Igreja e da tutela do bispo de Roma." Houve pessoas que se queixaram de que o papa, na verdade, roubou 10 ou 11 dias do seu tempo ao ajustar o calendário, segundo Parish. Ainda assim, ao longo dos séculos, cada vez mais países passaram a adotar o calendário gregoriano. "Mas, gloriosamente, eles não adotaram todos ao mesmo tempo", afirma Parish. "Se arrumou o calendário, mas passou a haver calendários em diferentes países seguindo modelos muito distintos." Essas discrepâncias fazem com que "você possa ter a situação mais bizarra, na qual uma resposta escrita na Inglaterra para uma carta que chegou da Espanha pode parecer ter sido enviada antes da chegada da primeira", explica Parish, "porque a Inglaterra está na frente da Espanha no calendário." Desde que foi amplamente adotado e sincronizado internacionalmente, o calendário gregoriano passou a oferecer alguns milênios de precisão. Mas ele ainda não é perfeito. Na verdade, em meados do século 56, "alguém irá coçar a cabeça e dizer, 'espere um minuto, hoje deveria ser segunda, mas na verdade parece terça-feira'", segundo Parish. "Acho que provavelmente é uma margem de erro que iremos acabar aceitando." Pelo menos, o calendário gregoriano nos fez ganhar algum tempo, até que chegue essa segunda-feira. Ou será que é terça? Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future. VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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26/03 - Fazenda propõe reduzir juros da dívida de estados que ampliarem matrículas no ensino técnico
Ministério apresentou ideia a governadores do Sul e Sudeste, e diz já ter aval de Lula. Projeto ainda será enviado ao Congresso; meta é ter 3 milhões de alunos no ensino técnico até 2030. O governo federal anunciou nesta terça-feira (26) uma proposta para reduzir os juros da dívida dos estados – um dos principais problemas que afetam os caixas dos governadores. Em troca, a proposta exige que os estados ampliem as matrículas no ensino médio técnico. Segundo o Ministério da Fazenda, a ideia já tem aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O programa, chamado "Juros por Educação", foi apresentado em reunião nesta terça aos governadores de estados das regiões Sul e Sudeste. O material divulgado pela União fala em "mais que triplicar o número de matrículas" no ensino médio profissionalizante. De acordo com o governo federal, a dívida dos estados soma R$ 740 bilhões. Quatro estados concentram 90% desse passivo: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A proposta ainda será enviada ao Congresso como projeto de lei – ou seja, as regras só passam a valer quando o texto for aprovado e sancionado. Segundo o material divulgado pela Fazenda, o programa funciona assim: a adesão dos estados será voluntária; quem aderir poderá pagar juros menores, entre 2025 e 2030, nos contratos de refinanciamento da dívida; em troca, terá que bater metas de expansão das matrículas no ensino médio técnico; quem cumprir a meta recebe uma redução de juros permanente; estados que não tiverem dívidas com a União, ou tiverem dívida baixa, terão acesso prioritário a crédito e ações adicionais para expandir o ensino técnico. Ainda de acordo com o governo, a meta é atingir 3 milhões de alunos matriculados no ensino médio técnico até 2030. Estudo concluiu que uma oferta maior de Ensino Médio Técnico tornaria o país mais produtivo Mais matrículas, menos juros Segundo o Ministério da Fazenda, a ideia é que os estados usem a "economia" gerada pelos juros mais baixos para investir em educação. Quanto maior essa reserva, maior a redução do juro. taxa de juros de 3% ao ano: estado terá que investir 50% da economia em vagas no ensino médio ⁠juros de 2,5% ao ano: estado terá que investir 75% da economia em vagas para o ensino médio ⁠taxa de juros de 2% ao ano: estado terá que investir 100% da economia em vagas no ensino médio Os estados argumentam que o atual modelo – que ora leva em conta a Selic, ora leva em conta o IPCA – faz as dívidas crescerem em um nível que o montante se torna impagável. Os estados vinham pedindo que o chamado indexador da dívida passasse a levar em conta o crescimento da economia ou um percentual fixo de 3% ao ano. O governo de São Paulo, por exemplo, afirma que paga anualmente R$ 21 bilhões – e ainda assim não consegue quitar a dívida. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a proposta do governo visa criar um "grande ProUni" da educação profissional, citando o programa que atualmente oferece bolsas de estudos em cursos de graduação em instituições de ensino superior do setor privado. "Então, o presidente está muito preocupado com a questão da juventude, sobretudo os 16 a 24 anos, e ele quer o foco das contrapartidas na educação profissional do jovem brasileiro. Então, o presidente está com isso na cabeça, é uma espécie de grande ProUni da educação profissional. Um programa de impacto para fortalecer as perspectivas de desenvolvimento do jovem brasileiro", afirmou o ministro da Fazenda. Estatais dos estados também podem diminuir juros Outra possibilidade citada pelo ministro Fernando Haddad é a de que os estados que "entregarem" ativos, como empresas estatais, podem ter abatimento em suas dívidas e conseguir juros menores com a União. Ele não explicou o que "entregar" significa, se seria uma federalização das empresas estatais, ou venda com consequente pagamento dos recursos arrecadados ao governo federal. "O estado que, porventura, tiver um ativo precificável, que possa ser entregue no pagamento da dívida, vai ter um bônus no pagamento da dívida. Entrega, abate na dívida e ganha um bônus na taxa de juros. Então é um estímulo grande para valorizar o ativo que porventura estiver sendo repassado para a União", disse Haddad. Envio do projeto deve levar dois meses Ao final do encontro com os governadores no Ministério da Fazenda, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que a reunião serviu para que fossem apresentadas as "balizas" da proposta. Segundo ele, como os governadores ainda vão analisar a ideia, o projeto de lei só deve ser enviado ao Congresso Nacional em cerca de dois meses. Nesse período, ficou acertado que o Tesouro Nacional também terá reuniões com as secretarias estaduais de Fazenda. "Hoje fechamos as balizas gerais, elas foram bem aceitas pelos governadores. O foco da renegociação está ligado aos juros. […] Agora, vamos nos dedicar nas próximas semanas ao diálogo com os secretários estaduais de Fazenda, com governadores, diálogo com o Congresso Nacional para que a gente possa construir. E estatelemos como calendário para trabalharmos nos próximos dois meses da construção à proposta final”, afirmou o ministro. O que disseram os governadores Após a reunião, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que os governadores estimam serem necessárias ao menos mais duas reuniões no Ministério da Fazenda. Segundo ele, a proposta apresentada nesta terça é “boa”, mas agora os governadores precisam analisar se será “suficiente”. Também presente ao encontro, o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, disse que a situação não é pontual, acrescentando que a forma como os juros são calculados atualmente fazem a dívida crescer “muito mais que a capacidade de pagá-la”. Segundo ele, a dívida do estado em 1997 era de R$ 13 bilhões; o estado já pagou R$ 153 bilhões e ainda deve R$ 188 bilhões, somadas todas as dívidas com a União. O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou o estoque da dívida vem crescendo a tal ponto que "subtrai” a capacidade de fazer investimentos. “Compromissos interessantes foram colocados hoje aqui, compromissos que vão proporcionar futuro, principalmente atrelado a investimentos na educação profissional. Obviamente, a gente colocou outras possibilidades, outros compromissos que os estados podem fazer para alcançar esses objetivos e aumentar o bem-estar da população, então, eu entendo que é um passo fundamental que a gente eta dando para diminuir essa asfixia financeira”, declarou.
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26/03 - Pé-de-Meia: pagamento da primeira parcela começa nesta terça; confira o calendário e saiba quem tem direito
Programa é voltado para alunos de 14 a 24 anos, regularmente matriculados no ensino médio da rede pública. Governo vai pagar R$ 2 mil por ano, além de bônus, a quem seguir os critérios do benefício. O Pé-de-Meia prevê o pagamento de incentivo mensal de R$ 200. Fabiane de Paula/Sistema Verdes Mares Os alunos contemplados pelo programa Pé-de-Meia que fazem aniversário em janeiro e fevereiro vão receber nesta terça-feira (26) a primeira parcela do benefício. O valor de R$ 200 é referente ao bônus de matrícula e não é descontado do incentivo de frequência de R$ 1.800, que será pago em nove parcelas ao longo do ano. (Veja mais abaixo). 👉🏾 Pé-de-Meia é um programa do Governo Federal, que, por meio do MEC, irá fornecer incentivo financeiro para estudantes de baixa renda regularmente matriculados no ensino médio da rede pública, como forma de combater a evasão escolar. Serão contemplados alunos dos 14 aos 24 anos, cuja família está inscrita no Cadastro Único (CadÚnico). (Veja os detalhes mais abaixo.) Os beneficiários que fazem aniversário em outros meses também receberão a primeira parcela ainda nos próximos dias, a depender do mês de nascimento, de acordo com o seguinte cronograma: janeiro e fevereiro: 26 de março março e abril: 27 de março maio e junho: 28 de março julho e agosto: 1º de abril setembro e outubro: 2 de abril novembro e dezembro: 3 de abril De acordo com Camilo Santana, ministro da Educação, a Caixa Econômica, responsável pelos repasses para as contas dos estudantes, ainda vai avaliar se o mês de aniversário seguirá sendo o critério para pagamento das próximas parcelas do benefício. Como saber se foi contemplado Os estudantes de ensino médio podem conferir se foram contemplados pelo programa por meio do aplicativo Jornada do Estudante, do Ministério da Educação (MEC). Se for beneficiado pelo programa, o aluno encontrará no app informações como: parcelas de matrícula;  calendário de pagamento;  data de pagamento;  valor da parcela;  identificação de competência da parcela;  informações de banco, agência e conta em que a parcela foi paga;  situação da parcela; e data de processamento de cada informação. Para os que não tiverem sido contemplados, o aplicativo deve informar o motivo da rejeição e apresentar orientações ao estudante para solucionar a situação.  🧑‍🎓 Quem pode participar do 'Pé-de-meia' De acordo com a portaria, podem participar do programa os estudantes matriculados em escolas públicas e que estejam cursando o ensino médio ou o programa para Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, é necessário: ter entre 14 e 24 anos; ter CPF; e fazer parte de família inscrita no Cadastro Único (CadÚnico). Segundo MEC, terão prioridade para receber o benefício os estudantes que integrem famílias que recebem o Bolsa Família. Por outro lado, alunos cadastrados como família unipessoal no Bolsa Família não têm direito ao programa. 💰 Quais valores serão pagos O MEC informou que o benefício será pago por etapas, da seguinte forma: incentivo para matrícula, no valor anual de R$ 200; incentivo de frequência, no valor anual de R$ 1.800; incentivo para conclusão do ano, no valor anual de R$ 1.000; incentivo para o Enem, em parcela única de R$ 200. No caso do incentivo de frequência, o valor total de R$ 1.800 será pago em nove parcelas ao longo do ano. A exceção será para este ano, quando o benefício será pago em oito parcelas, totalizando R$ 1.600. ✅ Quais são as regras do programa O MEC informou que vai exigir uma série de dados sobre a vida escolar do estudante para que o benefício seja pago regularmente. Confira a seguir: Incentivo de matrícula: é necessária que a inscrição no ano escolar seja feita até dois meses após o início do ano letivo. Incentivo de frequência: o aluno terá de ter frequência de pelo menos 80% das horas letivas. Caberá às instituições de ensino comunicar ao governo, todos os meses, a frequência escolar dos estudantes. Incentivo de conclusão: o estudante deverá passar de ano para receber o valor anual. Além disso, se for o caso, o aluno terá de ter a participação comprovada em exames de avaliação, como o do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Incentivo do Enem: o valor só será pago aos alunos que concluírem o ensino médio e estiverem presentes nos dois dias de provas. Em caso de retorno após abandono ou reprovação, o governo informou que só pagará o benefício uma única vez para cada série do ensino médio. ❌ Serão desligados do programa os alunos que: optarem por abandonar o "Pé-de-meia" voluntariamente; que não estiverem mais dentro dos critérios de elegibilidade, como idade e inscrição no CadÚnico; que reprovarem de ano duas vezes consecutivas; que abandonarem os estudos por mais de dois anos; que cometerem qualquer tipo de fraude ou irregularidade. 🗓️ Como será o calendário de pagamento O bônus de matrícula, no valor de R$ 200, será pago entre os dias 26 de março e 3 de abril. Caso algum aluno não receba o benefício por alguma atualização nos dados do governo, o pagamento será feito até 1º de julho. Para o incentivo de frequência, no valor de R$ 1.600, o pagamento será feito em oito parcelas. Veja os prazos na tabela a seguir: Pagamento do incentivo de frequência Já em relação ao incentivo de conclusão, no valor de R$ 1.000, o depósito na poupança estudantil será feito entre 24 de fevereiro de 2025 e 3 de março de 2025. Caso algum aluno não receba o benefício por alguma atualização nos dados do governo, o pagamento será feito até 5 de maio de 2025. Por fim, o incentivo para o Enem, de R$ 200, será depositado entre 23 de dezembro de 2024 e 3 de janeiro de 2025. VÍDEOS: notícias de Educação
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25/03 - Quanto custa fazer faculdade particular? Mensalidade média de cursos presenciais é de R$ 1.132; na EAD, R$ 348
Dados foram levantados pelo Instituto Semesp, com base nos valores cobrados por 236 instituições de ensino, em todas as regiões brasileiras. Valores caíram em relação a 2023. Maior parte dos alunos de licenciatura da rede privada escolhe formato EAD Reprodução/Freepik No ensino superior privado, a mensalidade cobrada pelas instituições de ensino varia significativamente dependendo do regime das aulas: cursos presenciais custam mais do que o triplo dos aplicados à distância (R$ 1.132 x R$ 348). É o que mostra um estudo do Instituto Semesp, divulgado nesta segunda-feira (25), a partir de dados de 236 centros acadêmicos, faculdades e universidades das cinco regiões brasileiras, entre fevereiro e março de 2024. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) vêm mostrando um crescimento avassalador da EAD, principalmente em cursos de licenciatura: o número de professores que se formaram à distância no ensino privado mais do que dobrou em uma década: saltou de 28,2% (2002) para 60,2% (2022). No mesmo período, houve uma queda na qualidade dessas graduações, acendendo um alerta no Ministério da Educação (MEC). ➡️As mensalidades mais baixas são justamente um dos grandes chamarizes da EAD. Em uma provável tentativa de recuperar parte do mercado, as instituições reduziram os preços dos cursos presenciais entre 2023 e 2024, mostra o Semesp: considerando a inflação, houve uma queda de 16,7% nos valores cobrados, em oposição a uma redução menor (de 4,5%) nas tarifas de graduações à distância. Com isso, o número de alunos aumentou em ambas as modalidades: 4,7% nos cursos presenciais e 5,1% nos remotos. 💰Quais são os cursos mais caros? E os mais baratos? 💲Cursos presenciais mais caros Medicina: R$ 10.156 Veterinária: R$ 2.423 Odontologia: R$ 2.153 🔎Cursos presenciais mais procurados Administração: R$ 930 Direito: R$ 1.141 💲Cursos EAD mais caros Engenharia elétrica: R$ 574 Engenharia civil: R$ 556 Engenharia de produção: R$ 525 🔎Cursos EAD mais procurados Pedagogia: R$ 301 Administração: R$ 333 Vídeos Número de professores formados em EAD na rede privada dobra em 10 anos
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22/03 - Pela primeira vez, índice de alunos de 6 a 14 anos no ensino fundamental fica abaixo da meta no Brasil, mostra Pnad
Desde a pandemia, após o fechamento das escolas por um período prolongado, número de alunos de 6 a 14 anos com atraso escolar vem aumentando. Sala de aula de escola no Maranhão Divulgação/Governo do Maranhão Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) Educação, divulgados nesta sexta-feira (22), mostram que o Brasil retrocedeu em um aspecto importante da escolarização de crianças e jovens: pela primeira vez desde 2016, o índice de alunos de 6 a 14 anos matriculados no ensino fundamental ficou abaixo da meta prevista para o país. ➡️O levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) afirma que, em 2023, 94,6% dos estudantes dessa faixa etária estavam na escola na etapa correta para a idade. O PNE (Plano Nacional de Educação), no entanto, estabelece o objetivo de manter um patamar mínimo de 95% até 2024. Isso significa que, seja por evasão, abandono escolar durante um período ou reprovação, alunos estão: atrasados, ainda na pré-escola (caso de 4,8% do total de brasileiros de 6 a 14 anos); ou fora das instituições de ensino (0,4%). "Esses números preocupam. Temos agora muito mais crianças que deveriam estar no ensino fundamental e ainda estão na pré-escola. Acreditamos que isso ainda é efeito da pandemia, de crianças que não tiveram educação infantil com as escolas fechadas por dois anos e, quando tudo normalizou, começaram atrasadas a trajetória escolar", afirma Gabriel Corrêa, diretor de políticas públicas da ONG Todos Pela Educação. ➡️Os microdados da Pnad mostram que, em 2019, 11% das crianças de 6 anos (que, pela idade, deveriam estar no ensino fundamental) ainda estudavam na pré-escola. Em 2023, o índice saltou para 29%. Fechamento das escolas na pandemia levou a maior atraso De fato, como disse o especialista acima, o "tombo" foi ainda maior após a Covid-19: segundo a Pnad, o índice (chamado de "frequência escolar líquida") caiu de 97,1% em 2019 para 95,2% em 2022. Em 2020 e 2021, por questões sanitárias, não houve coleta de dados. Veja o gráfico abaixo: Censo Escolar já havia mostrado distorção idade-série O Censo Escolar 2023, divulgado em fevereiro deste ano, mostrou que: 👨‍🏫Em 2023, no 6º ano do ensino fundamental, 15,8% dos estudantes não tinham a idade adequada (porque foram reprovados, por exemplo, ou porque abandonaram o colégio em algum período). Na ocasião, especialistas já haviam explicado que esse é mais um fator que pode aumentar o risco de, futuramente, o jovem interromper os estudos. Jovens sem estudar e sem trabalhar, analfabetismo... veja outros destaques da Pnad ✏️GERAÇÃO 'NEM-NEM': Entre os jovens de 15 a 29 anos, 9,6 milhões estavam sem estudar e sem trabalhar. O número equivale a 19,8% da população nessa faixa etária. ✏️ANALFABETISMO: Segundo o IBGE, 9,3 milhões de pessoas com 15 anos ou mais eram analfabetas em 2023 (5,4%). Dessas, 5,1 milhões (54,7%) viviam na região Nordeste. ✏️JOVENS NA ESCOLA: O percentual de pessoas de 25 anos ou mais com o ensino médio completo passou de 29,9% em 2022 para 30,6% em 2023. ✏️O DESAFIO DA CRECHE: Entre as crianças de 0 a 3 anos, a taxa de escolarização foi de 38,7%. Houve um crescimento de 2,7 pontos percentuais se comparado com 2022, quando 36% das crianças da faixa etária estavam na creche. Embora essa etapa escolar não seja obrigatória, a meta do PNE é chegar a 50% até 2024. Vídeos
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21/03 - Novo Ensino Médio: como é hoje e como pode ficar
Texto aprovado pela Câmara (e que ainda depende do aval do Senado) prevê nova distribuição da carga horária das disciplinas obrigatórias. Entidades avaliam as principais mudanças. Entenda o novo Ensino Médio O projeto que busca mudar o Novo Ensino Médio e que foi aprovado nesta quarta-feira (20), na Câmara dos Deputados, prevê: um aumento da carga horária das disciplinas obrigatórias, como português e matemática, e um "encolhimento" da parte optativa do currículo; uma definição mais específica do que pode ser ofertado como "itinerário formativo" (aquelas disciplinas que o aluno escolhe cursar); uma flexibilidade maior nos cursos técnicos, para que, somente no caso deles, as disciplinas eletivas possam ocupar uma fatia maior da carga horária (entenda, em detalhes, mais abaixo). A proposta ainda precisará ser votada pelo Senado, que poderá fazer alterações no texto. Ainda não há data marcada para essa etapa. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Enem no WhatsApp Em vigor em todas as escolas públicas e privadas do país desde 2022, o Novo Ensino Médio tem sido alvo de críticas desde que foi implantado. Por essa razão, o governo federal enviou, em outubro de 2023, um projeto de lei para o Congresso para ajustar alguns pontos. Abaixo, veja o que está em vigor atualmente, como pode ficar o Novo Ensino Médio, e os prós e contras das mudanças propostas, segundo entidades do setor: ⏰ CARGA HORÁRIA Como é hoje: 1.800 horas para disciplinas obrigatórias (previstas na BNCC, a Base Nacional Comum Curricular) + 1.200 horas para optativas (itinerários formativos escolhidos pelo aluno ou curso técnico). O que foi aprovado pela Câmara: 2.400 horas para disciplinas obrigatórias + 600 horas para optativas (itinerários formativos escolhidos pelo aluno). O que dizem entidades do setor: O aumento da carga horária para as disciplinas obrigatórias é visto como positivo porque é justamente esse conteúdo que costuma ser cobrado em processo seletivos e vestibulares. A avaliação é tanto de entidades, como Todos Pela Educação, quanto de associações estudantis, incluindo a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). O Consed, que reúne os secretários estaduais de educação, acredita que a nova divisão da carga horária representa um "compromisso essencial" com a qualidade do ensino e com o aprendizado dos estudantes, sem desconsiderar a importância da formação técnica. 📚 DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS Como é hoje: Apenas português e matemática precisam estar presentes em todos os anos do ciclo, assim como estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia. O que foi aprovado pela Câmara: Disciplinas obrigatórias em todos os anos do ensino médio: linguagens (português e inglês) e artes, educação física, matemática, ciências da natureza (biologia, física e química); ciências humanas (filosofia, geografia, história e sociologia). O ensino de espanhol passa a ser facultativo, e não obrigatório, como o governo queria. O que dizem entidades do setor: Outro aspecto avaliado positivamente pelas entidades é a ampliação da lista de disciplinas obrigatórias para todos os anos, já que, na versão em vigor da etapa, apenas português e matemática seriam oferecidos em todos os anos. Além disso, a definição mais detalhada de como as áreas do conhecimento são constituídas também é algo a ser comemorado, pois permite às redes trabalhar melhor a interdisciplinaridade nas aulas. As entidades estudantis, no entanto, defendem que o espanhol seja disciplina obrigatória no currículo, já que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige que o aluno escolha entre o inglês e o espanhol para ser avaliado na parte de língua estrangeira da prova. O ensino do espanhol é sobretudo sinônimo da integração latino-americana. Mesmo fazendo fronteira com 8 países que têm o espanhol como língua materna, temos [no Brasil] um distanciamento sociocultural dos nossos países-irmãos. O espanhol como 13ª disciplina obrigatória é um estímulo ao ensino da segunda língua nas escolas brasileiras e também uma forma de construir pontes em nosso continente. Já o Consed exaltou a decisão de garantir aos estados a flexibilidade de decidir sobre a implementação do espanhol na grade curricular. A entidade justificou que, ao manter a disciplina facultativa, as redes podem tomar essa decisão com base nas necessidades locais e na disponibilidade de recursos. 📓 ITINERÁRIOS FORMATIVOS Como é hoje: As redes definem quantos e quais itinerários formativos vão ofertar. O que foi aprovado pela Câmara: Cada escola deve ofertar no mínimo dois itinerários (exceto as que oferecerem também o ensino técnico). Haverá uma delimitação dos itinerários formativos para aprofundamento nas áreas do conhecimento, devendo cada um contemplar ao menos uma dessas áreas (ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e matemática) ou uma formação técnica e profissional. O que dizem entidades do setor: Para as entidades estudantis, a mudança aprovada na Câmara aproxima os itinerários formativos do objetivo inicial, que é o de aprofundar o conhecimento do aluno em uma área de seu interesse. Segundo a Todos Pela Educação, a obrigatoriedade de que cada itinerário foque em ao menos uma das áreas do conhecimento pode melhorar a organização das disciplinas ofertadas. As mudanças são bem vistas ainda porque permitem que os itinerários tenham um escopo mais uniforme entre os colégios, independentemente da rede à qual eles pertençam. Em outro momento, as entidades já haviam apontado, por exemplo, discrepância entre as disciplinas optativas disponíveis em escolas públicas de interior e em colégios particulares de capital. 🛠️ CARGA HORÁRIA DO ENSINO TÉCNICO Como é hoje: 1.800 horas de disciplinas obrigatórias + 1.200 horas para o ensino técnico (equivalente à carga de outras disciplinas optativas). O que foi aprovado pela Câmara: 2.100 horas de disciplinas obrigatórias (sendo que 300 horas poderão ser destinadas a conteúdos da BNCC diretamente relacionados à formação técnica profissional oferecida, ficando 1.800). A carga horária máxima será de até 1.200 horas para o curso técnico escolhido. O que dizem entidades do setor: A Todos Pela Educação espera que o Senado faça alguns ajustes para aprimorar a proposta de compensação de horas das disciplinas obrigatórias no caso do ensino técnico. Na avaliação da entidade, o receio é o de que a variação de até 300 horas de formação geral básica acentue diferenças entre os alunos da formação técnica e aqueles que optarem por outras áreas de conhecimento. 📡 ENSINO À DISTÂNCIA Como é hoje: A legislação permite que os conteúdos possam ser dados por meio de atividades on-line e que os sistemas de ensino possam firmar convênios com instituições de educação à distância. O que foi aprovado pela Câmara: Carga horária destinada à formação geral básica deve ser ofertada de forma presencial, admitido, excepcionalmente, ensino mediado por tecnologia, em disciplinas como matemática, química, entre outras, com base em regulamento a ser elaborado. O que dizem entidades do setor: Para as entidades, é importante que os alunos estejam em sala de aula. Na visão deles, a oferta de disciplinas à distância poderá afastá-los das escolas. A restrição aprovada na Câmara para que o ensino à distância seja excepcional foi bem recebida. "Este é um avanço importante dada a redação da reforma original, que abria maiores possibilidades para a educação á distância no ensino nédio brasileiro", defende a entidade Todos Pela Educação. Para o Consed, no entanto, foi positiva a decisão de manter parcialmente a modalidade de ensino mediado por tecnologia, pois isso garante uma "oferta flexível do ensino médio". Para o órgão, essa alternativa é "fundamental para garantir o acesso à educação de qualidade a todos os estudantes, independentemente de sua localização geográfica".
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21/03 - Concursos 'fatiados' em universidades federais prejudicam cumprimento de cotas para negros, diz pesquisa
Maioria dos editais tem menos de 3 vagas, que é o número mínimo necessário para a aplicação da lei de cotas, mostra o levantamento da Univasf, Insper e outras instituições. Lei de 2014 prevê a reserva de 20% das vagas nos concursos públicos federais para candidatos negros UnB Agência Universidades federais têm "fatiado" seus concursos para servidores, criando editais com poucas vagas. E isso tem prejudicado o cumprimento da lei de cotas para negros, conclui uma pesquisa divulgada pelo Movimento Negro Unificado (MNU). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Concursos no WhatsApp Desde 2014, a lei prevê que 20% das vagas nos concursos públicos federais devem ser reservadas para candidatos negros, desde que o total de oportunidades oferecidas seja igual ou superior a três. O levantamento do MNU mostra que, nos últimos dez anos, mais de 70% dos concursos para servidores em instituições federais de ensino foram elaborados com menos de três vagas. Segundo o relatório, essas seleções têm características que acabam resultando em formas de burlar a lei de cotas, de forma intencional ou não. Entre elas, está o de distribuir mais de 40 mil vagas em editais específicos, dividindo por especialidades, locais de atuação e departamentos, por exemplo, o que acabou resultando em uma maioria de concursos com menos de três vagas. Essas estratégias impediram que aproximadamente 10 mil profissionais negros assumissem cargos no serviço público federal e deixassem de receber, juntos, R$ 3,5 bilhões nos últimos anos, informam os pesquisadores. O estudo foi conduzido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), o Insper e outras universidades e foi entregue na última segunda-feira (18) ao Tribunal de Contas da União (TCU). A ideia é ajudar o órgão a planejar trabalhos futuros relacionados ao tema. 'Enem dos concursos' terá banca filmada para evitar fraudes em cotas raciais para negros Quase 10 mil editais analisados A pesquisa foi motivada por um relatório do Ministério da Mulher publicado em 2021. Na época, o estudo realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) apontou que, mesmo após a criação da lei de cotas, em 2014, o percentual de nomeados em vagas reservadas para negros, no cargo de Professor da Carreira do Magistério Superior, foi de apenas 0,53%, até 2019. Agora, os pesquisadores analisaram 9.996 editais de processos de seleção, publicados no período de 10 de junho de 2014 a 31 de dezembro de 2022 por 56 instituições federais de ensino e cinco de segmentos diversos do serviço público federal, em todos os estados brasileiros. E eles constataram que 74,6% dos concursos públicos e 76% dos processos seletivos simplificados realizados por instituições federais de ensino, especificamente, tinham menos de três vagas. Em todos os editais analisados, 46.309 vagas foram abertas. Dessas, segundo a pesquisa, 9.129 tinham potencial de terem sido reservadas para pessoas negras, mas não foram. E isso não aconteceu por falta de qualificação dos candidatos, mas por burlas intencionais ou não do sistema, diz o relatório. Além disso, a falta de cotas fez com que a comunidade negra deixasse de receber R$ 3.570.289.280,40 nos últimos anos, de acordo com a apuração dos pesquisadores com base na quantidade de vagas que deveriam ter sido reservadas e os salários associados a elas. Os 6 mecanismos que prejudicaram a lei de cotas, segundo a pesquisa: Instituições deixaram de mencionar em seus editais a obrigatoriedade da implementação da lei de cotas. Cargos públicos foram fracionados em categorias menores, sejam elas áreas de conhecimentos, subáreas, temas de atuação e/ou especialidades, por exemplo. Um determinado número de vagas de um cargo foi dividido em diferentes editais, publicados em sequência, no mesmo mês. Vagas foram distribuídas em diferentes locais de atuação do futuro servidor (por exemplo, cidade ou campus), como se fossem espaços autônomos em relação à administração central. Vários editais foram abertos por unidades administrativas menores dentro de uma mesma instituição. Instituições realizaram sorteios ou aplicaram outros critérios arbitrários para selecionar quais especialidades daquele concurso seriam contempladas pela lei de cotas. Nenhuma das estratégias acima foi considerada legítima pelos pesquisadores, que alegaram que, por causa delas, a população negra não tem alcançado seus direitos diante de uma reparação histórica tardia. O relatório também ressaltou que, durante o julgamento de uma ação em 2017, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso já havia dito que “os concursos não podem fracionar as vagas de acordo com a especialização exigida para burlar a política de ação afirmativa”. No relatório, os pesquisadores sugeriram medidas como a elaboração de uma portaria para orientar as instituições de ensino a fazerem um planejamento anual para abertura de concursos e emitirem relatórios sobre a presença de pessoas negras nos processos seletivos. O que diz o governo Procurado pelo g1, o Ministério da Educação afirmou que "atua em constante diálogo com as 69 universidades federais existentes no país" e ressaltou que elas têm autonomia garantida pela Constituição. O MEC disse ainda que entende que os editais de concursos elaborados por elas podem ser aprimorados, "a fim de evitar distorções" quanto ao atendimento dos objetivos da lei "como as apresentadas em pesquisas recentes, inclusive do próprio MGI (Ministério da Gestão e Inovação)". "Embora as universidades federais já observem a legislação vigente em seus certames, a pasta espera que a adoção das medidas já sinalizadas pelo governo federal sejam suficientes para sanar as distorções identificadas com base em dados de pesquisas recentes", disse o ministério. O Ministério da Gestão e Inovação (MGI), que propõe políticas, diretrizes e normas para concursos públicos, não respondeu ao pedido de comentário até a última atualização desta reportagem. Lei de cotas em concursos: entenda por que universidades sorteiam vagas para contratar professores negros Veja mais sobre concursos: Como será o novo concurso da Caixa 2024 Veja dicas de como fazer uma boa redação para concurso Como estudar legislação para concurso?
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21/03 - Coquetéis de 'sangue russo': como apostila escolar russa assusta adolescentes e convoca para a guerra na Ucrânia
Livro didático será usado em uma nova matéria que vai ser ensinada por ex-soldados na Rússia e em territórios ocupados da Ucrânia. O novo livro didático, destinado a alunos do ensino médio, defende que maiores de 18 anos entrem para o Exército Getty Images/BBC A Rússia está introduzindo uma nova matéria militar em todas as escolas do país e nos territórios ocupados da Ucrânia. Chamada “Fundamentos de Segurança e Defesa da Pátria”, a disciplina será obrigatória para alunos do ensino médio, com idades de 15 a 18 anos, a partir de 1º de setembro de 2024. 👉🏾 A BBC obteve uma cópia do novo livro didático sobre o tema — e analisou suas 368 páginas. O exemplar contém narrativas falsas do Kremlin sobre a guerra contra a Ucrânia e convoca os estudantes a entrar para o Exército. A aula "Fundamentos de Segurança e Defesa da Pátria" vai ser ministrada uma vez por semana, substituindo uma disciplina de longa data conhecida como "Fundamentos de uma Vida Segura" em todas as escolas do país e em cinco regiões da Ucrânia ocupadas pela Rússia. A expectativa é de que ex-soldados sejam professores da nova disciplina. Aos russos formados em pedagogia que regressam da guerra na Ucrânia, já estão sendo oferecidos cursos gratuitos de reciclagem para se tornarem professores. “Vamos melhorar o módulo inicial de treinamento militar para torná-lo mais envolvente e moderno”, disse Sergei Kravtsov, ministro da Educação russo. A aula 'Fundamentos de Segurança e Defesa da Pátria' vai ser introduzida em todas as escolas na Rússia e em cinco regiões ocupadas da Ucrânia. Getty Images/BBC O Exército russo em Defesa da Pátria, o primeiro livro didático da nova disciplina, é publicado pela "Enlightenment", a principal editora educativa russa. A empresa organizou uma sessão de apresentação online para professores em janeiro, à qual a BBC assistiu. “Caros colegas, todos nós compreendemos a importância de apresentar informações aos nossos estudantes a partir da perspectiva do nosso Estado [Rússia]”, declarou Olga Plechova, representante da editora. “Não podemos transmitir pontos de vista alternativos aos alunos. Portanto, este livro vai ajudá-los a responder as perguntas das crianças e oferecer uma abordagem precisa de determinados eventos." Uma das ilustrações do livro é a foto de um tanque russo na Ucrânia, com a seguinte legenda: 'Às vezes, a paz só pode ser restaurada com a ajuda de tanques'. Getty Images/BBC Para "abordar com precisão" determinados eventos, a editora contou com a ajuda de um representante do Ministério da Defesa, o tenente-general Rafael Timoshev, e do editor-chefe adjunto do "jornal russo" do Kremlin, Igor Chernyak, coautores do livro didático. 'Ataques de foguetes nazistas' como pretexto para a invasão A BBC adquiriu um exemplar de O Exército Russo em Defesa da Pátria. As páginas do livro estão repletas de histórias que descrevem as "conquistas heroicas dos soldados russos", que vão desde o século 13 até os dias de hoje. Os autores da publicação elogiam o ditador soviético Joseph Stalin, celebram as vitórias do povo soviético durante a "Grande Guerra Patriótica" [termo usado pelos russos para se referir à Segunda Guerra Mundial] e aclamam o papel dos militares russos na "reunificação da Crimeia com a Rússia" [termo usado pelo Kremlin para a ocupação da península ucraniana]. O livro glorifica o ditador soviético Stalin e os militares russos que participaram da ocupação da Crimeia. Getty Images/BBC Em um capítulo à parte, o livro escolar aborda a chamada “operação militar especial na Ucrânia” [como o Kremlin chama a invasão em grande escala da Ucrânia]. “Quando houve um golpe de Estado em Kiev em 2014, o novo governo iniciou uma repressão a tudo que era russo. Livros russos foram queimados, monumentos foram destruídos, canções russas e a própria língua russa foram banidas”, descrevem falsamente os autores. “Coquetéis de 'sangue russo' eram servidos em restaurantes." E as alegações falsas continuam: “Cidades nas regiões de Luhansk e Donetsk, onde existia dissidência contra tais políticas, foram bombardeadas por explosivos e foguetes nazistas”. Os autores do livro didático afirmam ainda que "foram a Ucrânia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que planejaram começar a guerra". De acordo com o texto, "em 19 de fevereiro de 2022, na conferência de Munique, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ameaçou a Rússia, afirmando que a Ucrânia planejava adquirir armas nucleares. Kiev estava planejando recuperar o controle de Donbas e capturar a Crimeia, e depois disso as tropas da OTAN ficariam posicionadas lá". A passagem continua, afirmando que “um grande número de tropas e veículos blindados ucranianos estavam concentrados nas fronteiras”. O analista político ucraniano Volodymyr Fesenko classifica este conteúdo como “completa desinformação e mentira”. Ele se recorda de ter assistido ao discurso de Zelensky em Munique, no qual o presidente ucraniano mencionou o Memorando de Budapeste. O acordo, assinado em 1994, previa que a Ucrânia entregasse suas armas nucleares em troca de garantias de segurança da Rússia e de outros países. Estas garantias foram violadas quando a Rússia ocupou a Crimeia em 2014. De acordo com Fesenko, diferentemente do que o livro afirma, Zelensky enfatizou esta violação em meio a preocupações crescentes sobre a mobilização de militares russos perto das fronteiras da Ucrânia desde o fim de 2021. A Rússia lançou um ataque em grande escala à Ucrânia pouco depois da conferência de Munique. O livro afirma que a cidade ucraniana de Mariupol, bombardeada pelos russos, foi destruída durante batalhas com 'nazistas' e 'mercenários estrangeiros'. Getty Images/BBC Na sequência, o livro alega falsamente que a cidade ucraniana de Mariupol, bombardeada pelos russos, foi destruída durante batalhas com “nazistas” e “mercenários estrangeiros”. Especialistas entrevistados pela BBC observam como o livro destaca que a Rússia prioriza a segurança civil ucraniana e minimiza a destruição. O texto argumenta que “a Ucrânia tem frequentemente como alvo infraestruturas civis”, ao mesmo tempo que afirma que “a Rússia luta com integridade”. “Todo mundo lembra da tragédia em Bucha, na região de Kiev, onde dezenas de civis ucranianos foram mortos por russos, e mulheres teriam sido estupradas”, diz Fesenko. “Há dezenas e dezenas de casos assim. O prédio da Universidade Nacional de Kharkiv, onde trabalhei há 20 anos, foi destruído no primeiro dia do ataque russo à cidade. A escola onde minhas filhas estudavam também foi bombardeada. Estes são edifícios civis que a Rússia destruiu brutalmente." Da sala de aula para o campo de batalha Outro capítulo de O Exército Russo em Defesa da Pátria começa com uma visão geral aprofundada da estrutura das Forças Armadas da Rússia. À medida que o conteúdo se desenvolve, defende cada vez mais que maiores de 18 anos se alistem no Exército. O livro descreve o processo, incluindo os documentos necessários, o tamanho da foto, um link para o formulário de inscrição e endereços próximos para alistamento. Promove também os benefícios, como assistência médica e seguro gratuitos, salário atrativo e três refeições diárias. Lista ainda várias restrições em caso de não comparecimento ao local de alistamento se for recrutado, incluindo recusa de crédito e proibição de dirigir automóvel ou registrar propriedade. Em destaque, está o link que o livro didático fornece para o formulário de alistamento no Exército. Getty Images/BBC Os jovens dos territórios ucranianos ocupados, como a Crimeia e Donbas, podem ser atraídos por estes bônus econômicos, alerta Olha Skrypnyk, chefe do Crimean Human Rights Group. "Além da propaganda agressiva dirigida às crianças nos territórios ocupados da Ucrânia durante os últimos dez anos, não há oportunidades de ganhar dinheiro lá. Onde mais eles vão receber esse salário?", diz ela. Soldados russos em uma escola na ocupada Melitopol. TELEGRAM CHANNEL NEW MELITOPOL Skrypnyk acrescenta que o novo livro vai contribuir para a mobilização de reservas na Rússia e nos territórios ocupados pelo país. “Então essas crianças vão para a guerra e morrem.” Em dois anos de guerra, a Rússia perdeu pelo menos 1.240 soldados com até 20 anos. Estes são apenas aqueles cujas mortes foram confirmadas pelo serviço de notícias em russo da BBC com base em informações divulgadas. Gráficos: Angelina Korba
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21/03 - 'Pronto para a vida': escola alemã tem disciplina que ensina a cozinhar, lavar roupa e declarar imposto de renda
Mais do que preparar os alunos para serem cidadãos ativos, essa disciplina quer mudar a visão sobre o sistema educacional alemão, que é muitas vezes criticado por ser muito teórico. Aulas ensinam atividades como lavar roupa, cozinhar e administrar dinheiro Uma escola de Bad Camberg, na Alemanha, tem na grade curricular uma disciplina chamada "Pronto para a vida". Essa aula tem uma proposta diferente e, em vez de os alunos verem conteúdos teóricos, eles aprendem a cozinhar, lavar roupa, lidar com dinheiro e imposto de renda, entre outras coisas "[Aprendemos] no que se deve prestar atenção ao ter o primeiro apartamento, quais os gastos ao morar sozinho e não mais na casa dos pais", conta o estudante Samuel Hösch, de 16 anos. Como educar filhos (e filhas) antimachistas: veja 4 dicas essenciais O objetivo dessa aula é, além de preparar os alunos para serem cidadãos ativos e conscientes, mudar a visão sobre o sistema educacional alemão, que é muitas vezes criticado como teórico demais. "Você aprende coisas que realmente poderia precisar depois na vida [adulta], como lidar com ações, ou a melhor forma de gerenciar o seu dinheiro", frisa o estudante Lennox Räder, de 15 anos. A disciplina "Pronto para a vida" é optativa e também aborda temas como crimes cibernéticos e uso responsável dos meios de comunicação. PODCAST E VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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21/03 - Câmara aprova o Novo Ensino Médio após acordo sobre carga horária de matérias obrigatórias
Relator acolheu pedido do MEC e ampliou ensino de disciplinas clássicas, que poderá ser reduzido no Ensino Técnico. Proposta ainda passará pelo Senado. Câmara dos Deputados aprova a reforma do Ensino Médio; proposta segue para o Senado A Câmara aprovou nesta quarta-feira (20) o projeto que institui mudanças no Novo Ensino Médio. A proposta segue agora para análise pelo Senado. A votação só foi possível após acordo entre governo e parlamentares a respeito da carga horária para disciplinas obrigatórias. (leia mais abaixo). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Enem no WhatsApp O governo federal enviou em outubro de 2023 um projeto de lei para o Congresso para ajustar pontos do Novo Ensino Médio, aprovado durante o governo de Michel Temer (MDB). O relator, deputado Mendonça Filho (União-PE), apresentou seu relatório em dezembro com alterações a pontos propostos pelo Ministério da Educação (MEC). Entre eles estava a carga horária prevista para matérias obrigatórias, o que desagradou os governistas. Relator do caso, o deputado Mendonça Filho (União-PE) chegou a um acordo com o governo sobre carga horária de matérias obrigatórias. Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados Outro ponto que mudou em relação ao projeto enviado pelo governo é a obrigatoriedade do ensino de espanhol, que passa a ser facultativo. "A proposta do governo defendia o Espanhol como segunda língua obrigatória. Mas não dá para você encaixar dentro das 3 mil horas a obrigatoriedade de duas línguas estrangeiras. O Espanhol será a língua preferencial, mas a obrigatoriedade de uma segunda língua estrangeira ficará a cargo de um sistema estadual de educação", explicou o relator. Mendonça Filho também admitiu no texto, excepcionalmente, o ensino à distância de matérias obrigatórias, como matemática, química entre outras. "Quando você indica que quer acabar com a tecnologia e o uso dela para acessar o Ensino Médio, você na prática está cerceando o direito de boa parte da juventude que reside em áreas remotas do Brasil de acessar a aprendizagem. Não dá para raciocinar o Brasil a partir dos grandes centros urbanos", disse Mendonça. Presidente da Frente Parlamentar Mista de Educação, o deputado Rafael Brito (MDB-AL) afirma que o texto "atende os anseios de professores e alunos dos quatro cantos do Brasil". "Tive a grata satisfação de acompanhar o andamento do debate e fico feliz de ver a aprovação do novo ensino médio, que é fruto de um acordo, que defende as 2.400 horas de formação geral básica, que protege a questão do ensino profissionalizante e tecnológico e que incentiva os estados a melhorarem seus itinerários informativos. Com isso, levamos para os alunos um alento, entregando um texto que tem toda a condição para levar o ensino médio do nosso país para um futuro que a gente espera”, afirmou. Pesquisa mostra que 65% dos estudantes aprovam o Novo Ensino Médio Negociações O principal embate entre o MEC e o Congresso é a respeito da distribuição das horas/aula do Novo Ensino Médio entre as disciplinas obrigatórias (aquelas previstas na Base Nacional Comum Curricular, BNCC) e as recém-criadas disciplinas optativas (ou itinerários formativos). Mendonça manteve eixos estruturantes da reforma do Ensino Médio sancionada em 2017, entre elas a carga horária obrigatória de 3 mil horas ao longo do Ensino Médio (1.000 horas anuais). Inicialmente, em relatório apresentado em dezembro, o deputado defendeu uma redistribuição da carga horária total, com aumento da chamada formação geral básica de 1.800 horas -- como é hoje -- para 2.100 horas. O número, porém, estava abaixo das 2.400 horas que defendia o MEC. A formação geral básica contempla disciplinas clássicas e que são obrigatórias, como matemática, química, português entre outras. O principal argumento de Mendonça e outros parlamentares era o de que uma carga horária para disciplinas obrigatórias elevada inviabilizaria o Ensino Técnico, uma vez que os cursos profissionalizantes superam as 600 horas que sobravam na grade curricular. "Não dá para assegurar na proposta original do governo que previa 2.400 horas para cursos regulares e técnicos. São coisas distintas. Os cursos técnicos precisam de formação geral básica, mas precisam de espaço para que o jovem possa ter acesso ao curso técnico de forma adequada", afirmou o relator. Após negociações com o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), das quais participou também o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Mendonça Filho acatou o pedido do governo e assegurou a formação geral básica, com carga horária mínima de 2.400 horas. Reunião com o ministro da Educação, Camilo Santana, incluiu o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT - CE), o presidente da Câmara, Arthur Lira, e os deputados Mendonça Filho (UNIÃO - PE), Moses Rodrigues (UNIÃO - CE) e Rafael Brito (MDB - AL) Marina Ramos/Câmara dos Deputados Mendonça, no entanto, acolheu emendas e mudou a carga horária das matérias obrigatórias do ensino técnico. No caso da formação técnica e profissional a carga horária mínima da formação geral básica, que era de 1.800 horas, subiu para 2.100 horas. Mas essas 300 horas a mais poderão entrar na conta para cursos técnicos de 1.200 horas como intersecção "a ser destinadas ao aprofundamento de estudos de conteúdos da Base Nacional Comum Curricular diretamente relacionados à formação técnica profissional oferecida.” "Todo curso técnico de até 900 horas estariam com formação geral básica de 2.100 horas. Quando houver necessidade de curso técnico de até 1.200 horas nos teríamos que compatibilizar parte da formação geral básica com a formação técnica, numa interseção e numa conciliação permitindo que esses cursos permaneçam sendo ofertados", explicou o relator. Como é e como pode ficar o Novo Ensino Médio ⏰CARGA HORÁRIA Como é hoje: 1.800 horas para disciplinas obrigatórias; e 1.200 horas para optativas (itinerários formativos ou curso técnico escolhidos pelo aluno). O que foi aprovado pela Câmara: 2.400 horas para disciplinas obrigatórias; e 600 horas para optativas (itinerários formativos escolhidos pelo aluno). 📚DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS Como é hoje: Apenas português e matemática precisam estar presentes em todos os anos do ciclo, assim como estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia. O que o governo queria: Tornar obrigatórias em todos os anos língua portuguesa e suas literaturas; língua inglesa; língua espanhola; arte; educação física; matemática; história, geografia, sociologia e filosofia; e física, química e biologia. O que foi aprovado pela Câmara: Tornar obrigatórias em todos os anos linguagens e suas tecnologias, integrada pela língua portuguesa e suas literaturas; língua inglesa; artes, em suas múltiplas linguagens e expressões; e educação física; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias, integrada pela biologia, física e química; ciências humanas e sociais aplicadas, integrada pela filosofia, geografia, história e sociologia. 📓ITINERÁRIOS FORMATIVOS Como é hoje: As redes definem quantos e quais itinerários formativos vão ofertar. O que o governo queria: Delimitação de 4 possibilidades de itinerários formativos, devendo cada um contemplar ao menos 3 áreas do conhecimento; ou curso de formação técnica e profissional. Cada escola deveria ofertar no mínimo dois itinerários. O que foi aprovado pela Câmara: Delimitação dos itinerários formativos para aprofundamento nas áreas do conhecimento, devendo cada um contemplar ao menos uma dessas áreas; ou curso de formação técnica e profissional. Cada escola deve ofertar no mínimo dois itinerários (exceto as que ofertarem também o ensino técnico). 🛠️CARGA HORÁRIA DO ENSINO TÉCNICO Como é hoje: 1.200 horas (equivalente à carga de outras disciplinas optativas). O que o governo queria: Permissão excepcional para que as redes ofertassem disciplinas obrigatórias em 2.100 horas, desde que articuladas com um curso técnico de, no mínimo, 800 horas. O que foi aprovado: • 2.100 horas para disciplinas obrigatórias, com possibilidade de compatibilizar 300 horas entre formação geral básica e ensino técnico • até 1.200 horas para o curso técnico escolhido 📡ENSINO À DISTÂNCIA Como é hoje: A legislação permite que os conteúdos possam ser dados por meio de atividades on-line e que os sistemas de ensino possam firmar convênios com instituições de educação à distância. O que o governo queria: Proibir a oferta dos componentes curriculares da Formação Geral Básica na modalidade de Educação à Distância e regulamentação da oferta dessa modalidade em contextos específicos para os itinerários formativos. O que foi aprovado pela Câmara: Carga horária destinada à formação geral básica deve ser ofertada de forma presencial, admitido, excepcionalmente, ensino mediado por tecnologia, com base em regulamento a ser elaborado.
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20/03 - Novo Ensino Médio: Câmara pode votar texto que prevê 80% de disciplinas obrigatórias; veja outras mudanças
Nova divisão da carga horária segue o que já vinha sendo pedido pelo Ministério da Educação desde outubro. Se passar na Câmara, ainda precisará do aval do Senado. Ministério da Educação encontra empecilhos para implementar o Novo Ensino Médio no país Reprodução/Bom Dia Brasil A Câmara dos Deputados pode votar nesta quarta-feira (20) o projeto que define mudanças nas regras do Novo Ensino Médio. Pelo texto do relator, deputado Mendonça Filho (União-PE), ao qual o g1 teve acesso, a nova divisão da carga horária prevê 2.400 horas para disciplinas obrigatórias e 600 horas para as optativas, assim como estava previsto no projeto original do enviado em outubro. 📚 Hoje, todas as redes de ensino do país, públicas e privadas, têm que destinar 1.800 horas para disciplinas obrigatórias e 1.200 horas para optativas (itinerários formativos ou curso técnico escolhidos pelo aluno). Em dezembro, o relator havia proposto uma distribuição diferente. O recuo dele acontece na tentativa de resolver problemas da reforma que mudou a grade curricular e oferta de disciplinas optativas em todas as escolas brasileiras, que gerou amplo debate e críticas incisivas ao governo federal. Se for aprovado na Câmara, ainda precisará ser analisado pelo Senado. Principal tópico das negociações O principal embate entre o Ministério da Educação (MEC) e o Congresso era a respeito da distribuição das horas/aula do novo ensino médio entre as disciplinas obrigatórias (aquelas previstas na Base Nacional Comum Curricular, BNCC) e as recém-criadas disciplinas optativas (ou itinerários formativos). No novo modelo, que já está em vigor, a etapa escolar prevê 3.000 horas totais, divididas nos três anos da etapa. Na versão que começou a ser implantada em 2022, a distribuição das horas/aula era de 60% para as aulas obrigatórias e 40% para as optativas, o que gerou muitas das críticas ao novo modelo. Na nova distribuição, presente no relatório de Mendonça Filho, as disciplinas obrigatórias ocupariam 80% da grade da etapa escolar. Impasse resolvido Inicialmente, em relatório apresentado em dezembro, o relator chegou a defender uma redistribuição da carga horária total, com aumento das disciplinas obrigatórias para 2.100 horas, abaixo do que queria o MEC. O impasse, no entanto, parece ter sido resolvido, já que Mendonça Filho acatou esse pedido do ministério. Apesar de ceder em relação à redistribuição das horas/aula, o deputado deve apresentar outros ajustes de maneira diferente do que foi pedido anteriormente pelo governo. COMO É HOJE E COMO PODE FICAR O NOVO ENSINO MÉDIO ➡️ CARGA HORÁRIA Como é hoje: 1.800 horas para disciplinas obrigatórias; e 1.200 horas para optativas (itinerários formativos ou curso técnico escolhidos pelo aluno). Como o governo quer e o relator propõe: 2.400 horas para disciplinas obrigatórias; e 600 horas para optativas (itinerários formativos escolhidos pelo aluno). ➡️ DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS Como é hoje: Apenas português e matemática precisam estar presentes em todos os anos do ciclo, assim como estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia. Como o governo queria: Tornar obrigatórias em todos os anos língua portuguesa e suas literaturas; língua inglesa; língua espanhola; arte; educação física; matemática; história, geografia, sociologia e filosofia; e física, química e biologia. Como o relator propõe: Tornar obrigatórias em todos os anos linguagens e suas tecnologias, integrada pela língua portuguesa e suas literaturas; língua inglesa; artes, em suas múltiplas linguagens e expressões; e educação física; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias, integrada pela biologia, física e química; ciências humanas e sociais aplicadas, integrada pela filosofia, geografia, história e sociologia. ➡️ ITINERÁRIOS FORMATIVOS Como é hoje: as redes definem quantos e quais itinerários formativos vão ofertar. Como o governo queria: delimitação de 4 possibilidades de itinerários formativos, devendo cada um contemplar ao menos 3 áreas do conhecimento; ou curso de formação técnica e profissional. Cada escola deveria ofertar no mínimo dois itinerários. Como o relator propõe: delimitação dos itinerários formativos para aprofundamento nas áreas do conhecimento, devendo cada um contemplar ao menos uma dessas áreas; ou curso de formação técnica e profissional. Cada escola deve ofertar no mínimo dois itinerários (exceto as que ofertarem também o ensino técnico). ➡️ CARGA HORÁRIA DO ENSINO TÉCNICO Como é: 1.200 horas (equivalente à carga de outras disciplinas optativas). Como o governo queria: Permissão excepcional para que as redes ofertassem disciplinas obrigatórias em 2.100 horas, desde que articuladas com um curso técnico de, no mínimo, 800 horas. Como o relator propõe: 1.800 horas para disciplinas obrigatórias; e 1.200 horas para o curso técnico escolhido (diferente da carga de outras disciplinas optativas). ➡️ ENSINO À DISTÂNCIA Como é hoje: A legislação permite que os conteúdos possam ser dados por meio de atividades on-line e que os sistemas de ensino possam firmar convênios com instituições de educação à distância. Como o governo queria: Proibir a oferta dos componentes curriculares da Formação Geral Básica na modalidade de Educação à Distância e regulamentação da oferta dessa modalidade em contextos específicos para os itinerários formativos. Como o relator propõe: Carga horária destinada à formação geral básica deve ser ofertada de forma presencial, admitido, excepcionalmente, ensino mediado por tecnologia, com base em regulamento a ser elaborado. Entenda em 5 pontos o que prevê o projeto de lei do governo para o Novo Ensino Médio
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20/03 - Pé-de-Meia: alunos podem consultar se foram contemplados a partir desta quarta; pagamentos começam dia 26
Programa é voltado para alunos de 14 a 24 anos, regularmente matriculados no ensino médio da rede pública. Governo vai pagar R$ 2 mil por ano, além de bônus, a quem seguir os critérios do benefício. Aplicativo Pé-de-Meia Divulgação Os estudantes do ensino médio da rede pública podem consultar desde quarta-feira (20) se foram contemplados pelo programa Pé-de-Meia. A informação estará disponível no aplicativo Jornada do Estudante, do Ministério da Educação (MEC). 👉🏾 Pé-de-Meia é um programa do Governo Federal, que, por meio do MEC, irá fornecer incentivo financeiro para estudantes de baixa renda regularmente matriculados no ensino médio da rede pública, como forma de combater a evasão escolar. Serão contemplados alunos dos 14 aos 24 anos, cuja família está inscrita no Cadastro Único (CadÚnico). (Veja os detalhes mais abaixo.) Governo anuncia valores de programa que cria bolsa contra evasão escolar no ensino médio Se for beneficiado pelo programa, o aluno encontrará no app informações como: parcelas de matrícula;  calendário de pagamento;  data de pagamento;  valor da parcela;  identificação de competência da parcela;  informações de banco, agência e conta em que a parcela foi paga;  situação da parcela; e data de processamento de cada informação. Para os que não tiverem sido contemplados, o aplicativo deve informar o motivo da rejeição e apresentar orientações ao estudante para solucionar a situação.  Pagamento da parcela de matrícula Os estudantes contemplados pelo programa vão receber o primeiro pagamento de R$ 200, referente ao bônus de matrícula, entre 26 de março e 3 de abril, em parcela única. A data de pagamento depende do mês de aniversário do aluno. Esse valor não é descontado do incentivo de frequência de R$ 1.800, que será pago em nove parcelas ao longo do ano. (Veja mais abaixo o detalhamento dos pagamentos do programa.) Calendário de pagamento do bônus de matrícula por mês de aniversário do estudante: Janeiro e fevereiro: 26 de março Março e abril: 27 de março Maio e junho: 28 de março Julho e agosto: 1º de abril Setembro e outubro: 2 de abril Novembro e dezembro: 3 de abril Pelo programa, o governo irá pagar até R$ 9,2 mil para os estudantes que concluírem os estudos. Segundo o MEC, a expectativa é a de que o programa atenda cerca de 2,5 milhões de alunos. Abaixo, confira: Quem pode participar do 'Pé-de-meia' Como se inscrever no programa Quais valores serão pagos Quais são as regras do programa Como será o calendário de pagamento 🧑‍🎓 Quem pode participar do 'Pé-de-meia' De acordo com a portaria, podem participar do programa os estudantes matriculados em escolas públicas e que estejam cursando o ensino médio ou o programa para Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, é necessário: ter entre 14 e 24 anos; fazer parte de família inscrita no Cadastro Único (CadÚnico). Segundo MEC, terão prioridade para receber o benefício os estudantes que integrem famílias que recebem o Bolsa Família. Por outro lado, alunos cadastrados como família unipessoal no Bolsa Família não têm direito ao programa. 🗒️ Como se inscrever no programa O MEC definiu quem tem direito a receber o auxílio por meio de dados dos alunos enviados pelas escolas. Entre as informações, as escolas informaram quais alunos estavam regularmente matriculados até 8 de março de 2024. Estes dados foram cruzados com informações com o Cadastro Único, para que as contas bancárias para os alunos fossem abertas. Para ser contemplado, o estudante precisava ter CPF e estar inscrito no CadÚnico. Foram consideradas informações contidas no CadÚnico no dia 10 de fevereiro de 2024. Para este ano, segundo a portaria do MEC, o governo irá analisar as informações contidas no CadÚnico no dia 10 de fevereiro de 2024. ▶️ EMISSÃO DO CPF Para emitir o CPF, basta preencher um formulário da Receita Federal. Veja a seguir como fazer: Para cidadão brasileiro residente no país, clique aqui. Para cidadão brasileiro residente no exterior, clique aqui. Para cidadão estrangeiro, clique aqui. ⚠️ O cartão físico do CPF – aquele de plástico azul – não é mais emitido. Os comprovantes de inscrição impressos e o CPF Digital têm o mesmo valor jurídico. Leia aqui outras orientações para emissão do CPF. ▶️ INSCRIÇÃO NO CADÚNICO Para se inscrever no CadÚnico, um membro da família do estudante, com 16 anos ou mais, deve ir diretamente até o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da cidade onde mora ou posto de atendimento munido dos documentos. Clique aqui para mais informações sobre o CadÚnico. No momento da inscrição, o representante deve apresentar pelo menos um documento da lista a seguir para cada pessoa da família: Certidão de Nascimento; Certidão de Casamento; CPF; Carteira de Identidade – RG; Carteira de Trabalho; Título de Eleitor; Registro Administrativo de Nascimento Indígena (RANI) – somente se a pessoa for indígena. 💰 Quais valores serão pagos O MEC informou que o benefício será pago por etapas, da seguinte forma: incentivo para matrícula, no valor anual de R$ 200; incentivo de frequência, no valor anual de R$ 1.800; incentivo para conclusão do ano, no valor anual de R$ 1.000; incentivo para o Enem, em parcela única de R$ 200. No caso do incentivo de frequência, o valor total de R$ 1.800 será pago em nove parcelas ao longo do ano. A exceção será para este ano, quando o benefício será pago em oito parcelas, totalizando R$ 1.600. ✅ Quais são as regras do programa O MEC informou que vai exigir uma série de dados sobre a vida escolar do estudante para que o benefício seja pago regularmente. Confira a seguir: Incentivo de matrícula: é necessária que a inscrição no ano escolar seja feita até dois meses após o início do ano letivo. Incentivo de frequência: o aluno terá de ter frequência de pelo menos 80% das horas letivas. Caberá às instituições de ensino comunicar ao governo, todos os meses, a frequência escolar dos estudantes. Incentivo de conclusão: o estudante deverá passar de ano para receber o valor anual. Além disso, se for o caso, o aluno terá de ter a participação comprovada em exames de avaliação, como o do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Incentivo do Enem: o valor só será pago aos alunos que concluírem o ensino médio e estiverem presentes nos dois dias de provas. Em caso de retorno após abandono ou reprovação, o governo informou que só pagará o benefício uma única vez para cada série do ensino médio. ❌ Serão desligados do programa os alunos que: optarem por abandonar o "Pé-de-meia" voluntariamente; que não estiverem mais dentro dos critérios de elegibilidade, como idade e inscrição no CadÚnico; que reprovarem de ano duas vezes consecutivas; que abandonarem os estudos por mais de dois anos; que cometerem qualquer tipo de fraude ou irregularidade. 🗓️ Como será o calendário de pagamento O bônus de matrícula, no valor de R$ 200, será pago entre os dias 26 de março e 7 de abril. Caso algum aluno não receba o benefício por alguma atualização nos dados do governo, o pagamento será feito até 1º de julho. Para o incentivo de frequência, no valor de R$ 1.600, o pagamento será feito em oito parcelas. Veja os prazos na tabela a seguir: Pagamento do incentivo de frequência Já em relação ao incentivo de conclusão, no valor de R$ 1.000, o depósito na poupança estudantil será feito entre 24 de fevereiro de 2025 e 3 de março de 2025. Caso algum aluno não receba o benefício por alguma atualização nos dados do governo, o pagamento será feito até 5 de maio de 2025. Por fim, o incentivo para o Enem, de R$ 200, será depositado entre 23 de dezembro de 2024 e 3 de janeiro de 2025. VÍDEOS: notícias de Educação
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20/03 - O que é o equinócio de outono, por que ele 'muda' a duração do dia e qual sua relação com o eixo da Terra?
Outono começa nesta quarta-feira (20) no Hemisfério Sul. Data é marcada pelo equinócio de outono, quando o dia e a noite têm a mesma duração. Saiba por que isso acontece. Visitantes no Monumento Marco Zero do Equador, em Macapá, em dia de equinócio, em 2021 Albenir Sousa/Arquivo O outono começa nesta quarta-feira (20) exatamente à 0h06 nos países do Hemisfério Sul. A data é marcada pelo equinócio de outono: 🌎O equinócio é um fenômeno astronômico acontece duas vezes ao ano; ☀️Ele marca a posição do Sol em relação à Terra e sinaliza o início do outono e da primavera. 🌇Em um equinócio, o dia e a noite têm a mesma duração, tanto no Hemisfério Sul quanto no Hemisfério Norte. Esta é a base do conceito de “equinócio” , tanto que a palavra usada para definir o fenômeno tem origem no latim "aequinoctium". O termo teria surgido a partir da junção das palavras equus (igual) e nox (noite), significando literalmente “noites iguais”. E o solstício? Além dos equinócios, existe um outro fenômeno astronômico que acontece no início do verão e do inverno, o solstício — que também vem do latim e significa “sol parado". O solstício de verão marca dia mais longo do ano, que é sempre o primeiro dia da estação. Já o solstício de inverno marca o dia mais curto do ano e, consequentemente, a noite mais longa, também na chegada da estação. Nós viemos do solstício de verão, em 22 de dezembro, e de lá para cá, os dias foram ficando gradativamente mais curtos, até chegarmos no equinócio de outono, quando a noite e o dia têm a mesma duração. Agora, os dias vão ficando ainda mais curtos, e as noites, mais longas, até a chegada do inverno, que é marcada pelo solstício da estação. Na grade escolar do Brasil, o tema equinócio pode ser alvo de discussão no ensino fundamental, mais especificamente em séries como o 4º, o 5º e o 6º ano. O equinócio e o solstício são conceitos que podem ser abordados como parte das explicações sobre os movimentos da Terra e os fenômenos relacionados às estações do ano. Equinócios e solstícios Arte g1/Kayan Albertin ☀️❄️ Estações opostas O Hemisfério Sul e o Hemisfério Norte têm estações do ano opostas. Então, quando é verão em um, é inverno no outro. O mesmo acontece quando se trata dos fenômenos astronômicos. Se o equinócio de outono acontece aqui no Sul, o equinócio de primavera ocorre lá no Norte. Esse ciclo se repete anualmente. Dessa forma: No equinócio de outono, o dia e a noite têm a mesma duração nos dois hemisférios. No solstício de inverno no Hemisfério Sul, o dia é o mais curto do ano por aqui, enquanto no Hemisfério Norte, acontece o solstício de verão, com o dia mais longo do ano. No equinócio de primavera, o dia e a noite têm a mesma duração nos dois hemisférios. No solstício de verão no Hemisfério Sul, o dia é o mais longo do ano por aqui, enquanto no Hemisfério Norte, acontece o solstício de inverno, com o dia mais curto do ano. 🌇 Por que a duração dos dias e das noites varia? A Terra tem duas posições que devem ser consideradas quando se avalia as durações do dia e as estações do ano: a posição em relação ao próprio eixo; e a posição em seu plano de órbita (ou seja, a posição em relação ao sol). O planeta tem uma inclinação de 23.5º em relação ao plano de órbita. Com isso, é como se ele apontasse para um ângulo, mas o Sol surgisse de outro. Assim, a Terra está sempre levemente inclinada para um dos lados enquanto gira em seu eixo e ao redor do sol. Graças a isso, os raios solares atingem a superfície do planeta de maneira diferente a cada dia, podendo ter mais ou menos incidência de luz. É isso, também, que faz com que as estações do ano existam. Enquanto o hemisfério que está no verão recebe mais luz solar, aquele que está no inverno recebe menos luz. E quando aquele hemisfério não está nem no verão nem no inverno, está em uma das duas estações de transição, saindo de uma e se preparando para a outra. Mas há somente dois momentos no ano em que o eixo da Terra não está inclinado nem em direção ao Sol, nem em direção oposta, o que leva a uma distribuição "quase" equitativa de luz do dia e a escuridão em todas as latitudes do nosso planeta. E esses eventos são justamente chamados de equinócios. Por isso, caso o eixo do planeta fosse paralelo ao seu plano de órbita, os dias e as noites teriam a mesma duração e não haveria variação na quantidade de luz recebida pelos hemisférios, o que descartaria a divisão do ano em quatro estações diferentes.
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19/03 - Leia redações nota mil do Enem 2023
Cada candidato pode acessar o 'espelho' do texto que entregou no dia da prova (ou seja, a versão digitalizada da dissertação). Inep libera a chamada 'vista pedagógica' para detalhar a nota dos alunos e auxiliá-los nos estudos. Os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 já podem consultar, na Página do Participante, o "espelho" da redação — ou seja, a versão digitalizada do texto que entregaram no dia da prova. Nesta reportagem, leia exemplos de quem alcançou nota mil e aproveite para se inspirar. Os temas mudam a cada ano, mas a estrutura (introdução, desenvolvimento e conclusão com proposta de intervenção) exigida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e os critérios de correção continuam os mesmos. Em 2022, os candidatos tiveram de escrever sobre: 'Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil' e "Desafios para a (re)inserção socioeconômica da população em situação de rua no Brasil" (reaplicação da prova em dezembro, para pessoas privadas de liberdade e para quem ficou sem luz ou foi afetado por algum problema logístico na data original). ⚠️Observação: as transcrições abaixo foram fiéis aos textos dos alunos, incluindo possíveis erros de português. ✏️Maria Luiza Januzzi, de Valença (RJ) Trecho de redação nota mil de Maria Luiza Jannuzzi no Enem 2023 Reprodução/Inep De acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser tomado para solucionar uma questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos desafios para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas, como a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da omissão governamental e da influência midiática. Dessa forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação aos obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como cuidadoras. Segundo John Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para as leis”. No entanto, a inércia governamental direcionada à tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor - como a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais negligenciadas. Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao problema. Para Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” - o estado atual das coisas - é sempre penoso. Essa conjuntura pode ser observada no papel que a mídia possui na luta diária de mulheres que exercem o trabalho do cuidado ou doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma mentalidade social machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina, enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres perdem a voz na busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser propagada a ideia de que essa função é sua, e somente sua, obrigação. Portanto, é necessário que esta situação seja dissolvida. Para isso, o governo, órgão responsável por garantir a condição e existência de todos, deve prover apoio psicológico e financeiro às cuidadoras, por meio de investimentos e pelo exercício das leis, a fim de sanar a vulnerabilidade socioeconômica existente no cotidiano desses grupos. Paralelamente, os meios de comunicação precisam combater a lógica de inferioridade e a concepção machista agregadas a este trabalho. Assim, será possível solucionar esta questão, pois será retirada do cenário de invisibilidade, como propõe Djamila. ✏️Matheus Almeida Barros, de Paraíso (TO) Trecho de redação de Matheus Barros, nota mil no Enem 2023 Reprodução/Inep Por meio do seu livro "Brasil, país do futuro" - publicado no último século - o escritor austríaco Stefan Zweig expressou a sua confiança de que a nação cresceria e se desenvolveria exponencialmente. Para além disso, nos dias atuais, a sociedade brasileira vivencia uma situação inversa, uma vez que a constante invisibilidade feminina relacionada ao trabalho de cuidado e seus impactos negativos na contemporaneidade não são características de um "país do futuro". Desse modo, algumas negligências governamentais impulsionam a desvalorização trabalhista de cuidado desempenhado pela mulher brasileira e promovem o desenvolvimento de diversas desigualdades econômicas. Logo, tanto a inefetividade das leis direcionadas ao público feminino quanto a escassez de investimentos na educação capacitiva são suscitadores da problemática. Em primeiro plano, é imprescindível destacar a baixa eficiência das leis relacionadas ao trabalho da mulher como um fato que potencializa a invisibilidade do esforço doméstico e de cuidados desse grupo. Nesse sentido, o escritor brasileiro Gilberto Dimenstein defende que a legislação brasileira funciona somente no papel e, na prática, é ineficiente. A partir disso, tal tese pode ser comprovada por meio da má aplicação das leis trabalhistas femininas, uma vez que tais documentos não garantem, efetivamente, os direitos fundamentais da mulher, especialmente no âmbito do trabalho, e geram uma dependência dessa parcela ao cuidado doméstico, que é amplamente desvalorizado e, muitas vezes, não remunerado. Logo, tal insuficiência do sistema legislativo promove uma exploração exagerada da população feminina no país. Além disso, vale ressaltar, ainda, a falta de verbas destinadas à educação como um fator que agrava e desvaloriza o trabalho de cuidado exercido pela mulher brasileira. Nesse sentido, o filósofo esloveno Slavoj Zizek afirma que os políticos liberais modernos priorizam interesses mercadológicos e menosprezam atitudes que beneficiem a coletividade. Dessa maneira, verifica-se uma imprudência estatal que, por sua vez, despreza a importância da educação ao não investir na capacitação feminina, o que impede a entrada desse grupo no mercado de trabalho e obriga a mulher a realizar os desvalorizados "trabalhos de cuidado". Com isso, atitudes que visem ampliar a qualidade do sistema educacional brasileiro mostram-se amplamente necessárias. Portanto, vistos os fatores que impactam negativamente na valorização do trabalho de cuidado feminino, medidas são necessárias para combatê-los. Cabe ao governo federal a realização de fiscalizações legislativas e, por meio de inspeções e vistorias em residências de risco, verificar se as leis trabalhistas femininas estão sendo devidamente aplicadas, a fim de garantir a não exploração da mulher doméstica. Ademais, o Ministério da Educação deve, através do FUNDEB - o Fundo Nacional de Educação Básica destinar investimentos às escolas, visando promover uma capacitação geral e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo. Somente assim, o público feminino conquistará a devida visibilidade no âmbito do trabalho. ✏️Luana Pizzolato, de São Bernardo do Campo (SP) Trecho de redação nota mil de Luana Pizzolato no Enem 2023 Reprodução/Inep As décadas finais do século 20, no Brasil, foram marcadas pela presença de movimentos sociais diversos, como o de ruptura das condições de gênero que prejudicavam as mulheres no meio social. Embora as manifestações tenham conquistado direitos, ainda há problemas que assolam o cotidiano feminino das brasileiras, como a invisibilidade do trabalho de cuidado. De fato, essa questão é influenciada pelo sistema capitalista e pela manutenção da visão patriarcal. Logo, é urgente sanar os desafios e enfrentar a problemática. Diante desse cenário, cabe analisar a relação entre o modelo econômico e a invisibilidade referida. Consoante a tese do sociólogo Karl Marx, os donos de produção, no capitalismo, possuem como fim o maior lucro possível. Nessa perspectiva do autor, nota-se que essa mentalidade econômica ainda rege as relações atuais, incluindo as do Brasil. Desse modo, em um contexto que o trabalho de cuidado não reproduz o capital desejado pelas empresas, esse é invisibilizado e mal remunerado. Portanto, é visível que o sistema capitalista é um entrave na questão sofrida pelas mulheres. Ademais, a permanência da visão patriarcal acentua o problema dessa invisibilidade. Tal situação é explicada pois, desde o período colonial do Brasil, as mulheres foram designadas a cumprir funções domésticas e de cuidado, já que não eram vistas como capazes de exercer outro ofício. Nesse cenário, ao relacionar com a atualidade, é nítido que essa convenção social do papel da mulher foi mantido como modo de continuar o privilégio dos homens, detentores do poder. Assim, ao passo que esses se consideram superiores, não há uma luta para valorizar o trabalho de cuidado, já que é visto como função intrínseca e obrigatória do gênero feminino. Em suma, constata-se que mudanças devem ocorrer para enfrentar os desafios da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Para isso, cabe ao poder legislativo, na condição de detentor dos meios legais de transformação, criar leis que tornem obrigatória a remuneração digna desse ofício com inclusão no mercado, além de regulamentar sua valorização. Essa proposta deve ser aprovada por meio de um debate na Câmara dos Deputados e tem como fim acabar com a invisibilidade desse trabalho. Feito isso, a questão deixará de ser um problema do corpo social brasileiro. ✏️Heloísa Vitória Silva, de Lagarto (SE) Trecho da redação nota mil de Heloísa Vitória no Enem 2023 Reprodução/Inep Na obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em harmonia, a qual é livre de conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a realidade contemporânea está distante disso, haja vista os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no Brasil. Por certo, a negligência governamental e a desigualdade social são fatores que favorecem esse quadro. Percebe-se, a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa ótica, de acordo com o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do Contrato Social, já que o Estado não cumpre com sua função de garantir que todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder Público e à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade vivenciada por aquelas que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm crescido cada vez mais no Brasil. Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar. Ressalta-se, ademais, a situação de vulnerabilidade em que diversas cuidadoras estão inseridas como impulsionadora do problema. Nesse contexto, segundo o escritor Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Sob esse viés, grande parte dessas mulheres vivem em condições precárias, por isso, tendem a aceitar qualquer coisa e realizam até mesmo trabalhos sem remuneração; o que faz com que as dificuldades para enfrentar essa problemática aumentem e tornem essas mulheres cada dia mais invisíveis perante o corpo social. Destarte, é imprescindível que haja mudança. Infere-se, portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao Governo, como Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos sociais, por meio de petições e da criação da campanha “Cuidar também é trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem a função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais com a invisibilidade e a desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada. ✏️Maria Laura Klein, de Chapecó (SC) Trecho da redação nota mil de Maria Laura Klein no Enem 2023 Reprodução/Inep O livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, escrito por Carolina Maria de Jesus na década de 1950, narra as vivências da autora na favela do Canindé e suas dificuldades para obter sozinha o sustento de seus três filhos. De maneira análoga, cerca de setenta anos após a publicação do diário, a realidade enfrentada por Carolina permanece no Brasil contemporâneo, visto que o trabalho de cuidado realizado por mulheres, apesar de extremamente importante para a sociedade nacional, continua invisibilizado. Diante disso, cabe refletir acerca do legado histórico patriarcal e da intensificação das desigualdades para compreender os desafios que impedem a valorização do serviço feminino de assistência. Nesse contexto, é válido considerar a existência de permanências históricas como o principal fator causador da invisibilidade do trabalho de cuidado exercido por mulheres. Isso ocorre, pois, desde os primórdios do Brasil Colônia, a população feminina tem recebido o status de sexo frágil e, por supostamente não possuírem aptidões para o sustento, tornaram-se encarregadas apenas das tarefas domésticas. Sob essa ótica, é nítido que, duzentos anos depois da superação da condição de colônia, as raízes patriarcais continuam sendo refletidas nas relações modernas brasileiras, uma vez que as mulheres permanecem responsáveis por serviços não remunerados associados à maternidade e à existência de idosos da família, o que resulta na manutenção de estereótipos de gênero e na redução do tempo disponível para a inserção feminina no mercado de trabalho, posto que os trabalhos assistencialistas são - geralmente - exercidos de forma integral. Assim, torna-se evidente que o legado histórico desvaloriza o papel da mulher no cuidado familiar, além de corroborar seu estado de vulnerabilidade devido à falta de remuneração e à dependência financeira de seus maridos. Ademais, é relevante considerar a ampliação de disparidades sociais como uma consequência direta da problemática do cuidado invisibilizado. De acordo com o escritor brasileiro Ariano Suassuna, o Brasil é uma nação dividida em dois fragmentos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos, sendo a estrutura nacional criada para suprir apenas as necessidades dos primeiros. A partir disso, percebe-se que, em famílias cuja renda não é suficiente para contratar profissionais especializados na assistência de diversos setores sociais, tal tarefa recai sobre as mulheres que compõe o âmbito familiar, o que os condiciona a permanecer na miséria por impossibilitar seu acesso a meios de mudança de vida, como a educação e o emprego remunerado. Logo, é notório que a desvalorização do trabalho de cuidado reforça o pensamento de Suassuna, intensificando a marginalização feminina e a separação dos privilegiados e dos despossuídos. Portanto, tornam-se claros os desafios enfrentados pela invisibilidade dos serviços de cuidado e a necessidade de combatê-los. Dessa maneira, é imperativo que o Governo Federal atue na criação de subsídios destinados a mulheres que exercem o trabalho assistencialista em tempo integral. Isso deve ocorrer por meio de alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias - redirecionando verbas de forma igualitária para famílias vulneráveis em todo o país -, a fim de reduzir as disparidades sociais e, consequentemente, superar o legado histórico patriarcal que atingiu Carolina Maria de Jess e outros expoentes da população feminina brasileira. ✏️Arthur Sanches Sales, de Belém (PA) Trecho da redação nota mil de Arthur Sales no Enem 2023 Reprodução/Inep Conforme estudos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de idosos crescerá drasticamente nas próximas décadas. Nesse contexto, o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres é fundamental para acolher essa parcela populacional. Todavia, a invisibilidade e a omissão estatal são desafios que perpetuam o descaso sofirdo por essas trabalhadoras no Brasil. Logo, faz-se imperioso a tomada de medidas que resolvam esse contexto de emergência generalizada. Sob essa perspectiva, é crucial que a escassez de debates acerca da importância das atividades de assistência seja superado. A esse respeito, a ilustre filósofa Djamila Ribeiro defende que, para atuar em uma situação, deve-se, antes de tudo, tirá-lo da invisibilidade. Entretanto, o panorama nacional destoa do pensamento da autora, já que o alto índice de empregadas domésticas em condições ocupacionais precárias não é enxergado pelo círculo social, de modo que discussões sobre essa questão não sejam priorizadas, dificultando intervenções nesse problema. Então, essa nebulosidade prescisa ser exposta para conscientizar a sociedade. Outrossim, vale ressaltar de que maneira a negligência do Estado fomenta a marginalização das cuidadoras. A partir disso, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman utiliza o termo "Instituição Zumbi" para simbolizar as entidades que não cumprem seu papel previamente estabelecido. Segundo o raciocínio, é possível compreender o Poder Executivo como um exemplo da ideia do expoente da Sociologia, uma vez que a sua função de garantir dignidade profissional a todo não está sendo cumprida em sua totalidade, pois muitas trabalhadoras de acolhimento ainda encontram-se em situações indignas. Por isso, a conduta governamental necessita ser reformulada para assegurar os direitos dessas profissionais. Portanto, torna-se primordial mitigar a marginalidade do trabalho de cuidado realizado pelo gênero feminino. Dessa forma, o Ministério da Cidadania, enquanto responsável por políticas cidadãs, deve propagar dados e pesquisas que revelem a gravidade do esquecimento sofrido pelas cuidadoras, por meio de plataformas midiáticas de destaque, a fim de atingir o maior contingente possível e conscientizá-lo. Ademais, a coletividade, por intermédio do Ministério Público, precisa cobrar do Governo Federal ações efetivas de proteção ocupacional às empregadas domésticas, com o intuito de promover o labor digno a esses indivíduos. Assim, a acolhida da nova geração de pessoas de terceira idade poderá ser efetiva. ✏️Lucas Malta, de Governador Valadares (MG) Trecho de redação nota mil de Lucas Malta no Enem 2023 Reprodução/Inep A Constituição Federal de 1988, documento jurídico mais importante do país, garante o trabalho remunerado e a dignidade humana como direitos de todo cidadão brasileiro, além de estabelecer a igualdade entre os gêneros masculino e feminino na sociedade. Entretanto, nota-se que tal prerrogativa não tem se reverberado na prática, visto que ainda há uma invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, o qual, muitas vezes, não apresenta retorno financeiro. Portanto, faz-se necessária a análise dos principais fatores que contribuem para esse triste cenário: o machismo e o descaso estatal. Em primeira análise, é importante destacar que a mulher ocupa uma posição subjugada na sociedade brasileira desde o período colonial, sendo encarregada dos afazeres domésticos e dos cuidados familiares. A partir desse contexto, após anos de inferiorização, as mulheres conquistaram diversos direitos sociopolíticos, como o direito ao voto e o trabalho remunerado. Todavia, mesmo com essas conquistas, ainda é notável que existe um machismo estrutural na sociedade contemporânea, já que, segundo o IBGE, as mulheres gastam o dobro de tempo com tarefas de cuidado, quando comparadas aos homens. Nesse sentido, por ser uma tradição enraizada na sociedade, o trabalho de cuidado realizado pela população feminina é ignorado por grande parte das pessoas. Ademais, é imperioso ressaltar que a invisibilidade e a desvalorização desse tipo de trabalho resultam, em alguns casos, na falta de remuneração, o que contraria o direito estabelecido na Constituição. De acordo com o filósofo Nicolau Maquiagem, o principal objetivo do governante é a manutenção do poder, deixando em segundo plano a busca pelo bem comum. Assim, é evidente que o Estado não se preocupa com a garantia dos direitos das mulheres, o que reflete na ausência de políticas públicas que assegurem uma remuneração digna àquelas que trabalham. dessa forma, as mulheres se encontram desamparadas, ao mesmo tempo, pela sociedade e pelo governo. Portanto, é necessário promover ações concretas, as quais alterem o quadro de invisibilidade do trabalho realizado pela população feminina. Logo, cabe às emissoras de TV, as quais são grandes formadoras de opinião da sociedade, realizar campanhas sobre a importância de lutar contra o machismo, por meio de anúncios publicitários, a fim de desconstruir ideias de subjugação presentes no Brasil contemporâneo. Além disso, o Governo Federal deve fiscalizar as relações de trabalho para garantir a remuneração feminina. ✏️Catharina Ferreira, de São Paulo (SP) Trecho da redação nota mil de Catharina Ferreira no Enem 2023 Reprodução/Inep O trabalho de cuidado se mostra necessário na medida em que é o responsável pelo zelo de crianças, idosos, pessoas com deficiências e afazeres domésticos. Entretanto, nota-se, na comunidade brasileira, a invisibilidade desse serviço e seu protagonismo majoritariamente feminino. Isso ocorre por duas causas principais: o baixo prestígio social estigmatizado a essas tarefas e as convenções de gênero estabelecidas pela sociedade brasileira. A princípio, o prestígio social de um trabalho é um fator importante para a determinação de seu reconhecimento e remuneração. Nesse raciocínio, atividades de cuidado são estigmatizadas dentro do corpo social como inferiores e descriminalizadas pelo seu baixo nível de escolaridade. Isso acontece, pois com a predominância do capitalismo no ocidente e a Revolução Tecnológica introduzida a partir da 3ª Revolução Industrial no mundo contemporâneo, houve a crescente valorização de serviços de alto grau de especialização e nível acadêmico. Dessa forma, atividades de baixo ou nenhum valor tecnológico, como o trabalho do cuidado ou tarefas domésticas, foram socialmente marginalizadas em escala global. Além disso, percebe-se a predominância de mulheres na realização de serviços de assistência. Essa é uma realidade que demonstra que as transformações sociais ocorridas no Brasil não foram suficientes para desconstruir convenções de gênero e seus papéis sociais, pois atividades relacionadas ao cuidado e de cunho doméstico são predominantemente associadas a mulheres. Como exemplificação, “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, retrata esse cenário pela personagem Macuabé, nordestina que trabalha como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Descrita ao longo da narrativa como pequena e inviável, ausente de acontecimentos ou importância em sua própria história. Clarice representa, dessa maneira, a invisibilidade e o preconceito da sociedade brasileira pelas mulheres que realizam o trabalho do cuidado e seus desafios. Portanto, é necessária a aplicação de medidas para o enfrentamento da desvalorização do trabalho de cuidado no Brasil. Para isso, o Governo Executivo Federal deverá realizar ações de combate à desigualdade social sofrida por essa atividade, por meio de políticas de valorização do serviço de assistência, como a validação legal dessa prestação como trabalho remunerado e a obrigatoriedade do pagamento do salário mínimo. Assim, o Brasil se tornará um país que enxerga e prioriza todos os tipos de serviços. ✏️Gabriela Gurgel, de Natal (RN) Trecho da redação nota mil de Gabriela Gurgel no Enem 2023 Reprodução/Inep A filósofa contemporânea Hannah Arendt constata, por meio do conceito denominado “banalidade do mal”, a tendência existente nas sociedades no que tange à naturalização das mazelas presentes na coletividade. Nessa vertente, percebe-se que, na realidade brasileira atual, a proposição teórica mencionada se torna evidente, sobretudo quando são considerados os entraves para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. Com efeito, hão de ser analisados os principais intensificadores da temática em questão: o machismo estrutural e a omissão estatal. Diante desse cenário, a persistência de um ideário preconceituoso contra o público feminino potencializa a desvalorização de atividades relacionadas ao cuidado. Nesse viés, cabe citar que durante o Período Colonial, houve a estruturação da família brasileira com valores patriarcais, de modo a haver a restrição do papel social da mulher à reprodução e aos afazeres domésticos. No entanto, apesar do lapso temporal, tais convenções ainda estão presentes no território nacional, haja vista que, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres se dedicariam mais que o dobro de horas semanais, em 2019, em comparação aos homens, às tarefas de cuidado. Nessa linha de raciocínio, atividades desse tipo – que incluem o trabalho com crianças, idosos, e pessoas com deficiência, assim como as demandas domésticas – são comumente vistas como uma obrigação feminina, mas, lamentavelmente, recebem um grau inferior de reconhecimento e importância. Isso se torna ainda mais claro pelo fato de muitas tarefas dessa natureza serem mal pagas ou não remuneradas, o que é extremamente preocupante em um país como o Brasil – o qual apresenta, em sua Constituição Federal de 1988, o direito à igualdade laboral. Ademais, é imperioso mostrar a postura inerte do Estado brasileiro quanto à tentativa de invisibilização que acomete a problemática. Sob tal ótica, o sociólogo polonês Zigmunt Bauman define como “Instituições Zumbi” aquelas entidades que mantêm suas estruturas vigentes, contudo não cumprem adequadamente seus papéis sociais. Nesse sentido, o aparato estatal nacional pode ser enquadrado na visão baumaniana, tendo em vista que o trabalho do cuidado colocado em prática pelas mulheres é decorrente, em muitos contextos, da intersecção das desigualdades socioeconômicas e étnicas. Dessa forma, enquanto não for combatida a conjuntura precária vivenciada por tantas meninas e mulheres, as quais se encontram, principalmente, em situação de pobreza e de vulnerabilidade, elas continuarão inseridas em um trabalho de cuidado sem o amparo estatal necessário. Portanto, fazem-se urgentes medidas de enfrentamento aos impasses da temática supracitada. Assim, o Ministério do Trabalho e Emprego deve realizar um registro das principais áreas com presença do trabalho de cuidado. Tal iniciativa será efetivada por intermédio de profissionais do IBGE, os quais, em parceria com o Poder Executivo, irão às residências onde as mulheres exercem suas atividades e organizarão um auxílio financeiro para ajudá-las a garantir suas dignidades enquanto cidadão. Isso poderá proporcionar melhores perspectivas de vida para o público feminino, de maneira a fragilizar o machismo e ampliar a igualdade. ✏️Indira Morgana de Araújo Silva, de Simão Dias (SE) Trecho da redação nota mil de Indira Morgana no Enem 2023 Reprodução/Inep A Constituição Cidadã traz, entre suas diretrizes legais, a igualdade entre homens e mulheres, nas diversas áreas, o que inclui a esfera laboral. No entanto, na prática, a realidade brasileira tem sido diferente do que propõe a lei, sobretudo, no que se refere aos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado, em grande parte, realizado pelas mulheres. Logo, debater sobre os principais fatores relacionados à problemática — raiz cultural e negligência estatal — é indispensável para a reversão do atual quadro no Brasil. De início, é válido salientar que os impasses relativos à ausente visibilidade do trabalho feminino de cuidados decorre de padrões culturais construídos ao longo dos séculos. Nesse sentido, a sociedade brasileira naturalizou as atribuições de zelo como o outro de trabalho doméstico, fundamentalmente, às mulheres, como se tais atividades estivessem associadas às suas características biológicas. Entretanto, segundo o que afirma a socióloga Simone de Beauvoir, em seu livro “O Segundo Sexo”: “Não se nasce mulher, torna-se”. Sob a ótica “beauvoiana”, percebe-se, então, que aquilo que vem a ser tido do escopo feminino, por exemplo, os cuidados com o próximo e com o lar às mulheres e não aos homens. Em consequência do exposto, dificulta-se a valorização desse tipo de labor em termos legais e remunerativos, pois, já que é “natural”, em consequência, para o senso comum, não haveria motivos para reconhecimentos formais. Portanto, corrigir as visões deturpadas não apenas de contradizer a Constituição de 88, como também é essencial para o enfrentamento do problema no país. Ademais, é imprescindível destacar o falho papel do Estado quanto ao endosso da invisibilidade do mundo laboral das cuidadoras da nação, principalmente, a partir de um olhar socioeconômico. Isso acontece, porque, conforme apontava o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, desde o final da escravatura, no Brasil, pouco foi feito pelo governo no que diz respeito à inserção do negro na sociedade; sendo, naquele contexto, os meninos pretos destinados aos trabalhos nas feiras e as meninas pretas, para o serviço doméstico. Assim, como de outrora até os dias atuais, pouco foi feito pelo poder público, para modificar tal padrão, é esta última a maioria a qual permanece como empregadas domésticas ainda pouco valorizadas, cuidadoras mal remuneradas e donas de casa com pouca qualificação educacional e profissional. Dessarte, gerar mais benefícios legais a esse público é medida incontroversa para reverter o cunho de desigualdade de etnia e de classe relacionadas à questão. Destarte, para enfrentar a invisibilidade do trabalho feminino de cuidado, algumas ações devem ser adotadas. Dessa forma, o Poder Legislativo, na figura das deputadas (estaduais e federais) e das senadoras, dada a sua representatividade do coletivo feminino, deve difundir informações e ampliar direitos às cuidadoras de pessoas e de lares. Isso pode ser feito através do desenvolvimento de projetos de lei responsáveis por criar campanhas modificadoras das construções sociais de gênero e por meio da elaboração de emendas constitucionais (inclusive para a PEC das domésticas). Com tais atitudes, objetiva-se corrigir desproporcionalidade de gênero no desempenho das referidas atividades, bem como, aumentar a visibilidade e as benesses legais às mulheres pretas cuidadoras, reduzindo-se, consequentemente, as desigualdades ligadas ao tema. ✏️Millena Martins Bacelar, do Piauí Trecho da redação nota mil de Millena Bacelar no Enem 2023 Reprodução/Inep Em seu poema "Vou-me embora pra Pasárgada", o autor modernista Manoel Bandeira vislumbrou uma sociedade idealizada, para se refugiar de uma realidade na qual o eu lírico não era feliz, evidenciando a insatisfação no tocante ao mundo concreto. Nesse sentido, fora da ficção, no Brasil, muitos indivíduos são acometidos por tal disfunção, uma vez que são vários os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Logo, entre eles, estão a negligência estatal e a precária formação do ser. Sob esse viés, vale pontuar, como uma das principais dificuldades associadas à não visibilidade do cuidado exercido em forma de labor pela mulher, no país, a indiligência governamental. Nessa perspectiva, o jornalista Gilberto Dimenstein elucida que a letargia das instituições públicas predispõe um empecilho significativo na materialização dos direitos preconizados na Carta Magna. À luz dessa asserção, é notório que o Estado não tem cumprido seu papel de modo adequado, visto que são ínfimas as políticas de remuneração adequada promovidas, as quais visem ao oferecimento de salários suficientes para viabilizar melhores condições de vida, como o aumento do poder compra de itens básicos e essenciais à sobrevivência, a exemplo de artigos de alimentação e de higiene pessoal. Como efeito, observa-se um cenário de desfacelamento da dignidade humana de muitas mulheres no ofício em voga. Outrossim, faz-se mister destacar, como outra dificuldade a ser defrontada para combater a invisibilidade do trabalho de cuidadoras, na nação, a deficitária formação civil, que leva ao preconceito social. Nesse contexto, pode-se citar o fato de que muitas escolas são ineficientes em promover uma maior conscientização acerca da importância dos serviços de cuidado desempenhado, principalmente, por pessoas do sexo feminino, o que provoca um panorama de desvalorização e de descriminação das profissionais que, em grande parte das vezes, são subjugadas por suas características fenotípicas. Na linha desse raciocínio, cabe mencionar a "Teoria da Coercitividade", do sociólogo Émile Durkheim, ao afirmar que, se o pensamento hegemônico defende determinada ideia, nesse caso, de que essas atividades de cuidado não são relevantes para o desenvolvimento do país e de que as mulheres que a praticam são inferiores, por questão de raça ou gênero, o povo tende a segui-la. Portanto, com o fito de dar visibilidade ao trabalho de cuidado realizado pela mulher, no Brasil, o Governo Federal, pilar inicial da pátria, deve investir mais em políticas de remuneração adequada e justa, por meio da destinação de um maior erário, que deverá ser retirado do Produto Interno Bruto, correspondente ao fornecedor de capital para fins como esse. Ademais, as Escolas, como agentes de socialização, precisam promover uma maior conscientização, mediante a elaboração de palestras e de debates, os quais informem a relevância desse ofício e da não discriminação das mulheres que o exercem, com o intuito de minimizar o preconceito. Assim, os brasileiros deixarão de protagonizar a distopia de Bandeira. ✏️Rafaela Muller, de Pelotas (RS) Trecho da redação nota mil de Rafaela Muller no Enem 2023 Reprodução/Inep Historicamente, o mundo do trabalho foi dominado pelos homens, restando para as mulheres, principalmente, o trabalho doméstico e de cuidado com a família. Com efeito, no Brasil não foi diferente, e, ainda hoje, existem desafios que precisam ser enfrentados para reduzir a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no país, uma vez que esse grupo da sociedade permanece em situação de exclusão e subserviência no mercado trabalhista. Diante desse cenário, é fundamental compreender as causas desse revés, dentre as quais a desigualdade social e o patriarcalismo enraizado na sociedade são fatores agravantes dessa problemática. Em uma primeira análise, destaca-se a desigualdade social como um dos desafios a ser enfrentado para amenizar a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Nesse sentido, a escritora Carolina Maria de Jesus, em sua obra literária "Quarto de Despejo", escrita em meados do século XX, traz uma denúncia social, com uma visão feminina de uma moradora da favela, na qual retrata a invisibilidade das pessoas que vivem em regiões desprestigiadas pelo poder público e que precisam se submeter a situações degradantes para conseguir sobreviver e não morrer de fome. Sob essa ótica, percebe-se que a desigualdade social gerada pela ausência do amparo estatal para as camadas mais pobres da população acarreta na aceitação de trabalhos mal remunerados e informais, principalmente pelas mulheres. Assim, é fundamental que haja políticas públicas que reconheçam a importância do trabalho de cuidado no país e tragam garantias para essa atividade que será cada vez mais demandada com o envelhecimento da população. Outrossim, salienta-se que o patriarcalismo enraizado na sociedade brasileira é outro fator que contribui para a falta de visibilidade do trabalho de cuidado desempenhado pela mulher no país, sendo a desconstrução dessa cultura de inferioridade feminina mais um desafio a ser superado para solucionar esse gravame social. Segundo preconiza a Constituição Federal, em seu artigo 3º, é objetivo do Estado a construção de uma sociedade justa e igualitária, sem distinção de gênero, raça, etc. No entanto, as mulheres ainda são prejudicadas quanto aos direitos trabalhistas, recebendo salários menores e não sendo valorizadas especialmente nos trabalhos realizados em ambientes domésticos. Dessa forma, é preciso que haja uma mudança cultural no pensamento patriarcal a fim de ampliar a importância desse trabalho de cuidado feminino com o reconhecimento das garantias constitucionais. É evidente, portanto, que medidas precisam ser tomadas para solucionar esse problema. Para tanto, o Congresso Nacional, por meio da elaboração de leis específicas, deve criar normas que assegurem a visibilidade do trabalho de cuidado existente no país, executado majoritariamente por mulheres, com a regulamentação de direitos trabalhistas para essa categoria, a fim de que essas trabalhadoras possam ter uma vida digna, uma jornada legal de trabalho e uma remuneração justa que lhes permita ter acesso à moradia, alimentação, saúde e lazer. Vídeos Enem 2023: professores comentam tema da Redação
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19/03 - Progressão continuada prejudica a qualidade da educação no Brasil?
Especialistas comentam resultados do sistema, considerado exitoso no combate à evasão escolar, mas criticado por muitos pais. Eles explicam também como funciona o método em outros países A progressão continuada foi pensada para ter avaliações constantes. Getty Images As duas filhas do consultor Fábio Olmos, de 7 e 9 anos, estudam na escola municipal na Vila Matilde, na Zona Leste de São Paulo, que o pai considera de ótima qualidade: tem bons professores, bom diálogo com os pais, boa estrutura e é referência no bairro. Sua filha mais nova, no entanto, ainda não adquiriu as habilidades de leitura e escrita esperadas para sua idade, e Olmos gostaria que ela repetisse o segundo ano do ensino fundamental por causa disso. 👉🏾 Mas, como a rede pública da cidade usa a chamada progressão continuada — em que os alunos recebem aulas de reforço mas não repetem o ano — não existe essa possibilidade. Ao fim do primeiro ciclo, que termina na 3ª série, ela está fazendo aulas de reforço para conseguir acompanhar o ciclo seguinte. Fábio não gosta desse sistema. “É minha única reclamação. Não adianta ela passar de ano e ter dificuldade de escrever. Ela pode não conseguir se recuperar", diz ele. Como ela vai avançar e estudar, por exemplo, inglês, se ainda tem dificuldade em escrever no próprio idioma? Fábio acha que as aulas de reforço da sua filha, que começa a estudar mais cedo duas vezes por semana para isso, não são suficientes. “Sei que ao repetir ele pode ficar frustrada, porque os amiguinhos foram para outra sala. Mas é um problema menor diante da possibilidade de ela avançar sem ter aprendido”, afirma. Ele não está sozinho no descontentamento: muitos pais reclamam da progressão continuada, e há críticas até mesmo entre professores. A diferença é que, em vez de um aluno poder repetir todos os anos caso não atinja as notas esperadas, a repetição só é possível ao final de cada ciclo, que costuma ser de três anos. 📊 A progressão continuada foi adotada no Brasil a partir da criação da Lei de Diretrizes e Bases (LBD) para a educação, em 1996. A legislação criou a possibilidade de uso desse novo sistema de progressão escolar, mas não o tornou obrigatório. Cada Estado e município decide se adota e quais são as regras, e nem mesmo o Ministério da Educação (MEC) diz saber quantos Estados usam a progressão. São Paulo foi o primeiro Estado a implementar o modelo em toda a rede pública estadual, em 1998. Aos menos outros nove Estados adotaram a progressão continuada ou um sistema equivalente desde então, segundo um levantamento da BBC News Brasil. Seis Estados informaram que não usam a progressão, e 11 não responderam à consulta da reportagem. Anna Helena Altenfelder, do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação (Cenpec), organização sem fins lucrativos voltada para a promoção da qualidade do ensino público nacional, explica que a progressão continuada foi criada para combater a evasão escolar e atingir a meta de universalizar a educação brasileira, ou seja, garantir o acesso de todos a um ensino de qualidade e que continuem na escola. A pesquisadora diz que a estratégia funcionou: a evasão caiu. Mas o método é muito questionado porque criou um novo problema. Um aluno pode chegar ao fim do ensino fundamental sem ter conhecimentos básicos — há casos em que o estudante passa para o ensino médio sem compreender um texto básico. Resultados do sistema de avaliação de rendimento escolar do Estado de São Paulo, que foi pioneiro no uso da progressão, mostram que, em 2019, a última prova aplicada antes da pandemia, 69% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental tinham conhecimentos abaixo do considerado adequado em português. Em matemática, 80% dos alunos do 9º ano tiveram desempenho abaixo do ideal. Foram feitos outros estudos desde então, mas, segundo os especialistas, a pandemia de covid-19 gerou dificuldades que afetaram os dados, tornando-os ruins para esse tipo de análise. Educadores ouvidos pela BBC News Brasil apontam, no entanto, que o problema não está na progressão continuada em si, mas em como ela é aplicada, especialmente quando isso significa uma aprovação automática. Além disso, Estados que não usam o sistema têm resultados semelhantes aos que usam — o que indica que os problemas de aprendizagem no ensino público brasileiro têm uma causa mais profunda, apontam os especialistas. “Se você perguntar para dez pessoas, mais da metade vão dizer que têm preocupação com a progressão continuada. Vão dizer que os alunos saem da escola sem saber português, matemática”, diz Altenfelder. “De fato, as avaliações mostram que há insuficiências de maneira evidente. O equívoco está em achar que o sistema anterior era melhor.” O que estudos dizem sobre a repetição de série A repetição de séries na educação é tema de inúmeros estudos no Brasil e no exterior. Uma análise da Unesco, braço das Nações Unidas para educação, mostra que, embora existam estudos que apontem alguns benefícios do uso de repetição a cada série, a maioria dos indícios é de que, em países em desenvolvimento, isso gera mais danos do que vantagens. "Na América Latina, estudantes que repetiram pelo menos uma vez obtém resultados mais baixos em todos os exames, sobretudo em matemática e leitura", explica Rebeca Otero, coordenadora de educação da Unesco no Brasil. "Ou seja, o estudante repete para que ele melhore seu desempenho acadêmico, mas isso muitas vezes não acontece." A análise da Unesco aponta ainda que a repetição de ano está associada a um maior risco de abandono da escola, a um maior índice de atraso de dois anos ou mais dos alunos em relação à série que deveria estar de acordo com sua idade, a chamada defasagem idade-série, e a impactos negativos na autoestima e motivação dos repetentes. Os dados mostram também que os resultados escolares gerais onde a repetência é aplicada são muito parecidos com os de onde a progressão continuada foi adotada. Por exemplo, no Paraná, onde não há progressão, o sistema de avaliação de rendimento escolar de 2019 mostrou que 68% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental estavam abaixo do esperado em português, muito próximo dos 69% de São Paulo. Otero explica que a Unesco não faz uma recomendação específica sobre o assunto, porque qualquer orientação requer aprovação de todos os países membros e não há consenso. Ela defende que a repetição de série "deve ser o último recurso para remediar a situação de atraso dos estudantes na aprendizagem". Altenfelder argumenta que a repetência não é uma boa ferramenta pedagógica, porque, em geral, um estudante não adquire as habilidades que não conseguiu desenvolver antes ao cursar de novo um mesmo ano letivo. “Tanto que os alunos que repetem, repetem uma, duas, três vezes. Claro que sempre vai ter alguém que conhece um aluno que repetiu e depois progrediu, passou a aprender, mas isso é a exceção”, diz a pesquisadora. "Os alunos que repetem de ano o fazem várias vezes e acabam largando a escola. E o aluno estar fora da escola é o pior cenário." A visão é compartilhada por Ivan Gontijo, gerente de políticas educacionais da organização sem fins lucrativos Todos pela Educação. “Se o aluno repetiu, o que faz você acreditar que fazendo tudo exatamente da mesma forma, tendo as mesmas aulas, os mesmos problemas na rede, ele vai aprender?", diz Gontijo, que já foi professor de ensino fundamental. "Não vai funcionar, é preciso ter um comprometimento diferente com esse estudante.” As evidências de que a repetição de série está ligada a uma maior evasão escolar são motivo de preocupação para gestores públicos, diz Gontijo, porque o Estado deve garantir que todas as crianças e adolescentes estejam estudando. Estrutura escolar, como bibliotecas acessíveis, é essencial para o funcionamento do modelo. BBC Por que a progressão continuada foi adotada? Quando a progressão começou a ser adotada no Brasil, os altos índices de reprovação, defasagem idade-série e evasão escolar eram os grandes desafios da educação pública, explica a pedagoga Cleidilene Ramos Magalhães. “O Brasil é um país que universalizou a educação muito tardiamente, somente no final do século passado”, afirma Magalhães, que é professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). “Mas a ideia de progressão continuada e esse entendimento de que a repetência não é uma boa prática são algo que existe desde os anos 1920.” O sistema de ciclos e progressão continuada de fato ajudaram a reduzir o abandono da escola, afirma a pesquisadora Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, que se dedica a melhorias na formação de profissionais da educação. Em 2007, o índice era de quase 5% no ensino fundamental e caiu progressivamente até atingir 2,2% em 2020, antes de voltar a subir em meio à pandemia de covid-19), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC). No ensino médio, a evasão era de 13,2% em 2007 e passou para 6,9% em 2020. O Brasil não eliminou totalmente a reprovação com muitos pensam, diz Costin, e ainda se reprova muito, tanto onde existe essa possibilidade ao final de um ciclo quanto onde não se aplica a progressão continuada. O Brasil é, na verdade, um dos que mais reprovam entre os 38 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as maiores economias do mundo. “A reprovação é maior no sexto ano do ensino fundamental e no início do ensino médio, e está diretamente ligada à desmotivação e ao abandono escolar”, diz Costin. Um estudo do economista especializado em educação Reynaldo Fernandes, da Universidade de São Paulo (USP), mostra que o problema da evasão afeta principalmente jovens de baixa renda, negros, da periferia ou de áreas rurais. Isso mostra que existe fatores socioeconômicos têm grande influência sobre os índices de reprovação e abandono escolar, diz Gontijo, do Todos pela Educação. “Tem a ver com as condições financeiras da família, com o índice de escolaridade da mãe, com a vulnerabilidade de moradia, etc”, diz ele. “Por isso, a reprovação é uma grande preocupação na rede pública, que atende os alunos em maior situação de vulnerabilidade." Desafio LED: match, 'carona', doação de material escolar, mentoria e mais; conheça projetos premiados Progressão continuada x aprovação automática A socióloga Maria Valéria Barbosa, que pesquisa sobre educação, diz que a progressão continuada foi pensada para que o sistema de ensino seja mais inclusivo ao dar um tempo maior para o aluno aprender. Mas ela diz que isso não deve ser sinônimo de uma garantia de aprovação ou aprovação automática. “A progressão continuada não é ausência de avaliação, muito pelo contrário", diz Barbosa, que é professora da Universidade Federal de São Paulo. "Para que funcione, é necessária uma avaliação constante e não só no final da série ou de um ciclo, para identificar as dificuldades dos alunos que precisam ser trabalhadas, para que ele avance para o próximo ciclo sem atrasos.” Ou seja, em um cenário ideal, a cada ano, os alunos fazem provas, atividades e trabalhos para que a escola avalie o quanto foi retido das habilidades e conhecimentos necessários. A escola deve oferecer reforços para superar eventuais deficiências, desde aulas e atividades extras até trabalho em conjunto com outras instituições. No entanto, diz Barbosa, "muitas vezes, não é isso que acontece”. “Quando a progressão continuada foi implantada, foi para diminuir a evasão, mas também com o desejo de aumentar a eficiência na educação e reduzir gastos — porque um aluno que repete gera um custo financeiro”, diz Barbosa. “Nessa lógica de eficiência, não foram feitos os investimentos necessários para a progressão continuada dar certo.” Claudia Costin, do Singularidades, aponta que há Estados que implementaram a progressão continuada sem montar estratégias eficientes para corrigir falhas na aprendizagem, que vão se acumulando conforme as crianças avançam nos ciclos. O combate à repetência e evasão não deveria vir a custo da qualidade da aprendizagem do aluno, diz Costin. Professores ouvidos pela BBC News Brasil apontam no mesmo sentido. Eles afirmam que os resultados insatisfatórios na educação não são resultado da progressão continuada em si, mas da falta de condições para aplicar o modelo da forma como ele foi idealizado. “Em São Paulo, não existe progressão continuada, existe aprovação automática”, diz a deputada estadual Maria Izabel Noronha, presidente da Associação dos Professores da Rede Pública Estadual de São Paulo (Apeoesp). “É muito difícil para mim, que sou progressista e acredito em modernizar a pedagogia, ver a progressão continuada não dando certo por causa de uma implementação inadequada.” O professor de história Juliano Godoi, que dá aula há mais de dez anos na rede municipal de São Paulo, concorda. “A progressão continuada exige uma atenção para o desenvolvimento individual de cada aluno, para as dificuldades de aprendizado de cada um”, afirma. 73% dos jovens sem educação básica completa querem voltar a estudar, aponta levantamento “Mas como o professor vai fazer isso em uma classe de 35 alunos?” Godoi destaca ainda as demissões recentes de centenas de professores temporários da rede estadual paulista que haviam sido contratados entre 2018 e 2020. "Como um professor vai conseguir dar o reforço adequado, pensar no plano pedagógico, se está preocupado se vai ter como pagar as contas no fim do ano?” A Secretaria de Educação de São Paulo disse à BBC News Brasil que a prorrogação de contratos foi uma prioridade da atual gestão e estendeu o contrato de 61 mil professores temporários contratados entre 2021 e 2023 em dezembro passado. Diminuir o tamanho das salas, afirmou o governo, é um desafio maior. “Cada turma custa R$ 45 mil por ano. Para ter 20 alunos por sala, precisaria dobrar o tamanho da idade. Seriam necessários bilhões de reais”, diz Vinicius Neiva, secretário executivo de educação de São Paulo. Melhores condições de trabalho para professores são essenciais para o modelo funcionar Getty Images via BBC O que pode ser melhorado A professora Anne Telma Mieri, que tem 27 anos de magistério e hoje dá aula no ensino fundamental em Jundiaí, no interior de São Paulo, está entre os professores que avaliam positivamente a progressão continuada. “Com a progressão continuada, a gente dá chance para todos os alunos", diz ela. O aluno de uma escola de periferia tem uma realidade totalmente diferente daquele em uma escola central, que tem mais renda e acesso à informação. Quando o aluno tem uma família que o acompanha, que está interessada, isso faz toda a diferença. Mas, para o modelo funcionar, é preciso uma equipe pedagógica unida, uma diretoria que entenda o modelo e um investimento para acelerar o aprendizado das crianças que não atingem os níveis de habilidades desejados ao final de cada ciclo. “No final de um ciclo, eu faço um relatório detalhado, aluno por aluno, das habilidades que eles aprenderam e também dos que não aprenderam, e isso tem que ser resolvido já no início do ciclo seguinte. Mas nem sempre acontece”, afirma. Para Ivan Gontijo, do Todos para a Educação, muitos professores têm resistência à progressão porque acreditam que a possibilidade de reprovação é uma forma de controle disciplinar. “A ordem é importante, não dá para aprender no caos. E é claro que com classes maiores, com mais gente na escola, você tem mais indisciplina, mas é preciso formar os professores para encontrar outras estratégias", diz Gontijo. Ele argumenta ainda que, em muitos casos, alunos tumultuam a sala de aula porque estão com o aprendizado defasado. “Tem professor que diz que os alunos não estão interessados, por exemplo. Mas, se eles não estão interessados, não é a ameaça de reprovação que vai gerar disciplina.” Camilo Santana diz ser 'fundamental' aprovação do Novo Ensino Médio no 1º semestre Para Cleidilene Ramos Magalhães, da UFCSPA, essa questão da disciplina também está relacionada ao tipo de apoio e formação que os professores precisam receber para aplicar a progressão continuada da maneira ideal. “Quando a gente fala em condições de trabalho, não é só salário e carga horária", diz ela. "É ter, por exemplo, um psicólogo na escola, porque muitos problemas de indisciplina podem vir de questões emocionais, de dificuldades externas dos alunos”, diz ela. A falta de formação continuada dos professores e de núcleos que pensem o projeto pedagógico também são fatores que dificultam a implementação adequada do modelo de progressão, afirma. “Cerca de 70% dos professores de rede pública no Brasil são formados por EAD [educação à distância], sem experiência em sala de aula.” Gontijo diz que o professor precisa se conectar com os alunos, entender suas histórias de vida, crie uma relação mais próxima, de tutoria. “Isso é impossível quando grande parte dos professores são temporários, têm que rodar a cidade porque dão aulas em escolas diferentes. O professor precisa ter tempo de qualidade com os alunos”, afirma. Mesmo com as dificuldades que atrapalham a aplicação ideal da progressão continuada, voltar ao sistema anterior seria um equívoco, diz Gontijo. “Adotar novamente a repetição em cada série sem resolver os outros problemas não melhoraria nada, só aumentaria o número de crianças fora da escola”, afirma. Nesse sentido, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil concordam que a prioridade da rede pública deveria ser melhorar o sistema de reforço para alunos com dificuldades e as condições de trabalho para os professores antes de rediscutir a progressão. “Para tudo isso é necessário um enorme investimento”, diz Claudia Costin. “Educação de qualidade custa caro.” As escolas particulares adotam a progressão? A BBC News Brasil não encontrou um levantamento sobre o uso de progressão continuada em escolas particulares. Instituições como o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp) não têm esse tipo de dado. Mas especialistas explicam que embora o uso de repetição seja muito comum, também há várias escolas que usam métodos de progressão continuada, embora não com esse nome, mas as práticas são equivalentes. Diferentemente do ensino público, no entanto, as escolas particulares que não usam a repetição tendem a ter mais recursos para investir no apoio necessário que os alunos não tenham atrasos, apontam analistas. Além disso, o setor não precisa se preocupar com evasão, dizem especialistas, porque não tem a responsabilidade de atender a totalidade da população. A perda de alunos pode significar um prejuízo financeiro para a escola, mas a responsabilidade de atender os alunos em situação de vulnerabilidade e mantê-los na escola é do Estado, ressalta Claudia Costin. Isso não significa que não haja evasão nas escolas particulares em casos de alunos que repetem muitas vezes de ano, diz ela. "O que acontece quando um aluno repete muito é que os pais mudam os alunos de escola, ou os colocam no sistema público de ensino", afirma. Como funciona em outros países A Unesco não tem um levantamento de quais países usam ou não repetição ano a ano - até porque, em muitos casos, como no Brasil, existe um sistema misto em que o modelo é usado em algumas regiões e em outras não. Mas existem estudos sobre experiências internacionais com a progressão continuada e sistemas semelhantes. Em geral, segundo a Unesco, a adoção de repetição de série é mais comum em países pobres. Foram alguns países europeus que começaram a eliminar a reprovação no sistema público nos anos 1980, explica Gontijo. “Foi justamente em uma época em que perceberam que mais alunos imigrantes estavam entrando no sistema”, diz. "Eram crianças com dificuldades com a língua, com a adaptação e em uma situação socioeconômica mais desfavorecida. Eles perceberam que ficar repetindo de ano não ia levar ao aprendizado, só ia afastar as crianças das escolas." Na França, em 1989, por exemplo, a retenção de alunos passou a ser possível apenas ao final de ciclos. “A reprovação aconteceria em último caso, e não seria vista como uma reprova e sim como um prolongamento de ciclo”, diz um estudo da pedagoga Flávia de Carvalho Spada publicado em 2007. Segundo ela, algumas escolas dos Estados Unidos que não usam reprovação tiram as crianças que estão atrasadas em certas disciplinas da sala para fazerem aulas diferentes, específicas para suas dificuldades. Ou então agrupam os alunos de uma mesma sala por nível de aprendizado e trabalham para compensar o que está faltando. “É bom para ela estar com crianças da mesma idade e não ser estigmatizada como repetente", diz Spada. "Mas ela tem que ter momentos em que as insuficiências de aprendizagem são sanadas.” 🗺️ Finlândia, Noruega, Suécia, Dinamarca e Japão estão entre os países que eliminaram ou reduziram o uso da repetição no ensino público. Em países em desenvolvimento, o Chile é um exemplo onde políticas de apoio aos estudantes com dificuldades foram substituindo a repetição como método pedagógico e tiveram um resultado positivo, diz Rebeca Otero, da Unesco. Camarões conseguiu reduzir pela metade as taxas de evasão nas escolas desde a aplicação da progressão continuada no ensino fundamental, em 2006. No entanto, uma pesquisa da Unesco nas regiões de língua inglesa do país mostrou que, embora a progressão tenha sido aplicada, em muitos casos as políticas de apoio e reforço não foram implementadas. Com isso, a maioria dos professores que responderam à pesquisa nessas regiões se opõe ao uso da progressão continuada. Já na Índia, uma lei de 2009 que proibia a repetição em qualquer série foi revogada após preocupações com o desempenho dos alunos, explica Otero. O país passou a permitir repetição no final dos ciclos do ensino fundamental e médio, mas continua tendo problemas como infraestrutura inadequada e falta de professores.
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19/03 - Professor é finalista de Olimpíada de Matemática após criar versão de famoso jogo de tabuleiro com referências do ES
Thiago Cézar de Pádua Rosa, de Guaçuí, no Sul do Espírito Santo, é um dos 20 finalistas da competição que reúne professores de todo o Brasil. Jogo de tabuleiro com referências capixabas é sucesso em escola de Guaçuí, no Sul do Espírito Santo. Swyana Freitas Quando criou um jogo de tabuleiro para os alunos de ensino médio - geração z, acostumados com as interações apenas pelo celular -, o professor Thiago Cézar de Pádua Rosa, de 35 anos, não imaginou que o sucesso seria tão grande. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Na escola onde dá aulas em Guaçuí, no Sul do Espírito Santo, o projeto interdisciplinar virou unanimidade. Mas também ultrapassou os limites da cidade na Região Sul e colocou Thiago entre os 20 finalistas da Olimpíada Brasileira dos Professores de Matemática (OBPM) em 2024. O resultado final será divulgado no próximo dia 27 e os medalhistas de ouro vão ganhar uma viagem para a China. A ideia do professor é inspirada em um jogo de tabuleiro famoso no mundo inteiro, que chegou ao Brasil no final da década de 1940 e foi sucesso até o final do século 20. Batizado de "Banco Imobiliário Capixaba", o jogo escolar foi criado no ano passado, sem fins comerciais, para atender uma disciplina eletiva, que deveria incluir Matemática e Geografia. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp "É uma versão regionalizada. Destacamos os tradicionais pontos turísticos do estado, e fizemos uma relação com a história e a cultura local. As empresas são capixabas e existem referências da escola. A Matemática está presente desde a contagem de dados e probabilidade até as estratégias de negociação na compra e venda de terrenos, imóveis e serviços", explicou o professor. Professor é finalista de Olimpíada de Matemática com versão de famoso jogo de tabuleiro "Inicialmente, pensei em fazer o jogo só com elementos de Guaçuí, com as casas e ruas do município, mas era um universo que os alunos já conheciam. Ampliar para o estado inteiro prendeu mais a atenção deles", disse. Como funciona o jogo? Como no original, no jogo criado na escola os participantes vão avançando com as peças, de acordo com casas e atividades. Podem comprar casas, precisam pagar aluguel aos proprietários, pagar ao banco, entre outros. LEIA TAMBÉM: Professor é demitido após escrever em quadro sobre aluno adolescente que ajuda família a vender água de coco no ES: 'Humilhante', desabafa mãe Jogo apresenta aos alunos desde pontos turísticos capixabas Swyana Freitas No tabuleiro, estão espalhados 30 pontos turísticos capixabas, como o Convento da Penha, em Vila Velha; o Mosteiro Zen Budista, em Ibiraçu; a Cachoeira da Fumaça, em Alegre; e o Pico da Bandeira, em Dores do Rio Preto. As empresas que aparecem como opção de compra são capixabas, o que ajudou os alunos a aprenderem quais os tipos de negócios são desenvolvidos no estado. As notas de dinheiro têm ilustrações de matemáticos conhecidos, como Pitágoras e Arquimedes. Educador de Guaçuí está entre os vinte melhores professores de matemática do país As cartas de sorte ou azar também foram personalizadas. O que originalmente seria "Vá para a prisão" virou "Vá para a direção", inclusive com a caricatura do diretor da escola; e foram inseridas opções como "Seu carro quebrou na Terceira Ponte, pague uma multa" e "Você vai participar do Festival de Alegre, ganhe quatro mil". Os alunos são incentivados a tomar decisões estratégicas baseadas em probabilidades ao lançar os dados e calcular os riscos envolvidos em cada movimento do jogo. "A interação social, inerente ao jogo, promove discussões matemáticas e estratégias colaborativas entre os jogadores", afirmou. Tabuleiro do jogo capixaba. Arquivo pessoal Mesmo com o fim da disciplina eletiva, com os dez tabuleiros impressos, o jogo continuou sendo utilizado por Thiago e outros professores, nos intervalos e tempos livres. E não parou por aí, o projeto cresceu ao longo do ano, alunos foram divididos em grupos, pesquisaram sobre os pontos turísticos e fizeram uma exposição na escola, culminando com uma viagem para conhecer pessoalmente alguns dos pontos turísticos do estado. Participação na olimpíada Com jogo de tabuleiro, professor é finalista de Olimpíada de Matemática. Swyana Freitas Entre setembro e dezembro do ano passado, o professor participou das três etapas de avaliação da OBPM, que incluíram prova; apresentação em vídeo ilustrando o trabalho desenvolvido; e entrevista, que teve entre os avaliadores o professor Cristovam Buarque, membro do Conselho Acadêmico da competição. O resultado da olimpíada será divulgado no próximo dia 27, às 18h, em cerimônia on-line que vai reunir os 20 finalistas do Brasil. "Meu objetivo é derrubar o tabu de que a Matemática é uma disciplina difícil. Não é. Aprender é divertido e pode se tornar cada vez mais fácil à medida que nós, professores, transformamos a forma de apresentar os conteúdos", contou Thiago, que coleciona boas experiências lecionando para alunos dos ensinos fundamental e médio, mas também para alunos do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e universitários da Universidade Federal Fluminense (UFF). A pedagoga da escola, Magda Vieira de Faria Azevedo, foi quem recebeu a informação sobre a olimpíada e repassou para o Thiago. "Ele é muito interativo, gosta de participar, está sempre inventando uma coisa nova para juntar os meninos. Esse projeto da eletiva deu super certo, se destacou muito, então logo pensei que ele pudesse se inscrever", falou. Professor Thiago com o jogo capixaba. Espírito Santo Arquivo pessoal Para a pedagoga é muito importante contar com um professor motivado em criar novos projetos. "A escola precisa desse tipo de profissional, os alunos precisam, ele é sim um destaque. Agora está todo mundo na torcida", celebrou a colega. A Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Antônio Carneiro Ribeiro é a única pública de ensino médio em Guaçuí, e tem cerca de 640 alunos. Praticamente todos já jogaram o jogo capixaba. "Eu não imaginei que o jogo fosse fazer tanto sucesso! Quando lancei a ideia, muitos alunos nem conheciam a referência original do jogo, porque eles não mexem com nada de tabuleiro, e logo se interessaram! [...] A mesma coisa com a olimpíada, eu não esperava chegar tão longe, me inscrevi sem muita expectativa, sabia que seria o Brasil inteiro concorrendo. Já estou muito feliz com o resultado", disse animado o finalista. Desempenho ruim em Matemática motivou a criação da olimpíada Brasil ocupa hoje a 65ª posição no ranking de 81 países que participaram do último PISA. Getty Images A baixa classificação do Brasil no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o ensino nas áreas de Matemática, Ciências e Leitura, foi o que motivou a criação da Olimpíada. "O Brasil ocupa hoje a 65ª posição no ranking de 81 países que participaram do último Pisa, divulgado no final do ano passado, levando em conta os resultados da área de Matemática. Por outro lado, faz parte da elite da matemática mundial com pesquisadores e professores reconhecidos mundialmente", pontuou Adauto Caldara, membro do Conselho Executivo da OBPM. Esse desencontro de realidades mobilizou um grupo de engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) na criação da olimpíada, que está em sua primeira edição. "O objetivo é reconhecer e valorizar iniciativas bem-sucedidas no ensino da Matemática em todo o país, de forma a disseminá-las, trabalhando para melhorar a qualidade do ensino da disciplina e, assim, contribuindo para alavancar a posição do Brasil no ranking mundial, a médio e longo prazo", explicou Adauto. LEIA TAMBÉM: Escolas estaduais do ES terão aulas de reforço de português e matemática Estudantes do ES ajudam a identificar alunos que faltam às aulas para diminuir a evasão escolar Entre os alunos mais pobres, só 3% têm conhecimentos adequados de matemática no Brasil, mostra Pisa O representante da OBPM contou que, além de Thiago, entre os finalistas estão representantes de Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Ao todo, foram 600 inscritos. Os dez primeiros colocados participarão de um intercâmbio técnico e cultural de 15 dias, em Xangai, para conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco) na Universidade Normal da China. A viagem será em outubro. O país foi escolhido porque figura sempre entre os melhores desempenhos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Preparando medalhistas Professor Thuago incentiva os alunos a participarem de Olimpíadas de Matemática em Guaçuí. Espírito Santo. Swyana Freitas Além dos jogos em sala de aula, Thiago é coordenador do Programa de Iniciação Científica (PIC) da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), e se empenha em preparar os alunos para participar da maior competição de matemática do país. Segundo ele, os resultados obtidos têm sido gratificantes, e desde 2018 a escola do Sul do estado tem alcançado medalhas de ouro na competição. "Há cinco anos, temos conseguido medalhas na olimpíada para os alunos. Em 2022 e 2023, as duas medalhas de ouro conquistadas nos colocou como os únicos representantes de uma Escola Estadual de Ensino Médio do Espírito Santo a conquistar a premiação máxima na competição", falou. Thiago lembrou que, quando estava no ensino médio, participou de uma olimpíada de Matemática, mas não teve a oportunidade de ir até o fim do processo. "Então, eu sempre incentivo os alunos a participarem de olimpíadas, já realizei meu sonho de ganhar medalhas através deles", contou com orgulho. Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo
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18/03 - Enem 2023: 'espelhos' da redação estão disponíveis para vista pedagógica
Inep libera, em todas as edições, a versão digitalizada do texto entregue pelo candidato. Folha de rascunho da Redação do Enem. g1 Candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 já podem consultar, a partir desta segunda-feira (18), os "espelhos" da redação — ou seja, as versões digitalizadas dos textos que eles entregaram no dia da prova. É necessário entrar na Página do Participante, neste endereço. A divulgação dos espelhos foi relatada por candidatos nas redes sociais e verificada também diretamente pela equipe de reportagem no perfil de inscritos. O g1 entrou em contato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mas o órgão não deu detalhes sobre a divulgação dos espelhos. LEIA EXEMPLOS DE REDAÇÕES NOTA MIL NO ENEM 2022 Essa etapa é chamada de "vista pedagógica", porque permite que os estudantes entendam os critérios de correção e as notas que receberam em cada uma das cinco competências avaliadas no Enem (mais abaixo, veja quais são elas). LEIA TAMBÉM Trecho de espelho da redação de uma candidata do Enem 2022 Reprodução Competências avaliadas na redação A redação do Enem vale 1.000 pontos. Cada uma das competências explicadas abaixo, portanto, representa 200 pontos. Competência 1 - Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Competência 2 - Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa. Competência 3 - Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Competência 4 - Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. Competência 5 - Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Vídeos
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18/03 - Unicamp 2025: veja quando será o vestibular, data das inscrições e como pedir isenção de taxa
Comissão responsável pelo processo seletivo divulgou calendário nesta segunda. Primeira fase acontece em 20 de outubro e a segunda nos dias 1º e 2 de dezembro. Inscrições serão de 1º a 30 de agosto. Alunos concentrados durante o vestibular da Unicamp 2024 Leandro Ferreira/g1 A Unicamp divulgou, nesta segunda-feira (18), o calendário com as principais data do vestibular 2025 da instituição. De acordo com a comissão responsável pelo processo seletivo, um dos principais e mais concorridos do país, a primeira fase acontece em 20 de outubro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições municipais no Brasil. A segunda fase será nos dias 1º e 2 de dezembro. 🔔 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Ainda segundo a Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), o período de inscrições será entre 1º e 30 de agosto. A universidade tem 69 cursos nos campi de Campinas (SP), Limeira (SP) e Piracicaba (SP). Veja abaixo detalhes do calendário. 📆 Antes da primeira fase, haverá, em setembro, as provas de habilidades específicas para os cursos de Música. Já as demais faculdades que também exigem o conhecimento segmentado (Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança) terão o vestibular em dezembro, após a segunda fase. A primeira lista de aprovados está prevista para 24 de janeiro de 2025. LEIA MAIS: Fuvest divulga datas do vestibular 2025 Como pedir isenção da taxa de inscrição? 💰 Os candidatos que atendem os requisitos para pedir a isenção da taxa de inscrição do vestibular, que vale tanto para a modalidade tradicional para as vagas via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), podem fazer a solicitação a partir de 13 de maio. Os pedidos e o envio de documentos, que vão constar no edital divulgado "em breve", segundo a comissão, devem ser feitos até 7 de junho exclusivamente pela internet, na página da Comvest. A lista de beneficiados sai no dia 30 de julho. De acordo com a Convest, o calendário foi definido em reunião com as outras universidades públicas de São Paulo para que as datas não coincidam. Calendário da Unicamp 2025 📆 💰 Inscrições e pagamento da Taxa de Inscrição - 1/8 a 31/8/2024 🎻 Prova de Habilidades Específicas de Música - Setembro ✏️ 1ª fase - 20/10/2024 ✏️ 2ª fase - 1 e 2/12/2024 🔨 Provas de Habilidades Específicas: Dez/2024 ✅ Divulgação dos aprovados em primeira chamada: 24/01/2025 VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas
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18/03 - Fuvest divulga datas do vestibular 2025
Provas da 1ª e 2ª fase acontecem no segundo semestre deste ano, nos meses de novembro e dezembro. Fuvest 2024 em Ribeirão Preto Érico Andrade/g1 A Fuvest divulgou nesta segunda-feira (18) o calendário de provas do vestibular 2025, que será realizado no segundo semestre deste ano. Serão mais de 8 mil vagas disponíveis para ingresso via processo seletivo. 📆 1ª fase: 17 de novembro 📆 2ª fase: 15 e 16 de dezembro O calendário completo ainda será disponibilizado pela Fuvest. Leituras obrigatórias 📚 "Marília de Dirceu" - Tomás Antônio Gonzaga "Quincas Borba" - Machado de Assis "Os ratos" - Dyonélio Machado "Alguma Poesia" - Carlos Drummond de Andrade "A Ilustre Casa de Ramires" - Eça de Queirós "Nós matamos o cão tinhoso!" - Luís Bernardo Honwana "Água Funda" - Ruth Guimarães "Romanceiro da Inconfidência" - Cecília Meireles "Dois irmãos" - Milton Hatoum
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18/03 - 'A era dos matemáticos chegou': por que universidades e empresas disputam profissionais no Brasil
Carreira tem crescimento previsto de 30% na próxima década nos EUA; indústria de tecnologia é responsável por boa parte da demanda. Ao receber convite com vantagens para ingressar em universidade, a jovem Paula Eduarda de Lima achou que 'era golpe' Arquivo pessoal/via BBC Quatro anos depois se formar em matemática aplicada, Fernanda Scovino ainda frequenta a faculdade onde estudou, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas não como aluna — ela vai agora em busca de novos talentos para suas equipes. Ela lidera aos 25 anos uma equipe de seis analistas de dados na Prefeitura do Rio de Janeiro, e tem uma ONG, a Base de Dados, que reúne e facilita o acesso a uma série de informações. “A disputa pelos matemáticos é muito grande", diz Fernanda. "Quando eu estudava, as empresas promoviam visitas aos seus escritórios, éramos muito abordados por bancos, consultorias, startups e empresas de tecnologia", ela acrescenta. A professora Maria Soledad Aronna diz que esse tipo de movimento é bem comum. Ela dá aulas no curso de Ciências de Dados e Inteligência Artificial da FGV desde 2012 e conta que já viu vários ex-alunos voltarem alguns anos depois em cargos de chefia e atrás de estagiários. A professora conta que as empresas chegam a recrutar estudantes até mesmo do segundo ano, quando eles nem sabem o básico da profissão. "O índice de empregabilidade dos alunos é 100%, e o crescimento na carreira tem sido aceleradíssimo", diz Aronna. O mercado está mesmo aquecido para quem domina matemática e em áreas afins — como estatística, ciência de dados, computação e algoritmos. Essas pessoas são valorizadas porque têm habilidades que vão muito além de fazer cálculos e contas difíceis. Elas desenvolvem também uma capacidade de pensar problemas de forma abstrata e sair em busca de soluções. Mas o número de pessoas que formam nestas áreas no Brasil não parece estar dando conta da demanda. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, um setor onde vão trabalhar muitos destes profissionais, calcula, por exemplo, que são criadas quase 160 mil novas vagas por ano. Mas só se formam a cada ano 53 mil com as habilidades que as empresas buscam, pelas contas da associação — ou seja, há em torno de três vagas para cada novo profissional. O salário gira na casa de R$ 6 mil por mês, quase quatro vezes a média nacional, de R$ 1,6 mil. Mas há empregos no mercado que pagam o dobro, triplo ou mais para profissionais mais experientes e qualificados. "A era dos matemáticos chegou", cravou Keith McNulty, diretor global de ciências, tecnologia e digital da consultoria McKinsey & Company, em um post na rede social LinkedIn em outubro do ano passado. McNulty explica à BBC News Brasil que a procura começou a aumentar nos últimos dez anos graças a popularização de novas tecnologias. “Multiplicaram-se as oportunidades para matemáticos”, diz McNulty. “Muitas empresas e organizações passaram a trabalhar com grandes quantidades de dados, sendo que antes costumavam se restringir a pequenas planilhas." Menos faltas e mais foco: o que diz quem passa pelo teste da semana de 4 dias no Brasil ‘Achei que era golpe’ Essa alta demanda por profissionais da matemática e áreas correlatas produz um efeito em cascata em que as universidades saem à caça de jovens promissores nas salas de aula das escolas. "Quando recebi o e-mail, não acreditei. Achei que era golpe", diz Paula Eduarda de Lima, de 18 anos, que recebeu um convite da FGV para participar de uma preparação para o vestibular. Caso fosse aprovada, ela tinha a garantia de que receberia uma ajuda financeira para se mudar de Jaboti, no interior do Paraná, para estudar sobre ciência de dados e inteligência artificial no Rio. Ela não foi o único caso. A FGV tem oferecido uma série de benefícios a estudantes de todo o Brasil que sejam medalhistas da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Indústrias tecnológicas têm puxado a demanda por profissionais ligados à matemática Getty Images/ via BBC Paula Eduarda havia chamado a atenção ao ganhar a prata em 2021. Por dois anos seguidos, ela também foi ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA). Filha de pequenos agricultores, Paula Eduarda aceitou o convite. Hoje, está no segundo ano do curso. "Moro com os outros bolsistas em um hotel e recebo R$ 2,4 mil por mês de apoio", conta a estudante, que vê na matemática uma forma de "crescer na vida". No futuro, ela diz se vê trabalhando com análise de dados em uma grande empresa ou como pesquisadora em uma universidade. Chefe na Argentina viraliza ao receber pedido de reembolso de funcionário por gastos com viagem de férias Como a matemática movimenta a economia Os rendimentos de empregos ligados à Matemática compõem 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segundo um estudo do instituto Itaú Social feito em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). De acordo com o estudo, homem e pessoas brancas ocupam a maioria dos empregos intensivos em matemática, com participação de 69% e 62%, respectivamente, embora sejam minoria na população em geral, com uma representação de 48,5% e 43,5% entre os brasileiros como um todo. Divulgado no final do ano passado, esse foi o primeiro levantamento feito para estimar como estas profissões movimentam a economia do país. Em outros países essa participação é ainda maior, diz Marcelo Viana, presidente do Impa. Na Inglaterra, 15% do PIB é representado pela matemática e suas aplicações, aponta Viana. Na França, são 18%. “Algoritmos, a ciência de dados e campos relacionados progridem rapidamente por serem cada vez mais presentes no dia a dia, nos produtos e softwares que usamos, com grande peso na economia", explica Viana. Nos Estados Unidos, o governo estima que o número de vagas para matemáticos e estatísticos no mercado vai crescer 30% entre 2022 e 2032. A média salarial está hoje na faixa dos US$ 100 mil por ano (quase R$ 500 mil) — aproximadamente o dobro do ganho médio de um americano. Um profissional da área tem, em geral, mestrado em matemática ou estatística, segundo o levantamento do governo americano, mas algumas vagas aceitam apenas diploma em graduação. É uma realidade bem diferente do que a que Keith McNulty, diretor da McKinsey, encontrou no passado. "Quando me formei no doutorado, há 25 anos, saí perdido porque, naquela época, a única opção para matemáticos parecia ser ir para o meio acadêmico, algo que eu não achava gratificante", comenta McNulty. Quem são os 'manobristas' de navios que podem ganhar até R$ 300 mil Quanto ganha um matemático no Brasil? Na área, são os professores de ensino fundamental que têm a menor média salarial Getty Images/via BBC O levantamento do Itaú Social e do Impa apontou que, no Brasil, os salários mais baixos são justamente os de professores de matemática do ensino fundamental, em torno de R$ 2,5 mil. Já as vagas nas áreas de pesquisa e engenharia giram em torno de R$ 8,3 mil por mês. Os executivos em empresas públicas, categoria com o maior salário médio do estudo, recebem cerca de R$ 14,4 mil reais. Os salários no mercado privado podem ir ainda mais além. Uma empresa de inteligência artificial de São Paulo, por exemplo, paga entre R$ 15 mil e R$ 20 mil para profissionais mais experientes, com doutorado e alguma experiência corporativa, segundo apurou a reportagem. Mas, de acordo com um executivo da empresa, esses valores ainda assim ficam “abaixo da média” do setor, e é preciso sinalizar que isso será compensado por futuros bônus e opções de ações para conseguir recrutar os melhores. Isso ajuda a entender porque a grande maioria dos colegas de Fernanda Escovino que também estudaram matemática trabalham na área de dados de grandes empresas e do mercado financeiro. “São pouquíssimos os que viram professores e pesquisadores", diz ela. Ela conta que, antes de entrar na faculdade, pensava cursar engenharia "justamente pelo preconceito que se tem de achar que a única opção para matemáticos é se tornar professor". Mas Fernanda diz que se apaixonou pela matemática depois de assistir a uma aula na faculdade. "O ponto de vista da matemática ensina sobre um tipo de raciocínio lógico que é importante em muitas carreiras, ainda mais nos dias atuais, com a popularidade da ciência de dados", diz Fernanda, que é diretora de dados e inovação. "As pessoas ao redor estranham, mas os cargos nos quais estão os matemáticos têm títulos que para alguns não lembram a nossa disciplina." 5 países com melhor equilíbrio entre vida pessoal e trabalho Os gargalos para o Brasil se tornar potência da Matemática Carências do Brasil na educação em matemática colocam em questão o ritmo com o qual país conseguirá atender a demanda por profissionais Getty Images/via BBC Se por um lado as novas profissões viraram um chamariz para a matemática, isso virou um problema para a formação de novos professores. Os baixos salários pagos para quem dá expediente na sala de aula faz com que menos matemáticos procurem a licenciatura, diz Marcelo Viana, do Impa. Isso cria um gargalo importante no Brasil e em outros países. Em 2022, o matemático Christophe Besse, presidente do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), apontou para uma tendência paralela. "Há uma diminuição no número de professores e pesquisadores e, assim, uma menor capacidade de ensino", alertou Besse. Outro problema, diz Viana, é que o Brasil "não tem acompanhado a demanda" na formação dos estudantes. Uma evidência disso, aponta o presidente do Impa, são os resultados do Pisa, a principal avaliação de educação básica no mundo. Enquanto os 38 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), apelidada de "clube dos ricos", tem em média 31% dos alunos com baixo desempenho em matemática, o índice é de 73% no Brasil. Isso quer dizer que sete em cada dez jovens do país não conseguem fazer os cálculos mais simples. "Se considerar aqueles que alcançaram um nível mínimo de conhecimento para ambicionar ingressar em profissões que exigem o domínio da Matemática, aí a porcentagem é ínfima, de 4%", diz Viana. "O Brasil tem uma carência enorme, por consequência de problemas estruturais de nosso ensino, que inclusive faz com que a matemática seja vista como um bicho-papão pelos estudantes.” A bióloga Cristina Caldas, diretora de ciência do Instituto Serrapilheira, dedicado à valorização do conhecimento científico, defende ser preciso mais estímulo público e privado para ampliar a formação na área. "Iniciativas que mostrem como modelos matemáticos, algoritmos e afins estão por trás de grandes avanços que atendem demandas atuais, como o combate a epidemias e o progresso da computação", diz Caldas. O Brasil pode com isso se tornar “um país rico em ideias que possam solucionar problemas urgentes da sociedade atual", defende a bióloga. O Serrapilheira está com agora em sua 7ª Chamada Pública de Apoio à Ciência, destinada ao financiamento de pesquisadores nas áreas de ciências naturais, computação e matemática em início de carreira interessados em resolver grandes questões nos campos em que atuam. Desde 2018, 24 projetos foram aprovados na área da matemática, com um total de investimentos na casa de R$ 7,5 milhões. Em ciências da computação, foram outros 15 projetos, com investimento de R$ 3,1 milhões. Keith McNulty, da McKinsey, ressalta, para quem quer ganhar a vida com a Matemática, que o mercado mudou bastante nos últimos 25 anos. “A diferença agora está na grande quantidade de dados com a qual temos de trabalhar e na complexidade dos problemas matemáticos enfrentados", diz o executivo. McNulty ressalta, no entanto, que no contexto atual de alta procura pela indústria da tecnologia, não basta ter formação na área. Por isso, ele aconselha: "Torne-se competente em linguagem de programação, caso queira tirar o melhor de suas habilidades matemáticas em sua futura carreira”. A perigosa moda de funcionários gravarem demissão para postar no TikTok Veja também: O que diz quem passa pelo teste da semana de 4 dias no Brasil
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17/03 - Os desafios e benefícios de criar um filho bilíngue (e o que fazer quando se fala apenas um idioma)
Isabelle Gerretsen, que cresceu falando holandês e inglês, pesquisa o que há de mais moderno em ciência sobre como ajudar as crianças a dominar dois ou mais idiomas, incluindo conselhos para pais que falam um idioma, mas desejam que seus filhos sejam multilíngues. GETTY IMAGES via BBC Quando eu tinha sete anos fui pela primeira vez a um acampamento escolar. Enquanto estávamos lá, todos fomos incentivados a escrever cartas para casa. Escrevi uma carta detalhada em inglês para minha mãe, contando-lhe todas as atividades que vínhamos realizando. Em seguida, traduzi palavra por palavra para o holandês para meu pai, um falante nativo de holandês. Essa anedota ainda faz meu pai, que fala holandês e inglês fluentemente, rir. Meus pais criaram minhas irmãs e eu de forma bilíngue desde o nascimento. Eles pediram conselhos e foram orientados a falar conosco apenas nas suas respectivas línguas. Eles aderiram a isso tão estritamente que, durante um tempo embaraçosamente longo, não percebemos que ambos eram fluentes em holandês e inglês. Hoje em dia, em casa falamos uma mistura de holandês e inglês, muitas vezes trocando de idioma no meio da frase. No entanto, ainda existe uma ideia comum de que o modelo seguido pelos meus pais é a melhor garantia para criar filhos verdadeiramente bilingues: desde o nascimento, e cada progenitor adere estritamente à sua língua materna. Entre os especialistas em idiomas, ela é conhecida como estratégia OPOL, abreviação em inglês de “um pai, um idioma”. Mas será essa realmente a única forma de alcançar o bilinguismo? E você precisa já ter dois idiomas em sua vida quando inicia o processo, ou pode criar um filho bilíngue mesmo que você e outras pessoas ao seu redor falem apenas um idioma? Na realidade, existem muitas maneiras diferentes de expor seu filho a dois idiomas, e nenhuma abordagem foi considerada a melhor, diz Viorica Marian, autora de Power of Language e professora de ciências e distúrbios da comunicação na Universidade Northwestern, em Illinois (Estados Unidos). A abordagem que os meus pais adotaram (de falar conosco apenas nas respectivas línguas) pode funcionar bem para pais que falam línguas diferentes, diz Marian. Outros pais podem optar por falar apenas uma língua em casa, muitas vezes uma língua minoritária, porque sabem que os seus filhos serão expostos a outra língua na escola. ("Minoria" neste contexto significa simplesmente que é menos falado ou está menos oficialmente estabelecido do que a outra língua, em qualquer sociedade ou sistema educacional: nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, o espanhol seria uma língua minoritária, e o inglês , o idioma majoritário). Com o tempo, as famílias poderão ter de fazer um esforço especial para manter a língua minoritária em uso: geralmente corre maior risco de desaparecer da vida das crianças à medida que as suas interacções fora de casa aumentam e a língua maioritária se torna mais dominante. “Uma estratégia diferente pode ser falar com o seu filho numa língua diferente em cada dia da semana”, diz Marian. Isso às vezes é conhecido como estratégia de “tempo e lugar”, entre pesquisadores e famílias bilíngues. Para aplicá-lo, cada idioma está associado a um horário ou local específico: toda a família pode falar um idioma nos finais de semana ou durante as refeições compartilhadas, por exemplo, e outro idioma durante a semana ou fora de casa. As estratégias mais eficazes são aquelas que podem ser incorporadas de forma consistente e a longo prazo. “Em última análise, a estratégia que terá sucesso é aquela que funciona para a sua família em particular e torna a experiência agradável e não uma tarefa árdua”, diz ele. A apresentadora de rádio do Serviço Mundial da BBC, Krupa Padhy, está criando seus dois filhos, de sete e nove anos, de forma bilíngue. Padhy cresceu em uma família de língua guzerate no Reino Unido, enquanto seu marido fala hindi. Eles decidiram falar inglês e hindi em casa. “O hindi é mais útil para eles porque é compreendido por todo o subcontinente asiático”, diz ele. “Não temos uma estratégia coerente”, diz Padhy. Seu principal objetivo é ensinar hindi conversacional aos filhos para que eles possam se apresentar, dizer às pessoas quantos anos têm e quantos irmãos têm. Padhy observa que aprender estruturas de frases de cor e repetição tem sido uma grande ajuda. A família visita a Índia a cada 18 meses e Padhy diz que é “muito enriquecedor para os meus filhos terem acesso a essa cultura de uma forma autêntica”. “É muito bom que eles possam participar e entender o que está acontecendo ao seu redor”, acrescenta. Aprender Hindi também permite que a família desfrute da cultura indiana em casa. “Todo sábado à noite é noite de cinema em hindi”, diz Padhy. "As crianças adoram assistir filmes em hindi. Isso realmente ajuda." LEIA TAMBÉM: Livro digital ou impresso: o que é melhor para o planeta? Estudantes do interior de SP criam dispositivo que detecta quedas em banheiros: 'pensei na minha avó', diz aluno 'Fui escoltada, como se fosse criminosa': estudantes brasileiros contam como foram barrados em aeroporto e impedidos de entrar na Argentina O ambiente desempenha um papel importante e a exposição constante aos dois idiomas é fundamental BBC / GETTY IMAGES Há uma idade perfeita para aprender um segundo idioma? As pesquisas apontam que é uma boa ideia introduzir a segunda língua o mais cedo possível, uma vez que as crianças aprendem o som e o ritmo da sua língua nativa, conhecida como a sua fonologia, desde muito cedo. De acordo com um estudo de 2013, os bebês começam a aprender a linguagem antes mesmo de nascerem. O estudo descobriu que nas últimas 10 semanas de gravidez, os fetos ouvem as mães falar e podem demonstrar o que ouviram quando nasceram. Quarenta crianças americanas e suecas, com cerca de 30 horas de idade, foram expostas a sons vocálicos da sua língua nativa e de uma língua estrangeira. A resposta deles foi medida pelo tempo que eles chuparam uma chupeta conectada a um computador. Tanto os bebês americanos como os suecos amamentaram durante mais tempo na língua estrangeira do que na sua língua nativa. Os pesquisadores indicaram que a sucção mais prolongada de sons desconhecidos era uma evidência de aprendizagem e mostra que os bebês são capazes de diferenciar as línguas ao nascer. Isso não significa que seja tarde demais para adicionar uma segunda língua: as crianças mais velhas e até os adultos ainda podem aprender outras línguas, e pode haver outros benefícios, como a alegria de se conectar com a sua herança. Mas as crianças mais novas podem ter mais facilidade em aprender um sotaque nativo, dizem os especialistas. “Quanto mais cedo você começar, melhor”, diz Sirada Rochanavibhata, professora assistente do departamento de desenvolvimento infantil e adolescente da Universidade Estadual de São Francisco, na Califórnia. "Uma vantagem de aprender um idioma desde cedo é que é mais fácil alcançar a proficiência nativa." “Durante os primeiros seis meses, os bebês conseguem discriminar os sons da fala de todas as línguas”, diz Rochanavibhata. Depois disso, as crianças perdem a capacidade de distinguir sons que não são utilizados na sua língua nativa ou nas línguas a que são expostas. "Em inglês, os sons 'r' e 'l' são distintos e podem alterar o significado de uma palavra (por exemplo, 'ler' e 'conduzir'), enquanto em japonês, os sons 'r' e 'l' são combinados em uma única categoria (o 'r' japonês). “Os falantes de japonês que aprendem inglês podem ter dificuldade em distinguir entre ‘r’ e ‘l’ em inglês”, explica Rochanavibhata. Este processo é conhecido como estreitamento perceptivo. Afirma que, portanto, a idade em que uma criança adquire uma segunda língua pode afectar a sua capacidade de ouvir e produzir sons da fala nessa língua. Porém, se você ou sua família perderam essa oportunidade, ainda existem outras. “Os adultos ainda conseguem dominar outras línguas, mas o processo pode exigir mais esforço e abordagens diferentes”, acrescenta Rochanavibhata. BBC / GETTY IMAGES A importância de motivar as crianças mais velhas Segundo os pesquisadores, também pode haver vantagens práticas em estabelecer uma base bilíngue sólida nos primeiros anos. Começar cedo permite que as crianças “fiquem completamente imersas” em ambas as línguas, diz Antonella Sorace, professora de linguística do desenvolvimento e fundadora do programa Bilingualism Matters, um centro de pesquisa e informação da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. promove o bilinguismo e a aprendizagem de línguas. No entanto, não é apenas começar cedo que pode fazer uma diferença positiva. O outro desafio é manter a segunda língua, especialmente quando as crianças se tornam mais independentes. Sorace diz que para conseguir isso é importante motivar e incentivar as crianças a falar vários idiomas. “Isto nem sempre é fácil porque as crianças não gostam de se sentir diferentes. Muitas crianças imigrantes dizem-nos que já não querem falar a sua língua materna, porque é isso que as diferencia das outras”. Ele observa que uma forma de encorajar as crianças é criar uma “minicomunidade” onde elas possam interagir regularmente com colegas que falam a sua língua. “Isso pode ser incrivelmente motivador”, observa ele. Marian diz que é importante que as crianças ouçam os dois idiomas com frequência e que sejam falados por vários falantes nativos. “Ter interações regulares com muitos falantes diferentes das duas línguas pode ajudar a melhorar a proficiência bilíngue, já que as crianças ficam expostas a uma maior diversidade”, afirma. O ambiente desempenha um papel importante e a exposição constante a ambas as línguas é fundamental, concorda Elisabet García González, investigadora do Centro para o Multilinguismo na Sociedade ao Longo da Vida da Universidade de Oslo, na Noruega. Ela observa que se uma criança nascida em uma família bilíngue parar de usar uma de suas línguas aos oito anos de idade, isso terá um impacto significativo no seu bilinguismo. “A linguagem é algo que muda ao longo da vida”, diz ele. BBC / GETTY IMAGES Pais monolíngues com filhos bilíngues? Mesmo que os pais não sejam totalmente multilíngues, eles ainda podem incentivar uma mistura de idiomas em casa, diz Sorace. Indica que, por exemplo, um pai pode começar a aprender uma segunda língua e depois, ocasionalmente, utilizar essa língua com o seu filho. Isso expõe a criança a palavras ou frases em outro idioma e traz benefícios mesmo que o falante não seja perfeitamente fluente. “A perfeição não existe nas línguas”, diz Sorace. Na opinião de Sorace, a confiança dos pais em falar uma combinação linguística em casa é mais importante do que a sua capacidade linguística. “Se estiverem confiantes, a criança ouvirá o suficiente dessa língua e aprenderá”, diz ele. Descobrir e utilizar novas línguas torna-se então um projeto familiar em que todos se beneficiam, inclusive os pais. “Dizemos aos pais que aproveitem esta oportunidade maravilhosa [de desfrutar de outro idioma com seus filhos]”, diz ele. “O objetivo não é você ser perfeito no idioma, mas sim aprender mais e conseguir se comunicar com seu filho”, completa. Padhy diz que seu hindi melhorou desde que começou a falar com os filhos. “Estou aprendendo muito”, diz Padhy. “Estou falando hindi melhor do que nunca porque estou ensinando-os.” Segundo os investigadores, também pode haver outras oportunidades para os pais monolingues encorajarem o bilinguismo na família. Marian sugere uma variedade de opções, como escolher uma babá ou creche bilíngue ou matricular seus filhos em aulas de idiomas em um centro comunitário ou clube extracurricular onde eles ouvem vários idiomas. “À medida que a criança cresce, fazer com que ela participe de programas de intercâmbio e de estudos no exterior, faça cursos de línguas estrangeiras e viaje para países onde a outra língua é falada apoiará e avançará ainda mais o aprendizado do idioma”, afirma. Os cérebros das pessoas bilíngues são diferentes? Para aqueles que se esforçam para adquirir um segundo idioma, seja quando crianças ou mais tarde, como adultos e pais, o processo pode trazer benefícios estimulantes para o cérebro, independentemente do nível de fluência alcançado. Aprender vários idiomas leva a um aumento no volume de massa cinzenta no córtex pré-frontal, a parte frontal do cérebro que é importante para o pensamento de alto nível, como a tomada de decisões e a resolução de problemas, diz Ashley Chung-Fat-Yim , professor assistente pesquisador em bilinguismo e psicolinguística na Universidade Northwestern, em Illinois. “Também vemos melhorias na matéria branca nas mesmas regiões do cérebro”, acrescenta. Embora a matéria cinzenta seja onde informações importantes são processadas, a matéria branca transporta mensagens entre regiões do cérebro, explica Chung-Fat-Yim. "Pense na massa cinzenta como estações de metrô e na matéria branca como túneis de metrô que conectam diferentes estações de metrô entre si. O multilinguismo ajuda a manter intacta a estrutura dos 'túneis de metrô' para uma transmissão de sinal mais rápida e eficiente. Em outras palavras, a comunicação entre regiões do cérebro pode ser realizada de uma forma mais otimizada", acrescenta o especialista. Falar mais de um idioma e o exercício mental que isso implica também podem aumentar a resiliência do cérebro e ajudar a retardar o aparecimento dos sintomas de Alzheimer, sugerem pesquisas. De acordo com uma revisão de 2020 de mais de 20 estudos existentes, ser bilíngue pode atrasar os sintomas de Alzheimer em até cinco anos. Os pesquisadores concluíram que o bilinguismo não previne o aparecimento do Alzheimer, mas ajuda a evitar os sintomas por mais tempo. Eles descreveram o bilinguismo como uma forma de reserva cognitiva que fortalece e reorganiza os circuitos cerebrais. “Assim como o exercício fortalece os músculos, o multilinguismo fortalece o cérebro para manter o funcionamento cognitivo”, diz Chung-Fat-Yim. A pesquisa sugere que os benefícios cognitivos também podem ser obtidos mais cedo na vida. De acordo com um estudo, crianças bilíngues podem, por exemplo, alternar melhor as tarefas do que falantes monolíngues. Mais de 100 crianças foram chamadas para classificar imagens de cores ou animais em um computador. Os pesquisadores concluíram que as crianças que falavam uma segunda língua (francês, espanhol ou chinês) alternavam melhor entre as duas categorias, indicando a sua capacidade de realizar multitarefas. “Aprender outro idioma é sempre bom”, diz Sorace. "Isso enriquece o seu mundo do ponto de vista cultural e beneficia o cérebro." LEIA TAMBÉM: The New York Times processa empresa criadora de ChatGPT e Microsoft por violação de direitos autorais O homem que só consegue dizer 'sim' e 'não' Como estudante resolveu problema de 2.500 anos do sânscrito VÍDEO: Nasa seleciona cientistas brasileiros para projeto com Telescópio James Webb NASA seleciona cientistas brasileiros para projeto com Telescópio James Webb
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16/03 - Desafio LED: match, 'carona', doação de material escolar, mentoria e mais; conheça projetos premiados
Além do prêmio em dinheiro, que totaliza R$ 300 mil, ex-participantes destacam a diversidade entre os colegas e a chance de conhecer outras pessoas motivadas como ganhos da iniciativa. Weverton Alves na apresentação final do Desafio LED 2022. Thaty Aguiar/Globo O Desafio LED já premiou diversos projetos que buscam inspirar, ajudar e conectar estudantes, resolvendo problemas do cenário educacional do país. Mas, segundo os vencedores das duas primeiras edições da iniciativa, o prêmio vai além do valor financeiro. "Poder participar de uma iniciativa como essa e ter a chance de conhecer mentores e colegas que também se mobilizam pela melhora da educação do país é algo único", diz Maria Eduarda de Carvalho, premiada na edição de 2023. 💡 O "Desafio LED" é uma ação do Movimento LED - Luz na Educação, iniciativa da Globo e da Fundação Roberto Marinho em parceria com a escola Mastertech, que premia em, no total, R$ 300 mil iniciativas de estudantes que indiquem a solução para um problema educacional. 👉🏾 A iniciativa busca dar espaço e ajudar jovens com boas ideias e com disposição para entrar em ação a montar projetos que possam fazer a diferença no cenário educacional do país. 🗓️ A edição de 2024 está com as inscrições abertas e quem ainda não se inscreveu tem até as 23h59 de 31 de março para preencher o formulário. Para participar, é preciso ter 18 anos ou mais e estar matriculado em um curso com pelo menos 100 horas de carga horária. (Veja outros detalhes mais abaixo.) Desafio LED: veja como criar proposta para problemas da educação e concorra a até R$85 mil Benefícios do Desafio LED Apesar do prêmio em dinheiro, que varia de R$ 30 mil a R$ 85 mil, para os cinco melhores projetos, os vencedores das edições anteriores do Desafio LED acreditam que o maior prêmio veio da experiência como um todo. Entre os principais benefícios listados pelos ex-participantes, estão: Reconhecimento de capacidades e orientação para o pleno desenvolvimento das ideias; Disponibilização de conhecimentos e ferramentas para definir e buscar os objetivos dos projetos; Oportunidade de colocar a mão na massa; Oportunidade de conhecer e interagir com outros jovens atuantes; Chance de superar desafios e ampliar os horizontes. "Só por ter tido a minha ideia validada, apoiada e desenvolvida no Desafio, valeu minha participação", diz Weverton Alves, um dos vencedores da edição de 2022. O Desafio LED é uma oportunidade aberta a qualquer estudante do país, o que é outro aspecto positivo apontado pelos participantes. Na minha edição, além de mim, do Ceará, tiveram participantes de outros estados do Nordeste, mas também teve gente do Rio [de Janeiro], São Paulo, Amazonas, Minas [Gerais]. É uma oportunidade única de ampliar a rede de contato com pessoas que também não querem ficar parados e põem a mão na massa. Apresentação final do Desafio LED 2023. Divulgação/Globo Abaixo, conheça alguns projetos já premiados e os estudantes que estão por trás das iniciativas: MADUC - o app que conecta alunos de ensino médio à universitários Participar do Desafio LED mudou a vida da cearense Gabriela Leite. Ela cursa engenharia de materiais na Universidade Federal do Cariri (UFCA), no Ceará, mas diz que, no fundo, sempre quis ser programadora. E foi esse desejo do passado que a impulsionou a participar da primeira edição do Desafio LED, em 2022. Ela conta que soube da oportunidade há poucas horas para o encerramento do período de inscrições, mas a proposta do projeto chamou sua atenção. Atraída pela frase motivadora da edição (Conte qual o maior problema que você enfrentou ou enfrenta na sua trajetória educacional e dê uma ideia para resolvê-lo), Gabriela decidiu que não deixaria aquela chance passar. Fiquei sabendo do Desafio umas oito da noite e as inscrições iam até 23h59 daquele dia. Escrevi um texto e submeti minha inscrição, mas juro que eu não imaginava que eu seria selecionada. Foi assim uma das surpresas mais felizes da minha vida. A ideia proposta por Gabriela era simples: uma plataforma de matching entre estudantes de ensino médio e de ensino superior, que viabilizasse aos jovens da educação básica conhecerem mais dos cursos superiores. A inspiração veio de sua vivência pessoal de ingressar em um curso, mas querer atuar em outra área. “Eu entrei no curso por um impulso, mas não tinha tido a experiência universitária, não sabia o que era estar nesse ambiente, e não tive, durante meu ensino médio, alguém com esse conhecimento para me orientar, lembra. Graças ao "match da educação", ou Maduc, que foi aprimorado durante as oficinas oferecidas durante a iniciativa, Gabriela chegou à final da primeira edição e ficou em 1º lugar na classificação geral. O Desafio LED foi transformador para mim. Eu aprendi muito, desenvolvi capacidades que achei que eu não tinha. A capacitação e apoio que recebemos foram incríveis. Hoje, Gabriela conta com apoio de uma equipe de designers e programadores que a ajuda desenvolver o aplicativo e a identidade visual do Maduc. Agora, a grande expectativa é para o lançamento do aplicativo, que pode acontecer ainda em 2024, após definição de alguns detalhes técnicos. Uma vez no ar, o app pensado por Gabriela vai ajudar estudantes de ensino médio a se aproximarem de alunos universitários para conversarem sobre as perspectivas para a próxima etapa educacional. MENTORIA NA PERIFA - projeto que oferece orientações gratuitas a jovens de baixa renda que querem melhores oportunidades Registr de como funciona a mentoria oferecida no projeto Mentoria na Periva, vencedor do Desafio LED 2022. Weverton Alves/Arquivo pessoal O paulistano Weverton Alves, morador do Grajaú, na Zona Sul da capital paulista, também foi premiado na primeira edição do Desafio LED. Ele é idealizador do Mentoria na Perifa, um projeto estruturado para orientar jovens de baixa renda que querem conhecer, se aproximar ou repensar possibilidades profissionais e acadêmicas para seus futuros. Vindo da escola pública e graduado em Comunicação Social graças ao Prouni, Weverton conta que teve quase nenhum direcionamento sobre as possibilidades para seu futuro e notou que muitos dos seus colegas tiveram experiências parecidas. Como sempre gostei de compartilhar meu conhecimento com as pessoas, sentia a necessidade de fazer algum movimento para fazer com que os jovens enxergassem que, por mais que venha de uma realidade desafiadora, ele tem, sim, potencial de transformar a nossa comunidade, transformar o nosso país, quem sabe o mundo. Durante sua participação no Desafio LED, Weverton desenvolveu o que viria a ser a Mentoria na Perifa, que hoje funciona da seguinte maneira: Jovens de baixa renda, principalmente de 18 a 30 anos, procuram mentoria para entender melhor quais oportunidades eles podem buscar para seguir determinadas carreiras ou menos para acessar o ensino superior. Para isso, cada mentorado tem o perfil traçado para que ele seja direcionado a um mentor que possa ajudá-lo a entender melhor seus objetivos. As mentorias são individuais e os encontros virtuais de uma hora acontecem uma vez por semana. Os mentores são voluntários que querem, assim como Weverton, compartilhar seus conhecimentos e ampliar a rede de troca entre quem quer buscar conhecimento e quem tem conhecimento a oferecer. Nós temos uma trilha que trabalhamos durante as mentorias. Nessas trilhas, abordamos temas para desenvolver os projetos de vida profissional dos mentorados, como autoconhecimento, identificação de oportunidades reais, capacidades de comunicação, gerenciamento de tempo, coisas assim. A partir dessas orientações, os mentores ajudam a criar projetos de vida profissional que leve em conta o que o jovem quer estudar, com o que ele quer trabalhar, ou, caso ele já saiba, ajudam a criar meios para gerar oportunidades educacionais ou de emprego. Apesar de ver os frutos de seu trabalho e se orgulhar de ter ajudado muitos jovens a definirem melhor seus objetivos de vida, Weverton já planeja os próximos passos. “Estamos pensando em tentar também mentorias coletivas e, quem sabe, desenvolver um aplicativo mais para a frente. Vamos ver se isso dá certo”. ENTRE PONTOS - a plataforma que conecta jovens estudantes a fim de reduzir a vulnerabilidade nas ruas Outra ideia premiada pelo Desafio LED, mas na edição de 2023, foi a da estudante de engenharia de controle e automação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Eduarda de Carvalho. Ela desenvolveu um protótipo para uma plataforma que permite a estudantes encontrarem colegas que fazem percursos semelhantes para irem juntos à escola, a fim de reduzir a vulnerabilidade nas ruas. Moradora de Niterói, a idealizadora da ideia saía cedo de casa para ir até a cidade do Rio de Janeiro, onde cursava o ensino médio. Nesse percurso, Maria Eduarda se sentia exposta e temia por sua integridade física. Primeiro, me surgiu a ideia de desenvolver um aplicativo de caronas, mas já existe uma ideia parecida. Então decidi migrar do transporte privado, da carona, para o transporte público, que é onde estava minha dor. A jovem acredita que a plataforma será útil especialmente para mulheres, que tendem a se sentir mais vulneráveis quando estão sozinhas nas ruas e nos transportes públicos. Mas ela entende que a ideia também pode beneficiar qualquer pessoa que habite locais de grande insegurança pública, por exemplo. O objetivo de Maria Eduarda é fazer de sua ideia um elemento de segurança, liberdade e conexão entre pessoas que já dividem o mesmo percurso, para fazerem isso com maior confiança. “Hoje, a Entre Pontos ainda é um protótipo, mas minha ideia é que, quando finalizada, a plataforma tenha duas funções principais. Uma de matching de percursos e horários, e outra de pontos de encontro, para que as pessoas se sintam mais seguras em fazer os trajetos mais cotidianos", finaliza. COMPARTILHAÍ - app para facilitar a doação, venda e aluguel de materiais de graduação entre os estudantes das faculdades públicas A mineira Lorena Trigueiro estava de férias da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde cursa odontologia, quando viu uma chamada comercial para o Desafio LED 2023. Provocada pela frase motivadora da edição (Qual parte do teu mundo educacional precisa de mais conexão? Lembre-se que ela pode ser digital ou não), já no momento de inscrição, ela teve a ideia para seu projeto: um aplicativo que viabilizasse a doação, troca ou compra e venda de materiais de graduação entre os estudantes. Desde o início do curso, eu passo por esse problema que é a dificuldade de ter acesso a materiais de graduação de uma forma mais fácil. Só na primeira lista de materiais, para o terceiro semestre do curso, gastei R$ 6 mil. Então, tive que ir atrás de material emprestado ou de alugar de algum aluno. Depois de ouvir relatos parecidos dos colegas, a jovem entendeu que, se tantos estudantes passavam por dificuldades que prejudicavam sua participação e permanência no ensino superior, havia um problema que precisava de solução. Hoje, prestes a se graduar e após ter ficado em 5º lugar no Desafio LED, a jovem quer lançar ainda em 2024 uma primeira versão do site voltado apenas para alunos matriculados em universidades públicas. Mas ela não quer parar por aí, e pensa que, em um futuro não muito distante, a ferramenta pode ser disponibilizada também para ex-alunos e para estudantes de instituições privadas. Cronograma e detalhamento das etapas do Desafio LED 🙋🏾‍♀️ Quem pode participar? Estudantes com mais de 18 anos. É preciso morar no Brasil e estar com matrícula ativa no primeiro semestre de 2024. São válidas matrículas em cursos livres, técnicos, de graduação ou de extensão, nacionais ou internacionais, formais ou não formais, com grade curricular mínima de 100 horas/aula. 🏆 5 ideias serão premiadas com um valor total de R$ 300 mil: 1º e 2º lugar: R$ 85 mil cada; 3º: R$ 60 mil; 4º: R$ 40 mil; 5º: R$ 30 mil. 📑 Confira em detalhes as CINCO ETAPAS do Desafio LED + g1: Pergunta motivadora do Desafio LED 2024. Reprodução Inscrição: de 1º de fevereiro a 31 de março. Nesta etapa, os candidatos preenchem o formulário de inscrição (https://bit.ly/DESAFIO-LED-2024) e respondem à pergunta “Partindo da sua experiência pessoal, qual solução você desenvolveria para melhorar a utilização da tecnologia na educação?”. Seleção das histórias: A princípio, são escolhidas 80 participantes para a primeira oficina de inovação. Após a oficina, os candidatos fazem uma nova submissão da ideia e os 40 melhores projetos avançam para a próxima etapa. Seleção dos projetos: é realizada uma nova oficina de inovação, com o objetivo de idealizar os protótipos dos 40 projetos. Após a oficina, os candidatos fazem uma nova submissão da ideia e os 20 melhores projetos avançam para a próxima etapa. Seleção dos protótipos: acontece a terceira oficina de inovação, com foco em storytelling, para os candidatos adequem a apresentação dos protótipos ao evento final. Após a oficina, os candidatos fazem uma nova submissão da ideia e os 10 melhores projetos avançam para a próxima etapa. Fase final: é feita uma mentoria individual para os 10 candidatos finais e uma apresentação para a banca, que seleciona os 5 finalistas. Os escolhidos participarão presencialmente do encerramento do Desafio LED no Rio de Janeiro, onde receberão as respectivas premiações. VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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15/03 - Estudantes do interior de SP criam dispositivo que detecta quedas em banheiros: 'pensei na minha avó', diz aluno
Com o intuito de ajudar idosos a manter sua privacidade durante o banho, o grupo de alunos desenvolveu o projeto, que emite um alerta sonoro quando detecta uma queda dentro do box do banheiro. Estudantes do interior de SP criam dispositivo que detecta quedas em banheiros Cuidados com a saúde e bem-estar de idosos é uma preocupação constante dos familiares. O mesmo acontece com um estudante do interior de São Paulo, que se inspirou na própria avó para um projeto do curso técnico em eletroeletrônica, e criou um dispositivo para detectar quedas em banheiros. Diogo Correia, que se formou na Escola Técnica Estadual (Etec) Trajano Camargo, em Limeira (SP), desenvolveu o projeto com intuito de preservar a privacidade da avó, mas pensando no bem-estar dela. O aparelho criado é capaz de identificar quando uma pessoa cai dentro do box do banheiro e emite um som para que outra pessoa possa ajudar. Junto com os colegas de sala Davi Bugyi Sarmento e Gabriel Zaros Muterle, e a orientação do coordenador e professor Carlos Alberto Serpeloni, o projeto passou a ser desenvolvido no início de 2023 como o trabalho final de conclusão do curso. 📲 Receba no WhatsApp notícias da região de Piracicaba O aparelho funciona de maneira simples: São sensores que ficam nas paredes do box e detectam quando a pessoa cai e permanece no chão do banheiro por mais de 30 segundos, emitindo um alerta sonoro alto para que alguém possa entrar e ajudar - assista o vídeo do protótipo acima. 👆 O g1 entrevistou os responsáveis pelo projeto para entender mais sobre o funcionamento e processo. Confira, abaixo.👇 Dispositivo criado por alunos de uma Etec em Limeira ajuda a detectar quedas em banheiros Beatriz Bisan/g1 Piracicaba Motivação por trás do projeto Diogo explica que, na época em que começou a desenvolver o projeto, sua avó passava por uma fase que precisava de cuidados constantes, como ajuda para tomar banho. Mas isso causava incômodo na idosa, fazendo com que ela sentisse que sua privacidade estivesse sendo invadida ao ter alguém com ela dentro do banheiro. "Eu estava pensando em uma forma de poder detectar a queda dela no banho, só que sem alguém precisar estar lá dentro junto com ela, ou sem precisar de uma câmera de segurança. Tinha muito caso dela cair no banho", conta Diogo. Com a ideia definida e a motivação em mente, o rapaz passou a unir a vontade do projeto com a necessidade de desenvolver um trabalho para concluir o curso. Ele inicialmente pensou em fazer o protótipo com sensores de luz, e a partir dai a ideia passou a ser elaborada. Davi, professor Carlos e Diogo explicam sobre o funcionamento do dispositivo detector de quedas criado na ETEC de Limeira Beatriz Bisan/g1 Piracicaba Desenvolvimento do protótipo Depois de definir que o alvo do projeto seriam idosos que precisam de cuidados mas ainda querem manter sua privacidade, os garotos passaram a trabalhar junto ao professor durante as aulas para desenvolver da melhor forma possível um protótipo que atendesse às expectativas. "O aluno vêm e traz um problema, e a gente ajuda a resolver esse problema através do método do curso. A maneira que solucionamos foi dessa forma, criando um dispositivo eletrônico que vai detectar quando a pessoa cai no box do banheiro e emitir um aviso sonoro", explica o professor Carlos sobre como surge a ideia de um trabalho. Os garotos contam que o material bruto usado para formar o protótipo foi básico: algumas placas de acrílico, um boneco de crochê para simular os idosos feitos pela tia de Diogo, uma placa de fenolite e alguns sensores. "Nós juntamos nosso conhecimento de três anos de curso e usando os materiais da escola mesmo a gente conseguiu desenvolver esse projeto", ressalta Diogo. Protótipo desenvolvido pelos alunos em Limeira foi para o projeto de conclusão do curso na Etec Beatriz Bisan/g1 Piracicaba No total, para todo o processo de trabalho, foram menos de 12 meses entre a idealização do projeto, seu desenvolvimento e por fim, a finalização e exposição do protótipo. Diferencial no mercado Ao falar sobre o que difere o projeto que desenvolveu dos demais que já existem, Diogo pontua sobre a falta de produtos que não dependam da colaboração do idoso para funcionar. Ele conta que pesquisando, encontrou diversos dispositivos usados para detecção de quedas, mas que não são instalados no banheiro, se tratam de acessórios como cordões e relógios. Por serem itens de fácil manuseios, os detectores já existentes podem ser retirados pelos idosos, que podem optar por não usar os dispositivos. Há também a questão da bateria, que nesses acessórios podem acabar e precisam ser sempre recarregadas. Diogo explica esses pontos e destaca como o projeto de seu grupo pode ser mais efetivo, não precisando do uso do idoso, nem bateria, não podendo ser facilmente retirado ou desligado, já que o dispositivo ficaria instalado diretamente dentro do banheiro, tornando-o mais confiável. Destaque ao projeto Após o desenvolvimento do protótipo ter sido bem sucedido, era hora de deixar o projeto brilhar e expandir os caminhos. O grupo e seu detector foram selecionados como finalistas da 11ª Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M, uma feira que reúne anualmente 100 trabalhos que tiveram destaque durante o ano. Grupo responsável pelo desenvolvimento do detector de quedas em Limeira foi selecionado para feira de destaques na ciência e tecnologia Divulgação "Primeiro é feita uma pré-pesquisa, para avaliar se o produto é viável. Se for, ai participamos da nossa feira interna da escola e os melhores projetos acabamos inscrevendo nas feiras da região. Ai o aluno se inscreve e se for chamado, participa", detalhou o professor Carlos. Os alunos comentam que a participação na feira foi importante para que eles mesmos pudessem entender mais sobre o projeto, analisar suas qualidades, defeitos e saber o que poderia ser aprimorado e melhor elaborado. Rumo ao mercado Diogo define o principal e maior objetivo no momento: patentear o projeto e evitar algum problema jurídico em relação a ele. Em seguida, ele pontua sobre o desenvolvimento em tamanho real do detector, em banheiros, já que até o momento trabalharam com o protótipo em tamanho reduzido. Trabalhar o protótipo em tamanho real é um passo importante, pois o grupo tem a intenção de em um futuro não muito distante, fazer a comercialização do produto. Segundo eles, o objetivo é que seja vendido de forma acessível e barata para que possa ajudar e facilitar a vida dos idosos que precisarem. ***Sob supervisão de Caroline Giantomaso VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba
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14/03 - Entenda por que o Dia do Pi é comemorado em 14 de março e qual é a relação da data com... tortas
Pi é a constante matemática encontrada quando a circunferência de um círculo é dividida por seu diâmetro. O resultado sempre será igual a 3.14159265358... e é representado pela letra grega "π". Torta feita pela Universidade Técnica de Delft no 'Dia do Pi' Wikimedia Commons O dia 14 de março pode parecer só mais um dia normal para muitas pessoas, mas, para fãs e entusiastas da matemática, a data é até celebrada em alguns países do mundo: é o "Dia do Pi". 🔢 Dia do Pi? Pi é uma constante matemática (ou seja, um valor que nunca muda) encontrada quando a circunferência de um círculo é dividida por seu diâmetro. O resultado sempre será igual a 3.14159265358... e é representado pela letra grega "π". 🗓️ Por que 14 de março? Tudo faz mais sentido quando a data é vista no formato americano, quando o mês vem à frente do dia: 3/14. 🥧 Dia da torta? Em alguns países falantes do inglês, como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, a data é celebrada com tortas. Isso acontece porque, no idioma, a pronúncia de Pi (pi) e de torta (pie) são iguais (a pronúncia é equivalente a "pai" em português). Feliz Dia do Pi! Professor de matemática explica a importância do famosos número 3,14159.. Outras curiosidades sobre o "Dia do Pi" 14 de março já era uma data lembrada por marcar o aniversário do físico Albert Einstein e de Frank Borman, astronauta norte-americano que comandou a missão Apolo 8 (responsável pela primeira missão dos EUA que deu a volta à Lua, em dezembro de 1968). A data tornou-se ainda mais marcante em 2018, quando o físico e pesquisador britânico Stephen William Hawking faleceu neste mesmo dia. O número de Pi foi descoberto pelos egípcios por volta de 1650 a.C. Até hoje, o número ainda não foi completamente revelado, mesmo com a utilização de supercomputadores para realizar o cálculo. O valor poderia ter trilhões de dígitos. 3.141592653589793238462643383279502884197169399375105820974944592307816406286208998628034825342117067982148086513282306647093844609550582231725359408128481117450284102701938521105559644622948954930381964428810975665933446128475648233786783165271201909145648566923460348610... Por causa disso, todo ano, o dia do Pi é comemorado em 14 de março. Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text Initial plugin text ?
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13/03 - 'Fui escoltada, como se fosse criminosa': estudantes brasileiros contam como foram barrados em aeroporto e impedidos de entrar na Argentina
Jovens explicaram que estudariam em universidades argentinas, mas foram classificados como ‘falsos turistas’ pelas autoridades migratórias. Entenda a polêmica envolvendo a interpretação de um acordo bilateral entre os dois países. Estudantes brasileiros são barrados em aeroporto na Argentina “Eram cinco pessoas me escoltando no aeroporto, como se eu tivesse cometido um crime. Me senti humilhada.” É assim que a brasileira Maria* resume o problema que enfrentou no fim de janeiro, em um dos aeroportos argentinos, quando foi barrada pelas autoridades migratórias do país e mandada de volta para o Brasil como “falsa turista”. Maria conta que não mentiu a ninguém: afirmou, no setor de imigração, que estava viajando para fazer faculdade e que não tinha passagem aérea de volta, porque a data de retorno dependeria do calendário de aulas. Mostrou toda a documentação da instituição de ensino e explicou que, uma vez em Buenos Aires, solicitaria o direito à residência no país estrangeiro. ✈️Mais de 30 estudantes brasileiros — atraídos pela ausência do vestibular nas faculdades argentinas e pelos baixos valores de mensalidades — também foram impedidos de entrar no país vizinho nos dois primeiros meses de 2024, mesmo após seguirem todos os protocolos que eram tradicionalmente aceitos desde 2009: chegar à Argentina como turista, mostrando só o RG; e solicitar o visto de estudante ou a residência permanente já em solo argentino (entenda mais abaixo). ❌Desde o início do ano, no entanto, sem aviso prévio, as autoridades migratórias passaram a cobrar que os alunos já chegassem a Buenos Aires com toda essa documentação pronta – caso contrário, poderiam ser barrados. Advogados e professores de relações internacionais ouvidos pelo g1 apontam para uma resistência maior da gestão do novo presidente, Javier Milei, na recepção de estrangeiros. Já o governo argentino afirma que “nada mudou” [entenda mais abaixo]. “O moço [da imigração] foi pedindo meus documentos, e eu entreguei tudo. Fiquei umas três horas e meia esperando uma resposta. Até que ele disse que eu não preenchia os requisitos e que não poderia entrar na Argentina”, conta. “Perguntei quais eram esses requisitos, mas ele não respondeu. Tentei explicar que o Brasil e a Argentina têm um acordo e que eu poderia, sim, dar entrada na documentação só depois. Ele respondeu: já tomei a decisão e nada vai mudar isso”. Minutos depois, Maria foi colocada em um avião para voltar a São Paulo. Mas qual é esse acordo entre Brasil e Argentina? Maria menciona o acordo bilateral entre Brasil e Argentina, válido desde 2009, que prega o seguinte: brasileiros que estejam na Argentina e argentinos que estejam no Brasil podem transformar vistos temporários ou de turista em vistos permanentes, desde que apresentem a documentação correta e paguem as taxas migratórias. Essa decisão representa até hoje uma facilidade em relação aos outros membros do Mercosul, que só conseguem pleitear um visto permanente no Brasil e na Argentina depois de dois anos do documento provisório. “O que sempre aconteceu foi que os brasileiros ingressavam como turistas na Argentina e pediam só depois o direito à residência. Tinham 90 dias para isso. Quando todo o trâmite terminava, eles passavam a ter os mesmos direitos e obrigações que os cidadãos argentinos”, explica Liziana Andrea Amaran, advogada nos dois países. “É um termo de irmandade, para fortalecer os laços diplomáticos.” Por que, então, houve alunos barrados, se apenas mantiveram o “ritual” que sempre foi aceito? Passageiros no saguão do Aeroparque, em Buenos Aires, em imagem de 2016 Reuters Arthur Murta, professor de relações internacionais da PUC-SP, explica que há uma “brecha” no acordo. “O texto só fala que, uma vez em solo argentino, o brasileiro pode pedir a residência. Mas não diz nada específico sobre a admissão no país [ou seja: se a pessoa entrará com visto de turista ou não]. Milei está se valendo disso para barrar os estudantes estrangeiros: passou a exigir passagem de volta ou visto de estudante”, afirma. “O que ele [presidente argentino] está fazendo é ilegal? Não. Todo país tem direito de não deixar alguém entrar em seu território, desde que o indivíduo esteja descumprindo algum requisito migratório ou for visto como ameaça.” No entanto, para o professor, no caso dos brasileiros barrados, houve uma “criminalização da migração”, porque eles não foram comunicados previamente sobre qualquer mudança nos critérios de admissão no país. “O que Milei faz segue o padrão da extrema-direita internacional. Brasil e Argentina sempre tiveram uma relação diplomática muito bem consolidada, até em momentos antagônicos politicamente.” Natalia Fingerman, professora de relações internacionais do Ibmec-SP, também reforça que, antes do governo Milei, pedir o direito à residência só depois de chegar à Argentina nunca foi tratado como problema. “Mudar isso foi uma medida autoritária e unilateral para reduzir o fluxo de estudantes estrangeiros. É algo fora do jogo diplomático, sem avisar o Ministério das Relações Exteriores”, diz. Ao g1, o Itamaraty afirmou que o acordo bilateral Brasil-Argentina continua em vigor, sem alterações, mas que “a percepção das autoridades migratórias argentinas agora é de uma aplicação mais estrita da regra [de imigração]”. A assessoria do setor de migração do governo da Argentina também diz que nada mudou, mas não admite qualquer rigidez maior no controle de imigração atual. “Não houve nem haverá nenhuma mudança na legislação migratória argentina. De janeiro a fevereiro, 30 brasileiros foram impedidos de entrar no país. Isso é menos de 0,5% do total de brasileiros que chegaram neste período. São números muito parecidos com os de 2023”, diz a representante do órgão ao g1. “Para entrar como turista, precisam ter os requisitos de turista, como passagem de volta. Não dá para ser metade turista, metade estudante. Sempre foi assim.” A advogada Amaran, que assessorou gratuitamente parte dos alunos barrados, confronta a versão oficial do governo argentino. “Vamos supor que eles estejam certos e que sempre tenha sido obrigatório ter visto de estudante antes da viagem. Fizeram vista grossa desde 2009, então? Ninguém pedia o visto no aeroporto antes”, diz. “Custava terem emitido um comunicado para evitar que as pessoas passassem por isso? O que me deixa mal é que sonhos e vidas foram destruídos. Tenho clientes que não vão conseguir voltar. Era a chance deles. Não têm mais dinheiro para pagar outra passagem.” 'Gastei todo o meu dinheiro' Maria, mencionada no início da reportagem, diz que está “perdida”. “Já chorei muito e estou com ansiedade. Meus planos atrasaram pelo menos um semestre. Eu saí da faculdade no Brasil para ir para lá, não estou mais trabalhando, não estou fazendo bico. Todos os meus planos, A, B, C e D, envolviam estar estudando na Argentina. Gastei todo meu dinheiro no preparo. Mas não vou desistir”, diz. João*, que também foi barrado no aeroporto, passou por situação semelhante: falou às autoridades migratórias que estava indo estudar medicina e que, por isso, não tinha passagem aérea de volta. “Não me deixaram nem argumentar. Fui mandado de volta, depois de ser escoltado”, diz. Com isso, ele perdeu R$ 6 mil pagos em um aluguel de hospedagem. “Depois, no Brasil, resolvi tentar de novo, mas por terra dessa vez. Fui de ônibus e levei mais de 27 horas para chegar. Na fronteira, ninguém me pediu visto", diz. "Consegui chegar à Argentina e ir para a faculdade, mas as coisas estão muito difíceis. Não tenho mais dinheiro, não tenho de onde tirar. Minha alimentação está bem restrita, com pão, arroz e feijão. O aluguel é uma fortuna. Não sei se vou ter condições psicológicas de continuar.” Por que brasileiros querem estudar na Argentina? Segundo o Itamaraty, cerca de 20 mil brasileiros estudam na Argentina. Em geral, eles optam por esse destino porque: As universidades de lá não exigem vestibular. Basta entregar a documentação para se matricular em qualquer curso. A “peneira” acontece durante a graduação: depois de passar pelo Ciclo Básico Comum (CBC), uma série de disciplinas gerais e iguais para todos os alunos, os estudantes devem atingir uma pontuação mínima nas provas internas. Quem conseguir pode continuar na faculdade (há algumas chances, como recuperações, para quem não “passar de primeira”). “A gente tem matérias básicas no CBC, como biologia, química, matemática, história e lógica. Muita gente reclama que é difícil. Mas eu ainda prefiro em relação ao vestibular brasileiro”, diz Beatriz Kraus, de 27 anos, que saiu de Florianópolis para estudar medicina na Universidade de Buenos Aires (UBA). Caso o aluno opte por uma instituição privada, em vez de pública, as mensalidades são bem mais baratas. “Cheguei a procurar faculdades particulares de medicina no Brasil, com a minha nota do Enem, mas mesmo com desconto, a mais barata era R$ 6 mil. Na Argentina, varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil”, conta João. O que fazer agora para estudar na Argentina? O Itamaraty recomenda que os brasileiros tirem o visto de estudante antes da viagem. Para isso, é preciso: juntar a documentação solicitada pela embaixada ou pelo consulado argentino (como comprovante de renda, formulário de solicitação, antecedentes criminais etc.); marcar uma visita presencial ao consulado do estado onde a pessoa reside (depende da agenda do local); aguardar cerca de 7 dias para a emissão do documento, caso esteja tudo certo. Os vistos de estudante são gratuitos para cidadãos do Mercosul, mas não permitem que a pessoa trabalhe na Argentina. Se houver a intenção de ter um emprego no país vizinho, o recomendado é pedir o visto de residência, que custa cerca de 550 dólares (cerca de R$ 2.700). Os consulados, por telefone, explicam que, “antigamente”, “até dava para entrar como turista e se mudar depois. Mas, agora, precisa ter visto”. Lucas*, o terceiro aluno barrado com quem o g1 conversou, não conseguiu tirar o visto de estudante, porque, segundo as autoridades consulares, a renda familiar do jovem era muito baixa para que ele se sustentasse na Argentina sem trabalhar. Por isso, ele passou a requisitar o direito à residência. “Tive de pagar as taxas todas, esperar, mas agora deu certo. Vou embarcar em março. Dá um frio na barriga, mas acho que não vão me barrar dessa vez.” * Os nomes reais dos entrevistados foram trocados por fictícios a pedido deles. Estudante desmaia durante discurso de Milei em escola na Argentina
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13/03 - Livro digital ou impresso: o que é melhor para o planeta?
E-books poupam florestas, mas criam lixo tóxico e demandam alto uso de energia. Os livros de papel, por sua vez, advêm de fontes renováveis, embora milhões de cópias produzam pegadas de carbono significativas. Livro digital ou impresso: o que é melhor para o planeta? Michelangelo Oprandi/CHROMORANGE/picture alliance Os leitores de livros impressos e digitais e os ouvintes dos audiolivros gastarão quase 174 bilhões de dólares (R$ 862 bilhões) até 2030. Com cerca de 4 milhões de títulos lançados a cada ano, eles têm uma liberdade de escolha privilegiada. 📚 Mas, quais os impactos de toda essa leitura sobre o meio ambiente e o clima? Devemos fazer a transição do livro impresso para o digital pelo bem das florestas e para evitar o aquecimento global? Os dois formatos possuem suas vantagens e desvantagens. Prós e contras do livro impresso Desde que Johannes Gutenberg inventou a imprensa na Alemanha, há quase 600 anos, a produção de livros explodiu globalmente. Em torno de 130 milhões de exemplares foram publicados entre a invenção da imprensa, em 1440, e 2010, segundo um estudo encomendado pela Google. Todo esse conhecimento e narrativas de histórias resultaram em avanços para a humanidade. Por outro lado, a produção dos livros também ceifou inúmeras árvores de florestas que dão suporte à vida selvagem, produzem oxigênio e ajudam a armazenar o carbono que, quando liberado, induz as mudanças climáticas. A editora Penguin Random House UK, que imprime anualmente cerca de 15 mil títulos, garante que passou a usar papel sustentável nos tomos lançados em nome da empresa. Courtney Ward-Hunting, gerente de sustentabilidade da Penguin, diz que 100% do papel utilizado nos livros é certificado pela ONG ambientalista Forest Stewardship Council (FSC), que trabalha no gerenciamento de coleta de madeira sustentável ou regenerativa que "preservam as florestas para as futuras gerações". 👉 Contudo, o trabalho da FSC em termos de proteção de florestas vem sendo criticado, com a entidade sendo acusada por organizações como o Greenpeace de promover a chamada "lavagem verde". Ward-Hunting reconhece que mais de 70% do impacto climático gerado pela Penguin vem das gráficas e usinas de celulose. Ela diz que os livros da editora geram em média 330 gramas de dióxido de carbono cada, o que inclui gases causadores do efeito estufa. Essa quantidade seria a mesma gerada por uma xícara de café. Esses dados equivalem a todo o ciclo de produção de uma unidade, incluindo a eficiência do maquinário, o uso de energias renováveis, tipos de tinta e o transporte das gráficas até os armazéns e aos consumidores. Em média, os livros de bolso ou brochuras comuns possuem impacto climático três vezes maior ou equivalem a cerca de um quilo de CO2. Isso é o mesmo que a recarga de 122 smartphones, ou dois cafés com leite. Ao mesmo tempo em que as inovações de fabricação diminuíram as pegadas de carbono dos livros impressos, o impacto no clima é significativo se levarmos em conta os aproximadamente 2,2 bilhões de livros físicos que são vendidos anualmente em todo o mundo, afirmam os analistas de dados da WordsRated. Mesmo se presumirmos que cada livro gera 0,33 quilos de CO2, como na Penguin Random House, isso corresponderia a 762.000 toneladas de CO2 – o que equivale ao fornecimento anual de energia a 141.261 residências, ou às emissões de 161.500 automóveis. Prós e contras dos livros digitais O benefício ambiental imediato dos equipamentos de leitura de livros eletrônicos é a capacidade de armazenamento de milhares de livros, sem a utilização de papel. Isso não apenas poupa as florestas – somente nos Estados Unidos são derrubadas anualmente 32 milhões de árvores para a impressão de livros – como também evita enormes gastos de energia no processamento da madeira para a fabricação de papel. A chamada polpação da madeira representou 6% do consumo total da energia industrial global em 2017, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Outra vantagem é o fato de os livros digitais não precisarem ser enviados através de encomendas, uma vez que podem ser diretamente baixados nos equipamentos de leitura. O principal leitor de livros digitais no mercado é o Kindle da Amazon. Mais de 487 milhões de ebooks são vendidos anualmente através desse equipamento, segundo a WordsRated. A Amazon calcula que em torno de 5 milhões de pessoas em todo o mundo leem através do Kindle ou de aplicativos todos os meses. A popularidade dos livros digitais aumentou nos últimos anos principalmente devido aos jovens das gerações Y e Z. O número de consumidores globais de ebooks deve chegar a um bilhão até 2027, segundo cálculos da plataforma alemã de dados Statisa. Mas, a transição de leitores dos livros impressos para os digitais resultaria de fato em benefícios ao clima e ao meio ambiente? 🚨 Os equipamentos eletrônicos de leituras também possuem seu lado ruim. Sua produção é um processo de alto consumo de água e energia. A bateria pode exigir a extração de metais e minerais raros, como cobre, lítio e cobalto. Os aparelhos também são compostos por plástico, que é um material produzido a partir de combustíveis fósseis. Assim como ocorre com os livros impressos, a fase de produção dos ebooks é a que mais gera impactos no clima. Além disso, os leitores utilizam a eletricidade para recarregar os aparelhos, vez após vez, durante a vida útil dos mesmos. O armazenamento do arquivo dos dados dos livros digitais depende de centros de infraestrutura. Isso não ocorre com os livros impressos, que não utilizam energia e não precisam de recarga. As cópias impressas podem durar décadas e serem compartilhadas por inúmeros leitores. Já os leitores digitais costumam durar entre três e cinco anos. Os livros impressos também não são tão complicados de serem descartados ou reciclados no final de suas vidas. Por outro lado, algumas empresas como a Amazon possuem programas de reciclagem para os aparelhos, de modo a evitar o acúmulo de lixo eletrônico. O que é melhor para o planeta? Os livros impressos tradicionais continuam tendo popularidade muito maior do que os digitais, com aproximadamente o dobro da penetração de mercado de seus concorrentes eletrônicos, segundo registros de 2021 nos EUA. ❗ Para Eri Amasawa, professora da Universidade de Tóquio, o impacto ambiental de ambos é significativo. Em um estudo de 2017, a pesquisadora comparou as emissões de gases causadores do efeito estufa da leitura de livros tradicionais e eletrônicos. Ela concluiu que os últimos são mais favoráveis ao clima contanto que ao menos 15 ou mais livros (ou 25 no caso dos iPads) sejam lidos durante o ciclo de vida de três anos dos leitores digitais. Ao mesmo tempo, a leitura de um ou dois livros por ano em um Kindle não seria suficiente para poupar emissões. Mas, e se os leitores consumirem livros nos dois formatos? "Muitas pessoas ainda desejam ler livros impressos, mesmo que elas também leiam ebooks", disse Amasawa. Em torno de 33% dos leitores americanos se encaixam nessa categoria. Mas, mesmo que os aparelhos digitais façam sentido em termos ambientais, a pesquisadora recomenda aos aficionados em livros impressos que "comprem os livros que de fato desejem ler, e depois os reciclem quando terminarem a leitura". Material didático digital x livros físicos: 5 pontos para serem considerados
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12/03 - Governo anuncia 100 novos campi de institutos federais de educação; veja distribuição no mapa
Segundo MEC, investimento permitirá a criação de 140 mil novas vagas para alunos. Institutos oferecem cursos técnicos e de graduação e pós-graduação. Governo anuncia ampliação da rede de Institutos Federais O governo federal anunciou nesta terça-feira (12) a criação de 100 novos campi de institutos federais (IFs) de educação, ciência e tecnologia. O Nordeste é a região que receberá o maior número de novas unidades, segundo o Ministério da Educação (MEC). Veja os números abaixo: Norte: 12 campi Nordeste: 38 campi Centro-Oeste: 10 campi Sudeste: 27 campi Sul: 13 campi O ministro da Educação, Camilo Santana, informou que a expansão das unidades criará 140 mil novas vagas para alunos no país, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio. O anúncio ocorreu no Palácio do Planalto, em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Investimento em educação As instituições de educação profissional e tecnológica (EPT) oferecem cursos gratuitos de qualificação profissional, técnicos e de graduação e pós-graduação. O aumento do número de campi e de matrículas nos institutos federais é defendido por Lula desde o começo do terceiro mandato. O investimento nas novas unidades faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo o MEC, serão investidos R$ 3,9 bilhões nos próximos anos: R$ 2,5 bilhões para as novas unidades e R$ 1,4 bilhão para melhorias nos demais institutos. Os institutos integram a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, criada em 2008 a partir das antigas escolas técnicas. Atualmente, a rede é composta por: 38 institutos federais; dois centros federais de educação tecnológica (Cefets); 22 escolas técnicas vinculadas às universidades; o Colégio Pedro II; e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Mil gols Presidente Lula em cerimônia de anúncio de 100 novos campi de institutos federais Ricardo Stuckert/Presidência da República Na cerimônia de lançamento, Lula relembrou jogadores de futebol como Pelé e Romário, que marcaram mais de mil gols, e afirmou no discurso que definiu a meta de chegar a mil campi de institutos federais – serão 702 com os anunciados nesta terça. "Temos uma meta, marcar mil gols. Nossos mil gols vai ser construir mil institutos federais neste país", disse o presidente. Segundo o presidente, é importante investir para que jovens tenham profissões e, por meio da educação, se tornem "cidadãos de primeira classe". Lula voltou a criticar quem chama de "gasto" os recursos aplicados na educação. É proibido no meu governo falar que dinheiro de educação é gasto. Dinheiro de educação é o mais importante investimento que um país pode fazer. O que é gasto é dinheiro em cadeia, gastar fortuna para combater droga, contrabando, o crime organizado. Isso é gasto. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que faz oposição ao governo e foi eleito presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, também esteve no evento. Sem atuação na área, a eleição dele para o comando do colegiado preocupa a Frente Parlamentar de Educação.
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12/03 - Fies abre inscrições; veja as regras e quem têm direito às vagas do Fies Social
Programa vai oferecer financiamento estudantil para alunos de baixa renda com condições especiais de pagamento. Alunos podem se inscrever até o dia 15 de março. Nova modalidade do Fies quer facilitar o acesso de estudantes de baixa renda ao programa Reprodução/RBS TV Começam nesta terça-feira (12) as inscrições para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do governo federal possibilita o financiamento de cursos superiores em faculdades particulares. Pela primeira vez, o programa vai contar também com o Fies Social, categoria que oferece condições especiais de financiamento para alunos de baixa renda financiarem o curso em até 100%. 🗓️ As inscrições podem ser feitas pelo Portal Único de Acesso ao Ensino Superior, no site do governo federal, até a sexta-feira (15). O resultado vai ser divulgado no dia 21 de março. Segundo o Ministério da Educação (MEC), este ano o Fies vai oferecer 112 mil vagas em várias áreas do conhecimento no país. Metade delas vão ser destinadas à versão social do programa. (Veja mais abaixo a diferença entre as duas categorias.) Quem pode participar do Fies Social? O programa foi anunciado pelo governo no início deste ano como uma forma de atender os alunos de baixa renda com financiamento para cursos de graduação em universidades particulares. Podem participar do programa alunos que: estejam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico); e que tenham renda familiar per capita de até meio salário mínimo (R$ 706). Fies Social garantirá mais acesso para pessoas de baixa renda Qual a diferença entre o Fies e o Fies social? A principal mudança é que, nesta modalidade, o governo pode financiar até 100% do curso. ➡️Como era antes? Desde 2016, o programa havia deixado de fornecer empréstimos que cobriam integralmente os encargos educacionais. Quanto menor o salário médio da família, maior era a fatia da mensalidade que poderia ser paga só depois da formatura — mas era impossível alcançar os 100% de financiamento. Exemplo: na mesma faculdade, que custava R$ 10 mil por mês, um estudante com renda familiar per capita de 1,5 salário mínimo poderia conseguir cerca de 85% de financiamento (e não 100%). Com 3 salários mínimos (o máximo permitido para o programa), seriam só 58% financiados. Diante disso, alunos diziam que estava insustentável continuar na universidade: pagar a parte não financiada tornava-se cada mais difícil, ainda mais para quem estudava em cursos integrais e não poderia trabalhar. 🔔Mas, atenção: Apesar da mudança com o financiamento de 100% do curso, os "tetos" do Fies continuam valendo para a versão social. Isso significa que o programa não vai financiar mais do que R$ 42,9 mil por semestre (no caso de medicina, o limite é de R$ 60 mil). O valor que exceder essa quantia deverá ser pago a cada mês pelo estudante. Outra mudança foi a possibilidade de se inscrever em cursos de várias áreas do conhecimento. ➡️Como era antes? Se o aluno escolhesse entre uma das opções o curso de engenharia, que é das exatas, todas as demais opções deveriam ser também nesta área do conhecimento. Ele não poderia escolher direito ou letras, que são de humanas. Agora, o aluno pode se inscrever em cursos de várias áreas, o que permite mais possibilidades de aprovação. VÍDEOS: notícias de Educação p
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11/03 - 73% dos jovens sem educação básica completa querem voltar a estudar, aponta levantamento
'Não seremos uma nação justa e economicamente forte se permitirmos que dois em cada dez jovens cheguem à vida adulta sem ao menos o ensino médio', alerta Rosalina Soares, especialista da Fundação Roberto Marinho. 7 milhões de jovens de 15 a 29 anos têm vontade de voltar a estudar, segundo pesquisa. Divulgação Dos mais de 9 milhões de jovens fora da escola que não concluíram a educação básica, cerca de 7 milhões ainda têm a intenção de retomar os estudos, o que equivale a 73% do total. É o que mostra a pesquisa Juventudes fora da escola, da Fundação Roberto Marinho e do Itaú Educação e Trabalho divulgada nesta segunda-feira (11). O desejo é maior entre as mulheres (78%), mas também é alto entre os homens (69%). Para a maioria, a vontade é de retornar para o ensino médio técnico, que permite combinar a educação básica com um curso de tecnólogo. “O fato de termos mais de 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não frequentam a escola e não concluíram a educação básica revela uma preocupante 'tolerância' da sociedade brasileira em relação à exclusão educacional dos mais vulneráveis", afirma Rosalina Soares, a assessora de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho. Segundo ela, a maioria desses jovens vem de famílias com renda per capita de até 1 salário-mínimo, sendo que sete em cada 10 são negros. "É alarmante constatar que 86% deles já ultrapassaram a faixa etária adequada para frequentar o ensino regular. Enquanto para os jovens das camadas mais privilegiadas é praticamente uma formalidade concluir o ensino médio, para as juventudes mais vulneráveis, a violação do direito à educação não tem recebido o devido cuidado", completa Rosalina. Entre as principais razões apontadas por aqueles que ainda pretendem terminar o ensino médio estão: a perspectiva de melhora da condição profissional, seja para ter um emprego melhor (37%) ou arrumar um emprego (15%), seguido pelo desejo de cursar uma faculdade (28%). "Não seremos uma nação justa e economicamente forte se permitirmos que dois em cada dez jovens cheguem à vida adulta sem ao menos o ensino médio", conclui a especialista da Fundação Roberto Marinho. Ainda de acordo com o levantamento, 77% dos jovens que saíram da escola e pretendem concluir o ensino médio têm intenção de cursar o ensino técnico. Na visão dos pesquisadores, é uma sinalização da importância do preparo para o mundo do trabalho na escola para que os que estão fora retornem à sala de aula. Para Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, a pesquisa reforça a urgência de políticas públicas e iniciativas intersetoriais para garantir educação de qualidade e preparo para o mundo do trabalho para as juventudes. Ana afirma que os dados revelam a questão do mundo do trabalho como central na decisão desses jovens que estão fora da escola, seja na tomada de decisão para interromper os estudos, seja para retomá-los. "Temos o compromisso constitucional de, na escola, formarmos profissionalmente os jovens, para que eles tenham condições de garantir inserção produtiva digna e dar sequência na carreira que desejarem optar. Fortalecer a Educação Profissional e Tecnológica é fundamental nesse sentido, para que os jovens tenham formação adequada e alinhada às tendências do mundo do trabalho, assim como é urgente criarmos condições para que essa parcela da população estude e tenha oportunidades profissionais”, avalia Ana Inoue. Sem vontade de retomar os estudos Apesar de termos 73% do grupo interessado em voltar para a escola, outros 27% dos jovens de 15 a 29 anos sem a etapa de ensino completa (cerca de 2,5 milhões) não têm vontade de voltar a estudar. Os motivos variam entre homens e mulheres, mas os principais são a necessidade de trabalhar (para 40% deles) e a necessidade de cuidar da família (para 35% delas). Outras respostas como falta de vontade ou de tempo e vergonha da própria idade também apareceram como motivos para os jovens não voltarem a estudar (confira na imagem abaixo). Motivos dos jovens para não quererem voltar a estudar. Pesquisa Juventudes fora da escola sem a educação básica, 2024. A pesquisa ouviu mais de 1,6 mil jovens de todo o país, realizou entrevistas em profundidade e contou com grupos de discussões de jovens para chegar aos resultados. A margem de erro é de 3 pontos percentuais. Outros destaques da pesquisa O levantamento, lançado oficialmente nesta terça-feira (12), também traçou um perfil de quem é o jovem de 15 a 29 anos que está fora da escola. Os homens (58%) e negros (70%) são maioria. Ente eles, 43% não chegou nem a concluir o ensino fundamental e 84% trabalham e 69% ocupam algum cargo informal (sem carteira assinada ou vínculo empregatício). Os que têm filhos também são maioria. Entre os homens, 6 a cada 10 são pais. Entre as mulheres, 8 a cada 10 são mães. E quase 8 a cada 10 desses jovens sem educação básica completa possuem renda per capita de até um salário-mínimo por pessoa. Perfil dos jovens fora da escola. Pesquisa Juventudes fora da escola sem a educação básica, 2024 VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
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10/03 - 'Como reitora, passei por situações nas quais eu tive que colocar o homem no lugar dele', diz Márcia Abrahão da UnB
Primeira reitora da UnB e atual presidente da Andifes, Márcia Abrahão conta que enfrentou situações de machismo e assédio durante trajetória profissional e que, por suas reações, foi chamada de autoritária. Reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão Beto Monteiro / Secom UnB Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, o g1 conversou com duas mulheres que ocupam cargos de destaque no Distrito Federal para falar sobre um tema polêmico: poder e assédio. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 DF no WhatsApp. No sábado (9), a entrevistada foi a vice-governadora do Distrito Federal Celina Leão (PP) . Neste domingo (10), a primeira reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, conta sua experiência. "Como reitora, passei por situações que eu tive que colocar o homem no lugar dele. E aí a gente é chamada de autoritária. [...]. Se o homem faz isso, ele é firme. Se a mulher faz, ela é autoritária, ela é grosseira", diz a reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão. Por ter ingressado na área de geologia, em 1982 – um curso majoritariamente masculino na época – e ter traçado uma carreira que a levou a ser a primeira reitora da UnB, Márcia Abrahão conta que durante toda a sua trajetória acadêmica e profissional enfrentou o machismo. Atual presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), ela diz que precisou lidar com "microagressões de gênero" incansavelmente. “Tive que lutar por cada detalhe. Por exemplo, na UnB, na Reitoria, a placa da frente da da sala é reitor. Foi um custo para eu conseguir mudar para reitora." Leia abaixo a entrevista com Márcia Abrahão. Poder x assédio g1: A relação entre poder e assédio é muito presente em diversos âmbitos da sociedade. Como a senhora percebe esse contexto? Ao longo da sua vida, passou por situações em que se sentiu assediada? Se estiver confortável, pode nos contar como foi? Márcia Abrahão: Eu já passei por essa situação em vários momentos, em várias fases da minha vida: como estudante, com um professor que não aceitava a mulher ainda mais geóloga, como profissional, por exemplo, na Petrobras, quando estávamos em campo e era uma equipe sísmica, que eu era geofísica da Petrobras no interior da Bahia, e era um acampamento só de homens. Nós chegamos três mulheres, três mulheres geólogas, as três formadas na UnB, com o "espírito da UnB" que não aceita preconceito, e tivemos que nos rebelar dentro da equipe sísmica, conversar com o chefe por causa da atitude dos homens que andavam de toalha no meio do acampamento. Na vida profissional ouvi homens que falavam "Ah, não, deixa que eu dirijo" ou "Você, não precisa dirigir, deixa que eu vou para andar num lugar mais difícil". Então, há esse tipo de coisa na vida de uma geóloga. Mas também tive pessoas incríveis, como o meu orientador. Por exemplo, eu estava morrendo de medo de falar que eu estava grávida da minha filha, já estava terminando o mestrado. Aí ele falou "Poxa, que bom. Parabéns!". Então, há homens que têm um outro olhar. Como reitora, passei por situações que eu tive que colocar o homem no lugar dele. E aí a gente é chamada de autoritária. Quando a gente fala "Olha aqui, pode deixar que eu sei o que eu tô fazendo" – se o homem faz isso, ele é firme. Se a mulher faz, ela é autoritária, ela é grosseira. E eu já passei por isso como reitora e até como presidente da Andifes. Já passei por situação de machismo de tentar inverter o que a gente está fazendo para trazer uma imagem, que não é uma imagem verdadeira. Mas é porque no fundo ele não aceita que uma mulher esteja no comando. g1: Como ser mãe durante o mestrado e o doutorado influenciaram na sua carreira e na sua visão de gestora? Márcia Abrahão: Ser mãe e para mim, hoje como gestora, é muito importante eu ter passado pelo que eu passei, até pra ver o que as pessoas sentem e o que as mulheres passam. Então, por exemplo, quando eu fui fazer minha prova de mestrado, eu tinha acabado de ter o exame de gravidez do meu filho. Tinha entrevista e eu morria de medo, porque a geologia é um curso muito de homens, até hoje tem muita resistência em várias áreas, não em todas, mas em outras têm. Uma amiga minha falou "Não fale que está grávida. Se você falar que está grávida na entrevista, você não vai passar". E eu fiz uma péssima entrevista e eu não falei que estava grávida. Também não me perguntaram, né? "Você está grávida?’" [risos]. Mas foi difícil. Assim que eu comecei o mestrado, tinham disciplinas que eu tinha que fazer trabalho de campo e eu não pude ir. Depois, isso acabou prejudicando. [...] No doutorado, a minha filha tinha acabado de nascer e eu tinha que ir para o campo, que era no norte de Mato Grosso – uma área que tinha muita malária na época – e eu amamentava. [...] Então, eu só pude ir para o campo no ano seguinte, em julho do ano seguinte. Acabou atrasando o meu campo e quando eu fui, eu amamentava ainda porque ela não queria parar de mamar. E eu fui daqui de Brasília de carro até Mato Grosso, tirando leite no caminho para ir desmamando. Foi assim que eu desmamei ela, nesse período, nesse caminho. Então, tem várias situações. Por exemplo, tanto no mestrado, quanto no doutorado e depois, com os filhos pequenos. Eu estava no laboratório, fazendo uma análise e eu tinha que parar de repente, porque a escola ligava falando que criança tinha passado mal. Já como professora, eu dava aulas às quartas, durante a tarde, e eles faziam as oficinas infantis que tinham lá na UnB, no CO [Centro Olímpico]. Na hora do intervalo da minha aula, eu levava eles, ia dar aula, depois buscava no intervalo, deixava em casa correndo e voltava para dar aula. Não tinha tempo nem de beber água. Era uma logística danada, sorte que eu morava ali perto, na 205 Norte. Então, tem muitas situações que as mulheres passam. E aí você escuta o colega com piadinha, como se a gente tivesse de corpo mole e esse tipo de coisa. g1: Então a senhora enfrentou o machismo durante todo percurso, de estudante, pós-graduanda, mestre, doutora, no mercado de trabalho, como reitora e como presidente da Andifes? Márcia Abrahão: Durante todo o percurso. Na verdade, nós temos que estar o tempo inteiro atentas, porque todo dia tem um homem que não aceita uma mulher num cargo de destaque, seja como gestora, seja como profissional, como colega. Uma colega que se sobressai, têm homens que não aceitam. Ainda bem que têm homens que aceitam e que ensinam isso para outros homens. Hoje em dia, as mulheres estão mais atentas. Quando a mulher não está atenta, ela tem uma amiga, ela tem uma prima, ela tem uma irmã que faz ela abrir os olhos. E isso é muito importante. Mas acho que, infelizmente, a nossa sociedade brasileira ainda é muito machista. Ainda é uma sociedade que tem muitos homens que não aceitam mulheres que estudam, mulheres que têm cargos, e isso a gente tem que combater no dia a dia. Mas o que eu vejo hoje é que as mulheres estão mais atentas e mais donas das suas vidas. g1: Conte um pouco de sua trajetória na universidade e na comunidade acadêmica. Ao longo desse tempo, como foram as suas experiências, em um ambiente que, por muito anos, foi dominado por homens. Márcia Abrahão: Tive que lutar por cada detalhe. Por exemplo, na UnB, na Reitoria, a placa da frente da da sala é reitor. Foi um custo para eu conseguir mudar para reitora. Há pouco tempo, eu consegui mudar uma outra placa para gabinete da reitora, mas somente no segundo mandato. As assinaturas no Sei, que é o nosso sistema de assinaturas online, todas no masculino. Lutei para conseguir mudar, para colocar pelo menos o "azinho" [ª]. Hoje em dia, por exemplo nessa trajetória toda – e até por eu ter uma profissão que eu tive que me impor também profissionalmente como geóloga – eu vejo que as pessoas me respeitam. Mas vejo também que muitas pessoas usam o fato de eu ser mulher, de eu falar mais firme, para dizer que "Tá vendo, é autoritária", ou "Tá vendo, tem que ser do jeito dela", e eu faço gestões super democráticas, tanto na UnB como na Andifes. Mas o que a gente percebe é que ainda tem muitos homens que tentam usar qualquer detalhe para desqualificar a mulher, no fundo, o que eles querem é desqualificar. [...] A gente ainda tem homens, e eu vivo isso ainda hoje como presidente da Andifes, já vivi com reitores homens, por exemplo, deles me interromperem o tempo inteiro quando estou falando. Então, eu passei por isso, e olha que eu sou presidente há menos de um ano, passei por isso como reitora na UnB com diretor de faculdade me interrompendo o tempo inteiro e interrompendo outras mulheres, e passei por isso na Andifes com reitores que também não aceitam. Muitas vezes são homens que tentam passar uma imagem de homens que são modernos, que respeitam a mulher. Mas eles escorregam porque eles não são. Responsabilidade A reitora Márcia Abrahão em cerimônia de posse Wilson Dias/Agência Brasil g1: Como a senhora se sente hoje, sendo uma mulher na posição em que ocupa como reitora da Universidade de Brasília e presidente da Andifes? Márcia Abrahão: Eu já passei da fase de ficar muito feliz e orgulhosa. Hoje, eu vejo isso com uma imensa responsabilidade, então é uma imensa responsabilidade para outras mulheres. Recentemente eu recebi umas pessoas para uma reunião, para tratar do Conselho de Saúde do Brasil, da Conferência Nacional de Saúde, e eu escuto de outras mulheres "Olha, é muito bom te conhecer, muito bom falar com você, você tem sido um exemplo, eu fico feliz que você está aí". Então eu vejo a proporção da minha responsabilidade. E agora eu tenho uma responsabilidade muito maior, porque eu sou avó. Então eu vejo como que eu tenho que ser um exemplo para a minha neta, sou avó de uma mulher. g1: Que conselho a senhora daria para mulheres que querem cargos de liderança no meio acadêmico? Márcia Abrahão: Primeiro é acreditar no seu próprio potencial. Não escutar as pessoas que dizem que você não tem condições, que você não vai conseguir, que você vai ser mãe. A pessoa fala "Você tem filho, você não consegue fazer isso porque você tem que cuidar do seu filho". Sim, nós temos que cuidar dos nossos filhos, mas podemos também optar por não ter filhos. Essa tem que ser uma opção da mulher, não pode ser uma imposição da sociedade. E a outra coisa que eu acho fundamental é a gente sempre ter mulheres aliadas. As pessoas costumam dizer que a mulher não é aliada de mulher, mas mulher é muito aliada de mulher. É muito importante nós termos as nossas redes de amigas, continuarmos com as nossas amigas, saindo com as nossas amigas, conversando com as nossas amigas. Não deixarmos que os homens impeçam a gente de ter amizades. Esse é um primeiro sinal de violência. É naquele relacionamento de mulher e homem em que o homem não permite que ela tenha amigas e que não estude e que não trabalhe. Então, é ficar atenta a todos os sinais, confiar nas mães e confiar em outras mulheres e persistir, isso é fundamental. Quem é Márcia Abrahão Márcia Abrahão, reitora da UnB, fala sobre quem é e como quer ser lembrada no cargo que ocupa Márcia Abrahão nasceu no Rio de Janeiro, em 1964, mas cresceu em Brasília. Em 1982, passou no vestibular da UnB para o curso de Geologia e, após finalizar a graduação, passou no concurso da Petrobras, em 1987. Pediu demissão após um ano e meio e, quando se casou, voltou para Brasília. Em 1988, passou no mestrado na área de Geologia na UnB. Seu primeiro filho, Tomás, nasceu depois de um ano. Márcia Abrahão passou no concurso do Banco Central durante o período da pós-graduação e, no início do doutorado, a filha Renata nasceu. Depois de pedir demissão do Banco Central, ela passou, em março de 1995, para ser professora substituta da UnB, e em julho entrou como professora permanente. "Estou lá [na UnB] até hoje, e assim comecei a minha história", diz Márcia Abrahão. Graduada, mestra e doutora em Geologia pela UnB, é docente do Instituto de Geociências (IG) desde 1995. Entre 2008 e 2011, foi decana de Ensino de Graduação e coordenou o Reuni – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Em 2016, tornou-se a primeira mulher eleita reitora da UnB e, em 2020, foi reconduzida ao cargo por mais quatro anos. Em 2023, foi eleita presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Casada pela segunda vez – com o mesmo marido, Antônio – atualmente diz que um dos seus títulos preferidos é "ser avó da Olívia". LEIA TAMBÉM: ENTREVISTA VICE-GOVERNADORA: 'Firmeza e postura me ajudaram a combater assédio', diz Celina Leão, vice-governadora do DF HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS DE MULHERES: a arte ancestral do crochê que tece o presente e desenha o futuro Leia mais notícias da região no g1 DF.
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09/03 - Em Piracicaba, 66% das escolas municipais não têm bibliotecas; lei prevê obrigatoriedade
Em 2010, Governo Federal determinou acervo mínimo de um livro para cada aluno matriculado. Rede municipal, conforme o número de matrículas, deveria ter 36.704 títulos disponíveis aos alunos, segundo dados do Censo Escolar. Estante de livros no Sebo do Formiga, em Piracicaba Caroline Giantomaso/g1 A rede municipal de ensino de Piracicaba (SP) contava com 66% das escolas sem biblioteca ou sala de leitura, segundo o Censo Escolar divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). O dado é referente ao ano de 2023, o último analisado pelo levantamento nacional. Por lei, todas as escolas do país devem ter uma biblioteca com acervo mínimo de um título para cada aluno matriculado e um bibliotecário por colégio. A universalização das bibliotecas foi estabelecida pela Lei 12.244 em 2010. O texto previa um prazo máximo de dez anos para a instalação dos acervos nas escolas, porém, de acordo com a Câmara dos Deputados, o prazo foi adiado para 2022 por conta da pandemia de Covid-19. 📲Receba no WhatsApp notícias da região de Piracicaba Conforme o Censo Escolar, considerando o número de matrículas em toda a Educação Básica municipal, que se divide entre Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, a rede de ensino deveria contar com pelo menos 36.704 livros disponibilizados para os alunos em 2023 em Piracicaba. Confira, abaixo, o acervo mínimo para cada faixa de ensino: 📖 Ensino Infantil: 18.276 livros distribuídos em 92 escolas da rede municipal 📖 Ensino Fundamental: 17.878 livros distribuídos em 48 escolas da rede municipal para os alunos dos anos iniciais, que compreende do 1º ao 5º ano 📖 Ensino Médio: 185 livros disponíveis na única escola da rede municipal de Piracicaba Em Piracicaba, não há escolas municipais voltada aos anos finais do Ensino Fundamental. A rede pública desta faixa de ensino é composta exclusivamente de instituições estaduais, onde o percentual de escolas com bibliotecas ou salas de leitura é de 74,6% — mais do que o dobro da cobertura municipal (34,1%), mas ainda aquém da meta estabelecida pelo Governo Federal. Confira os dados completos abaixo. O que diz a prefeitura? O g1 pediu um posicionamento para a Prefeitura de Piracicaba, que informou, em nota, que dispunha de salas de leitura em 46 das 48 escolas do Ensino Fundamental em 2023, último ano base dos dados disponibilizados pelo Censo Escolar. Além disso, a administração municipal informou também que a rede municipal contava com cerca de 17 mil alunos no Ensino Fundamental e um acervo de, pelo menos, 50 mil títulos de livros destinados ao uso nas escolas desta faixa de ensino -- isso resulta em cerca de três livros disponíveis para cada aluno. Livros, livraria, prateleira, biblioteca, bienal, literatura (imagem ilustrativa) Jessica Ruscello / Unsplash 📚 Planos para 2024 Segundo a Secretaria de Educação de Piracicaba, está em andamento a compra de 21.348 exemplares de livros de literatura em 2024, resultando em um investimento superior a R$ 1 milhão. Além dos livros adquiridos, as escolas também recebem títulos a partir do Programa Nacional do Livro e do Material Didático, que disponibiliza obras didáticas, pedagógicas, literárias e outros materiais de apoio à prática educativa. A administração municipal também prevê, ao menos, duas novas salas de leitura que serão instaladas na escola de Ensino Fundamental que será construída no bairro Nova Iguaçu e na escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental do bairro Santana. Por fim, a Secretaria também informou que o incentivo à leitura ocorre desde o berçário, por meio de projetos de leitura e também com a disponibilização de livros infantis para manuseio das crianças em escolas de Educação Infantil da rede municipal. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba
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08/03 - 'O Avesso da Pele': livro que debate racismo é censurado em escolas de 3 estados por reação equivocada ao conteúdo, alertam especialistas
Estudiosos afirmam que trechos que abordam relações sexuais e a sexualização dos personagens podem ser o principal motivo da censura. Estados alegam que a obra apresenta 'expressões impróprias' para menores de 18 anos. Publicado em 2020, "O Avesso da Pele", de Jeferson Tenório, conta a história de um jovem que teve o pai morto em uma abordagem policial Carlos Macedo/Feira do Livro e Reprodução/Redes Sociais Especialistas ouvidas pelo g1 afirmam que a justificativa apresentada pelos governos do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná para recolher os exemplares do livro “O Avesso da Pele” das escolas públicas é falha, fraca e escorada no racismo, repetindo procedimento de censura típico dos anos da Ditadura Militar. As secretarias de educação afirmam que a obra apresenta “expressões impróprias” para menores de 18 anos, e que, por este motivo, precisaria ser reavaliada ou retirada das bibliotecas das instituições. Entretanto, os especialistas ouvidos pelo g1 argumentam que há, entre outros pontos, confusão entre o interesse privado e o público na ação desses governos estaduais, já que a obra é premiada e foi selecionada para distribuição escolar pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC). A obra consta ainda na lista de livros obrigatórios do vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), considerado um dos mais concorridos de todo o país. No Rio Grande do Sul, a diretora de uma escola chegou a pedir a retirada do título da instituição, mas o governo estadual o manteve na sua lista de obras. (Veja mais abaixo.) “Me parece uma decisão baseada em um gosto pessoal, de alguém que não gostou da obra e automaticamente acha que as outras pessoas nem deveriam ter acesso a ela”, afirma a professora Carla Risso, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integrante do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). O livro, que foi publicado em 2020 e venceu o Prêmio Jabuti (prêmio mais importante do setor) no ano seguinte, narra a história de Pedro, que teve o pai assassinado em uma abordagem policial. A obra apresenta questões raciais que vão desde o racismo estrutural à violência policial, e trata ainda da fetichização e sexualização de corpos negros. Instituição que promove Prêmio Jabuti repudia recolhimento de livro: 'Inaceitável ataque à liberdade de expressão' Espanto com a censura Jeferson Tenório, autor do livro, ficou surpreso com a reação contra a obra. "Me causa espanto porque nós já temos tão poucos leitores no Brasil e deveríamos estar preocupados em formar leitores, e não censurar livros", declarou em entrevista ao programa Ao Ponto, da Globonews. Em Ponto entrevista: Jeferson Tenório, autor de "O avesso da pele" Em suas redes sociais, o escritor classificou ainda a medida como "uma violência e uma atitude inconstitucional". Segundo Tenório, "não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada". “O mais curioso é que as palavras de 'baixo calão' e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes a ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, escreveu Tenório. Um abaixo assinado online contra a censura reuniu mais de 6,4 mil pessoas, incluindo personalidades como Chico Buarque e Drauzio Varela. De acordo com a professora e comunicóloga Luiza Andrade, os trechos que abordam relações sexuais e a sexualização dos personagens podem ser um dos principais argumentos para a censura da obra, mas essa justificativa é falha. Políticos de direita chegaram a afirmar que o livro possui "linguagem pornográfica". Sim, os trechos são detalhados, mas não diferem em conteúdo de livros de literatura infantojuvenil facilmente encontrados nessas mesmas bibliotecas escolares. Há uma diferença, no entanto, na linguagem usada para descrever as cenas, com palavras que muitos consideram chulas ou vulgares, o que pode, talvez, fazer com que a obra seja entendida por alguns como inadequada para o ambiente escolar. Outra diferença apontada pela especialista é o foco claro na crítica imposta pela reflexão diante da cultura de fetichização de determinados corpos. Luiza reforça que não concorda com essa linha de raciocínio, mas acredita que seria um argumento facilmente aceito entre “os defensores das morais e dos bons costumes que buscam cercear debates sobre os direitos das minorias e a repressão sofrida pela população negra”. “Não se trata apenas sobre como o livro é escrito, mas sobre a mensagem que ele quer passar, sobre o que aquele material ensina aos alunos, que tipo de questionamento estimula e a quais conclusões os estudantes vão chegar ao consumir aquela obra”, defende Luiza. 'Retirar livros é ato censório' Daniela Osvald, coordenadora do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), defende que a mesma tática foi utilizada no país durante a ditadura militar entre as décadas de 60 e 80. Ela acredita que a decisão das secretarias de educação pode, sim, ser considerada censura. O livro integra um programa do governo federal e já havia passado por uma avaliação realizada por uma banca especializada. Não é uma obra desconhecida e havia um motivo para ela integrar a coleção das bibliotecas das escolas. Essa é quase uma censura institucional porque está sendo institucionalizada por um governo. O que diz a editora A Companhia das Letras, editora responsável pela distribuição do livro em todo Brasil, também manifestou indignação com a decisão das secretarias de ensino. Para ela, “a retirada de exemplares de um livro, baseada em uma interpretação distorcida e descontextualizada de trechos isolados, é um ato que viola os princípios fundamentais da educação e da democracia, empobrece o debate cultural e mina a capacidade dos estudantes de desenvolverem pensamento crítico e reflexivo”. Alvo de ataques O livro vem sendo alvo de ataques desde 2022, quando Tenório sofreu ameaças de morte ao anunciar que faria uma palestra em uma escola de Salvador. Na época, o escritor revelou que recebeu mensagens anônimas que diziam que caso fosse ao local, ele teria o "CPF cancelado", ou "teria de fugir do país" para não ser metralhado. Mais recentemente, na semana passada, a diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, pediu a retirada do título das instituições de ensino da cidade através de um vídeo na internet. Após a publicação, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), ligada à Seduc-RS, chegou a orientar a retirada dos exemplares da biblioteca da escola até que o MEC se manifestasse. Dias depois, porém, a secretaria estadual emitiu nota afirmando que "não orientou para que a obra (...) fosse retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino" e que "a 6ª Coordenadoria Regional de Educação vai seguir a orientação da secretaria e providenciar que as escolas da região usem adequadamente os livros literários". Livro faz parte de programa do governo federal "O Avesso da Pele" chegou às bibliotecas escolares por meio do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), sistema do Ministério da Educação (MEC) que seleciona e distribui gratuitamente livros didáticos para as escolas públicas brasileiras. O programa foi estabelecido no formato atual por um decreto de 2017. Em resumo, ele funciona da seguinte forma: O MEC publica editais com as características obrigatórias dos livros que serão adotados pelas escolas (número de páginas, conteúdo, formato etc.). As editoras, então, começam a produzir obras que sigam esses critérios. Depois, podem inscrevê-las no programa. O ministério, por meio da Secretaria de Educação Básica, avalia quais livros podem ser aprovados, quais estão "eliminados" e quais só precisam de pequenos ajustes. Depois da análise de comissões técnicas pedagógicas, é formado um "cardápio de materiais" com todos os que passaram pelo crivo dos especialistas. As escolas recebem o tal "cardápio" e escolhem quais livros adotarão. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do governo federal, negocia os preços com as editoras e compra as obras, para que sejam direcionadas gratuitamente às redes de ensino. Por último, os correios distribuem os livros para cada colégio. Veja o infográfico abaixo: Como funciona o PNLD? Arte/G1 Escritor Jeferson Tenório fala sobre 'O avesso da pele'; obra é alvo de polêmica no RS
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07/03 - Pé-de-meia: MEC divulga calendário de pagamento de bônus de matrícula a alunos do ensino médio; veja datas
Valor faz parte do programa de incentivo à permanência de jovens no ensino médio. Além deste bônus, os estudantes elegíveis também receberão R$ 1.800 em nove parcelas ao longo do ano. Governo anuncia valores de programa que cria bolsa contra evasão escolar no ensino médio O Ministério da Educação (MEC) divulgou na quarta-feira (6) o cronograma de pagamento do bônus de matrícula, no valor de R$ 200, a alunos elegíveis em qualquer ano do ensino médio. O valor faz parte programa "Pé-de-meia", que irá fornecer incentivo financeiro para estudantes da etapa de ensino. O bônus será pago em parcela única entre 26 de março e 3 de abril. A data de pagamento depende do mês de aniversário do aluno. Esse valor não é descontado do incentivo de frequência de R$ 1.800, que será pago em nove parcelas ao longo do ano. (Veja mais abaixo o detalhamento dos pagamentos do programa.) Calendário de pagamento do bônus de matrícula por mês de aniversário do estudante: Janeiro e fevereiro: 26 de março Março e abril: 27 de março Maio e junho: 28 de março Julho e agosto: 1º de abril Setembro e outubro: 2 de abril Novembro e dezembro: 3 de abril Entre os objetivos do programa estão combater a evasão escolar no ensino médio e diminuir a desigualdade no acesso à universidade e ao mercado de trabalho. Pelo programa, o governo irá pagar até R$ 9,2 mil para os estudantes que concluírem os estudos. Segundo o MEC, a expectativa é a de que o programa atenda cerca de 2,5 milhões de alunos. Abaixo, confira: Quem pode participar do 'Pé-de-meia' Como se inscrever no programa Quais valores serão pagos Quais são as regras do programa Como será o calendário de pagamento 🧑‍🎓 Quem pode participar do 'Pé-de-meia' De acordo com a portaria, podem participar do programa os estudantes matriculados em escolas públicas e que estejam cursando o ensino médio ou o programa para Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, é necessário: ter entre 14 e 24 anos; fazer parte de família inscrita no Cadastro Único (CadÚnico). Segundo MEC, terão prioridade para receber o benefício os estudantes que integrem famílias que recebem o Bolsa Família. Por outro lado, alunos cadastrados como família unipessoal no Bolsa Família não têm direito ao programa. 🗒️ Como se inscrever no programa O MEC informou que será responsável por definir quais alunos terão direito a receber o programa. Para isso, as escolas deverão enviar os dados dos estudantes para o governo. Após o recebimento dos dados, o MEC fará o cruzamento de informações com o Cadastro Único e abrirá as contas bancárias para os alunos. O governo informou que é necessário que os estudantes tenham CPF e estejam inscritos no CadÚnico. Para este ano, segundo a portaria do MEC, o governo irá analisar as informações contidas no CadÚnico no dia 10 de fevereiro de 2024. Além disso, estarão aptas as matrículas de estudantes no ensino médio transmitidas pelas instituições de ensino até 8 de março de 2024. ▶️ EMISSÃO DO CPF Para emitir o CPF, basta preencher um formulário da Receita Federal. Veja a seguir como fazer: Para cidadão brasileiro residente no país, clique aqui. Para cidadão brasileiro residente no exterior, clique aqui. Para cidadão estrangeiro, clique aqui. ⚠️ O cartão físico do CPF – aquele de plástico azul – não é mais emitido. Os comprovantes de inscrição impressos e o CPF Digital têm o mesmo valor jurídico. Leia aqui outras orientações para emissão do CPF. ▶️ INSCRIÇÃO NO CADÚNICO Para se inscrever no CadÚnico, um membro da família do estudante, com 16 anos ou mais, deve ir diretamente até o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da cidade onde mora ou posto de atendimento munido dos documentos. Clique aqui para mais informações sobre o CadÚnico. No momento da inscrição, o representante deve apresentar pelo menos um documento da lista a seguir para cada pessoa da família: Certidão de Nascimento; Certidão de Casamento; CPF; Carteira de Identidade – RG; Carteira de Trabalho; Título de Eleitor; Registro Administrativo de Nascimento Indígena (RANI) – somente se a pessoa for indígena. 💰 Quais valores serão pagos O MEC informou que o benefício será pago por etapas, da seguinte forma: incentivo para matrícula, no valor anual de R$ 200; incentivo de frequência, no valor anual de R$ 1.800; incentivo para conclusão do ano, no valor anual de R$ 1.000; incentivo para o Enem, em parcela única de R$ 200. No caso do incentivo de frequência, o valor total de R$ 1.800 será pago em nove parcelas ao longo do ano. A exceção será para este ano, quando o benefício será pago em oito parcelas, totalizando R$ 1.600. ✅ Quais são as regras do programa O MEC informou que vai exigir uma série de dados sobre a vida escolar do estudante para que o benefício seja pago regularmente. Confira a seguir: Incentivo de matrícula: é necessária que a inscrição no ano escolar seja feita até dois meses após o início do ano letivo. Incentivo de frequência: o aluno terá de ter frequência de pelo menos 80% das horas letivas. Caberá às instituições de ensino comunicar ao governo, todos os meses, a frequência escolar dos estudantes. Incentivo de conclusão: o estudante deverá passar de ano para receber o valor anual. Além disso, se for o caso, o aluno terá de ter a participação comprovada em exames de avaliação, como o do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Incentivo do Enem: o valor só será pago aos alunos que concluírem o ensino médio e estiverem presentes nos dois dias de provas. Em caso de retorno após abandono ou reprovação, o governo informou que só pagará o benefício uma única vez para cada série do ensino médio. ❌ Serão desligados do programa os alunos que: optarem por abandonar o "Pé-de-meia" voluntariamente; que não estiverem mais dentro dos critérios de elegibilidade, como idade e inscrição no CadÚnico; que reprovarem de ano duas vezes consecutivas; que abandonarem os estudos por mais de dois anos; que cometerem qualquer tipo de fraude ou irregularidade. 🗓️ Como será o calendário de pagamento O bônus de matrícula, no valor de R$ 200, será pago entre os dias 26 de março e 7 de abril. Caso algum aluno não receba o benefício por alguma atualização nos dados do governo, o pagamento será feito até 1º de julho. Para o incentivo de frequência, no valor de R$ 1.600, o pagamento será feito em oito parcelas. Veja os prazos na tabela a seguir: Pagamento do incentivo de frequência Já em relação ao incentivo de conclusão, no valor de R$ 1.000, o depósito na poupança estudantil será feito entre 24 de fevereiro de 2025 e 3 de março de 2025. Caso algum aluno não receba o benefício por alguma atualização nos dados do governo, o pagamento será feito até 5 de maio de 2025. Por fim, o incentivo para o Enem, de R$ 200, será depositado entre 23 de dezembro de 2024 e 3 de janeiro de 2025. VÍDEOS: notícias de Educação
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07/03 - Nova lei de cotas, erro em algoritmo e falta de tempo para testar sistema: reitora da UFSCar explica anulação da 2ª chamada
Ana Beatriz de Oliveira diz que decisão do MEC resultou em erros na classificação de candidatos às vagas de ampla concorrência, que foram destinadas a cotistas, e no cancelamento inédito dos convocados. Reitora da UFSCar fala sobre erro e anulação da lista de 2ª chamada Nesta semana, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) anulou a lista de segunda chamada para os interessados em ingressar em seus cursos de graduação, após reclamações de candidatos que tiveram notas melhores do que os convocados e se sentiram prejudicados. Uma nova lista para matrícula deverá sair na segunda-feira (11). 📲 Participe do canal do g1 São Carlos e Araraquara no WhatsApp Foi a primeira vez na história do vestibular da UFSCar que uma lista de convocados para matrícula foi cancelada. ATUALIZAÇÃO: uma nova lista corrigida foi divulgada no dia 12 de março. Leia a reportagem. De acordo com a reitora da UFSCar, Ana Beatriz Oliveira, uma cadeia de eventos desencadeou erros na classificação das vagas de ampla concorrência, que foram destinadas a cotistas, causando transtornos a centenas de candidatos que já haviam apresentado os documentos para a matrícula e se consideravam alunos da universidade. Em entrevista ao g1, Ana Beatriz explicou como aconteceram as falhas e também falou sobre os alunos prejudicados. Nesta reportagem você vai ver: Nova lei de cotas Tempo curto de implantação das mudanças e erro no algoritmo Falta de testes de sistema Cinco dias para identificação de erro Formas de reparação aos candidatos prejudicados "A gente tem primeiro uma decisão do Ministério da Educação (MEC) para aplicar a lei de cotas. Isso gerou um tempo muito curto para todas as universidades se adequarem ao processo. Nós fizemos adaptações necessárias aqui e depois de publicada a lista da segunda chamada, recebemos reclamações de candidatos que ficaram de fora do requerimento de matrícula. Foi identificado um erro na geração dessas listas, o que nos levou à decisão de suspender tanto a segunda chamada para matrícula como a lista de manifestação de interesse porque havia nela também um vício de origem que invalidava o processo." Reitoria da UFSCar em São Carlos Gabrielle Chagas/g1/Arquivo Dos 66 cursos oferecidos para a UFSCar, houve lista errada em 61. Ana Beatriz diz que o mesmo problema ocorreu em outras universidades. "Foi uma cadeia de eventos que levou a esse erro na UFSCar e em outras universidades que passam pelo mesma situação. Todo o sistema, nesse momento, monitora as listas, sabendo que há grande risco de erro em função dessa nova maneira de preencher as vagas", disse. O g1 procurou o MEC para saber dos problemas ocorridos na UFSCar e em outras universidades que tiveram as listas de interesse de vaga e convocação para as segundas chamadas canceladas. O Ministério disse que o problema ocorreu na UFSCar , mas negou que houvesse em outras unidades (leia mais abaixo). LEIA MAIS: RECLAMAÇÕES: Candidatos perdem vaga em 2ª chamada e questionam resultado ANULAÇÃO DE LISTA: UFSCar admite erro e anula 2ª chamada de aprovados DANO MORAL: Candidatos desconvocados podem processar instituição; entenda 1 - Nova lei de cotas Segundo a reitora, a nova lei de cotas insere uma série de novos procedimentos para gerar as listas, já que antes a ampla concorrência e as cotas eram trabalhadas em blocos separados e os candidatos competiam dentro das suas categorias de descrição. "Os candidatos à ampla concorrência disputavam 50% das vagas, os cotistas os outros 50% divididos em até oito grupos. Agora, os grupos se movimentam e o que a gente tem que fazer é preencher todas as vagas da ampla concorrência com todos os candidatos com maiores notas, independentes se eles são de ampla concorrência ou de cotas", explicou Ana Beatriz. LEIA MAIS: Entenda a nova lei de cotas Ana Beatriz Oliveira, reitora da UFSCar Reitoria da UFSCar/Divulgação Voltar ao início 2 - Tempo curto de implantação das mudanças e erro no algoritmo A nova política de cotas foi aprovada no final de outubro e sancionada pelo presidente Lula em novembro. Mas, de acordo com a reitora, a universidade foi comunicada que o MEC iria implantar a nova lei no Sisu de 2024, apenas um dia antes da publicação do edital da UFSCar de adesão ao Sisu, o que não deu tempo para a universidade ter pleno entendimento da lei, ao mesmo tempo em que se comprometeu a cumpri-la. "A decisão do MEC que a lei de cotas seria aplicada chegou 24 horas antes de a gente publicar nosso edital. Além disso, os problemas que aconteceram na primeira chamada atrasaram que os dados chegassem aqui para que a gente trabalhasse", afirmou Ana Beatriz. A universidade alega teve menos de dois meses para fazer as adaptações necessárias no sistema que gera as listas de candidatos para as manifestações de interesse e convocação para matrícula. “A operacionalização da lei de cotas foi uma decisão tomada pelo MEC, sem a participação das universidades com um período de tempo curto para que a mudança necessária do algoritmo fosse realizada com segurança. Então, nós vimos na primeira lista que foi divulgada pelo MEC uma série de revogações consecutivas. É o que está acontecendo aqui, nós que geramos a segunda lista e enfrentamos as mesmas dificuldades, não teve em nenhum momento uma orientação do MEC de como fazer essa operacionalização.” RELEMBRE PROBLEMAS NO SISU: Após falha no site do Sisu, aprovados 'perdem' vaga no dia seguinte: 'Já tinha comemorado nas redes', diz aluna Após candidatos perderem vaga no Sisu, MEC admite 'divulgação indevida de resultados provisórios' por 25 minutos Sisu: MEC divulgou lista errada de aprovados porque não havia terminado de analisar todas as categorias de cotas Estudantes da UFSCar participam de trotes universitários Ana Marin/g1 Voltar ao início 3 - Falta de testes de sistema Ainda segundo a reitora, o tempo curto não deu possibilidade à universidade de testar como deveria o sistema que havia sido adaptado às novas regras. "Ele foi testado, mas quando você desenha um programa de computador, precisa colocar todas as situações possíveis e isso não foi possível fazer, o que ocasionou esse erro quando nós processamos a segunda chamada. Vale lembrar que é um processamento grande, o número de candidatos que competem e disputam as vagas é alto e foi diferente do que a gente pôde conseguir simular nos testes realizados. Nos testes a gente não conseguiu simular a situação real . Os testes são eficientes quando são realizados exaustivamente e o tempo curto não possibilitou", admitiu. Voltar ao início 4 - Cinco dias para identificação de erro Entre o início das denúncias de erros da lista de convocação e a anulação da segunda chamada, passaram-se cinco dias. No início, a UFSCar chegou a validar a lista, mas voltou atrás e anunciou uma auditoria. "Nós divulgamos a segunda chamada do vestibular da UFSCar na semana passada e a partir da divulgação começamos a receber queixas de candidatos com um bom desempenho que não tinham sido convocados. Nós fizemos uma auditoria mais geral e não conseguimos identificar os problemas em função disso. Aprofundamos a análise que foi concluída na manhã de segunda e, nesse processo, identificamos um erro no algoritmo que gerava as listas tanto de manifestação de interesse quanto de convocação para o requerimento de matrícula, o que nos fez cancelar a segunda chamada e refazer esse processo", informou Ana Beatriz. A demora para o cancelamento da lista, segundo a reitora, foi para que a avaliação fosse feita com cuidado. "Foi muita cautela porque não poderia haver um segundo equívoco, então todas as decisões foram tomadas com assessoria jurídica da nossa procuradoria federal. Nós também dialogamos com o próprio MEC e com o Ministério Público Federal dando ciência de tudo que foi feito e conduzido para que o processo fosse feito com lisura com cautela e com a seriedade que ele merece". Campus da UFSCar em São Carlos 2020 Gabrielle Chagas/G1 Voltar ao início 5 - Formas de reparação aos candidatos prejudicados A universidade diz que não tem como mensurar quantas pessoas foram prejudicadas pela confusão das listas. De acordo com a reitora, somente após a manifestação dos interessados da quarta e última lista, que termina em 14 de abril, será possível saber quantos alunos convocados na segunda chamada, não conseguiram vaga na UFSCar. A reitora explica que não há como garantir vaga para todos os convocados erroneamente na segunda chamada. "Desde o início, nós trabalhamos com a possibilidade de absorver todas essas pessoas no processo, o que não se mostrou possível dado o número de candidatos convocados equivocadamente. Então, nós estamos trabalhando na reformulação do processo. Esperamos que as próximas chamadas - de segunda a quarta - possam absorver todas essas pessoas ou maior número possível", afirmou. A universidade irá dar prioridade aos alunos prejudicados no oferecimento de vagas remanescentes, o que deve ocorrer a partir de maio, mesmo que elas não sejam no curso de primeira opção pelo candidato. "Consecutivamente tem sobrado vagas na universidade em vários cursos, eu sei que isso pode não atender as pessoas que estão focadas em um curso específico, mas pode ser que tenham outras pessoas que avaliam a possibilidade de fazer o curso superior ou entrar na universidade por essa porta e tentar depois uma transferência. Se se candidatarem ao edital de vaga remanescente e tiverem participado desse processo seletivo, elas vão ter prioridade. Isso é o que ei posso afirmar e garantir porque é livre para universidade estabelecer os critérios para preenchimento das vagas remanescentes". A reitora disse também que há o estudo de uma nova chamada do ProUni, já que houve pessoas que desistiram da bolsa em uma faculdade particular pelo programa, por acharem que haviam passado na universidade pública. "Porque o problema não foi só na UFSCar. O problema aconteceu nas semanas anteriores em outras universidades. Os candidatos que porventura desistiram do seu processo no ProUni teriam uma nova chance. Apesar desse problema ter iniciado no MEC, eu sinto no MEC, na Secretaria de Educação Superior uma sensibilidade para nos apoiar e para também minimizar as consequências para os estudantes que foram prejudicados". Voltar ao início Problemas em outras universidades O g1 procurou o MEC para saber do tempo dado as universidades para a absorvição dos novos parâmetros e a existência dos mesmos problemas da UFSCar em outras universidades. O ministério disse que "as Instituições de Ensino Superior que ofertam vagas pelo Sisu não utilizam o sistema, que é gerido exclusivamente pelo MEC e recebem relatórios do MEC, com a listagem e o ranqueamento dos candidatos, obedecendo aos critérios previstos na Lei de Cotas. Elas então utilizam essas informações para fazer as convocações, tanto para a Chamada Regular quanto para a Lista de Espera". Disse ainda que "os relatórios encaminhados para a UFSCar não continham erros. A instituição teve problemas em seu sistema interno de convocação, após inserir e processar os relatórios". O MEC disse que não foram registradas ocorrências similares em outras Instituições de Ensino Superior, porém o g1 apurou que houve adiamento, anulação e cancelamento de listas de espera em pelo menos cinco universidades: UFPB - Universidade Federal da Paraíba UFBA - Universidade Federal da Bahia UFMA - Universidade Federal do Maranhão UFSM - Universidade Federal de Santa Maria UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais LEIA TAMBEM: UFMA adia resultado da lista de espera do SISU 2024 Sisu: candidatos reclamam que, mesmo com nota suficiente para a primeira opção de curso, são alocados na segunda Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara
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07/03 - Dá para determinar se uma pessoa é parda por chamada de vídeo? USP usa método para avaliar alunos aprovados por cota racial
Especialista aponta que universidade não leva em consideração que câmeras tendem a seguir uma escala de cores claras, o que acaba embranquecendo pessoas pardas e acinzentando pessoas negras. USP diz que 'toma todo o cuidado para que a visualização das características fenotípicas'. O jovem de Cerqueira César (SP) foi aprovado pelo Provão Paulista no curso de medicina da USP, mas perdeu a matrícula Alison Rodrigues/Arquivo pessoal Nas últimas semanas, alunos que prestaram o Provão Paulista e foram aprovados na Universidade de São Paulo(USP) pela modalidade de cota, entraram na Justiça contra a universidade após perderem a vaga por não serem considerados pardos. As entrevistas dos alunos aprovados via Provão Paulista foram realizadas por chamada de vídeo. Para especialista: Tecnologias fotográficas não possuem como referência uma escala de cores escuras e tanto em câmeras digitais, analógicas, de celulares ou notebooks, pessoas de pele negra retinta tendem a ficar acinzentadas e pessoas pardas tendem a ficar com a pele mais clara Especialista ainda reforça que a iluminação do ambiente também muda a forma como a pessoa é vista pela câmera. O que diz a USP? Questionada anteriormente pelo g1 sobre o motivo de não fazer entrevistas de forma presencial, a universidade informou que tal medida "demandaria um calendário de bancas de heteroidentificação incompatível com o calendário dos vestibulares do Enem, das universidades paulistas e do Provão Paulista". Universidade informou ainda que teriam "muitos candidatos viajando para São Paulo sem matrícula efetivada e sem uma resposta definitiva das bancas de heteroidentificação, o que acarretaria prejuízo para os candidatos", completou a Universidade. Mas por chamada de vídeo, é possível identificar as características que a banca entende que define uma pessoa como parda? Quem é pardo para os comitês que decidem quais alunos podem entrar nas universidades por cotas raciais? Entenda quais foram os significados de 'pardo' nos últimos 80 anos e como isso dificultou a identificação racial do Brasil Justiça dá prazo para USP explicar motivo de não reconhecer candidato pardo Câmeras embranquecem Para José Vitor, advogado especialista em direitos digitais e antidiscriminatórios e integrante do Aqualtune Lab, as câmeras foram feitas com tecnologias que tendem a reconhecer melhor escalas de cores brancas e, consequentemente, pessoas de peles brancas. A AqualtuneLab é uma organização especializada em estudos na relação entre direito, tecnologia e raça. "Os manuais das bancas de heteroidentificação não recomendam entrevista em vídeo, é sempre recomendado que seja presencial, justamente sabendo dessas questões tecnológicas. As câmeras - principalmente no celular - não simulam de forma equivalente a cor da realidade. Ela funciona como uma simulação do olho humano, mas não tem a mesma perfeição, então isso gera uma alteração em cores", afirma. "Essa alteração de cor, sempre vai valer a partir do momento que você interpõe na câmera a forma da luz do ambiente, o local que está vindo a iluminação e também gerar uma distração de cor", completa. Para Vitor, a questão das câmeras é um racismo tecnológico, já que as tecnologias foram pensadas e geradas a partir da ótica de um homem branco. "Se levarmos em consideração a câmera de um celular, eles tendem a conseguir reconhecer melhor uma pele branca. Uma pessoa negra retinta tira uma selfie e fica com uma cor cinzenta, por exemplo. Mesmo em câmeras analógicas, a escala de cor foi feita com uma referência europeia, de modo que você tirava fotos de pessoas negras e elas ficavam apagadas porque a iluminação não compreendia a escala de cores de peles negras. Isso foi se perpetuando na era digital por causa dos filtros", afirma. Ainda segundo o advogado, mesmo que a pessoa não use filtros, existem modelos de celulares que possuem na sua configuração padrão da câmera, ou seja, que não pode ser alterado, uma lógica de embelezamento. Só, que segundo ele, esse embelezamento é feito com uma 'negação de cor' e deixa mais clara a pessoa que está sendo mostrada. "É muito delicado você fazer a avaliação por videoconferência ou pedir que a pessoa grave um vídeo. Gravado ou ao vivo a câmera utilizada é exatamente a mesma e essa distração de cor existe. A tecnologia ela segue uma escala branca, ela não tem uma ótica de uma escala de cores que segue pessoas negras ou outras etnias, ela favorece a escala branca", afirma. Patrícia Peck, advogada especialista em Direito Digital, também reforça que as videochamadas podem não ser a melhor forma de avaliação. "Por videochamada também acho que pode ter viés, ser até duvidoso. Podemos, por exemplo, ter casos de pessoas que passaram maquiagem para ficar com a pele negra, tentar fraudar. Então, é necessário existir um método de análise equânime que, e nenhuma hipótese possa ser algo prejudicial ao candidato, no sentido que dificulte sua participação". E se não for um celular de última geração? Vitor reforça ainda que o tipo de avaliação da banca feita por chamada de vídeo ou por gravações não considera que o estudante não necessariamente tenha uma câmera ou um celular de última geração, que deixaria a imagem mais próxima da realidade. "O mais fácil de se aproximar da realidade é mexer na iluminação do local, mas não é todo mundo que tem condições de transformar a casa em um estúdio. Além disso, precisa entender exatamente onde posicionar essa iluminação, então já é uma série de aspectos que vão além da tecnologia em si. Mesmo na mídia impresa, no cinema, existe uma dificuldade em ter um fotógrafo que saiba gravar pessoas negras, com correção de cor, imagina um estudante", afirma. Como foi feita a avaliação da USP? A USP informou que a comissão foi criada para coibir fraudes e garantir a integridade da autodeclaração das pessoas convocadas para a matrícula nas vagas reservadas para política de ações afirmativas para pessoas negras, de cor preta ou parda nos cursos de graduação. Alguns dos alunos que prestaram USP pelo Provão Paulista pelo regime de cotas pretos, pardos e indígenas (PPI) foram avaliados pela banca Os candidatos que se autodeclaram Pretos, Pardos e Indígenas (PPI) passam por uma análise fotografia por duas bancas de cinco pessoas, baseada somente em fatores fenotípicos. Se a foto não for aprovada por nenhuma banca, o candidato é chamado presencialmente em casos de alunos ingressos pela Fuvest , mas no caso do Enem e do Provão Paulista, essa entrevista é realizada virtualmente. A USP avalia cor da pele, cabelos, forma da boca e do nariz. A universidade justificou que as entrevistas foram feitas virtualmente porque muito dos candidatos moram longe. Segundo a USP, em 2024, até o momento, 1.606 candidatos foram analisados nas fases da heteroidentificação. Desses, 187 foram considerados não aderentes à política afirmativa. O que diz a USP? O g1 pediu para conversar com um membro da banca sobre a avaliação por videochamada, no entanto, a universidade apenas informou que "nas versões virtuais, a banca de heteroidentificação toma todo o cuidado para que a visualização das características fenotípicas seja feita de maneira adequada, pedindo, por exemplo, para que os candidatos mudem a posição do corpo e procurem lugares com melhor iluminação. Tudo para garantir a isonomia da oitiva". Disse ainda que, "o processo foi desenhado a partir de um estudo do funcionamento das bancas em outras universidades, mas sempre pode ser aprimorado. A USP entende que tomou todas as medidas para garantir uma boa verificação das características fenotípicas, independentemente do suporte de visualização". Estudantes entraram na Justiça Nessa semana, dois jovens de São Paulo que tinham sido aprovados na USP, mas perderam a vaga por não serem considerados pardos, entraram na Justiça para conseguir a matrícula. O primeiro foi um adolescente de 17 anos, morador de Bauru (SP). Ele foi aprovado no curso de direito por meio da nota Provão Paulista e conseguiu a vaga pela política de cotas, já que se autodeclara pardo, mas na hora da banca fazer a avaliação, eles cancelaram a pré-matrícula do jovem, alegando que ele não seria pardo. A avaliação foi feita por meio de uma foto e uma vídeo chamada. Glauco Dalilio do Livramento conseguiu uma liminar da 14ª Vara da Fazenda de São Paulo determinando que a universidade reserve uma vaga para o estudante. Em sua decisão, publicada na segunda-feira (4), o juiz Randolfo Ferraz de Campos aceitou o pedido da defesa do estudante e afirmou que a verificação feita por meio de uma foto e uma videochamada "ofende a isonomia". Alison dos Santos Rodrigues, de 18 anos, também entrou na Justiça após ter tido a matrícula recusada por considerarem que ele não era pardo. Ele também foi avaliado pela banca por videochamada. A Justiça deu cinco dias para que USP explique por que negou vaga. O caso corre pela 2ª Vara Cível de Cerqueira César. A multa diária é de R$ 500 e limitada ao teto de R$ 20 mil.
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06/03 - Quem é pardo para os comitês que decidem quais alunos podem entrar nas universidades por cotas raciais?
Aluno autodeclarado pardo foi impedido de estudar por cota na Universidade de São Paulo (USP), após julgamento de comissão interna. Entenda quais os critérios usados pelas instituições de ensino nas tentativas de evitar fraudes em processos seletivos. Jovem de Cerqueira César (SP) foi aprovado por cotas pelo Provão Paulista, no curso de medicina da USP, mas perdeu a matrícula ao não ser considerado pardo Alison Rodrigues/Arquivo pessoal Quando um candidato se inscreve no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ou em algum vestibular de universidade pública, deve escolher se quer concorrer a uma vaga por ampla concorrência ou por cotas. Vamos supor que um jovem de baixa renda se autodeclare pardo e seja aprovado para uma vaga reservada para as cotas. Como provar que ele realmente se encaixa nos critérios raciais da política pública? Basta a palavra do aluno ou alguém precisa confirmar que, de fato, ele tem direito ao benefício? As universidades são livres para decidir como agir no processo de verificação. Elas podem: aceitar apenas a autodeclaração, ou implementar os chamados comitês de heteroidentificação. 🧑🏽‍🏫 Os comitês são bancas formadas, em geral, por cinco pessoas, que analisam a aparência física do candidato para decidir se ele é socialmente lido como negro (entenda mais abaixo). Foi nessa etapa que um estudante de 18 anos (na foto acima), autodeclarado pardo, foi impedido de se matricular na Universidade de São Paulo (USP) no fim de fevereiro. Mesmo entre os defensores das cotas, não há consenso: de um lado, especialistas defendem a necessidade desses comitês, para evitar fraudes e garantir que as vagas sejam direcionadas ao público correto. Do outro, há estudiosos contrários à dinâmica, pelo risco de expor candidatos negros a uma situação constrangedora – a de ter suas características físicas analisadas por uma banca. Abaixo, veja como funcionam esses comitês e quais os critérios usados para definir quem é negro e quem não é. Como funcionam os comitês? ➡️APARÊNCIA FÍSICA É O ÚNICO CRITÉRIO Os comitês de heteroidentificação estabelecem que a análise dos candidatos deve ser fenotípica, ou seja, baseada nas características físicas, e não na ancestralidade. O que isso significa? Que não importa se a pessoa é filha de uma mulher negra ou neta de um homem pardo: a universidade quer avaliar como aquele aluno é "lido" pela sociedade no dia a dia. "Precisamos ver se o indivíduo está sujeito a sofrer discriminação por sua aparência. Os comitês fazem uma avaliação do conjunto. Você não vai ticar marcadores em uma lista e chegar a uma conclusão exata", afirma Douglas Leite, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de escravidão e relações raciais. "Pode ser uma pessoa com nariz negroide, mas cabelo liso, por exemplo. O que o comitê acha? Ela está sujeita a ouvir um insulto? Isso é o que deve ser levado em conta", diz. Para Rodrigo Ednilson de Jesus, professor da Faculdade de Educação e presidente da comissão afirmativa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é preciso analisar com cautela os casos dos autodeclarados pardos. Um erro comum nas ações afirmativas, segundo o especialista, é pensar neles como resultado de "misturas". "Se fosse assim [por ancestralidade], 90% da população brasileira teria direito a cotas. Qualquer pessoa pode ter um pai, mãe ou tataravô negro. Devemos nos ater às características fenotípicas, sem levar em conta a ascendência. Eu não vou ser considerado suspeito por um segurança em função de quem são meus familiares, e sim em função do meu corpo. O que está em jogo é como a sociedade me vê", explica Jesus, que também é autor do livro "Quem quer (pode) ser negro no Brasil?" (2021). Entenda quais foram os significados de 'pardo' nos últimos 80 anos e como isso dificultou a identificação racial do Brasil ➡️QUEM FAZ PARTE DAS BANCAS? Veja as principais características dos comitês de heteroidentificação: Em geral, há 5 membros, de perfis diferentes (homens, mulheres, brancos, negros, professores, técnicos etc.), escolhidos pela universidade em ato administrativo. É importante que seja uma banca diversa, para representar os diferentes perfis da sociedade. Todos os participantes devem ter contato com debates raciais e passar por um curso de formação previamente (de 8 a 20 horas). Os membros do comitê NÃO devem debater entre si (para não interferirem na opinião dos colegas) nem fazer perguntas violentas ou constrangedoras. A avaliação deve ser feita prioritariamente de forma presencial, e não por foto. O ambiente costuma ser filmado. “A comissão é feita para que pessoas comuns, com a devida formação, olhem para o candidato e pensem: seria uma pessoa que sofreria discriminação? A banca não está ali para julgar se houve má-fé. Ninguém vai dizer que o aluno está mentindo. É preciso explicar que os avaliadores estão analisando a destinação de uma política pública”, afirma Jesus. Alguém pode dizer se outra pessoa é ou não negra? ❗Atenção: há uma diferença entre heteroidentificação (a forma como os outros veem um indivíduo) e identidade (o jeito que a pessoa se vê). Mesmo em casos de candidatos bem-intencionados, que não estejam agindo por má-fé, pode haver divergência nesses dois critérios. Suponha que um garoto de pele clara, cabelo liso e lábios mais grossos tenha profunda relação com a cultura africana e more com familiares negros. Com base no contexto social em que vive, ele sempre se enxergou como uma pessoa parda. Mas, para o comitê, que analisa somente as características físicas, o aluno é considerado não negro. Ele perde, a princípio, o direito à vaga de cotista. “O que está em jogo é como a pessoa é lida socialmente. A banca não vai definir a identidade de ninguém”, afirma Jesus. Ou seja: mesmo depois dessa recusa, o candidato deve continuar se definindo como pardo, porque essa é a percepção dele a respeito de suas origens e de sua história. Ninguém tem o direito de dizer como ele deve se enxergar. A função dos avaliadores é apenas selecionar quem se encaixa em uma política pública, com base na aparência física. Caso o candidato discorde da decisão da banca e queira recorrer, poderá entrar com um recurso dentro da universidade e ser avaliado por uma segunda banca, com outros cinco avaliadores. Se eles também concluírem que, pelo fenótipo, a pessoa não é “vista” como negra, ela não poderá se matricular (a não ser que tente entrar na Justiça e consiga um mandado de segurança). ⚖️O que a Justiça deve considerar se o aluno recorrer? O ideal, segundo os especialistas entrevistados pelo g1, é que o Judiciário avalie a impessoalidade (alguém da banca conhecia previamente o aluno?), a proporcionalidade (foi mesmo a maioria que votou para recusar a cota?) e a transparência do processo. A ideia não é que o juiz anule a percepção de dez pessoas dos comitês e faça sua própria avaliação racial a partir de uma foto, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Nem tudo é óbvio quando se fala de aparência física Morador de Bauru, Glauco passou em direito na USP, mas universidade não o considerou pardo Arquivo Pessoal O problema é que, especialmente no Brasil, existem casos que ficam em uma “zona" de difícil classificação. Douglas Leite explica que, havendo um impasse, é a autodeclaração do candidato que deve ser validada. Jesus, da UFMG, cita pessoas de cabelo claro e cabelo crespo como exemplo. “É uma discussão que pode variar até de acordo com o território [alguém que seja lido como pardo em São Paulo talvez seja considerado branco na Bahia]. Por isso que a banca produz o que tenho chamado de consenso intersubjetivo: significa que não elimino a subjetividade da avaliação, mas produzo um consenso na medida da repetição. São 10 pessoas avaliando”, explica. Esse tipo de comitê foi considerado legítimo pelo Supremo Tribunal Federal, no debate sobre a legalidade das cotas em 2012. Além disso, a portaria normativa nº 4, publicada em 2018 e atualizada em 2023 pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, define que, nos concursos públicos, "a comissão de heteroidentificação utilizará exclusivamente o critério fenotípico para aferição da condição declarada pela pessoa". LEIA TAMBÉM: Cotas em mestrado e doutorado dobram em 3 anos, mas bolsas congeladas e provas de idiomas são desafios para candidatos Impor que o candidato passe pelos comitês não é humilhante? Ponto de vista 1:❌Não é justo fazer com que os alunos passem por isso. Paulo Ramos, sociólogo e pesquisador do Afro-Cebrap (núcleo de pesquisas raciais), avalia que as cotas são a principal política pública dos últimos 20 anos. No entanto, segundo ele, o modo atual de evitar fraudes está penalizando justamente os alunos que deveriam ser beneficiados pelas ações afirmativas. “As comissões colocam sob suspeita o sujeito que já passou por um processo longo e dolorido de reconhecimento e de autopercepção. Ele ainda precisa se submeter a uma banca avaliando sua aparência física, a partir de critérios que ninguém consegue exatamente apontar?”, questiona. Moisés Carrasco da Silva teve a matrícula cancelada após passar por comissão de heteroidentificação da USP Arquivo Pessoal Ramos afirma que casos de má-fé realmente provocam revolta pública e chamam atenção, mas, do ponto de vista geral, não atrapalham a inclusão dos estudantes legítimos. “Implementar os comitês de heteroidentificação faz com que caiamos na sociobiologia. Vamos jogar fora tudo o que se acumulou após as guerras mundiais, todos os estudos culturais da antropologia, para voltar a considerar raízes biológicas?”, diz. Ele sugere que, para evitar fraudes, sejam implementados mecanismos adicionais de inclusão social envolvendo os cotistas, como programas de permanência estudantil, ações comunitárias e formação de núcleos de pesquisa. Os alunos fraudadores, na opinião de Ramos, ficariam envergonhados de entrar em um grupo de estudos afro-brasileiros, por exemplo. Seria uma forma de constranger quem está errado, e não quem tem direito às cotas. Ponto de vista 2: ✅É preciso minimizar o constrangimento, mas os comitês são essenciais no combate à fraude. Entre os que são a favor dos comitês, enfatiza-se que a avaliação não deve se basear em critérios de medição (como de largura do nariz) nem em listas com itens a serem checados (características da boca, do cabelo, da pele). Não há uma “pontuação”, explicam, que dê um peso maior a lábios mais grossos do que a cabelo crespo, por exemplo, no julgamento de quem é negro. O que é avaliado é o conjunto. Eles rechaçam a expressão “tribunal racial”, usada, em geral, pelos críticos a cotas. “O que a banca faz é identificar um público-alvo de direitos, e não transformar pessoas em mercadorias”, diz o pesquisador Jesus. Mas é justo expor as pessoas a uma situação potencialmente embaraçosa? “Há um resíduo de constrangimento que é inescapável, mas que também depende do modo como as coisas são feitas”, diz Leite. Na UFMG, por exemplo, os alunos que vão passar pelos comitês são recebidos previamente em “salas de acolhimento”, onde assistem a um vídeo que explica como será o procedimento. A intenção é diminuir a ansiedade e deixar claro que os avaliadores não julgarão a identidade de ninguém. Para Wallace Corbo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o prejuízo de expor um aluno ao comitê é muito pequeno em relação ao risco de outra pessoa ser injustamente beneficiada pela cota. “É importante que o candidato enfrente esse momento, mesmo que se sinta desconfortável. O fato de ir lá e se afirmar como negro, não tem jeito, é algo que a vida adulta impõe e que precisa ser encarado. O que devemos fazer é evitar perguntas violentas, para diminuir ao máximo o sofrimento do candidato no momento de ansiedade, e sempre garantir que o comitê seja plural. Mas erros sempre poderão acontecer.” Vídeos Veja uma reportagem sobre o estudante que não foi considerado pardo pela USP: Estudante de Cerqueira César processa USP após perder vaga por não ser considerado pardo Abaixo, entenda como a categoria "pardo" mudou ao longo dos últimos 80 anos: Entenda como a categoria 'pardo' mudou nos últimos 80 anos
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06/03 - 33 homens para cada mulher: por que urologia é especialidade tão masculina?
Mulheres caminham para ser maioria no exercício da Medicina no Brasil, mas na área que cuida dos órgãos do sistema urinário e reprodutivo elas ainda são ampla minoria. Urulogia abrange um espectro mais amplo de cuidados, incluindo o trato urinário e problemas relacionados, tanto em homens quanto em mulheres. Getty Images/via BBC Em 1990, a médica Karin Anzolch, tornou-se a primeira mulher a conquistar o primeiro lugar na prova de título de especialista em urologia, área que cuida dos órgãos do sistema urinário e reprodutivo. Foram 12 anos de formação: cinco anos de faculdade de Medicina, mais três anos de residência em cirurgia - já que a urologia exige a especialização por englobar procedimentos cirúrgicos - e finalmente mais 3 anos de residência em urologia. Apesar de um currículo bastante completo em mãos, sua busca pelo primeiro emprego só resultava em negativas. "Passei meses procurando uma colocação, sem entender porque ninguém me aceitava", diz Karin. "Depois de mais de um ano de procura, escutei de uma mulher responsável por contratar médicos para uma clínica: 'Seu currículo é ótimo, mas ninguém quer uma mulher urologista atendendo seus executivos. Você ainda é jovem, deveria considerar outra especialidade'." Brasil tem 545,4 mil médicos; mais da metade está concentrada somente nas capitais Karin Anzolch, de 60 anos, é urologista e atua em Porto Alegre (RS) Arquivo Pessoal/via BBC Assim como em outras áreas profissionais que historicamente foram consideradas ‘masculinas’, a medicina e a cirurgia enfrentaram uma evolução gradual para incluir mais mulheres. A especialidade da urologia, situada dentro dessas disciplinas, ainda reflete resquícios dessa concepção, reforçados pela ideia limitada de que urologistas tratam apenas do aparelho genital masculino, quando na verdade abrange um espectro mais amplo de cuidados, incluindo o trato urinário e problemas relacionados, tanto em homens quanto em mulheres. Segundo a Demografia Médica de 2023, é a especialidade médica com menos profissionais do gênero feminino. 👩‍⚕️ São 171 mulheres e 5.649 homens — ou seja, há 33 homens para cada mulher na área. O levantamento foi feito pela AMB (Associação Médica Brasileira) e pelo Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), e se baseia no registro profissional de médicos e em outros estudos e levantamentos sobre os profissionais. 🩺 A urologia se destaca com a maior disparidade de gênero. Em seguida, a ortopedia e traumatologia apresentam uma relação de 12,5 homens para cada especialista mulher, enquanto na neurocirurgia, essa proporção é de 9,6 homens para cada mulher. A professora que doou US$ 1 bi para quitar todas as mensalidades de alunos de medicina em faculdade dos EUA Especialidades onde a equiparação já aconteceu ou está muito próxima incluem a oncologia clínica, nutrologia e gastroenterologia. Já a pediatria, dermatologia e genética médica são campos onde as especialistas são majoritariamente mulheres. Percentual de homens na especialidade urologia Arte BBC News Brasil Karin diz que a resistência que recebeu como urologista recém-formada por parte dos empregadores, às vezes, se estendia aos próprios pacientes. "Alguns ficavam surpresos ao me ver no consultório, relutavam em ser atendidos por uma mulher, e uma minoria fazia comentários desrespeitosos." Mais de 30 anos depois, o mesmo acontecia com Fernanda Orellana, médica urologista que se tornou especialista em 2020. 🏥 "Era mais comum durante a residência, no SUS [Sistema Único de Saúde], quando os pacientes não podiam escolher o médico e não esperavam encontrar uma mulher", conta Fernanda. "Mas, em geral, com empatia e paciência, conseguia contornar a situação. Depois de uma primeira consulta, já era comum que o paciente procurasse por mim." Ouvindo suas colegas médicas, Karin diz perceber avanços significativos, mas que ainda hoje tem dificuldade para conseguir credibilidade. "As decisões são questionadas e, por vezes, a liderança de uma mulher não é bem aceita. Trabalhamos para ter a credibilidade necessária, enquanto os homens muitas vezes obtêm só por serem homens", afirma. "Atender pacientes que me procuram pelo meu trabalho, independentemente do gênero, facilita muito as coisas." Fernanda Orellana, de 35, é medica urologista em São Paulo (SP) Arquivo Pessoal/via BBC News Brasil Por que a urologia é tão masculina? A presença das mulheres na profissão médica aumentou bem gradualmente no Brasil, como aponta um artigo científico a respeito dos desafios e barreiras que médicas enfrentam em áreas dominadas por homens. Foi só em 2009, após mais de 200 anos de existência do curso no Brasil, que o número de novas médicas superou o de novos médicos, aponta a pesquisa, apresentada em um congresso da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - e essa tendência continua. ⚕️A Demografia Médica estima que mulheres serão maioria, quando somadas todas as especialidades, a partir de 2024. Ainda assim, em algumas áreas, como a urologia, a diferença ainda é muito grande. Um dos motivos está na formação exigida para se especializar neste campo. Estudo aponta desproporção entre população e número de médicos pelo país 🥼 O primeiro passo, após se graduar em medicina, é completar uma residência de cirurgia-geral, na qual as mulheres são a minoria (23,4%) dos profissionais. "Durante toda a graduação, sempre quis me tornar cirurgiã, e, nos anos 1980, a ideia era ainda mais desafiadora", diz Karin Anzolch, que hoje tem mais de quatro décadas de carreira como urologista. "Fui desaconselhada por colegas e familiares, porque era considerada uma especialidade difícil demais." O estudo da Unicamp descreve que "acredita-se, ainda hoje, que os homens são mais aptos a exercer as áreas cirúrgicas que demandam mais concentração, tempo de dedicação dos profissionais e força física". Outro fator desestimulante, aponta o documento, é a "dupla jornada [que] também está presente na realidade da maioria das médicas, já que, além de se dedicar à carreira, a maioria ainda tem que atuar no cuidado e educação dos filhos e no cuidado da casa". "Existem estudos que mostram que as mulheres, para serem consideradas equivalentes aos homens em termos de trabalho e competência, muitas vezes precisam ter uma titulação duas vezes maior", diz a urologista Fernanda Orellana. "Isso varia, mas às vezes, realmente precisamos fazer mais para alcançar o mesmo reconhecimento." Há ainda outra barreira: a ideia de que a urologia trata exclusivamente de questões relacionadas ao sistema reprodutivo masculino. A especialidade trata de condições que afetam tanto homens quanto mulheres, como problemas nos rins, bexiga, uretra, incluindo distúrbios urinários, pedras nos rins, infecções do trato urinário, câncer urológico e incontinência urinária — tanto em homens quanto em mulheres. "Algumas mulheres, inclusive, preferem ser atendidas por médicas, o que nos proporciona uma vantagem", diz Karin. "Muitas urologistas acabam se dedicando à urologia funcional e feminina para atender a essa demanda específica." Grupo de apoio Para apoiarem umas às outras nesta área onde são minoria, as mulheres urologistas criaram um grupo carinhosamente chamado de "As Orquídeas". Segundo Karin, o nome do grupo começou como uma brincadeira, mas hoje carrega um significado importante. "A orquídea, apesar de ter esse aspecto de delicadeza, é uma das mais resistentes na natureza", diz. "Os locais onde cresce e se desenvolve, muitas vezes com muito poucos nutrientes, representa cada uma de nós, em sua diversidade, resiliência e singularidades." O grupo se reúne em congressos de Urologia e tem um canal no Whatsapp para troca de ideias, discussão de casos, dúvidas e experiências. Com a desconstrução gradual do estigma de 'especialidade masculina', a médica observa um aumento no interesse de médicas e cirurgiãs recém-formadas pela urologia. "É uma comunidade que oferece apoio médico, aconselhamento e até mesmo indicações de profissionais", diz Fernanda Orellana. "Pode ser útil para médicas em formação ou residentes que têm dúvidas sobre a escolha de subáreas dentro da urologia, por exemplo." Hoje, há 144 profissionais registradas no Orquídeas, entre médicas formadas e residentes. "No WhatsApp, esse número é maior, somos 276", diz Fernanda. O levantamento também aponta que o Sul tem o maior número de profissionais, e o Norte, o menor. Acre, Amapá, Rondônia e Tocantins são Estados onde não há nenhuma urologista mulher como integrante do grupo. A maior concentração está em São Paulo (35), Rio Grande do Sul (21), Rio de Janeiro e Minas Gerais (ambos com 14 urologistas registradas). Onde estão as urologistas mulheres Arte BBC As áreas mais comuns de atuação de participantes do grupo são urologia geral, urolitíase (que trata pedras nos rins) e disfunções miccionais (que trata alterações no ato de urinar). A presença de médicas mulheres é menor na estética masculina e na uroginecologia (que foca problemas relacionados ao útero, reto, intestino e bexiga nas mulheres). Às estudantes e novas médicas que podem se interessar pela Urologia, Karin Anzolch deixa uma mensagem encorajadora. "No início, era como navegar por uma floresta escura. Hoje, as mulheres na urologia já conquistaram muito espaço", diz "Se você se encantar pela urologia, ela também é para você. Quanto mais mulheres se destacarem e contribuírem para a especialidade, melhores serão as oportunidades para todas." Levantamento comprova a distribuição desigual de médicos nas cinco regiões do Brasil
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05/03 - Após erro em lista da UFSCar, candidatos desconvocados podem processar instituição; entenda
Universidade alegou que erro em algoritmo causou o problema. Revogação da lista foi anunciada na segunda-feira (4), depois de uma auditoria. Advogado explica o que pode ser feito após erro na lista da UFSCar Um erro no resultado do processo para ingresso nos cursos de graduação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) anulou a segunda chamada de aprovados em 2024 divulgada pela instituição, em 27 de fevereiro. ATUALIZAÇÃO: uma nova lista corrigida foi divulgada no dia 12 de março. Leia a reportagem. A revogação da chamada foi anunciada na segunda-feira (4), depois de uma auditoria. A lista anulada foi retirada do site e, em seu lugar, foi divulgada uma nova lista para manifestação de interesse por vaga. Os interessados têm até quarta-feira (6) para se candidatarem e a nova lista de aprovados para matrícula será divulgada em 11 de março. Centenas de estudantes se sentiram prejudicados com a decisão, já que estavam organizando uma nova vida nas cidades com campi e, alguns deles, abriram mão de vagas em outras universidades públicas como a Unesp e a Unicamp, e também de bolsas do ProUni. 📲 Participe do canal do g1 São Carlos e Araraquara no WhatsApp Diante do problema, a EPTV, afiliada da TV Globo, conversou com o advogado Daniel Cardoso para entender o que pode ser feito por quem se sentiu prejudicado. Você vai ver abaixo: A UFSCar acertou em anular a segunda chamada e iniciar novamente o processo? Os candidatos que foram convocados e depois 'desconvocados', podem processar a UFSCar para garantir a vaga? Em quais aspectos os candidatos que se sentiram prejudicados podem processar a UFSCar? Campus da UFSCar em São Carlos 2020 Gabrielle Chagas/G1 1 - A UFSCar acertou em anular a segunda chamada e iniciar novamente o processo? De acordo com o advogado Daniel Cardoso, a universidade tinha o poder e o dever de corrigir o erro, conforme dispõe a Lei 9.784/99. Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. "Então, nesse ponto, houve um acerto da universidade por ter corrigido o erro", disse. 2 - Os candidatos que foram convocados e depois 'desconvocados', podem processar a UFSCar para garantir a vaga? De acordo com o advogado, como a segunda chamada não estava de acordo com a legalidade, ela não gera o direito de garantir vagas para aqueles que foram 'desconvocados'. "Tem uma súmula no Superior Tribunal Federal (STF) que diz que quando o ato da administração pública é anulado por vício de legalidade, ele não gera um direito. Desse modo, é arriscado entrar com um mandado de segurança pra tentar garantir a vaga", explicou. 3 - Em quais aspectos os candidatos que se sentiram prejudicados podem processar a UFSCar? A orientação do advogado Daniel Cardoso é que o candidato que se sentiu prejudicado procure o auxílio de um profissional que irá estudar o caso e verificar se houve dano moral e/ou material. Para ele, o dano moral nesse caso já presumido. "Porque teve um abalo, um aborrecimento que foge do normal. Ver o nome em uma lista de convocados e depois essa lista ser anulada traz transtornos da ordem psicológica, vários abalos e isso pode ser pleiteado na Justiça", declarou. Com relação aos danos materiais, caso seja comprovado que esse candidato teve gastos após a convocação da chamada que foi anulada, ele também pode processar a UFSCar. LEIA TAMBÉM: Candidatos temem perder vaga na UFSCar após anulação de lista por erro; jovens desistiram de vaga na Unicamp e de bolsa no Prouni UFSCar admite erro, anula 2ª chamada de aprovados e divulga nova lista para manifestação de interesse por vaga Com melhores notas, candidatos perdem vaga em 2ª chamada e questionam resultado Erro de algoritmo UFSCar anula segunda chamada de alunos após erro em lista Após diversos questionamentos, a UFSCar admitiu, na segunda-feira (4), que houve um erro de algoritmo e anulou a lista de segunda chamada do ingresso para os cursos de graduação em 2024, que havia sido divulgada em 27 de fevereiro. Um edital retificado foi publicado no site da universidade. Confira aqui o edital retificado na íntegra O edital explica que, "em função da mencionada parametrização inadequada do algoritmo, houve, em alguns casos, erro na convocação de segunda chamada, de forma que alguns candidatos que deveriam ser convocados não o foram, enquanto outros candidatos foram chamados para as mesmas vagas". Em nota, a universidade lamentou "incondicionalmente as ocorrências". A lista anulada foi retirada do site e, em seu lugar, foi divulgada uma nova lista para manifestação de interesse por vaga. Os interessados têm até quarta-feira (6) para se candidatarem e a nova lista de aprovados para matrícula será divulgada em 11 de março. Campus da UFSCar em São Carlos 2020 Gabrielle Chagas/g1 CONFIRA AQUI A NOVA LISTA DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE POR VAGA A revogação aconteceu depois que dezenas de candidatos denunciaram que se sentiram prejudicados com o resultado, já que em diversos cursos apenas cotistas foram convocados. A princípio, a universidade alegou que seguia a nova lei de cotas (14.723/2023) e que não havia nenhum erro na convocação, mas depois anunciou uma auditoria para investigar possíveis erros. Veja na íntegra o comunicado da UFSCar admitindo erro: "UFSCar revoga lista de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada A UFSCar informa que processo de auditoria interno identificou erros na lista de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada nos cursos de graduação oferecidos pelo SiSU. O diagnóstico é que a parametrização inadequada do algoritmo que apoia o processo levou à não convocação de pessoas que deveriam ser chamadas e, consequentemente, que outras pessoas fossem convocadas para as mesmas vagas. A quantidade de vagas envolvidas exige a revogação das listas de manifestação de interesse e de convocação para requerimento de matrícula em 2ª chamada. A 1ª chamada e a lista de espera também foram auditadas e estão corretas, seguindo, portanto, válidas. O processo de auditoria foi iniciado como medida de segurança, após um primeiro processo padrão de verificação não ter diagnosticado as inconsistências. Paralelamente, a Universidade aguardava comunicação oficial do Ministério da Educação (MEC) relacionada à correção de erros identificados ainda na etapa de processamento a cargo do Ministério. Essa informação chegou em ofício encaminhado no fim de semana e, com isso, a auditoria pôde ser concluída na manhã desta segunda-feira (4/3). A partir do resultado da auditoria, um edital foi publicado nesta segunda, retificando dispositivos do regulamento anterior, estabelecendo regras suplementares e um novo cronograma. Um novo período para manifestação de interesse já está vigente, a partir de lista retificada, e segue até 6 de março. A lista corrigida de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada será publicada em 11 de março. Infelizmente, a correção implicará na exclusão da lista de pessoas anteriormente convocadas. Destacamos, como registrado em edital, que as pessoas que já manifestaram interesse, fizeram requerimento de matrícula e/ou enviaram a documentação exigida, e que constem como aprovadas nas próximas listas, não precisarão refazer essas ações. Esclarecemos que os erros identificados estão relacionados ao pouco tempo oferecido a todas as universidades do sistema federal de Educação Superior para adequação à nova lei de cotas (Lei nº 14.723), de 13 de novembro de 2023. A UFSCar, inclusive, não é a única instituição obrigada a revogar etapas de seu processo seletivo. Soma-se a isto o fato de o processo de preparação para as chamadas sob responsabilidade das universidades ter sido atrasado pelos erros identificados na lista inicial do SiSU, que precisou ser cancelada e revista mais de uma vez. Também foi tardio o envio às universidades de orientações relativas à operacionalização da nova lei. No caso da UFSCar, por exemplo, a informação sobre como a Lei de Cotas deveria ser operacionalizada foi recebida pela Instituição apenas 24 horas antes da publicação do edital original do processo seletivo. Com isso, inclusive, o edital original acabou apresentando pequenas discrepâncias em relação à Lei nº 14.723, no que diz respeito a detalhes de sua operacionalização, também identificadas no processo de auditoria e agora corrigidas no novo edital. Lamentamos incondicionalmente as ocorrências e, sobretudo, os impactos gerados em cada uma das pessoas envolvidas. No entanto, embora a absorção de todas as pessoas convocadas equivocadamente não seja uma alternativa viável para a correção, é importante destacar que a experiência de processos seletivos anteriores indica alta probabilidade de convocação em chamadas futuras, ao menos de parte dessas pessoas, razão pela qual é fundamental que todos os candidatos sigam atentos às próximas chamadas. Além disso, nossa expectativa também é que seja realizado, como tem sido nos anos recentes, processo seletivo para vagas remanescentes após a conclusão do processo seletivo atual. Reiteramos saber que essas não são soluções para todos os impactos gerados, mas são alternativas importantes de serem exploradas para minimização dos impactos, e seguiremos trabalhando para reduzir perdas ao máximo. Por fim, a UFSCar reitera seu compromisso e seu cuidado constante com a legalidade, a correção e, assim, garantia de justiça em seu processo seletivo. É esse compromisso, inclusive, que levou à realização da auditoria e que, agora, obriga à revogação da lista. Em relação ao cuidado, aproveitamos para informar que novos procedimentos de checagem e, também, na condução do processo como um todo, já estão sendo elaborados, para a prevenção de erros no futuro. A UFSCar segue atenta a quaisquer manifestações referentes a este processo de ingresso e jamais se furtará, de um lado, à identificação e ao reconhecimento de eventuais erros e, sobretudo, à sua correção e à tomada de todas as medidas necessárias para que não voltem a acontecer." REVEJA VÍDEOS DA EPTV: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara.
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05/03 - O brasileiro de 8 anos que dá palestras em Londres sobre autismo e TDAH
O britânico e brasileiro Noah Faria, filho da escritora Renata Formoso, escreveu um livro sobre como ele se sente tendo um ´fizzy brain´ (ou uma mente acelerada), como ele mesmo define. Agora ele fala a outras crianças sobre neurodiversidade. Noah Faria, de 8 anos, faz apresentação a centenas de crianças sobre autismo e TDAH Arquivo Pessoal/via BBC A uma plateia com 300 crianças de cinco a 11 anos em uma escola em Londres, um garoto conta como é ter o que ele chama de fizzy brain – uma mente "borbulhante" ou "acelerada". 🧠🎤Quem fala a outras crianças é Noah Faria, de 8 anos, que escreveu um livro infantil sobre como é viver com autismo e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). A ideia, disse Noah à BBC News Brasil, é "falar para outras pessoas que têm autismo e TDAH que você não é estranho, você é uma das milhões de pessoas normais, mesmo tendo TDAH e autismo". Por que tantos adultos estão tomando remédio para tratar TDAH? A escritora brasileira Renata Formoso, mãe de Noah, diz que, inicialmente, se preocupava com a exposição do tema pelo filho, mas que hoje entende "quão importante foi isso". "Hoje ele fala com orgulho de conseguir fazer tudo que consegue mesmo sendo autista e TDAH. Ele entende que há diferenças e quanto é OK e importante todo mundo ser diferente. Percebo que ele falar sobre isso abertamente normaliza para outras crianças." Rimas após diagnóstico 🗣️💪🌈 The Fizzy Brain é o título do livro escrito por Noah aos 7 anos, com ajuda da mãe e com ilustrações da britânica Emi Webber, diagnosticada com TDAH e autismo só na vida adulta (leia ao fim desta reportagem os sinais na infância). O termo fizzy brain foi usado por Noah-- de nacionalidade britânica e brasileira --, segundo Formoso, em consultas com médicos do sistema público de saúde britânico (NHS) durante o processo de diagnóstico de TDAH – que ele recebeu aos 7 anos, cerca de um ano e meio após o diagnóstico de autismo. "Na carta do diagnóstico, veio escrito que ele, falando para o médico, explicou que tinha um fizzy brain – que era como se o cérebro dele falasse com ele tão rápido que às vezes ele não conseguia entender", lembra Formoso. TikTok disse que você tem TDAH? Médicos alertam sobre falsos 'diagnósticos' de déficit de atenção nas redes; veja sintomas reais Perguntado pela reportagem sobre qual seria a melhor tradução para o português, Noah – que tem o inglês como primeira língua e é fluente em português – responde que se trata de "uma mente acelerada". "Mas minha mãe prefere 'uma mente borbulhante'", acrescenta. A ideia de colocar no papel a própria experiência – o que viraria base para as palestras infantis – surgiu em uma caminhada no parque, logo após o diagnóstico de TDAH. Eu e minha mãe estávamos andando para a casa da minha amiga e começamos a fazer rimas. E aí minha mãe teve a perfeita ideia de fazer todas essas rimas em um livro – e agora está real. O livro – disponível em inglês, mas com edição em português prevista para 2024 – é fruto de uma campanha de financiamento coletivo na internet feita por Formoso, autora de obras (Eu também falo Português e Nina Vai ao Brasil) para crianças filhas de pais/mães brasileiros e que nasceram ou vivem no exterior. 🤗💡 E como Noah diz que se sente ao ver suas rimas no papel? "Eu me sinto feliz. Eu nem acredito!" Noah escreveu com a mãe, em rimas, como é viver com TDAH e autismo Arquivo Pessoal/via BBC 'Abraçar semelhanças e diferenças' Helen Jary, vice-diretora da Dulwich Wood Primary School, uma escola no sul de Londres onde Noah deu uma de suas palestras, disse que a forma como o garoto se colocou foi "com muito orgulho". "Não como se tivesse algo errado com ele – ele não tem um impedimento. Na verdade, ele tem uma superforça: 'Olhe para mim, sou neurodivergente, fui diagnosticado com TDAH e veja como isso me torna poderoso e como sou uma ótima criança' – e isso é verdade", afirmou à BBC News Brasil. Jary diz que falar na frente de centenas de crianças, muitas mais velhas que o próprio Noah, é uma "conquista enorme" – e acrescenta que ele foi "muito profissional" e não precisou de muita ajuda da mãe, que o acompanhou no palco. O PowerPoint com as ilustrações também ajudou a prender a atenção das crianças, disse. Acreditamos que, como escola, é muito importante falar sobre isso, abraçar as semelhanças e diferenças, para que as crianças não se sintam de forma alguma marginalizadas, excluídas ou diferentes. A vice-diretora aponta que a escola promove palestras sobre nerodiversidade "para que as crianças saibam que se tiverem um diagnóstico de dislexia, TDAH, autismo ou qualquer outra neurodiversidade, está tudo bem – e daremos estratégias para superar quaisquer dificuldades". Além disso, ela acrescenta que as crianças neurotípicas também precisam entender que outros colegas podem ter necessidades diferentes. "Como uma escola inclusiva, temos que atender às necessidades de crianças de diferentes estilos de aprendizagem. Não há 'tamanho único' na aprendizagem. Sabemos que algumas crianças aprendem melhor fazendo, outras precisam de muita repetição. Algumas crianças precisam de apoio visual..." As crianças pequenas 'vivenciam muito o que é o autismo, o que é o déficit de atenção através da forma como os pais, a família e a escola vivenciam', diz o psiquiatra da infância e adolescência Guilherme Polanczyk, da USP Arquivo Pessoal/via BBC Diagnóstico de autismo e TDAH A BBC News Brasil também ouviu o psiquiatra da infância e adolescência Guilherme Polanczyk, professor da Universidade de São Paulo (USP) – que não tem relação com o caso de Noah – sobre o impacto nas famílias e nas crianças de diagnósticos como o de autismo. Ele diz que o diagnóstico de autismo é "uma situação que gera muitas reações frequentemente fortes nas famílias". Enquanto há "famílias que vivem com dificuldades com as crianças e que não entendem bem as dificuldades e buscam muito um diagnóstico", há também "famílias que fogem completamente do diagnóstico". Polanczyk diz que, embora tradicionalmente o diagnóstico mais precoce "muitas vezes é de um transtorno mais grave", a medicina tem conseguido, cada vez mais, identificar mais cedo transtornos leves. "Isso realmente é algo recente, dos últimos 10, 15 anos." Ele aponta que as crianças pequenas "vivenciam muito o que é o autismo, o que é o déficit de atenção através da forma como os pais, a família e a escola vivenciam". "Se tratam de uma forma menos pesada, em famílias que aceitam as dificuldades, com narcisismo um pouco menor, com senso de comunidade, isso transmite para as crianças uma ideia de que são dificuldades, mas tá tudo bem, é possível viver, ser feliz, ter sucesso, mesmo tendo dificuldades", diz. E se as crianças vivenciam isso e conseguem transmitir isso para outras, sem dúvida, isso é muito mais poderoso, mais potente, para que outras crianças que estão recebendo o diagnóstico possam olhar para as dificuldades de uma forma menos pesada e que não tire o valor da pessoa. Muitas vezes o diagnóstico vem como se fosse uma condenação de que não vai ter sucesso, não vai ser feliz ou ser independente e autônomo – e não é isso. Polanczyk diz que o diagnóstico "sempre vem com estigma" e que, por isso mesmo, é importante falar sobre o assunto. "A gente não pode pensar que não existe estigma. Então as famílias têm muito receio disso, do quanto isso vai ficar marcado na ficha da criança na escola ou socialmente. Mas, ao mesmo tempo, se as famílias não falam sobre isso e não discutem o diagnóstico, elas estão perpetuando um estigma muito maior, estão impedindo que outras pessoas possam ser solidárias e que essa situação de estigma e de vergonha e de silêncio seja vencida". Os números de diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) estão aumentando nos últimos anos, como mostra reportagem da BBC News Brasil. Embora não exista uma só causa, especialistas suspeitam que a maior conscientização sobre o tema seja a principal explicação para o crescimento. No Brasil, há cerca de 2 milhões de pessoas com autismo, segundo o governo federal. Em um momento em que se fala mais sobre o tema, o psiquiatra também destaca a importância do acesso a um diagnóstico adequado, visto que "um diagnóstico equivocado sempre tem consequências negativas". Polanczyk também lembra que, no Brasil, hoje "teoricamente todas as escolas devem aceitar as crianças com autismo e com outras dificuldades e promover um ambiente de inclusão". A gente sabe que algumas escolas de fato fazem isso, e outras não", disse. "Geralmente, nessa idade (por volta dos 6 anos), as escolas têm uma preocupação em desenvolver aspectos mais humanísticos das crianças, mas ao longo do tempo – e pelo menos aqui no Brasil, cada vez mais – a gente vê escolas só preocupadas com o desempenho acadêmico a detrimento da forma como elas se relacionam umas com as outras. O psiquiatra diz que a importância de trabalhar o tema está em criar uma cultura de inclusão que vá além da escola. "Ela não se faz apenas por práticas da escola, se faz pela forma como as famílias e as crianças se relacionam entre elas. Então passa pelas famílias convidarem o coleguinha para as festas, passa pelas crianças aceitarem que o coleguinha eventualmente grita de vez em quando no meio da aula ou toca de uma forma mais intrusiva, e tá tudo bem. E aí incluir nas brincadeiras e nas situações mais diversas essa criança que não vai desempenhar eventualmente como eles em determinado momento, mas que eventualmente em outra aula vai desempenhar de uma forma superior." Autismo em crianças: quais são os sinais? Os sinais de autismo em crianças pequenas incluem, segundo o sistema público de saúde britânico, o NHS: Não responder ao nome delas Evitar contato visual Não sorrir quando você sorri para elas Ficar muito incomodada se não gostar de determinado sabor, cheiro ou som Movimentos repetitivos, como bater as mãos, sacudir os dedos ou balançar o corpo Não falar tanto quanto as outras crianças Não fazer tantas brincadeiras de ‘faz de conta’ Repetir as mesmas frases Em crianças mais velhas, os sinais incluem: Não entender o que os outros estão pensando ou sentindo Ter um discurso incomum, como repetir frases e falar com outras pessoas sem escutá-las de volta Gostar de uma rotina diária rígida e ficar muito incomodada se ela mudar Ter um grande interesse em certos assuntos ou atividades Ficar muito chateada se você pedir que façam algo Dificuldade de fazer amigos ou preferindo ficar sozinha Entender as coisas muito literalmente Dificuldade para dizer como se sente O autismo pode ser diferente em meninas e meninos e, como aponta o NHS, pode ser mais difícil de detectar em meninas. É possível que meninas com autismo, por exemplo, escondam alguns sinais de autismo copiando como outras crianças se comportam e brincam. Também podem mostrar menos sinais de comportamentos repetitivos, além de retirar-se em situações que consideram difíceis. TDAH em crianças: quais são os sinais? O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) envolve desatenção (dificuldade de concentração e foco) e/ou hiperatividade e impulsividade. Cerca de 2 a 3 em cada 10 pessoas com TDAH, segundo o NHS, têm problemas de concentração e concentração, mas não apresentam hiperatividade ou impulsividade. 👉 O TDAH é diagnosticado com mais frequência em meninos do que em meninas. Elas são mais propensas a apresentar sintomas apenas de desatenção e são menos propensas a apresentar comportamento perturbador que torne os sintomas de TDAH mais óbvios, de acordo com o NHS. Enquanto os sintomas do TDAH nos adultos são mais difíceis de definir, os sinais do transtorno em crianças e adolescentes são bem definidos e geralmente são perceptíveis antes dos 6 anos, de acordo com especialistas. As crianças podem apresentar sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, ou podem apresentar sintomas de apenas um destes tipos de comportamento, segundo o NHS. Os principais sinais da dificuldade de concentração e foco são: Ter um curto período de atenção e ser facilmente distraído Cometer erros por descuido – por exemplo, nos trabalhos escolares Parecer esquecido ou perder muito as coisas Ser incapaz de realizar tarefas tediosas ou demoradas Parecer incapaz de ouvir ou seguir instruções Mudar constantemente de atividade ou tarefa Ter dificuldade em organizar tarefas Os principais sinais de hiperatividade e impulsividade são: Ser incapaz de ficar parado, especialmente em ambientes calmos ou tranquilos Ficar constantemente inquieto Ser incapaz de se concentrar nas tarefas Fazer movimento físico excessivo Conversar excessivamente Ser incapaz de esperar sua vez Agir sem pensar Interromper conversas Pouca ou nenhuma sensação de perigo Se os cuidadores acreditarem que uma criança apresenta sinais de autismo ou TDAH, devem procurar um profissional de saúde especializado. A vida com TDAH: conheça as estratégias para lidar com os desafios deste transtorno
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04/03 - Assédio na universidade: Em 10 anos, apenas 6 processos administrativos foram abertos na UnB e somente um caso punido
Números obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) são referentes a assédio moral e sexual de professores contra estudantes; punição foi suspensão de docente por 60 dias. Outros 4 processos foram arquivados e um prescreveu. Violência contra a mulher, abuso, assédio sexual Marcelo Camargo/Agência Brasil Entre 2013 e 2023, a Universidade de Brasília (UnB) abriu apenas seis processos administrativos disciplinares (PADs) contra professores acusados de assediar estudantes, moral ou sexualmente. Destes seis casos, somente um foi punido com a suspensão do professor por 60 dias. A UnB informou que a denúncia era referente a assédio sexual. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. Outros quatro processos foram arquivados por diferentes motivos: ausência de provas e não comprovação do assédio moral. Um outro processo prescreveu. Os dados foram obtidos pelo g1 por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e se referem àqueles recebidos pela Ouvidoria da UnB. Os números foram confirmados pela universidade. Veja abaixo o tipo de acusação que gerou os processos administrativos disciplinares, segundo a Coordenação de Processo Administrativo Disciplinar (CPAD) da UnB: Assédio sexual Um processo que gerou a suspensão de 60 dias Um processo arquivado por ausência de provas Assédio moral Um processo prescreveu Um processo arquivado por não comprovação do assédio moral Dois processos arquivados por ausência de provas Total de 210 denúncias em 10 anos De 2013 a 2023, foram 210 denúncias de assédio moral e sexual, que não eram separadas (veja tabela abaixo). Número de denúncias de assédio recebidas pela Ouvidoria da UnB nos últimos 10 anos Em 2023, a partir do segundo semestre, a ouvidoria da UnB começou a classificar as manifestações em assédio moral ou assédio sexual. Com a categorização, no ano passado, foram 47 denúncias de assédio moral e 11 de assédio sexual recebidas no órgão. Um dos órgãos que processa as denúncias da ouvidoria é a Comissão de Ética, onde a acusação é apurada e há o julgamento sobre possível desvio ético dos agentes públicos vinculados à UnB. Nos últimos 10 anos, a comissão recebeu 25 denúncias: 23 de assédio moral, uma de assédio sexual e uma de assédio sexual e moral. A maioria das vítimas é formada por mulheres. O que é assédio moral ou sexual dentro da universidade? A Universidade de Brasília utiliza como base o Guia Lilás: orientações para prevenção e tratamento ao assédio moral e sexual e à discriminação no Governo Federal. O documento, elaborado pela Controladoria-Geral da União (CGU) em março de 2023, traz as definições para assédio moral e sexual. Veja abaixo: Assédio moral: consiste na violação da dignidade ou integridade psíquica ou física de outra pessoa por meio de conduta abusiva. Assédio sexual: é crime e não deve ser tolerado. É definido por lei como o ato de constranger alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. "O assédio moral e sexual e todas as formas de discriminação constituem violação de direitos humanos e ameaçam a igualdade de oportunidades de trabalho, em especial para mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIAP+", diz o documento. O assédio moral pode ter diversas formas, assim como o assédio sexual. Veja na tabela abaixo alguns formatos destes tipos de violência, segundo o Guia Lilás: Exemplos de assédio moral e de assédio sexual na universidade A professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fabiene Gama, que estuda violência de gênero nas universidades, destaca que existe uma mudança de perfil nos dois tipos de assédio. Em relação ao moral, homens e mulheres são vítimas, acontece mais em público e muitas vezes, faz parte da dinâmica de produtividade e sociabilidade dentro da universidade, ou seja, é algo "naturalizado" em muitas salas de aula. Já em relação ao assédio sexual, de acordo com a professora, muitas das vítimas dentro de universidades são mulheres e acontece de forma privada, por meio de mensagens, e-mails e reuniões individuais. As consequências para estudantes que sofrem algum tipo de assédio, segundo a professora Fabiene Gama, são variadas: Adoecimento mental: se sentem isoladas, deixam de frequentar determinados espaços, deixam de cursar certas disciplinas para não encontrar o professor. Têm receio de denunciar, se culpabilizam, sentem constrangimento, vergonha. Impacto no desenvolvimento acadêmico Evasão universitária Os caminhos da denúncia O g1 preparou um passo a passo sobre os caminhos que uma denúncia de assédio moral ou sexual pode percorrer dentro da Universidade de Brasília. Confira abaixo: Ouvidoria: unidade de acolhimento, que recepciona, analisa preliminarmente indícios mínimos de autoria e materialidade e havendo esses indícios mínimos, os casos são encaminhados em cinco dias às unidades de investigação/apuração da Universidade via Sistema SEI em nível sigiloso. Prazo previsto em lei: 30 dias prorrogáveis por mais 30 dias. Depois, a denúncia pode ser enviada via Ouvidoria para quatro caminhos: Coordenação de Processo Administrativo Disciplinar (CPAD), Comissão de Ética, Decanato de Assuntos Comunitários (Processo Disciplinar Discente), Diretoria de Contratos Administrativos (se envolver terceirizados). Na CPAD, quando a denúncia é recebida há avaliação da admissibilidade, verificando os indícios de autoria e materialidade do caso. As denúncias podem resultar em três caminhos dentro da CPAD: Instauração de Sindicância Investigativa (com indícios de autoria ou materialidade), instauração de Processo Administrativo Disciplinar (quando há indícios de autoria e materialidade) e arquivamento. Depois da análise na CPAD, o processo é encaminhado para a reitoria da UnB para que se adote ou não o que foi recomendado pela Coordenação de Processo Administrativo Disciplinar (CPAD). Quando necessário, a reitoria consulta a Procuradoria Federal junto à UnB (PF/UnB), órgão da Advocacia Geral da União (AGU) que presta assessoramento jurídico à instituição. O Processo Administrativo Disciplinar pode resultar em: Advertência Suspensão Demissão Arquivamento Por que muitas denúncias dentro da universidade não geram punições? A professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fabiene Gama, explica que há cerca de cinco motivos para as denúncias de assédio não irem para frente ou serem arquivadas nas universidades: Problema para registrar uma denúncia completa: vítimas desconhecem como completar os campos, como descrever a denúncia, quais informações colocar. Desconhecimento dos códigos disciplinares e dos documentos que legislam sobre ética dos servidores por parte da comunidade acadêmica em geral. De acordo com a professora, as pessoas que fazem parte das comissões dos processos são obrigadas a conhecer as normativas. “Quem ocupa essas diferentes posições nas universidades são os docentes e técnicos, acabamos exercendo funções administrativas, não somos formados para isso. [...] Falta órgão centralizado com equipe qualificada que acumule conhecimento nesse campo”, diz Fabiene Gama. Na Universidade de Brasília, a questão do desconhecimento dos códigos disciplinares e legislação pode ser evitada, já que a presidente da Comissão de Ética, Beatriz Vargas Ramos Gonçalves de Rezende, é professora do programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito na UnB. Outros três membros da comissão -- titulares e suplentes -- também são especialista na área de Direito, um outro em Secretariado Executivo e uma outra é professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Normativas sobre assédio sexual e moral são muito recentes: o Guia Lilás, utilizado pela UnB, foi publicado em março de 2023. “As normativas que vão dar conta de assédio moral e sexual nas universidade são muito recentes. Na última década, começaram a surgir a partir de movimentos provocados por coletivos estudantis. A UnB foi uma universidade em que estudantes fizeram muita pressão para criação de normativas e órgãos centralizados para lidar com o problema”, afirma Fabiene. Insegurança de investigar e acusar colega: mesmo com a comissão sendo formada, preferencialmente, por professores que não trabalham junto com o investigado, há um receio entre os servidores. "Quanto mais centralizado, mais distante, melhor. Quanto mais qualificada a pessoa que estiver acumulando o conhecimento, estiver estudando e está ali julgando, muito melhor", afirma a professora Fabiene Gama. Falta investimento em uma estrutura especializada com servidores qualificados para lidar com o problema. Segundo a Comissão de Ética da UnB, houve um aumento do número de denúncias recebidas. A comissão de ética tem um total de seis membros, a Coordenação de Processo Administrativo Disciplinar tem sete integrantes e a Ouvidoria da UnB tem uma ouvidora e quatro assessores – mas são seis servidores lotados. A professora Fabiene Gama destaca que, além das funções nos órgãos, alguns docentes também acumulam as funções pedagógicas, de ensino e pesquisa. Para ela, essa série de problemas se mantém há anos nas universidades, mas a pesquisadora acredita que. nos últimos anos, houve uma melhora com influência também das redes sociais e dos movimentos contra assédio e violência de gênero. "A gente ainda tem um longo caminho de reestruturação das universidades. [...] O sistema é feito para não funcionar, não tem uma infraestrutura montada para pensar tanto a prevenção quanto erradicação desse tipo de problema", afirma. Como uma denúncia de assédio moral ou sexual pode ser feita na UnB? De acordo com a UnB, há três opções para a realização da denúncia: Plataforma Fala.BR: Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação. Para acesso clique neste link. Ouvidoria da UnB: tem atendimento presencial e o online pode ser acessado por meio deste link. Comissão de Ética: atendimento presencial na Secretaria da Comissão de Ética (localização: sala A1 49/11- Bloco de Salas Eudoro de Sousa-BAES-1º pavimento - Campus Darcy Ribeiro) e online pelo e-mail: eticaunb@unb.br Para buscar atendimento e acolhimento dentro da UnB, a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) pode ser procurada pela vítima de assédio por meio deste link. A professora Fabiene Gama ressalta que a decisão de denunciar ou não e por meio de qual canal é da vítima. No entanto, além da esfera administrativa, a pessoa que comete o assédio pode responder também na esfera criminal. Ou seja, a vítima pode optar também por sair dos muros da universidade e fazer boletim de ocorrência e abrir um processo judicial. Como as universidades federais do país lidam com casos de assédio? Assédio moral e assédio sexual: entenda como reconhecer agressões. A professora Fabiene Gama aponta que a universidade é mais um dos órgãos que está inserido em um sistema machista e sexista e que a baixa investigação de denúncias de assédio moral e sexual não é um problema da universidade federal, mas da sociedade. Ou seja, segundo a professora, a sociedade é machista e a academia é um ambiente que reproduz isso diariamente. “A baixa investigação não é uma coisa restrita a universidade, não é restrito ao Brasil, para todo lado, universidade particular, pública, na Europa tem uma baixa investigação. Há o desafio de ampliar o entendimento de que a universidade é um lugar de mulheres, que nosso corpo não está a serviço dos homens”, diz Fabiene Gama. A professora afirma que três universidades brasileiras construíram normativas e órgãos que são referência e exemplo para o tratamento das denúncias de assédio: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Universidade Federal de Goiás (UFG) "A UFG como referência por ter sido a primeira a criar uma resolução. UFOP também tem resoluções e uma ouvidora aguerrida. A Unicamp é uma referência sobre os tratamentos por ter criado uma diretoria", diz a professora Fabiene Gama. O g1 entrou em contato com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para dados nacionais sobre as universidades, mas o órgão afirmou que não há números sobre o tema. Qual seria o caminho? A presidente da Comissão da Mulher da seção do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Nildete Santana de Oliveira, destaca que cada universidade tem um protocolo específico para a apuração das denúncias, mas é preciso garantir o anonimato e proteger a vítima para que não seja exposta a mais violências. "Deve ter uma canal próprio de denúncia, que garanta o anonimato, caso a vítima não queira se identificar. Depois é receber e instaurar processo interno para apuração", diz a advogada. O Guia Lilás dá algumas orientações de como órgãos da administração pública podem coibir o assédio: Oferecer capacitação continuada a servidores e gestores sobre violências de gênero, racismo e outras formas de discriminação Realizar campanhas sistemáticas de sensibilização sobre estereótipos, microagressões, atitudes machistas cotidianas, comportamentos racistas e LGBTfóbicos, linguagem ofensiva, entre outros Treinar as equipes de gestão de pessoas sobre acolhimento humanizado e sigiloso de pessoas vítimas de assédio e discriminação Treinar as equipes de ouvidoria sobre o protocolo de recebimento de denúncias e os respectivos encaminhamentos Buscar meios de prover atendimento e acolhimento Apurar de forma célere as denúncias de assédio LEIA TAMBÉM: DENÚNCIA DE ASSÉDIO MORAL: 'Não houve assédio moral', diz UnB sobre denúncia contra professor de engenharia CASOS DIÁRIO DE ASSÉDIO: Estudantes da UnB criam página na web para relatar casos de assédio Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
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04/03 - UFSCar admite erro, anula 2ª chamada de aprovados e divulga nova lista para manifestação de interesse por vaga; entenda
Revogação acontece após dezenas de candidatos denunciarem que se sentiram prejudicados com o resultado. Universidade alegou 'parametrização inadequada do algoritmo'. Campus da UFSCar em São Carlos 2020 Gabrielle Chagas/G1 A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) admitiu erro em algoritmo e anulou a segunda chamada do ingresso para os cursos de graduação em 2024, que foi divulgada no dia 27 de fevereiro. Um edital retificado foi publicado no site oficial da instituição nesta segunda-feira (4). ATUALIZAÇÃO: uma nova lista corrigida foi divulgada no dia 12 de março. Leia a reportagem. Foi divulgada uma nova lista para manifestação virtual de interesse por vaga. CONFIRA AQUI A LISTA. A manifestação deve ser feita até quarta-feira (6) e a nova lista de aprovados sai no dia 11 de março. (veja aqui as novas datas). Candidatos temem perder a vaga com a anulação. Veja mais na reportagem. A revogação aconteceu depois que dezenas de candidatos denunciaram que se sentiram prejudicados com o resultado, já que para eles, a universidade não tinha aplicado corretamente o entendimento da nova lei de cotas (14.723/2023). A instituição fazia uma auditoria para investigar possíveis erros. Uma retificação do edital foi publicada no site da UFSCar e afirma: Fica anulada a segunda chamada, procedida pela UFSCar em 21 de fevereiro de 2024; Haverá uma nova segunda chamada, conforme prazos do cronograma indicados no item 3 do novo edital; CONFIRA AQUI O EDITAL RETIFICADO NA ÍNTEGRA O edital explica que, "em função da mencionada parametrização inadequada do algoritmo, houve, em alguns casos, erro na convocação de segunda chamada, de forma que alguns candidatos que deveriam ser convocados não o foram, enquanto outros candidatos foram chamados para as mesmas vagas". Em nota, a universidade lamentou "incondicionalmente as ocorrências". (veja o posicionamento na íntegra). LEIA TAMBÉM: Candidatos temem perder vaga na UFSCar após anulação de lista por erro; jovens desistiram de vaga na Unicamp e de bolsa no Prouni UFSCar 2024: com melhores notas, candidatos perdem vaga em 2ª chamada e questionam resultado; universidade fará auditoria O edital informa ainda que, a partir das 13h desta segunda-feira (4), os candidatos que tentam uma vaga na UFSCar podem consultar a lista de convocação para manifestação virtual de interesse por vaga. Os documentos estarão disponíveis em www.ufscar.br e www.ingresso.ufscar.br. 2ª chamada da UFSCar: candidatos questionam critérios usados na convocação Novo comunicado admitindo erro UFSCar revoga lista de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada A UFSCar informa que processo de auditoria interno identificou erros na lista de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada nos cursos de graduação oferecidos pelo SiSU. O diagnóstico é que a parametrização inadequada do algoritmo que apoia o processo levou à não convocação de pessoas que deveriam ser chamadas e, consequentemente, que outras pessoas fossem convocadas para as mesmas vagas. A quantidade de vagas envolvidas exige a revogação das listas de manifestação de interesse e de convocação para requerimento de matrícula em 2ª chamada. A 1ª chamada e a lista de espera também foram auditadas e estão corretas, seguindo, portanto, válidas. O processo de auditoria foi iniciado como medida de segurança, após um primeiro processo padrão de verificação não ter diagnosticado as inconsistências. Paralelamente, a Universidade aguardava comunicação oficial do Ministério da Educação (MEC) relacionada à correção de erros identificados ainda na etapa de processamento a cargo do Ministério. Essa informação chegou em ofício encaminhado no fim de semana e, com isso, a auditoria pôde ser concluída na manhã desta segunda-feira (4/3). A partir do resultado da auditoria, um edital foi publicado nesta segunda, retificando dispositivos do regulamento anterior, estabelecendo regras suplementares e um novo cronograma. Um novo período para manifestação de interesse já está vigente, a partir de lista retificada, e segue até 6 de março. A lista corrigida de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada será publicada em 11 de março. Infelizmente, a correção implicará na exclusão da lista de pessoas anteriormente convocadas. Destacamos, como registrado em edital, que as pessoas que já manifestaram interesse, fizeram requerimento de matrícula e/ou enviaram a documentação exigida, e que constem como aprovadas nas próximas listas, não precisarão refazer essas ações. Esclarecemos que os erros identificados estão relacionados ao pouco tempo oferecido a todas as universidades do sistema federal de Educação Superior para adequação à nova lei de cotas (Lei nº 14.723), de 13 de novembro de 2023. A UFSCar, inclusive, não é a única instituição obrigada a revogar etapas de seu processo seletivo. Soma-se a isto o fato de o processo de preparação para as chamadas sob responsabilidade das universidades ter sido atrasado pelos erros identificados na lista inicial do SiSU, que precisou ser cancelada e revista mais de uma vez. Também foi tardio o envio às universidades de orientações relativas à operacionalização da nova lei. No caso da UFSCar, por exemplo, a informação sobre como a Lei de Cotas deveria ser operacionalizada foi recebida pela Instituição apenas 24 horas antes da publicação do edital original do processo seletivo. Com isso, inclusive, o edital original acabou apresentando pequenas discrepâncias em relação à Lei nº 14.723, no que diz respeito a detalhes de sua operacionalização, também identificadas no processo de auditoria e agora corrigidas no novo edital. Lamentamos incondicionalmente as ocorrências e, sobretudo, os impactos gerados em cada uma das pessoas envolvidas. No entanto, embora a absorção de todas as pessoas convocadas equivocadamente não seja uma alternativa viável para a correção, é importante destacar que a experiência de processos seletivos anteriores indica alta probabilidade de convocação em chamadas futuras, ao menos de parte dessas pessoas, razão pela qual é fundamental que todos os candidatos sigam atentos às próximas chamadas. Além disso, nossa expectativa também é que seja realizado, como tem sido nos anos recentes, processo seletivo para vagas remanescentes após a conclusão do processo seletivo atual. Reiteramos saber que essas não são soluções para todos os impactos gerados, mas são alternativas importantes de serem exploradas para minimização dos impactos, e seguiremos trabalhando para reduzir perdas ao máximo. Por fim, a UFSCar reitera seu compromisso e seu cuidado constante com a legalidade, a correção e, assim, garantia de justiça em seu processo seletivo. É esse compromisso, inclusive, que levou à realização da auditoria e que, agora, obriga à revogação da lista. Em relação ao cuidado, aproveitamos para informar que novos procedimentos de checagem e, também, na condução do processo como um todo, já estão sendo elaborados, para a prevenção de erros no futuro. A UFSCar segue atenta a quaisquer manifestações referentes a este processo de ingresso e jamais se furtará, de um lado, à identificação e ao reconhecimento de eventuais erros e, sobretudo, à sua correção e à tomada de todas as medidas necessárias para que não voltem a acontecer. Novas datas 2ª chamada 4 a 6 de março: Manifestação Virtual de Interesse por Vaga - para a 2º chamada 11 de março: Convocação para Requerimento Virtual de Matrícula 12 e 13 de março: Requerimento Virtual de Matrícula - 2ª chamada 11 a 22 de março: Confirmação obrigatória de matrícula para todas as pessoas candidatas que requereram matrícula na 1ª chamada e foram aprovadas nas comissões de verificação documental. 19 a 22 de março: Confirmação obrigatória de matrícula para todas as pessoas candidatas que requereram matrícula na 2ª chamada e foram aprovadas nas comissões de verificação documental. Outras datas: 26 de março - Convocação para manifestação Virtual de Interesse por Vaga (MVI) – para 3ª e 4ª chamadas. 27 a 28 de março - Manifestação Virtual de Interesse por Vaga para 3ª e 4ª chamadas Erro no entendimento da nova lei de cotas Para os candidatos que se sentiram prejudicados, a UFSCar não aplicou o correto entendimento da nova lei de cotas (14.723/2023), que determina que os cotistas concorrerão às vagas reservadas pelo programa de cotas apenas se não alcançarem as notas para ingresso às vagas de ampla concorrência. UM EXEMPLO DO QUE ACONTECEU: No caso do curso de Medicina, a primeira candidata da lista de espera faz parte do grupo 5 (ampla concorrência) e fez 812,19 pontos. O primeiro candidato cotista que aparece na mesma lista ocupa a 21ª posição, com nota de 799,71. No momento de manifestar interesse na vaga, essa foi a quantidade de candidatos convocados, separados por grupo: Convocados para manifestar interesse na vaga no curso de Medicina Já na lista da segunda chamada, que é os que conseguiram uma vaga na universidade, apesar de terem a maior nota, nenhum candidato de ampla concorrência foi chamado. Aprovados em 2ª chamada no curso de Medicina por grupo A maior nota do candidato aprovado em segunda chamada foi de 799,71 e a menor foi de 694,61. Nenhuma delas é superior a da primeira candidata da lista de espera que está concorrendo em ampla concorrência. Após dezenas de reclamações na web, a UFSCar divulgou uma nota negando qualquer erro e dizendo que é importante considerar o quão dinâmico é todo o processo de convocação. "A UFSCar reafirma a lista, esclarecendo, primeiramente, a importância de considerar o quão dinâmico é todo o processo de convocação. Destacamos dois pontos muito especialmente. O momento da publicação da lista é uma fotografia; no dia seguinte, e a cada nova etapa de manifestação de interesse, matrícula, confirmação e outras, a situação já é outra. Além disso, só é possível comparar notas dentro de cada grupo, nunca entre os grupos, justamente porque essa dinâmica é própria de cada um deles", disse na ocasião. Contudo, na quinta (29), a universidade disse que iria realizar uma "auditoria minuciosa" na lista de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada, mas não informou prazo para conclusão "A UFSCar informa que está realizando auditoria minuciosa em todos os processos relacionados à elaboração da lista de pessoas convocadas para requerimento de matrícula em 2ª chamada nos cursos de graduação da Instituição. O procedimento visa sanar as dúvidas que vêm sendo apresentadas e, desde já, a UFSCar reitera que: será sempre observada e cumprida a legislação referente ao processo seletivo; todas as pessoas, em todos os grupos de convocação, terão respeitados seus direitos ao ingresso; caso venham a ser identificados erros ou inconsistências, estes serão corrigidos em chamadas subsequentes e, inclusive, complementares àquelas já previstas no Edital, em atenção a todas as pessoas aguardando essas informações e à imensa expectativa que sabemos existir." Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara.
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